O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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sexta-feira, 20 de junho de 2025

Armação de Pêra: De Freguesia a Vila – Uma Conquista Histórica

A freguesia de Armação de Pêra, situada no concelho de Silves, no Algarve, é hoje conhecida pelo seu dinamismo turístico, pelas suas praias e tradições piscatórias. Contudo, um dos marcos mais importantes da sua história administrativa ocorreu em 1991, com a sua elevação à categoria de vila. A proposta para essa mudança de estatuto foi formalmente apresentada na Assembleia da República no dia 18 de janeiro de 1991, através do Projeto de Lei n.º 665/V/4. A iniciativa partiu dos deputados do Partido Socialista António Esteves, Luís Filipe Madeira e José Apolinário, que reconheceram a importância social, económica e cultural da freguesia e defenderam a sua valorização no contexto administrativo nacional. O projeto viria a concretizar-se com a aprovação da Lei n.º 94/91, de 16 de agosto, que consagrou oficialmente a elevação de Armação de Pêra à categoria de vila. Esta mudança foi mais do que simbólica: representou o reconhecimento do crescimento da localidade, do seu papel regional e das aspirações da sua população. A elevação a vila veio reforçar a identidade local e potenciar o desenvolvimento de infraestruturas e serviços públicos, consolidando Armação de Pêra como um polo relevante no concelho de Silves e na região algarvia. Mais de três décadas depois, a vila continua a afirmar-se como um destino de eleição no sul de Portugal, orgulhosa da sua história e do caminho que percorreu desde o tempo em que era apenas uma pequena comunidade de pescadores.

domingo, 29 de maio de 2016

Morreu Vicente da Câmara, um amigo de Armação de Pêra que a prestigiou com a fidelidade duma opção sistemática para gozo das suas férias de verão


Faleceu ontem um amigo de Armação de Pêra,desbotando-se um pouco mais, com este desaparecimento, uma memória viva de um certo período da história de Armação de Pêra - o periodo pioneiro da Armação de Pêra do turismo e da modernidade -.

Veraneante persistente e decano da época balnear, não resistia aos convites, renovados anualmente, de actuar no Casino, para deleite do público estival e local.

Amante e pioneiro da pesca submarina em Armação de Pêra, quase diariamente, durante o periodo estival, demonstrava o resultado da sua mestria na arte de pescar à sua basta prole e a todos os que frequentavam a praia frente à antiga estalagem Algar.



"O fadista Vicente da Câmara morreu este sábado de manhã, em Lisboa, disse à Lusa o filho, José da Câmara.
Vicente da Câmara, sobrinho da fadista Maria Teresa de Noronha, tornou-se conhecido, entre outros êxitos, pelo fado “Moda das tranças pretas”.
O velório do fadista realiza-se este sábado a partir das 16:00, na Igreja da Graça, onde será celebrada missa, disse a mesma fonte.
O funeral sai no domingo às 15:30 da Igreja da Graça em direção ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Entre outros prémios, Vicente da Câmara foi distinguido com o prémio “Amália Carreira” e tinha um percurso artístico com mais de 60 anos, que iniciou na extinta Emissora Nacional.

Em 1948, incentivado pela tia, concorreu a um concurso da então Emissora Nacional. A vitória no concurso radiofónico, que no ano anterior tinha sido conquistada por Júlia Barroso, deu-lhe o passaporte para atuar aos microfones da rádio oficial em programas de grande popularidade, como "Serão para trabalhadores".

O fado "A moda das tranças pretas" que o celebrizou foi composto na década de 1950, quando assinou o primeiro contrato discográfico para a Valentim de Carvalho. Gravou, em 78 rpm, temas como "Fado das Caldas", "Uma oração", "Varina" (de sua autoria) ou "Os teus olhos", com uma letra sua.

Do seu repertório constam ainda temas como "Sino", de sua autoria, "As cordas de uma guitarra" ou "Outono", com letra de seu pai, "Triste mar", "Maldição" e "Menina de uma só trança".

O seu percurso inclui outros fados como "Fado Lopes", "Era mais que simpatia", "Milagre de St.º António", "Fado do Pão-de-Ló", ou "Fado do João", "Guitarra soluçante", "O fado antigo é meu amigo" e "Há saudades toda a vida".
Em 1964 estreou-se no cinema, em "A última pega", de Constantino Esteves, protagonizado por Fernando Farinha, no apogeu da carreira, e contracenando com Leónia Mendes, Júlia Buisel e José Ganhão.

Voltou ao cinema em 2007, sob a direção de Carlos Saura, em "Fados", e ao lado de Carminho, Ricardo Ribeiro, Mariza, Camané e Carlos do Carmo, entre outros.

O fadista, um dos fundadores da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), integrou o elenco do espetáculo de inauguração do Museu do Fado, em 1998. Atuou na Alemanha, Luxemburgo, França, Espanha, Países Baixos, Canadá, África do Sul, Macau, Hong Kong, Coreia do Sul, Malásia, Brasil, Moçambique e Angola.

Em 1993, gravou com José da Câmara e Nuno da Câmara Pereira o CD "Tradição" (EMI/VC), em homenagem à tia Maria Teresa de Noronha.
"O rio que nos viu nascer" (2006) é o mais recente álbum de Vicente da Câmara.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou este sábado, em Lisboa, que o fado de Vicente da Câmara, falecido aos 88 anos, "ficará na nossa memória pela sua nobreza e fidelidade".

Na página da Presidência da República na Internet foi colocada uma mensagem de condolências à família do fadista, falecido na manhã de hoje em Lisboa.

Poucos intérpretes souberam conjugar tão bem as raízes populares e o cunho aristocrático do fado", salienta Marcelo Rebelo de Sousa, recordando que Vicente da Câmara era sobrinho da fadista Maria Teresa de Noronha, primo e pai de fadistas.

"O seu fado, castiço, bem timbrado, ficará na nossa memória pela sua nobreza e fidelidade", destaca o Presidente da República, na mensagem.
O funeral do fadista sai da Igreja da Graça, no domingo, às 15:30, em direção ao cemitério dos Prazeres, em Lisboa."
In: “TVI 24” de 29.05.2016

sábado, 19 de setembro de 2015

Fortaleza de Armação de Pêra, por Vera Gonçalves, in "Terra Ruiva"


A Vila de Armação de Pêra, com 4867 habitantes (Censos de 2011), fica situada na foz da ribeira de Alcantarilha.
A primeira referência escrita conhecida remonta a 1577, na obra "Corografia do reino do Algarve", de Frei João de São José : «Pera é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar. [...]. Faz o mar defronte dela ua fermosa praia da banda do sul, na qual está ua armação de atuns que se chama a armação de Pera.»

Como o próprio nome sugere, a origem de Armação de Pera prende-se com a existência de armações de pesca do atum, perto da Baía de Pera, fixando-se aí uma pequena comunidade de pescadores, oriundos de Pera e Alcantarilha.

