O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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sábado, 15 de janeiro de 2011

Terra Ruiva: um contributo de singular qualidade cientifica para a história de Armação de Pêra.


14-01-2011 - 11:53
A armação de atuns que deu origem a Armação de Pêra

Na ampla baía defronte do conhecido centro turístico de Armação de Pêra foram desde tempos remotos lançadas armações de atuns que estiveram na origem da povoação e lhe explicam o nome.

As primeiras referências a essas armações para a pesca do atum (Pedra da Galé e Pêra) são bastante vagas e situam-se entre finais do séc. XV e inícios do séc. XVI (Notícias da antiguidade das almadravas no Reino do Algarve, BNL, Res. F.G., Ms. 2700). Há notícias de armadores de Lagos e de Vila Nova de Portimão que vinham quase todos os anos, entre Abril e Agosto, lançar os extensos e complexos aparelhos de pesca chamados armações (almadravas, na designação antiga) para capturar os atuns que nesses meses passavam com destino ao Mediterrâneo onde iam desovar (atum de direito), ou no regresso ao Atlântico (atum de revés).

Essas comunidades piscatórias, estabelecidas sazonalmente em rudimentares cabanas na praia, estavam sujeitas a ataques de piratas do Norte de África que frequentemente vinham saquear as armações e as povoações mais próximas do litoral. Desde o reinado de D. João III que as notícias dos assaltos fizeram sentir a necessidade da construção de estruturas defensivas. Foi por esse motivo que começou a ser cercada por muralhas Alcantarilha (1571) e foi depois construída a fortaleza de Santo António de Pêra (1661).

Em 1577, na obra "Corografia do Reino do Algarve" (in Duas Descrições do Algarve do Século XVI, Liv. Sá da Costa, Lisboa, 1983), Frei João de São José dá-nos uma informação precisa: Pêra é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar (...). Faz o mar defronte dela uma formosa praia da banda do sul, na qual está uma armação de atuns que se chama a armação de Pêra ( p. 58).

Nos livros de registos paroquiais de Alcantarilha, encontram-se amiúde referências às armações de Pêra e da Pedra da Galé. Há diversos registos de óbitos de "estantes" (moradores ocasionais) nessas armações, por ex. nos anos de 1607, 1609, 1610, 1611 e 1614. Entretanto, mantinha-se a situação de insegurança dos armadores, pois a guarnição militar do castelo de Alcantarilha era escassa, além de estar muito distante para acudir a tempo às rápidas incursões dos corsários magrebinos.

Em 1621, o engenheiro militar Alexandre Massai, numa viagem de inspecção às estruturas defensivas do Algarve, observava a propósito de Albufeira: " E porque perto dela estão duas armações de atuns (...) que se dizem uma delas Pedra da Galé, a outra Pêra (...), estas ditas armações já foram roubadas e saqueadas por falta de defensão e com perda da fazenda de Sua Magestade e das partes que é assaz notório" . E mencionava também, ao falar de Alcantarilha: "Junto dela está o outro lugar acima dito de Pêra que ambos estão arriscados a um assalto e cativeiro que Deus não permita (...) e também pela segurança das armações deste lugar juntas que são Pera e Pedra da Galé, onde3 na costa está a família destes armadores, como Vossa Senhoria deve saber" (Lívio Costa Guedes, Aspectos do Reino do Algarve nos sécs. XVI e XVII, ed. 1988, p. 115 e p.119).

Construída a fortaleza de Santo António de Pêra, em 1661, passou a haver mais condições para a fixação permanente dos pescadores no lugar que se viria a chamar Armação de Pêra. Em 1747, o lugar já é referido como aldeia (Luís Cardoso, Dicionário Geográfico) e, em 1758, é descrito como "povoação de 456 vizinhos, 1206 pessoas e se chama Armação de Pêra pela vizinhança que com aquele lugar tem (...) Com temporada se lança a armação dos atuns em que se copeja grande cópia deles" e informa-nos que o maremoto de 1755 causou 62 mortos (Memórias Paroquiais de Alcantarilha).

