As realidades politicas brasileira e portuguesa, de alguma forma, tiveram na história recente uma evolução paralela. Ambas as sociedades sofreram os horrores da ditadura, uma militar outra civil. Ambas evoluiram para democracias parlamentares porém com alguns anos de diferença. Enquanto em Portugal se viviam os "anos loucos" da liberdade, ainda no Brasil se viviam os estrutores finais da ditadura.A censura continuava a fazer as suas vitimas no Brasil enquanto, em Portugal, era enterrada.
Francisco Buarque de Holanda, homenageava a liberdade portuguesa, em Portugal, já que no Brasil lhe foi vedada a palavra.
A democracia portuguesa entretanto consolidava-se e a liberdade ganhou "juizo"...Chico Buarque de Holanda fez também evoluir a letra da mesma canção de acordo com a sua avaliação do caminho percorrido por essa evolução.
Hoje, ambas as democracias asseguram a abolição da censura, embora, convenhamos que a liberdade de expressão, a avaliar pelo excerto do programa televisivo que aqui deixamos, é bem mais musculada no Brasil que em Portugal...
Na verdade, face a um problema comum: os extraordinários benefícios de que as respectivas classes politicas auferem, na relação com a parquez da sobriedade económica dos respectivos estados e a conservação da exclusão social de partes importantes dos seus cidadãos, justifica legitima e justificada indignação por parte dos cidadãos-contribuintes.
Afinal, lá como cá, a classe politica consolida os seus privilégios e apesar de eleita para representar os cidadãos-eleitores no aparelho do estado-dos-cidadãos, representa-se a si própria como se não tivesse de prestar contas aos seus mandantes, e detivesse o poder por direito natural.
A poesia de Chico Buarque de Holanda:" TANTO MAR" que tinha uma razão histórica e politica pertinente, continua pertinente, mas agora podendo ser cantada em qualquer das margens deste mar que tanto nos afasta quanto aproxima.
TANTO MAR
1975
(primeira versão)*
(primeira versão)*
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
* Letra original,vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975.
1978
(segunda versão)
(segunda versão)

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar