Numa época em que se admitem as limitações à nossa independência, como a ordem natural das coisas, quer as decorrentes das federações de estados (UE), quer as decorrentes da globalização aparentemente imparável, seria de meridiana prudência acautelar através da preservação física e viva da memória colectiva que o património erigido constitui, um contributo insubstituível para a definição da história daquele que foi um dia o território dos Portugueses.
Portugal no contexto europeu não tem, nem de longe nem de perto, um acervo de expressão extraordinária como é o caso de Itália ou França. Tem, no entanto, património erigido de grande qualidade histórica e artística, como tem outro de menor qualidade artística mas ainda assim de relevância histórica, todo ele de interesse para preservação, mas nem todo, infelizmente, preservado.
A relevância a que nos referimos, em património sem grande ou sequer qualquer conteúdo histórico, residirá na importância subjectiva que as populações lhe podem atribuir como repositório de memorias que entendem dever preservar.

Quanto a nós é razão suficiente para a preservação, desde que outros valores mais altos não se levantarem.
Vem tudo isto a propósito do facto de, nas últimas três décadas e meia, o património cultural e natural existente na freguesia de Armação de Pêra ter sido malbaratado ou destruído, em permanente metamorfose para o betão, em geral incaracterístico e de mau gosto.

O pouco que ainda resta encontra-se ameaçado de destruição, não apenas pelas causas tradicionais de degradação, mas pela procura de vantagens económicas de curto prazo, para alguns particulares e para os cofres do município através das taxas arrecadadas.
Se se compreende o, muitas vezes, justo interesse dos proprietários em converter em mais valias alguns imóveis, os quais tantas vezes por motivos hereditários não são passíveis de uma utilização por parte de todos os interessados, ou sequer de reunir condições que permitam a sua manutenção, já não se compreende e, ou aceita que o município não tenha uma preocupação sistemática na preservação de certas traças em zonas mais características ou personalizadas da origem do burgo.

De facto hoje, um armacenense que queira mostrar aos seus descendentes o que era Armação de Pêra há um século atrás dificilmente encontrará ainda construído um edifício dessa época e só através de fotografias será possível dar nota da Armação de outras eras. Dessa, os vestígios encontram-se praticamente extintos.
Também será verdade que o valor do património existente não era suficiente para ser classificado, mas fazia parte da nossa identidade colectiva e permitia alicerçar uma identidade enquanto comunidade local.

No entanto um edifício representativo, devidamente preservado e utilizado publica ou privadamente, constitui habitualmente um decantador da memória comunitária, senão mesmo da sua história e representará sempre certamente um pólo de curiosidade, observação e apreço para o visitante. Naturalmente que numa terra (como aliás num pais) como a nossa cuja economia assenta essencialmente no turismo, todos estes factores ganham um peso muito maior.
Factores aqueles e estes, que nunca preocuparam ou influenciaram as diversas gestões da Câmara de Silves.

Neste particular, Isabel Soares não passa de uma continuadora de todos os colegas que a antecederam, não lhe podendo ser assacada maior responsabilidade.
Em qualquer dos casos, o que é facto é que a degradação e o desaparecimento de bens do património cultural e natural tem constituído um empobrecimento efectivo do património de todos nós, aconteceu e continua a acontecer serenamente em Armação de Pêra porquanto temos sido considerados por quem gere a Câmara Municipal de Silves, como uma mera vaca leiteira que tem que dar o leite custe o que custar e de preferência sem grandes encargos.

Sabendo como sabemos que é nesta consideração que somos tidos pelo poder “central” em Silves, cumpre-nos agir!
E, neste sentido, perante a extensão e a gravidade dos perigos que ameaçam o pouco património que resta, cumpre-nos, alertar a comunidade, para a necessidade da protecção dos poucos “marcos” que ainda existem em Armação...
A Rua Manuel de Arriaga que foi em tempos o arruamento principal da nossa Vila onde se localizavam as casas de comércio e os serviços que a serviam, tendo sido, ao longo do tempo, como outras, completamente descaracterizada, tem no entanto um ou outro edifício que seria de cautelar prudência, conservar e preservar, reabilitando-os e colocando-os ao serviço de todos.
É esse o desafio que tomamos a liberdade de deixar, aqui hoje, a quem for realmente amigo de Armação.É certo que a Câmara de Silves e a Junta de Freguesia de Armação de Pêra poderiam (deveriam) adquirir estes edifícios (pelo seu justo valor de mercado e se nisso os respectivos proprietários tiverem interesse) cujo valor sentimental, histórico e estético é patente, contribuíndo desse modo para a salvaguarda da memória do que foi o povo de Armação e a sua origem, transportando-a fisicamente às gerações futuras.
Claro que, no caso dos respectivos proprietários nisso não tenham interesse, deveria a autarquia estabelecer um programa especifico de apoio à reabilitação plena dos edificios de interesse.
Em qualquer dos casos, a aquisição ou a dinamização do processo de apoio público à reabilitação, pensamos que deveriam ser processos liderados por uma associação de cidadãos, como é o caso da associação dos amigos de Armação, quem, fazendo juz ao seu nome e fins, legitimamente poderia dar forma e corpo a essa obra de amor a Armação de Pêra.