Uma planta datada de 1774 mostra-nos a armação de atuns lançada e o arraial de cabanas na praia, perto da fortaleza (Planta 2ª e total onde se mostra toda a baía de Santo António de Pêra com a armação da Pedra da Galé, Arquivo do Exército).

Uma descrição bastante completa e relativa ao ano de 1790 é-nos dada por Constantino Botelho de Lacerda Lobo, na Memória sobre o estado das pescarias do Algarve no ano de 1790: "Compõe-se esta povoação de um ajuntamento de cabanas de pescadores que vivem perto do mar em uma praia areenta (...) Contavam-se no ano de 1790 cento e cinquenta pescadores, os quais trabalham na armação do atum o tempo competente desta pescaria, depois na de diversos peixes do mar com os covãos, nos lugares pedregosos da costa: findas as pescarias feitas com estes aparelhos, gastam o resto do ano em arrastar as xávegas para terra (...)" (p. 113-114).

Uma nova descrição em 1841 apresenta-nos uma povoação em desenvolvimento, com boas casas em vez de cabanas e cuja como praia já era frequentada por banhistas: "Hoje terá um terço da povoação da outra aldeia [destruída em 1755], composta de pescadores e gente que se emprega no mar; os quais têm para as suas pescarias 5 lanchas e 4 artes: a mais dominante é a das sardinhas no tempo da passagem. (...) Poucos anos há, ainda era formada só de cabanas, hoje tem boas casas e algumas ricas. (...) Os moradores, fora da temporada da sardinha, apanham com os covões e anzol algum peixe que vendem em fresco. São hum pouco desmazelados, e não se afastam da costa; dão-se a alguns trabalhos do campo, e as mulheres empregam-se em obras de palma. De Verão concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar". (João Baptista da Silva Lopes, Corografia ou Memória Económica, Estatística e Topográfica do Reino do Algarve, p. 290-291). Repare-se, no entanto, que não é mencionada a armação, por estar desactivada.

Noutra descrição da aldeia de pescadores, feita em 1873 por Pinho Leal (Portugal Antigo e Moderno), verifica-se que a armação continuava a não ser lançada e que a maioria da população se ocupava na pesca. Este autor também observa um aumento da frequência da praia de banhos, dizendo que "na estação própria" a população flutuante era igual à população permanente.
Por volta de 1885-1886, o estudioso das pescas A. Baldaque da Silva dá conta da reactivação da armação da Pedra da Galé e refere em Armação de Pêra 27 embarcações e 176 pescadores, bem como regista a existência de uma fábrica de conserva de peixe

A armação da Pedra da Galé era propriedade da empresa Mascarenhas, Manuel & Companhia (fundada em 1881), à qual sucedeu a Companhia de Pescarias Louletano-Silvense (criada em 1892). O último ano em que a armação foi lançada terá sido 1905, a julgar pelos registos da capitania de Portimão (cit. Rui Prudêncio, A pesca do Atum na Costa Central do Algarve nos sécs. XIX e XX, in Anais do Município de Faro, 2003-04).

O Anuário Comercial de 1909 já não refere qualquer armação em actividade, mas sim duas fábricas de conservas de peixe e duas empresas de pesca. E assinala que Armação de Pêra era então um "lugar frequentadíssimo na estação balnear pela excelência da sua praia". Iniciava-se uma mudança das características da pequena povoação de pescadores que se acentuaria a partir dos anos 60, com um crescimento urbano descontrolado que continuou atá aos nossos dias.


Autor: José Manuel Vargas

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Contributos para a História de Armação de Pêra

Depois de termos tentado encontrar fontes sobre a história de Armação de Pêra, sem grande sucesso, fomos surpreendidos com dois artigos no blog de História e Estórias, cujo endereço electrónico aqui deixamos:
http://blog-de-historia.blogspot.com/search/label/Armação de Pêra.