Devido à sua localização, junto à costa, a comunidade vivia em permanente insegurança, exposta aos frequentes assaltos e desembarques dos piratas magrebinos, vindos do Norte de África, que saqueavam as armações de pesca e as populações.

Para uma melhor defesa do local e proteção dos habitantes era necessário dispor de uma fortaleza ou forte. É neste contexto que surge a Fortaleza de Armação de Pera ou Forte de Santo António da Pedra da Galé, como, também, era conhecido.

Muito pouco se sabe acerca desta fortificação. Alguns autores defendem que foi edificado ao longo de três fases fundamentais. A primeira data apontada para a sua construção é a de 1571, remontando ao tempo de D. João III, período durante o qual se construíram muitas das fortalezas costeiras do Algarve.

Outros autores defendem que, durante o século XVII a família de apelido Galego, de origem andaluza e residente na freguesia de Pera, que se notabilizou na luta contra a pirataria que assolava a costa, será a responsável pela iniciativa da construção da fortaleza com o propósito de proteger as suas armações. A fortaleza foi governada, de 1660 a 1723, por três gerações pertencentes a esta família Galego, avô, filho e neto, todos de nome João Galego.

A segunda fase apontada como a de construção da fortaleza data dos anos de 1660-1667, praticamente um século depois. A sustentar esta teoria encontra-se, na fachada Norte, um pórtico de arco de volta perfeita (que serve de entrada para a fortaleza), coroado pela Pedra de Armas, e por baixo do escudo real acha-se gravada a data de 1667, que, presumivelmente, indica a conclusão das obras de construção deste monumento.

A outra fase data do reinado de D. João V, por volta de 1720, altura em que foi erguida uma pequena capela no recinto fortificado, a Capela de Santo António, em evocação ao padroeiro do forte, também conhecida como Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, numa clara alusão à proteção das populações piscatórias.

Esta capela é um modesto templo de nave única e planta retangular. Desprovida de rasgos decorativos assinaláveis a pequena igreja tem uma forte importância religiosa.

O terramoto de 1 de novembro de 1755 provocou uma enorme devastação em Armação de Pera sobretudo devido ao maremoto que instigou enormes estragos na fortaleza, que foi reconstruida prontamente.

A Fortaleza de Armação de Pera é um imóvel de arquitetura militar, fortificação de estilo abaluartada, construída em alvenaria de pedra, argamassa de consolidação e reboco, sobre a falésia. A Sul, sobre a areia da praia, implanta-se um muro irregular, levemente facetado, que é a plataforma da artilharia, orientada ao mar, cuja configuração define uma pouco pronunciada estrela de cinco pontas.

Ao abrigo da defesa proporcionada pelo forte, Armação de Pera deixa, a pouco e pouco, de ser um aglomerado de cabanas para se transformar numa aldeia de casas de alvenaria, com edificação de alguns chalés de bom gosto arquitetónico.

Além desta designação, a Fortaleza e a aldeia tiveram vários nomes como Pêra de Baixo, Armação de Baixo, Pêra da Armação, Santo António da Pedra da Galé e Santo António de Pêra.

Em 1841, Armação de Pêra surge já como um destino balnear "pois concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos de mar".


A 10 de abril de 1933, a aldeia de Armação de Pera é desanexada da freguesia de Alcantarilha e elevada a sede de freguesia. Cinquenta e oito anos depois, a 16 de agosto de 1991, é promovida à categoria de vila.

Em 1923, dá-se a criação da Comissão de Iniciativa e Turismo de Armação de Pera, (mais tarde Junta de Turismo de Armação de Pera, extinta em 1970 com a criação da Região de Turismo do Algarve). Com o turismo Armação de Pera beneficia de um desenvolvimento considerável, reconhecida como uma das melhores estâncias balneares do algarve, e a velha fortaleza torna-se ainda mais um símbolo da localidade.

O logradoiro público da Fortaleza esteve, entre 20 de março de 1940 e 17 de julho de 1958 (data que passou para a Direção Geral da Fazenda Pública) ao cuidado do Comando Geral da Guarda Fiscal. Em 1970, o mesmo Comando Geral volta a solicitar essa jurisdição. Esta cedência foi-lhe concedida, servindo de posto à Guarda Fiscal o edifício retangular de um só piso, que se encontra no interior do recinto.

Em junho de 1973 "foi determinada a classificação como imóvel de interesse público da Fortaleza de Armação de Pera". No entanto, só em 1975 se iniciou o processo da sua classificação.

A Fortaleza de Armação de Pera é classificada como imóvel de interesse público, a de 12 de setembro de 1978.

A Fortaleza de Armação, construída à beira mar, sobre o areal da praia, para defesa da costa, é um imóvel de grande importância para a história de Armação de Pera e símbolo desta vila, que nasceu à volta da mesma. Na verdade ela constitui o núcleo genético do aglomerado urbano, e é nos nossos dias um dos miradouros mais concorridos e apreciados do litoral algarvio.

Bibliografia
COSTA, Alexandre, et al., 1755 - Terramoto no Algarve, Centro Ciência Viva do Algarve, Faro, 2005
IANTT (1758) Dicionário Geográfico de Portugal, Freguesia de Alcantarilha [PT/TT/MPRQ/1/81]
MAGALHÃES, Natércia, Algarve - Castelos, Cercas e Fortalezas (As Muralhas como Património Histórico), Letras Várias, 1.ª edição, Faro, 2008

Autor: Vera Gonçalves

In Terra Ruiva de 25/6/2015

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Republicação de “OS NATAIS DA MINHA INFÂNCIA por Luis Patrício”


Dado o inequivoco interesse para a história dos anos 50 e 60 da nossa Vila, publicamos para memória futura, o relato do protagonista Luis Patricio, que nos fizeram chegar os Amigos de Armação de Pêra.
O dia de hoje, com o auxilio da memória e a leitura deste texto, poderá ganhar um significado acrescido de afecto e solidariedade, renovados à imagem de um passado humanamente mais salutar, do qual se nos impõe aproximar...


A quadra natalícia em Armação de Pêra nos anos 50 e 60 do século passado e os acontecimentos a ela associados, eram bem diferentes dos eventos e festejos de Natal actuais.

Mas eram muito solidários, humildes e sobretudo humanos.
O consumismo não fazia parte dos hábitos nem era economicamente comportável para a maioria dos habitantes desta pequena povoação (na altura).
Lembro-me de ver os meus pais partilharem com os familiares e amigos mais chegados, pequenas ofertas solidárias, dos produtos que colhiam na sua actividade de pequenos agricultores; como feijão, grão, azeite, figos, amêndoas, animais de capoeira e até carne de porco, quando havia matança.

