O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

"Radhica Tira Média de 20 no Secundário — Nacionalistas Sofrem Reação Alérgica à Excelência Alheia"

Armação de Pera, 2025 — Radhica, filha de emigrantes, chegou a Portugal há apenas seis anos, sem saber uma palavra de português. Esta semana, ao divulgar-se que terminou o 12.º ano com média de 20 valores nos exames nacionais, iniciou-se o que já está a ser chamado de “Crise Nacional da Autoestima Lusitana”. A Reação Nacional: Um Misto de Choque e Ressentimento "É um escândalo! Isto não é meritocracia, é bruxaria socialista multicultural!", afirmou um popular opinionista de sofá com um diploma tirado em PowerPoint durante uma conferência do Chega em Santa Comba Dão. “Como é que uma filha de estrangeiros, sem padrinhos nem quotas de canal de YouTube, consegue ultrapassar o Joãozinho, que há três anos estuda para Filosofia com vídeos do Tiago Paiva?” Radhica, que chegou a Portugal sem saber distinguir ‘carro’ de ‘caril’, agora sabe mais gramática portuguesa que muitos deputados da Assembleia. Os resultados impressionaram até a máquina de correção dos exames, que inicialmente sinalizou as respostas como “estatisticamente impossíveis dentro do sistema de ensino público”. A pandemia de acéfalos: uma realidade bem portuguesa Enquanto isso, nas redes sociais, rebentam em fúria os comentários de “patriotas”, “nacionalistas” e “amantes de Portugal com aversão à leitura”. A média de Radhica parece ter causado uma onda de dissonância cognitiva — condição neurológica que, segundo especialistas, se agrava em contacto com dados, factos ou pessoas que leem livros. “Esta gente vem para cá tirar os nossos 20’s!”, exclamou outro crítico online, que frequentou três semanas de um curso de filosofia numa universidade privada e ainda pensa que Camões lutou nas trincheiras da Segunda Guerra Mundial. Portugueses no estrangeiro: 40 anos na Suíça, francês ao nível de menu de restaurante "Não é justo!", diz também o Sr. Manuel, emigrante há 42 anos na Suíça, que se orgulha de nunca ter aprendido mais do que “croissant” e “bonjour madame”. “A gente lá fora não precisa dessas coisas. A língua é uma arma de opressão, e se aprendermos francês, depois temos que pagar impostos.” Ciência, dados, e o eterno problema do “achismo patriótico” O caso Radhica trouxe também à tona a verdadeira clivagem do país: não entre esquerda e direita, mas entre quem respeita dados e evidências científicas e quem constrói o mundo a partir de vídeos de TikTok e grupos de WhatsApp com teorias sobre como o português médio já nasce com doutoramento no ADN. A última palavra: de Radhica, claro. Confrontada com o alarido em seu torno, Radhica limitou-se a dizer: “Estudem. Leiam. E não achem que amor a Portugal é fechar portas — é abrir livros.” Fontes do Ministério da Educação confirmam que estão a estudar transformar esta frase no novo lema das escolas públicas. Fontes do Chega confirmam que estão a estudar se ela poderá ser deportada por excesso de méritos.

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