Um sobre a fortaleza e ermida da Senhora da Rocha, cuja origem tão remota nos surpreendeu (entre 551 e 624 d.c.), e outro sobre Armação de Pêra que nos surpreendeu igualmente pelo resultado trágico para a aldeia em que importou o maremoto de 1755, o qual se saldou, em vida humanas, em 84 mortes, tendo ficado uma única casa de pé.

Pela sua importância e raridade, mas também pelas fontes enumeradas, não resistimos a transcrevê-los integralmente, na expectativa de que os elementos constantes dos textos possam motivar outras investigações que permitam um levantamento histórico mais perene.


“A fortaleza e ermida da Snra da Rocha

A fortaleza de Sr.ª da Rocha (freguesia de Porches, concelho de Lagoa), distante 3 Kms de Armação de Pêra para ocidente, situada no centro de um pequeno e estreito promontório do barlavento algarvio é bastante antiga. Há quem afirme ser de origem bizantina, quando os exércitos de Império Romano do Oriente ocuparam o litoral do sul da Península Ibérica, incluíndo o território hoje chamado Algarve entre os anos 551 e 624 d.C. A Prof.ª Teresa Júdice Gamito, sobre o sistema defensivo bizantino no Algarve, escreve o seguinte: « Outro ponto de interesse a assinalar neste esquema defensivo entre Ossonoba [Faro] e Lacobriga [Lagos] seria o forte de Sr.ª da Rocha, ponta avançada e dominando toda a costa entre uma e outra cidade, onde aparecem vestígios de uma fortaleza, tendo tido ao centro uma torre octogonal posteriormente aproveitada para a capela da Sr.ª da Rocha, de grande devoção entre os pescadores. De assinalar um pequeno átrio com três arcos redondos, assentes em colunelos rematados com três capitéis de decoração fitomórfica, confirmando a origem bizantina do templo, tal como encontramos por exemplo em S. Pedro Balsemão, constituindo a forma característica das capelas designadas por «visigóticas» e dando este átrio o acesso à capela propriamente dita.» concluíndo «Parece-nos que, de facto, podemos detectar nas muralhas antigas da cidade de Faro e na capela da Sr.ª da Rocha a presença Bizantina no Algarve, não de um modo forte e imponente, pois o tempo disponível não foi muito, mas subtil, efectivo e funcional no reforço das suas defesas e dos pontos chave do território.» (GAMITO, 1996, p. 263).

A descrição mais antiga conhecida da fortaleza de Sr.ª da Rocha é redigido pela mão de Henrique Fernandes Sarrão na obra História do Reino do Algarve escrita por volta de 1600, onde observa: «[...] E mea légua de Porches o Velho, para a parte austral, está ua inexpugnável fortaleza, que tem dentro ua igreja, que se chama Nossa Senhora de Porches, ou da Rocha, em ua ponta de rocha muito alta, e pela banda do norte, que é da terra, na entrada, tem um muro, que a atravessa, e fica a ponta no mar, com a sua ponte levadiça, em que tem sua cava, e está bem artelhada, e dentro tem ua cisterna de boa água. Nesta fortaleza há capitão e condestable.» (SARRÃO, [imp.] 1983, p. 157). Actualmente a fortaleza de Sr.ª da Rocha já não existe, havendo apenas o fosso e restos de muralha. A ermida que estava no seu interior está totalmente conservada, bem como uma casa anexa que muito possivelmente servira de armazém ou de aquartelamento para a guarnição da fortaleza.

Bibliografia:
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GAMITO, Teresa Júdice (1996) - As muralhas de Faro e os vestígios bizantinos da ocupação da cidade e do seu sistema defensivo in Miscellanea em Homenagem ao Professor Bairão Oleiro. Lisboa: Edições Colibri
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SARRÃO, Henrique Fernandes (1983) - História do Reino do Algarve in Duas Descrições do Algarve do Século XVI, apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora “

Por Rui Manuel C. Prudêncio

“Armação de Pêra (1577 - 1886): notas históricas

Armação de Pêra, conhecida estância de veraneio, alberga nas férias de Verão milhares de pessoas de todo o país à procura do sol, da praia e das águas tépidas do oceano. É também um exemplo flagrante do desordenamento urbanístico que assolou extensas áreas do Algarve desde a década de 60 do século passado.