Os que desenvolviam a sua actividade no mar, retribuíam com peixe seco e salgado, em caso de bom tempo, até com peixe fresco. Outros, em melhores situações de vida, presenteavam com frutas, bacalhau, bebidas de produção própria e do mais que as suas actividades e posses o permitissem. A miséria e a fome eram amenizadas, solidariamente e sem caridadezinha.

Não havia o hábito da celebração da consoada, as mulheres trabalhavam até tarde na confecção dos pastéis de massa tenra, das filhós e de outras iguarias para o dia de Natal, algumas famílias celebravam com uma pequena refeição a que designavam por “fazer a meia-noite”. A missa do galo não era nesse tempo celebrada em Armação de Pêra, porque não tínhamos igreja nem pároco, só em Alcantarilha é que era possível assistir à missa da meia-noite.

Para nós, os mais pequenos, vivíamos em euforia na esperança que o Menino Jesus se lembrasse de nós e do nosso sapatinho posto no fogão (ou lareira, para quem tinha) na noite de 24, não havia Pai Natal e sabíamos que eram os nossos pais que nos presenteavam, mas o espírito de curiosidade e o desejo de ter coisas novas para estrear no dia de Natal, deixava-nos excitados e éramos sempre os primeiros a sair da cama no dia seguinte. As prendas, eram mais ou menos comuns; um coelhinho de chocolate, meia dúzia de rebuçados, uma laranja, alguns figos torrados, umas meias ou cuecas e sobretudo a camisola de tricôt que a mãe fez durante meses e que será para estrear no dia de Natal.

O dia de Natal, era o ponto alto das festividades natalícias, para além da junção da família à mesa na degustação do galo, do peru ou do peixe seco demolhado e sobretudo no consumo das guloseimas que as nossas mães se tinham esmerado na véspera.

O mais o mais importante era ir visitar os presépios, e havia-os lindos! Feitos com arte e criatividade; o da Casa dos Pescadores feito pelas raparigas dos bordados. O da Dona Bia d’Gene, ou Dona Maria d’Eugénio na sua loja de roupas ao cimo da ladeira, casa que conhecia bem, porque o meu pai pela altura do Carnaval ia lá podar as parreiras e as roseiras. O presépio da “Preferida”, loja do Sr. João Roque e da Dona Cleunice, casal com sensibilidade e espírito artístico extraordinário. O presépio da nossa Escola Primária, no primeiro andar da Pensão Central, em que todos participávamos, uns na apanha do musgo e de arbustos decorativos, outros na confecção de bonequitos de barro e artefactos para o seu embelezamento, desde as estrelas até aos santinhos recortados dos postais de Natal, para além das cartas e postais com o desejos e sonhos de cada um. O presépio do Sr. Manuel Franco, era imponente! Enchia uma casa, ficava embevecido a admirá-lo, feito com tão bom gosto e criatividade, parecia um sonho.

E por último o presépio do Sr. Sargento Vitorino, era o mais distante mas o que maiores sensações de agrado e de espanto nos causava, não só pela minúcia dos seus pormenores, mas sobretudo pelas engenhocas, movimentos mecânicos e efeitos luminosos em que ele era mestre, que nos punha a sonhar e a imaginar como deveria ser a vida real numa aldeia da Galileia.


Com os desejos de um bom Natal.

Luís Ricardo

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Fortaleza de Armação de Pêra: novos documentos para a sua história


Sobre o arco de entrada da fortaleza de Armação de Pêra destaca-se uma pedra de armas, em que, por baixo do escudo real, está gravada uma data que, devido aos estragos da erosão, tanto pode ler-se 1661 como 1667.

Essa data indica, muito provavelmente, a conclusão das obras de construção do histórico forte, já que três relações das fortalezas algarvias (1621-Descrição de Alexandre Massai[1], 1653-Relatório de Pedro de Santa Colomba[2], 1654-Relação das obras nas fortificações do Algarve[3]), não referem qualquer fortificação entre Albufeira e Nossa Senhora da Rocha, antes assinalam a sua falta para defesa das armações de atuns de Pêra e de Pedra da Galé e das povoações vizinhas.(...)


Pode continuar a ler aqui.

sábado, 11 de agosto de 2012

Armação de Pêra. Ruído Ilegal com a benção das Autoridades (in) competentes!





A economia de Armação de Pêra assenta essencialmente no turismo. O conjunto de actividades concorrentes e adjacentes ao turismo fazem o todo económico que ocupa a população local e até outra de outras paragens que aqui acode às necessidades geradas pela procura.


As actividades lúdicas destacam-se neste contexto. Quem conhece bem a Vila, sabe que esta não tem oferta suficiente para a procura, por um lado pela sua insipiência, uma vez que, hoje em dia, a “indústria” da diversão carece de investimentos mais elevados que há vinte, trinta anos atrás, e por outro, a oferta nunca foi suficiente para a procura potencial.


Com efeito, a oferta, na guerra da concorrência, vai-se sofisticando na captação de clientelas, o que determina uma capacidade de investimento cada vez maior.


A entrada no “negócio” de multimilionários como Cristiano Ronaldo, com investimentos galácticos com televisões à mistura nas inaugurações, depois da abertura das filiais das grandes discotecas de Lisboa sucessivamente durante os últimos anos, permite concluir acerca da natureza do destino previsto para os pequenos comerciantes do género.


Na verdade sempre assim sucedeu. Albufeira com as suas discotecas históricas como o “7 e ½, já há quarenta anos ou mais, atraiam os veraneantes de Armação de Pêra que ali acorriam depois do “Casino” esmorecer, por falta de oferta à altura das expectativa dos adolescentes à época na Vila.


O “showbusiness” instalou-se, desde os primórdios do turismo moderno em Albufeira (facto a que Cliff Richards, sinceramente enamorado do Algarve, não terá sido alheio) e o turismo de Armação foi sempre essencialmente familiar, mais doméstico, tranquilo e conservador.

Ora, sabemos que o turismo de Armação se massificou, como, em termos relativos, se massificou também a oferta da diversão nocturna.


Bastará recordar que, só nos finais dos anos sessenta apareceu a primeira “boite” que era também restaurante, intimista, no edifício do Casino, que concorria com este, embora destinado a segmentos especificos da mesma procura.


Pouco tempo depois, surgiu uma outra “boite” a “Aquarius”, que constituiu uma verdadeira lufada de ar fresco na “noite” armacenense, uma vez que já se tratou, em termos relativos, de um investimento elevado, exclusivamente privado, com uma gestão experiente de um profissional do ramo, oriundo da “noite” de Cascais.


Durante duas ou três épocas polarizou a procura, foi um êxito e correspondeu às expectativas dos interessados, apesar de em percurso gradualmente descendente, e sempre sem prejuízo dos apelos de Albufeira.


O Casino e a sua “boite” e depois a “Aquarius” completavam, com o Cinema (do barracão) a oferta lúdica empresarial da noite de Armação, durante os primeiros quinze anos da fase do turismo moderno (depois de 1958).


