O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

terça-feira, 29 de julho de 2025

“Lixo, Tarifas e o Futuro que (não) Queremos”

Fala-se muito de sustentabilidade, de economia circular, de reduzir, reutilizar e reciclar. Mas basta andar pelas ruas do concelho de Silves para perceber que o discurso ainda não saiu do papel. O último Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal (RASARP) foi claro: o concelho de Silves chumbou em todos os indicadores de resíduos sólidos urbanos avaliados pela ERSAR. Surpresa? Para quem cá vive, nenhuma. A verdade é que nos últimos três mandatos nada mudou. O lixo acumula-se, os contentores raramente são lavados, os maus odores e pragas já fazem parte do “cenário urbano”. E o pior: o tempo está a contar. Até 2030, a forma de cobrança dos serviços de resíduos vai mudar. A tarifa deixará de estar escondida na fatura da água e passará a ser calculada com base no lixo que cada um produz. O chamado sistema PAYT (Pay-As-You-Throw) não é opcional. Vai ser obrigatório — e Silves terá de o implementar. E aqui levanta-se a pergunta que nenhum candidato à autarquia parece querer responder: quanto vamos pagar? Porque é inegável que a tarifa vai subir. E muito. Mas não é só uma questão de dinheiro. É uma questão de política pública e de planeamento. Se nada for feito, vamos continuar a enterrar resíduos em aterros, a desperdiçar recursos, a acumular lixo nas ruas. O Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos (PERSU) é claro: temos metas até 2030 para recolha seletiva de biorresíduos, redução do que vai para aterro, aumento das taxas de reciclagem. Só que tudo isto depende de algo que, até agora, parece faltar: envolvimento das populações. Não adianta ter novos sistemas de recolha seletiva se os cidadãos não forem informados, motivados e fiscalizados. E não adianta pedir às pessoas que separem corretamente o lixo se os contentores continuam sujos, malcheirosos e a atrair pragas. A higiene e a lavagem regular dos contentores são um serviço básico, mas, em Silves, continuam a ser tratados como luxo. Se o município não acordar, se os candidatos não apresentarem planos claros — e se nós, cidadãos, não exigirmos resultados —, em 2030 não estaremos a falar de metas cumpridas, mas sim de tarifas altas, ruas sujas e mais promessas por cumprir.

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