Tal como outros centros urbanos do litoral algarvio, Armação de Pêra desenvolveu-se a partir de uma pequena comunidade piscatória, cuja primeira referência escrita conhecida remonta a 1577 na obra Corografia do Reino do Algarve, de Fr. João de São José que ao descrever a aldeia de Pêra observa o seguinte: «Pera é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar. [...]. Faz o mar defronte dela ua fermosa praia da banda do sul, na qual está ua armação de atuns que se chama a armação de Pera.» (S. JOSÉ, imp. 1983, p. 58). A existência de uma armação de pesca do atum perto de Pêra, na zona de costa hoje conhecida como baía de Pêra, para além de explicar a origem do nome da Armação de Pêra actual, denota que já em 1577 existiria uma pequena comunidade de pescadores sazonalmente ou permanentemente fixada neste território


Quando por ordem de Filipe II o engenheiro militar italiano Alexandre Massai percorreu a costa do Algarve em 1621 no âmbito de uma viagem de inspecção das infraestruturas defensivas, encontrou no termo da vila de Albufeira « [...] duas Armassois de Atuns mais álem das ásima dittas q se dizem hua dellas pedra de gúale, a otra pera, e a gente e os barquos dellas no tenpo de necessidade se vão âo emparo desta V.ª e portanto digo serem neçess.ºs os mosquettes E a sobreditta Artelharia, estas dittas Armassois ja forão roubadas E saquiadas por falta de defenção, E com perda da faz.da de Sua mag.de [...]» (GUEDES, 1988, p. 115). A comunidade piscatória de Armação de Pêra, não obstante as ameaças dos corsários magrebinos que saqueavam as armações de pesca, parece ter continuado entre 1577 e 1621, ou até se reforçado, visto Alexandre Massai mencionar mais uma armação de pesca na baía de Pêra em 1621 (Pedra da Galé) que Fr. João de São José em 1577 não referencia. Não é possível aferir se a presença piscatória em Armação de Pêra estaria somente restrita à época de pesca do atum (Abril a Agosto), ou se permaneceria no local durante o resto do ano, dedicando-se a outros tipos de pesca. Por factores demográficos, económicos ou por ambos, construiu-se uma pequena fortaleza em 1667, que com a sua guarnição militar reforçou a presença humana em Armação de Pêra.

Planta da fortaleza de Santo António de Pêra (Armação de Pêra) desenhada pelo Tenente Coronel Engenheiro José Sande de Vasconcelos entre 1784 e 1790 e publicada no Mappa da configuração de todas as praças fortalezas e baterias do Reyno do Algarve ordenado para ser prezente ao Principe Nosso Senhor pello Conde d' Val d' Reys Governador e Cappitam General do mesmo Reyno. (CALLIXTO, Carlos Pereira - Apontamentos para a História das Fortificações do Reino do Algarve: o mapa das fortificações do Algarve desenhado por José Sande de Vasconcelos in Anais do Município de Faro, n.º XII (1982))

Aquando do maremoto de 1755, morreram 84 pessoas em Armação de Pêra, tendo ficado de pé apenas uma casa (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290). O estudioso das pescas em Portugal, Constantino Botelho de Lacerda Lobo, na Memória sobre o estado das pescarias do Algarve no ano de 1790, escreve sobre Pêra de Santo António (termo que designava Armação de Pêra na época): «Compõe-se esta povoação de um ajuntamento de cabanas de pescadores que vivem perto do mar em uma praia arreenta; confina do nascente com uma alagoa formada por águas vertentes das colinas vizinhas: ao norte com uma aldeia chamada Pêra de Cima [sendo Armação de Pêra também conhecida como Pêra de Baixo] [...].

