O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sexta-feira, 4 de julho de 2025

Não Aconteceu no Algarve, Mas Podia Ter Acontecido: Um Espelho Trágico do SNS

Quando a burocracia e a frieza substituem o cuidado e a empatia, morrem mais do que vidas — morre a confiança. Não aconteceu no Algarve. Mas podia. E, com o estado a que chegou o Serviço Nacional de Saúde, é quase certo que voltará a acontecer — em qualquer ponto do país. Uma mulher grávida andou mais de três horas à procura de uma urgência que a recebesse. No final, o bebé morreu. E o que ouvimos da boca da responsável governamental? Que a assistência foi "adequada" e que os procedimentos foram "cumpridos". Dizer isto já seria grave na boca de qualquer político. Mas ouvir tais palavras frias e burocráticas de uma mulher, uma mãe — alguém que se presume compreender o drama de outra mulher em desespero — é profundamente monstruoso. A resposta desumaniza, não só o caso concreto, mas todos os que enfrentam diariamente um sistema que já não responde, já não protege, já não cuida. Não costumo escrever sobre política nacional. Mas há momentos que transcendem a política. Há respostas que não podem passar em branco. Há omissões que são, por si só, atos de violência. A política de saúde não pode ser uma máquina de desculpas. Quando um bebé morre por falta de resposta do Estado, não há relatório que justifique. Não há protocolo que conforte. O mínimo que se exige é empatia. O mínimo. Quando governar se torna uma questão de gerir danos de imagem e não de cuidar das pessoas, o problema não é só do SNS. É um problema de humanidade. E, honestamente, alguém que responde a uma tragédia destas com frieza técnica e frases ensaiadas não merece continuar a ocupar um cargo de responsabilidade pública. Não por vingança. Mas por justiça. Por dignidade. Por respeito às vidas que se perderam — e às que ainda se podem perder.

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