O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sábado, 26 de julho de 2025

Sonho Urbano à Beira-Mar: O delírio noturno de José Casimiro

José Casimiro sentou-se, como tantas noites de verão, na esplanada do café Frente ao Mar, no Largo da Igreja. Pediu o seu café expresso — curto, para não adulterar a noite — e um Dom Rodrigo, que olhava para ele do prato como um pequeno tesouro açucarado. À sua frente, o Jonathan, entertainer de rua, preparava-se para mais uma atuação. A coluna Bluetooth ganhou vida e, entre turistas distraídos e moradores sonolentos, começou a soar Dunas, dos GNR. José Casimiro fechou os olhos ao beber o primeiro gole de café. E foi então que sonhou. 💭 O Sonho As freguesias de Armação de Pêra e Alcantarilha e Pêra tinham finalmente deixado de ser duas entidades separadas: uniram-se, formando um território de 55,41 km², com mais de 11 mil habitantes, um verdadeiro motor económico do concelho de Silves. No centro desta nova terra, a ribeira de Alcantarilha estava reabilitada. A água corria limpa, serena, e ligava o interior ao litoral como uma artéria azul. Ao longo dela, um passadiço pedonal transformara a paisagem — famílias passeavam ao entardecer, turistas tiravam selfies à luz da lua, e hashtags nasciam como flores: #NovaArmação, #PêraUnida, #DoRioAoMar. 🚋 O metro bus era a espinha dorsal do território. Não era só noturno, era uma linha regular, moderna, elétrica, que ligava as duas freguesias, cruzando o território com paragens bem pensadas. Da praia às escolas, do mercado ao interior, todos usavam o metro bus: moradores, turistas, estudantes, até os reformados iam ao café de Alcantarilha e voltavam em Armação como se nada fosse. 📈 Os números falavam por si: 14% da população tinha ensino superior, as indústrias criativas floresciam em antigos armazéns, os nómadas digitais trocavam Lisboa e Porto por este “novo território inteligente”. Havia coworkings com vista para a ribeira e até Nicole Kidman — sim, a própria — trocava a Comporta por uma vivenda algarvia, dizendo aos jornais: “Aqui encontrei o equilíbrio perfeito entre praia, pastéis de nata e internet rápida.” 🌱 Era um território sustentável, vibrante, jovem, com energia. Tudo parecia funcionar, tudo parecia fazer sentido. 📀 Mas então a música mudou. Jonathan, num salto inesperado, abandonou GNR e começou a entoar o hino hip-hop da moda: “Rap da Esperança (Ou Não!)”. O beat pesado ecoou pelo largo e fez José Casimiro abrir os olhos. ☕ O café estava frio. O Dom Rodrigo, reduzido a um monte de fios de ovos e açúcar. E a realidade caiu-lhe em cima como um balde de água gelada: os buracos nas calçadas, o lixo esquecido nas esquinas, os caixotes do lixo a transbordar no verão, a sensação de que quem devia gerir a freguesia andava a dormir em serviço. José Casimiro suspirou. O metro bus, a ribeira reabilitada, Nicole Kidman a beber bica no Largo — tudo isso era apenas um sonho de verão. Por agora, restava-lhe pagar o café, sacudir o açúcar do colo e pensar: “Talvez amanhã.”

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