Contavam-se no ano de 1790 cento e cinquenta pescadores, os quais trabalham na armação do atum o tempo competente desta pescaria, depois na de diversos peixes do mar com os covãos, nos lugares pedregosos da costa: findas as pescarias feitas com estes aparelhos, gastam o resto do ano em arrastar as xávegas para terra. [...].

Em o ano de 1790 havia oito barcos, de que somente faziam uso para a pescaria daquela costa, em cada um dos quais iam oito ou dez pescadores, e os outros costumam ficar em terra para arrastar os aparelhos.

[...] tem tido aumento a pescaria nesta costa; porque no ano de 1790 contavam-se oito barcos, quando em outro tempo somente havia quatro. Também tinha crescido o número dos pescadores, e xávegas.» (LOBO, 1991 [2ª ed.], p. 82, 83). Segundo o registo deste académico, Armação de Pêra recuperou rapidamente da devastação que sofreu com o maremoto de 1755.

João Baptista da Silva Lopes descreveu em 1841 Armação de Pêra com estas palavras: « Hoje terá hum terço da povoação da outra aldeia [daquela destruída em 1755], composta de pescadores e gente que se emprega no mar; os quaes tem para as suas pescarias 5 lanchas e 4 artes: a mais dominante he a das sardinhas no tempo da passagem, [...] poucos annos ha, ainda era formada só de cabanas, hoje tem boas casas e algumas ricas. [...] Os moradores, fóra da temporada da sardinha, apanhão com os covãos e anzol algum peixe que vendem em fresco; são hum pouco desmazelados, e não se afastão da costa; dão-se a alguns trabalhos do campo, e as mulheres empregão-se em obras de palma. De verão concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.» (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290, 291) Este testemunho contém alguns dados interessantes. Entre 1790 e 1841 Armação de Pêra passa de um agrupamento de cabanas para uma aldeia de casas de alvenaria, facto que pode indiciar um aumento do poder económico dos seus habitantes e a consequente subida da qualidade de vida. Também nestes 50 anos, deixou-se de pescar o atum como ocorria em 1577, 1621 e 1790. Por fim, em 1841, Armação de Pêra já se prefigurava como um destino balnear «pois concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.»

Em 1885/86 A. A. Baldaque da Silva, no levantamento efectuado sobre o estado das pescas em Portugal, contabiliza em Armação de Pêra 27 embarcações e 176 pescadores. A espécie de maior rendimento económico é a sardinha (7 665$940 réis em 1885 e 6 068$920 réis em 1886), capturada principalmente através das artes de arrastar (xávegas). Regista ainda a existência de uma fábrica de conserva de peixe e a reactivação da armação do atum da Pedra da Galé, cujo pescado dava entrada em Armação de Pêra. Acrescenta Baldaque da Silva que «Alem das pessoas indicadas no mappa antecedente, ha mais um certo numero, não pequeno, de homens e mulheres e menores, que coadjuvam o arrastamento das artes, a conducção da pescaria e muitos outros trabalhos inherentes a esta industria.» (SILVA, 1891, p. 152). Estes números indicam que a comunidade piscatória armacenence reforçou-se demográficamente ao longo de oitocentos, chegando a ter uma vertente industrial com a fábrica de conserva de peixe.

Bibliografia:
LOBO, Constantino Botelho de Lacerda (1991) - Memória sobre o estado das pescarias da costa do Algarve no ano de 1790 in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa: 1789 - 1815, [2.ª ed.]. Lisboa: Banco de Portugal, tomo V
.
LOPES, João Baptista da Silva (1989) - Corografia ou memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve, [2.ª ed.]. Faro: Algarve em Foco Editora, vol. 1
.
GUEDES, Lívio da Costa (1988) - Aspectos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII: a «Descripção» de Alexandre Massaii (1621), pref. de Carlos Bessa. Lisboa: Arquivo Histórico Militar
.
SÃO JOSÉ, Fr. João de (imp. 1983) - Corografia do Reino do Algarve dividida em quatro livros (1577), apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e de Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora
.
SILVA, António Artur Baldaque da (1891) - Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional “

Por Rui Manuel C. Prudêncio

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