Entretanto foram várias as iniciativas, consubstanciadas na abertura de “Pubs”, o primeiro deles o "Fernando's Hidaway, por baixo do Santola, no balneário reorientado, depois o "Funky Chicken" iniciativa de duas cidadãs suecas (inglesas afinal, segundo o comentário do Luís Ricardo), na Rua Rainha Santa, onde hoje é uma loja de móveis, sem grande longevidade e de seguida pela mão do Carlos "Padeiro" (sim, o Carlos da concessão da Praia Grande) e do Fernando "Peras" com o "Cântaro", frente à bomba da gasolina, mais tarde, discotecas, bares de alterne, todas de vida curta, satisfazendo a procura residual, a qual foi, cada vez mais generalizadamente, respondendo aos apelos de outras “noites” algarvias que também se foram disseminando pela Praia da Oura, Rocha, etc.


Com o vinte e cinco de Abril, a já evidente decadência do Casino e a experiência autogestionária de Vilalara, a discoteca local satisfez a procura de Armação de Pêra, mas com carácter conjuntural e sem futuro à vista.

Por essa altura, festa, festa era no "Luis da Conquilhas" onde se comia noite dentro, uns pregos, bifanas e conquilhas, oferta na qual o Luis Ricardo, já nostálgico da revolução que estava para ser, mas não foi, foi percursor em Armação de Pêra.

Pelos idos dos oitenta foi no "Zé Gato", no apoio de praia, uma vez mais reorientado, por baixo do mini-golf, que durante várias épocas a "noite" acontecia e pela primeira vez se aproximou da praia. Um êxito difícil de superar!

Em Armação, mais recentemente, nos primórdios dos noventa, surgiram ofertas de “noites” de praia, a primeira pela mão do popular Calixto, na então inusitada e reorientada Kubata, e bares/ discotecas de pequena dimensão que melhoraram substancialmente a qualidade da oferta nocturna, aparentemente sustentáveis, mas que não perderam a dimensão “doméstica” que não satisfaz a expectativa cosmopolita de grande parte da procura estacionada em Armação.


E assim, no contexto da pacatez doméstica, com os seus altos e os seus baixos, tem decorrido a oferta da noite de Armação, nos últimos anos!


Este ano porém, o apoio de Praia justamente apodado de “mamarracho” na Praia dos Pescadores, e que nasceu no seio de muita controvérsia e contestação popular, decidiu chocar de novo, agora durante a noite...


Não satisfeito com a exploração diurna, o “mamarracho” decidiu-se por uma incursão noite dentro. Até aqui, tudo bem...não fora a sua intenção de “concorrer” com as discotecas...


Optou por música “hard” e pelo volume, insuportável para quem não o procura, do ruído que produz.


Quis, ostensivamente, ser diferente daqueles que oferecendo bares de praia, acompanham com musica apropriada, no grau de volume correcto ao bem estar e ao desfrute tranquilo de uma noite de Agosto, junto ao mar!


Até aqui, passe o despropósito do incómodo geral que proporciona às habitações circundantes, que não são poucas, tudo normal. É para situações destas que a lei do ruído existe, bem como as suas pesadas coimas para os prevaricadores, entre outras consequências penalizadoras.


O que não está verdadeiramente dentro dos limites é a arrogância do proprietário que diz para quem o quiser ouvir que os residentes na zona “tem mas é que colocar vidros duplos” se se quiserem salvaguardar do ruído!


Nunca visto!


Mas, ainda mais grave que o descaramento do interessado é a legitimação para esta prática anti social, por parte de quem dirige a entidade responsável pela atribuição da licença especial de ruído, no âmbito das actividades ruidosas temporárias a Câmara Municipal de Silves, pela boca do seu Vice Presidente quando afirmou, segundo testemunhas oculares, que até acha bem que o bar tenha música!, (sabendo de antemão que a questão não é a música mas o elevado grau do seu volume).


Nunca visto!


Por seu lado, a fiscalização da autoridade marítima que afirma não ter o equipamento necessário para efectuar as medições, nada faz, quando podia fazer, se cumprisse as suas atribuições e competências.


Entretanto os residentes na zona reclamam providências, mas a Câmara de Silves faz ouvidos de mercador.


Pudera! Pensando o Vice Presidente como pensa!


Que compromissos poderão justificar a opção pela ilegalidade que o excesso de ruído representa e pela intranquilidade da procura turistica tradicional?


Ou será só evidência de um grave problema de surdez que não permite a tão sagaz personagem enxergar o óbvio e agir em conformidade?








segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Memórias

Armação nesta altura tinha outra “graça”...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Manuel Delfino Ribeiro:A devida homenagem da Vila a um Presidente exemplar, mandatário de excelência!

Maio de 1974:Tomada de Posse da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Armação de Pêra. À esquerda Manuel Delfino Ribeiro, assinando o termo de posse, Luis Ricardo. Junto a Luis Ricardo:Abilio Leote Ribeiro.

Em Dezembro de 1976 realizavam-se em democracia plena, as primeiras eleições autárquicas em Armação de Pêra.

Em resultado do escrutínio sairiam eleitos, como primeiro Presidente da Junta de Freguesia democraticamente eleita em Armação de Pêra, o Snr. Manuel Delfino Ribeiro, como tesoureiro o Snr. Abílio Leote Ribeiro e como secretário o Snr. Rui de Sousa Vilanova.

Pouco tempo depois de tomar posse, o Presidente, Manuel Delfino Ribeiro, filho da terra e homem enraizado profundamente na actividade do comércio do pescado, em cuja actividade atingiu notoriedade nacional, interpretando fielmente as justas aspirações da população que dependia da pesca, determinou-se com entusiasmo em promover a satisfação de algumas necessidades elementares da população.

O tempo era de acção e o Presidente era um empreendedor, generoso e voluntarista.
A premência de certas carências não se compadecia com aturadas reflexões e muito menos com os ditames da burocracia que, embora abalada, sobreviveu à mudança virando a casaca para as cores
democráticas.

Empreendeu assim, logo desde a Comissão Administrativa a que presidiu, entre outras realiz
ações, a construção de um edifício digno, esse sim definitivo, para a instalação da Lota de Pesca.

A justeza dos propósitos, a premência da sua determinação em satisfazê-los, a capacidade de realização, a vontade indómita que o compeliu ao ponto de financiar a própria construção do edifício, fizeram o resto.

E, se é certo que veio, mais tarde, a reaver os custos suportados, é sobretudo certo que todos nós sabemos que estamos a falar de uma atitude impar, a um nível sem qualquer paralelo conhecido na história desta terra.


A Armação de Pêra real, de sempre, não a Armação “de ninguém” do cosmopolitismo turístico, devedora ao homem, de uma homenagem à altura do singular exemplo de abnegação, realização, generosidade e modelo de autarca em democracia, cumpriu, no passado dia 10 do corrente, dia do 78º aniversário da freguesia, este dever, “imortalizando” o homem e o exemplo com a atribuição do seu nome a uma rua da Vila.


Singela homenagem da terra que, apesar da justiça da mesma ainda em vida, lhe continuará a dever e sobretudo ao exemplo que constituiu, a obrigação da memória futura.


Digna de registo é assim a iniciativa da Assembleia da Freguesia de Armação de Pêra que deu cumprimento à proposta – aprovada por unanimidade – de homenagear justamente o cidadão armacenense: Manuel Delfino Ribeiro, primeiro presidente da Junta de Freguesia, eleito em democracia.


A homenagem só pecou pela falta de precisão no nome do homenageado: Delfino, não Delfin!


A presença no acto do executivo da Junta de Freguesia e da direcção da Associação de Pescadores, é elucidativa sobre a natureza consensual da justa homenagem!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Terra Ruiva: um contributo de singular qualidade cientifica para a história de Armação de Pêra.


14-01-2011 - 11:53
A armação de atuns que deu origem a Armação de Pêra

Na ampla baía defronte do conhecido centro turístico de Armação de Pêra foram desde tempos remotos lançadas armações de atuns que estiveram na origem da povoação e lhe explicam o nome.

As primeiras referências a essas armações para a pesca do atum (Pedra da Galé e Pêra) são bastante vagas e situam-se entre finais do séc. XV e inícios do séc. XVI (Notícias da antiguidade das almadravas no Reino do Algarve, BNL, Res. F.G., Ms. 2700). Há notícias de armadores de Lagos e de Vila Nova de Portimão que vinham quase todos os anos, entre Abril e Agosto, lançar os extensos e complexos aparelhos de pesca chamados armações (almadravas, na designação antiga) para capturar os atuns que nesses meses passavam com destino ao Mediterrâneo onde iam desovar (atum de direito), ou no regresso ao Atlântico (atum de revés).

Essas comunidades piscatórias, estabelecidas sazonalmente em rudimentares cabanas na praia, estavam sujeitas a ataques de piratas do Norte de África que frequentemente vinham saquear as armações e as povoações mais próximas do litoral. Desde o reinado de D. João III que as notícias dos assaltos fizeram sentir a necessidade da construção de estruturas defensivas. Foi por esse motivo que começou a ser cercada por muralhas Alcantarilha (1571) e foi depois construída a fortaleza de Santo António de Pêra (1661).

Em 1577, na obra "Corografia do Reino do Algarve" (in Duas Descrições do Algarve do Século XVI, Liv. Sá da Costa, Lisboa, 1983), Frei João de São José dá-nos uma informação precisa: Pêra é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar (...). Faz o mar defronte dela uma formosa praia da banda do sul, na qual está uma armação de atuns que se chama a armação de Pêra ( p. 58).

Nos livros de registos paroquiais de Alcantarilha, encontram-se amiúde referências às armações de Pêra e da Pedra da Galé. Há diversos registos de óbitos de "estantes" (moradores ocasionais) nessas armações, por ex. nos anos de 1607, 1609, 1610, 1611 e 1614. Entretanto, mantinha-se a situação de insegurança dos armadores, pois a guarnição militar do castelo de Alcantarilha era escassa, além de estar muito distante para acudir a tempo às rápidas incursões dos corsários magrebinos.

Em 1621, o engenheiro militar Alexandre Massai, numa viagem de inspecção às estruturas defensivas do Algarve, observava a propósito de Albufeira: " E porque perto dela estão duas armações de atuns (...) que se dizem uma delas Pedra da Galé, a outra Pêra (...), estas ditas armações já foram roubadas e saqueadas por falta de defensão e com perda da fazenda de Sua Magestade e das partes que é assaz notório" . E mencionava também, ao falar de Alcantarilha: "Junto dela está o outro lugar acima dito de Pêra que ambos estão arriscados a um assalto e cativeiro que Deus não permita (...) e também pela segurança das armações deste lugar juntas que são Pera e Pedra da Galé, onde3 na costa está a família destes armadores, como Vossa Senhoria deve saber" (Lívio Costa Guedes, Aspectos do Reino do Algarve nos sécs. XVI e XVII, ed. 1988, p. 115 e p.119).

Construída a fortaleza de Santo António de Pêra, em 1661, passou a haver mais condições para a fixação permanente dos pescadores no lugar que se viria a chamar Armação de Pêra. Em 1747, o lugar já é referido como aldeia (Luís Cardoso, Dicionário Geográfico) e, em 1758, é descrito como "povoação de 456 vizinhos, 1206 pessoas e se chama Armação de Pêra pela vizinhança que com aquele lugar tem (...) Com temporada se lança a armação dos atuns em que se copeja grande cópia deles" e informa-nos que o maremoto de 1755 causou 62 mortos (Memórias Paroquiais de Alcantarilha).

Uma planta datada de 1774 mostra-nos a armação de atuns lançada e o arraial de cabanas na praia, perto da fortaleza (Planta 2ª e total onde se mostra toda a baía de Santo António de Pêra com a armação da Pedra da Galé, Arquivo do Exército).

Uma descrição bastante completa e relativa ao ano de 1790 é-nos dada por Constantino Botelho de Lacerda Lobo, na Memória sobre o estado das pescarias do Algarve no ano de 1790: "Compõe-se esta povoação de um ajuntamento de cabanas de pescadores que vivem perto do mar em uma praia areenta (...) Contavam-se no ano de 1790 cento e cinquenta pescadores, os quais trabalham na armação do atum o tempo competente desta pescaria, depois na de diversos peixes do mar com os covãos, nos lugares pedregosos da costa: findas as pescarias feitas com estes aparelhos, gastam o resto do ano em arrastar as xávegas para terra (...)" (p. 113-114).

Uma nova descrição em 1841 apresenta-nos uma povoação em desenvolvimento, com boas casas em vez de cabanas e cuja como praia já era frequentada por banhistas: "Hoje terá um terço da povoação da outra aldeia [destruída em 1755], composta de pescadores e gente que se emprega no mar; os quais têm para as suas pescarias 5 lanchas e 4 artes: a mais dominante é a das sardinhas no tempo da passagem. (...) Poucos anos há, ainda era formada só de cabanas, hoje tem boas casas e algumas ricas. (...) Os moradores, fora da temporada da sardinha, apanham com os covões e anzol algum peixe que vendem em fresco. São hum pouco desmazelados, e não se afastam da costa; dão-se a alguns trabalhos do campo, e as mulheres empregam-se em obras de palma. De Verão concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar". (João Baptista da Silva Lopes, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, p. 290-291). Repare-se, no entanto, que não é mencionada a armação, por estar desactivada.

Noutra descrição da aldeia de pescadores, feita em 1873 por Pinho Leal (Portugal Antigo e Moderno), verifica-se que a armação continuava a não ser lançada e que a maioria da população se ocupava na pesca. Este autor também observa um aumento da frequência da praia de banhos, dizendo que "na estação própria" a população flutuante era igual à população permanente.
Por volta de 1885-1886, o estudioso das pescas A. Baldaque da Silva dá conta da reactivação da armação da Pedra da Galé e refere em Armação de Pêra 27 embarcações e 176 pescadores, bem como regista a existência de uma fábrica de conserva de peixe

A armação da Pedra da Galé era propriedade da empresa Mascarenhas, Manuel & Companhia (fundada em 1881), à qual sucedeu a Companhia de Pescarias Louletano-Silvense (criada em 1892). O último ano em que a armação foi lançada terá sido 1905, a julgar pelos registos da capitania de Portimão (cit. Rui Prudêncio, A pesca do Atum na Costa Central do Algarve nos sécs. XIX e XX, in Anais do Município de Faro, 2003-04).

O Anuário Comercial de 1909 já não refere qualquer armação em actividade, mas sim duas fábricas de conservas de peixe e duas empresas de pesca. E assinala que Armação de Pêra era então um "lugar frequentadíssimo na estação balnear pela excelência da sua praia". Iniciava-se uma mudança das características da pequena povoação de pescadores que se acentuaria a partir dos anos 60, com um crescimento urbano descontrolado que continuou atá aos nossos dias.


Autor: José Manuel Vargas

sábado, 24 de julho de 2010

A propósito de uma exposição sobre Pescadores de Armação de Pêra...

Portugal: A pesca como a ordem natural das coisas

Portugal tem uma costa continental extensa, com cerca de 942 Km, e detém uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) com cerca de 1656 km2, graças à componente insular do seu território.

Desde sempre, o mar generoso em alimento, foi motivo de fixação das populações e o peixe incorporou, ancestralmente, a alimentação habitual dos sediados no litoral e mais lentamente, na medida do desenvolvimento dos transportes e das vias de comunicação, chegou progressivamente e em maior abundância ao interior.

De tal maneira se generalizou na alimentação dos portugueses que hoje apresentamos o maior consumo de peixe per capita na União Europeia dos 25, com cerca de 57 Kg/ano/habitante...só suplantado pelo apetite japonês cujo consumo per capita ronda os 65 Kg/ano/habitante.

Por isso a pesca constituiu sempre uma actividade económica relevante, desde logo no emprego, directo – captura - e indirecto, no seu comércio e nas indústrias a montante, como a cordoaria, a construção naval etc., e a juzante a extracção de sal, fabricação de gelo, congelação, indústria conserveira, de farinhas etc., etc.

Mas, enquanto tudo indica constituir a pesca uma actividade estratégica para a nossa economia, estranhamente e pelo contrário, revela-se ser um sector que tem vindo a perder peso relativo e absoluto na economia portuguesa, a avaliar pelo que observamos à vista desarmada, a qual é cientificamente confirmada pelos dados do Instituto Nacional de Estatística Português (INE).

Provavelmente em resultado de estratégias supranacionais pouco consentâneas com as especificidades das necessidades nacionais, a actividade piscatória portuguesa terá ficado refém daquelas e obnubilado estas, já que, em execução da politica de pescas da União Europeia, foi reduzida – em mais de 20% - a frota pesqueira, numa só década, quando é manifesto o défice da captura nacional para as necessidades do consumo interno, o qual atinge as 250.000 toneladas anuais que nos vemos forçados a importar de outras origens.


Armação de Pesca, Armação de Pêra

Armação de Pêra, reunindo todos os requisitos geográficos e de potencial económico resultante da abundância de pescado, tem o seu nome inscrito na história ancestral da actividade piscatória do Algarve e mais tarde de Portugal.

Fundada na baía a que haveria de dar o nome, foi, dadas aquelas circunstâncias naturais, propícia à fixação da população, vindo o lugar a ser baptizado com a designação da arte da pesca que mais expressão económica aqui ganhou: a almadrava.

Compreende-se facilmente a essencialidade da pesca na actividade económica do lugar, como, mais tarde, embora com outra expressão, a do turismo, na povoação e hoje Vila de Armação de Pêra.

Sucedeu porém que essa riqueza secular [A primeira referência história à pesca do atum no nosso país data do ano 151 da nossa era, no actual território do Algarve, sendo os cónios (povo ibérico submetido pelos romanos) quem se encarregavam da pesca] apesar de determinar a fixação da população e com ela a fundação da urbe, não terá excedido a mera subsistência, já que não deixou vestígios de outra natureza, daqueles que, na história, aparecem sempre aliados à riqueza económica, nomeadamente através do desenvolvimento de actividades relacionadas com a actividade principal, desenvolvimento social, cultural, com expressão por exemplo no investimento público ou religioso, na construção, na arquitectura ou noutros que tais.

A importância comparativa das Igrejas de lugares como Alcantarilha, Pêra ou mesmo Porches, face à dimensão da Capela da Nossa Senhora dos Aflitos em Armação de Pêra, permite-nos concluir acerca da importância relativa da pesca, enquanto actividade económica, na sua relação com a agricultura circundante.

Parece-nos pois de meridiana clareza concluir que se o resultado económico da abundância da pesca por aqui andou, rapidamente desandou, porquanto o que por aqui ficou, com, eventualmente raras, excepções, não foram as mais valias mas a força de trabalho, a qual, à medida que a importância da captura do atum e com ela a da pesca, foi decrescendo, se viu forçada a migrar ou mesmo a emigrar, para outros pólos do desenvolvimento económico, mormente Portimão, Olhão, Setúbal ou Lisboa.

Esta tendência centrífuga da população armacenense, cuja aptidão profissional assentaria essencialmente na arte marítima, nunca mais se inverteu, embora tenha abrandado com o advento do turismo que a voltou a fixar, sendo certo que, com ele, se registou o abandono progressivo da vocação profissional para que estaria mais quedada.

Ficar e conservar-se na pesca, representou assim uma opção de cada vez mais difícil sustentação.

Na verdade, se o turismo trouxe um acréscimo de consumo, e com ele um rendimento mais compensatório por virtude do aumento da procura sazonal, por outro, veio a inflacionar, de forma desproporcionada e durante todo o ano, todos os restantes factores de que dependiam os autóctones, como a alimentação, habitação, etc.

As exigências do turismo que despertava, “colheram” o pescador da pesca artesanal, enleado nas malhas ancestrais de uma procura incipiente por parte de uma população reduzida cuja base de rendimento e sustento derivava essencialmente da pesca, uma capacidade de captura elementar que gerava poucos excedentes e um sistema de comercialização verdadeiramente arcaico face ao desenvolvimento que, subitamente, o mercado e a economia impunham.

A Lota, o seu pitoresco e limitações

A encruzilhada do trabalho, com o rendimento e com o mercado ocorria na Lota. Era aí que a oferta e a procura se encontravam. Era aí que o rendimento era apurado e depois auferido.

Constituindo, desde tempos imemoriais, o sistema de compra e venda do pescado, que permitia o funcionamento quase perfeito da lei da oferta e da procura, a lota do peixe estendia-se pela praia fora e foi sempre ocasião de encontro da população bem como dos visitantes que, na busca de presenciarem as peculiaridades de vivências típicas, eram impulsionados a assistirem de perto à faina.

A chegada de um barco com peixe recém-capturado, fresco a saltar, era e continua a ser, um motivo de grande atracção, gerando sempre um grande reboliço na praia.

A cadência da chegada frequente dos barcos ao longo da manhã alternando com a realização da lota do respectivo pescado, teca atrás de teca, prendiam os mirones à praia, gerando um vaivém desordenado que os retinha por horas a fio.

O culminar deste verdadeiro espectáculo dava-se a quando do leilão, também ele cheio de peculiaridade e captor de toda a curiosidade e atenção dos presentes.

Depois dos montes formados, o Snr. Domingos (leiloeiro durante os derradeiros anos da Lota de Praia) apontando o monte a cuja venda se iria proceder, iniciava uma contagem decrescente a partir de um valor que entendia ser o adequado, em voz alta para que os interessados ouvissem e pudessem licitar quando o lote atingisse o preço que estava de acordo com a sua avaliação e interesse.
A licitação consistia em dar o CHUI, isto é, o comprador teria de, no momento em que a contagem atingisse o “seu” valor, manifestar a sua vontade de adquirir aquele lote por aquele valor, gritando: CHUI, e fazendo com isso parar a contagem. Aquele lote de peixe estava-lhe adjudicado pelo preço em que se encontrava a contagem no momento do CHUI.

A contagem decrescente por parte do leiloeiro, que assumia habitualmente a forma de uma verdadeira cantilena ininteligível para a generalidade das pessoas, bem como a expectativa do CHUI que chegaria a qualquer momento, constituíam outros motivos de grande atracção e concentração para todos os presentes e o ponto alto da representação.

Toda esta faina matinal tinha lugar na Praia dos Pescadores e constituía, sem dúvida um período de grande colorido, actividade, proximidade e comunicação como não havia outro em Armação de Pêra e o seu desaparecimento não foi substituído por nada equivalente, do ponto de vista pictórico e social.

Este quadro porém, se apresentava, para os mirones, um motivo de grande entretém e deleite, para os profissionais não reunia as condições mínimas de trabalho.

Desde logo não satisfazia uma pretensão antiga por parte dos pescadores, de verem alterado o sistema no sentido de um maior rigor na avaliação do resultado do seu trabalho, uma vez que as capturas eram colocadas em lota a granel, a olho, sem conta nem peso.

Depois não satisfazia os compradores profissionais porquanto a presença, em pé de igualdade, no local, frente ao peixe, na roda que em torno do mesmo se formava sobretudo por mirones, gente que não visava a licitação mas tão só o desfrute do espectáculo, constituíam sobretudo um factor de perturbação indesejável.

Esta realidade que se manteve desde tempos que a memória deixou de alcançar, só veio a ser alterada com as profundas transformações verificadas em Portugal, por virtude do 25 de Abril de 1974.

Uma Alavanca chamada Abril

No Portugal que Abril desencadeou, criaram-se condições para a comunidade dos cidadãos caminhar na construção de uma sociedade mais justa. Tornava-se possível sonhar, empreender mudanças e realizá-las.

Recorde-se que, em séculos de história, foi por via de Abril que se instalou a primeira verdadeira democracia em Portugal, já que no passado, pelo menos o sufrágio nunca fora universal. As mulheres que o digam, pois só a partir daí passaram a ter igualdade de direitos políticos com os homens.

O novo poder democrático tratou de promover, com a legitimação possível, a criação quasi informal de estruturas locais, provisórias, aquelas que viriam a ser as Comissões Administrativas Provisórias, para Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais, com incumbências específicas donde se salientava o recenseamento e preparação das primeiras eleições livres e democráticas (constituintes) que viriam a realizar-se em 25 de Abril de 1975.

Para tanto, em Junho de 1974 veio a realizar-se uma sessão de esclarecimento sobre a situação política do Pais, que teve lugar no Casino.
A população acorreu em massa e a dado passo da sessão a direcção da mesa suscitou aos presentes a necessidade de se nomear uma Comissão Administrativa Provisória com vista a assegurar as funções típicas da Junta de Freguesia até ao acto eleitoral que viria a eleger a nova Junta democrática, em conformidade com a lei constitucional que haveria de ser aprovada depois das constituintes, questionando a assembleia sobre o nome mais indicado a assegurar essas incumbências.

Espontaneamente vários presentes, entre eles Luís Ricardo, invocaram o nome do Snr. Manuel Delfino Ribeiro, o qual, uma vez adoptado pelos organizadores como candidato natural, foi proposto formalmente à assembleia que o aprovou por unanimidade.

Manuel Delfino Ribeiro aceitou a incumbência, chamando para seus colaboradores duas pessoas da sua inteira confiança que passaram a integrar então a Comissão Administrativa Provisória de Armação de Pêra: Luís Ricardo e Abílio Ribeiro de seus nomes.

Se a principal atribuição desta Comissão era o recenseamento com vista à realização do primeiro acto eleitoral democrático que visava a criação da Constituição da República, o seu desempenho não se quedou por aí.

Cedo se viu confrontada com legitimas reivindicações da população, às quais tentou dar a resposta mais adequada com a prontidão possível. Da pavimentação de ruas ao abrir de caminhos novos até à criação do Campo das Gaivotas e mais tarde a inclusão dos cidadãos retornados das ex-colónias, a tudo o que era urgente acorreu a Comissão Administrativa de boa memória, ou a Junta de Freguesia que lhe sucedeu.

De facto, por todo o Pais, alguns ousaram, dando corpo à bandeira de determinação e vontade que o Movimento das Forças Armadas desfraldou para todos, generosamente, por vezes convulsivamente, outras vezes trilhando ingenuamente direitos evidentes mas esquecidos, mas outras mais vezes fazendo o que se impunha com inteira justiça e a uma velocidade até então desconhecida socialmente.

É que, apesar de Abril ter aberto as portas do “calabouço” em que cada um fora ancestralmente colocado, ensaiar a liberdade ainda constituiu para muitos um acto temerário, parecendo carecer de maiores confirmações sobre a efectividade dos seus direitos, naturais, de andar para além da cela individual em que nasceram e se conservaram e daí o respeito que merecem todos os que, apesar de tudo, ousaram e realizaram.

Na verdade, mesmo depois de assegurada a liberdade, os direitos e o poder dos seus titulares, quando confrontados com a realidade resistente dos comportamentos, das atitudes e das estruturas sociais, quedaram-se muitas vezes por limitações equivocas e tardaram em assumirem-se plenamente. Tal fora a pesada herança secular de exclusão.

O que não sucedeu em Armação de Pêra, pois os meramente aclamados – Comissão Administrativa - ou mais tarde eleitos – Junta de Freguesia - neste período, em Armação de Pêra, estiveram bem à altura do momento histórico que viviam e constituíram um exemplo digno, que não se repetiu, do que é “governar” para o povo e em nome do povo.

Por seu turno os pescadores de Armação de Pêra, agora com legítimos e fiéis representantes na Comissão Administrativa, viram criadas as condições para promoverem a mudança das suas condições de trabalho e, porque não, de vida.

E se bem o pensaram, melhor o fizeram.

Trataram de eleger uma comissão que os representasse e a quem atribuíram poderes para dar corpo às suas principais reivindicações, que não eram muitas, mas eram justas e essenciais à dignificação e ao desenvolvimento produtivo da sua actividade.

Pugnavam os pescadores pelo estabelecimento de um local próprio para a realização da Lota, que até aí ocorrera na areia da Praia e pela aquisição de uma balança que permitisse apurar o peso do pescado capturado que se destinava à venda em Lota.

Coisas simples que, apesar de muito e de há muito ambicionadas, estavam por realizar, encalhadas na estagnação, na desesperança, no pavor de agir, na divisão do individualismo e no recolhimento sórdido do egoísmo de quem podia fazer mais e nada fazia.

Com a comissão administrativa constituída veio a consolidar-se a ambição de se ver construída uma Lota com instalações apropriadas, passando de ideia a projecto a realizar, assim que as condições se encontrassem reunidas.

A desejada balança, pelo contrário, viria a chegar aos pescadores logo em 1975, tendo sido construído um alpendre junto a um dos dois barracões existentes na praia, de propriedade do Snr. Joaquim Pereira, também este dono de duas das quatro armações de sardinha então ainda em laboração em Armação de Pêra, onde a mesma ficou salvaguardada das intempéries e dos amigos do alheio.

Satisfeita uma das principais reivindicações dos pescadores e encaminhada que se encontrava a outra, iniciou-se a pesagem sistemática e rigorosa do pescado, o que determinou para o futuro a realização de uma maior justiça no apuramento do rendimento do trabalho do marítimo.

Um pequeno passo na expressão económica do facto, mas um grande avanço na dignificação de uma profissão de enorme nobreza...

Um Presidente, mandatário de excelência

Em Dezembro de 1976 realizavam-se em democracia plena, as primeiras eleições autárquicas em Armação de Pêra.

Em resultado do escrutínio sairiam eleitos, como primeiro Presidente da Junta de Freguesia democraticamente eleita em Armação de Pêra, o Snr. Manuel Delfino Ribeiro, como tesoureiro o Snr. Abílio Leote Ribeiro e como secretário o Snr. Rui de Sousa Vilanova.

Pouco tempo depois de tomar posse, o Presidente, Manuel Delfino Ribeiro, filho da terra e homem enraizado profundamente na actividade do comércio do pescado, em cuja actividade atingiu notoriedade nacional, interpretando fielmente as justas aspirações da população que dependia da pesca, determinou-se com entusiasmo em promover a satisfação de algumas necessidades elementares da população.

O tempo era de acção e o Presidente era um empreendedor, generoso e voluntarista.
A premência de certas carências não se compadecia com aturadas reflexões e muito menos com os ditames da burocracia que, embora abalada, sobreviveu à mudança virando a casaca para as cores democráticas.

Empreendeu assim, logo desde a Comissão Administrativa a que presidiu, entre outras realizações, a construção de um edifício digno, esse sim definitivo, para a instalação da Lota de Pesca.

A justeza dos propósitos, a premência da sua determinação em satisfazê-los, a capacidade de realização, a vontade indómita que o compeliu ao ponto de financiar a própria construção do edifício, fizeram o resto.

E, se é certo que veio, mais tarde, a reaver os custos suportados, é sobretudo certo que todos nós sabemos que estamos a falar de uma atitude impar, a um nível sem qualquer paralelo conhecido na história desta terra.

A Armação de Pêra real, de sempre, não a Armação “de ninguém” do cosmopolitismo turístico, é devedora ao homem, de uma homenagem à altura do singular exemplo de abnegação, realização, generosidade e modelo de autarca em democracia.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Armação de Pêra

Temporal de 1990








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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Armação de Pêra: Vila Piscatória Per omni seculum seculorum!

Resulta de alguns comentários a noção que poderá ter ficado de que o entendimento que temos da Vila de Armação se resume à sua origem, ou à sua história, mormente ao facto de ter sido fundada por pescadores e ter sido mantida por uma actividade principal que foi a pesca.

Sendo verdade que esse é o nosso entendimento sobre o seu passado, não é nesse mesmo passado que, obviamente, nos encontramos, nem seria a esse passado que gostaríamos que a Vila voltasse, até por ser uma perspectiva impossível de realizar.

O passado, que foi caracterizado por muitas coisas boas, cuja conservação ou reposição seria de bom gosto e de uma extraordinária utilidade, mesmo, ou sobretudo, numa conjuntura de globalização, mas também é caracterizado por muita coisa má que, de todo, queremos ver reposta ou revivida.

Alguma atenção aos pescadores foi e será sempre dada por este sítio, em função da sua importância relativa na economia da Vila e sempre sem esquecer o seu papel fundador, o que veio a ser adicionalmente tratado por via do Dia Nacional do Pescador, o qual cumpriu e muito bem na nossa Vila, a finalidade para que foi criado.

Sucede que a invocação do passado, numa Vila que o pretenso desenvolvimento descaracterizou é não só importante como absolutamente imprescindível ao reencontro da sua originalidade e identidade, tão ameaçadas entre milhões de tijolos, toneladas de betão e léguas de ferro.

Ouvimos recentemente uma estória acerca de uma criança que vendo uma galinha não reconheceu o animal. Confrontado com o esclarecimento de que se tratava de uma galinha, mostrou grande surpresa uma vez que identificava a galinha com aquilo que vê e no estado em que vê, no supermercado ou em casa, não sonhando por exemplo que o animal tivesse penas ou asas.

Em Armação, salvaguardadas as devidas distancias, corre-se o risco de qualquer criança pensar que a Vila foi sempre um estaleiro de construção e que tudo terá começado com o lançamento da primeira pedra!

A identidade de Armação é assim um bem precioso a preservar e a pesca e os pescadores, factores incontornáveis da sua fundação e história, têm aqui um lugar cativo per omni seculum seculorum!

(Continua...)

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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Património Natural

Algarve