Não é fácil ser candidato! Sobretudo depois de ter sido eleito e ter prestado provas.
O resultado do trabalho realizado nos anos do exercício anterior do cargo persegue o candidato à reeleição como a sua sombra em dias soalheiros.
Pode suceder que essa gestão seja impoluta e, nesse caso, infelizmente raro, pode influenciar positivamente os cidadãos-eleitores que reelegem o candidato.
Porém, sucede amiúde que o resultado dessa mesma gestão seja merecedora de critica e, nesse caso, constitui uma canga a que o candidato não escapa.
No entanto, tal como o resultado da gestão anterior que pode ser uma ou outra coisa, o destino do candidato, num caso ou noutro, pode ser a reeleição ou a derrota eleitoral.
Que concluir então sobre a “racionalidade” dos processos eleitorais?
Que são religiosos? Isto é, que se Deus quiser ganha o candidato mais qualificado para ocupar um cargo de responsabilidade com capacidade, competência, dedicação e seriedade e, querendo Deus o contrário ganhará aquele que já demonstrou não ter capacidade, ou competência, ou dedicação, ou seriedade?
Até parece que, muitas vezes, assim é!
O que nos parece porém é que Deus terá muito mais com que se preocupar, deixando para o homem-cidadão-eleitor, a decisão sobre quem haverá de administrar a coisa pública.
Como explicar então que aquele que o senso comum consideraria indesejável, possa ser eleito?
A recente legislação sobre a limitação do número de mandatos, não dando uma resposta directa sobre o mecanismo eleitoral-partidário, reconhece os efeitos perniciosos de prolongar no poder “eternamente” aqueles que melhor sabem jogar este jogo, limitando pelo número, as vezes que o jogo pode ser jogado.
Prevenindo que, aqueles que jogam com “dados viciados” não possam enganar os eleitores ad eternum.
Ou prevenindo que os viciados no jogo preservem a saúde económica ...dos cidadãos-contribuintes.
Todos sabemos que, quem se perpetua no poder, a maior parte das vezes, consegue-o à conta do erário público (da distribuição de vantagens económicas: dos empregos públicos às obras públicas, dos aumentos de prestações pública sem sustentação para tanto).
Por esse caminho chegámos à situação de agonia em que se encontra o orçamento e a generalidade dos cidadãos contribuintes!
Isto é: a manipulação eleitoral dos resultados ocorre mediante parte das promessas cumpridas no mandato anterior (todos constatam estes factos e atribuem-lhes imediatamente causa: uma estrada esburacada finalmente tapetada de novo, mais uma rotunda, imprescindível ou voluptuária, sendo habitualmente a última construída em primeiro lugar, etc...etc...).
Só que tais melhorias, as imprescindíveis e as voluptuárias, não são pagas pelo candidato que as reivindica como se de um mecenas se tratasse.
Tais obras, realizadas a maior parte das vezes com recurso a crédito, são pagas pelos cidadãos-contribuintes, sem que tenham tido a possibilidade de decidir que prioridade dar ao dinheiro que pagou, nem àquele que lhe irão pedir no futuro!
Teoricamente é para decidir sobre o dinheiro que lhe vão exigir (a sua contribuição), os tributos que lhe são impostos - que se elegem os políticos!
Não é por isso indiferente o candidato ser competente ou incompetente, ser leal ou desleal, ser trabalhador ou pária!
As eleições em Portugal mantêm um estilo competitivo de cariz ideológico, sintetizado em partidos-clubes e portanto essencialmente emocional (sem esquecermos os “esquemas”, os “amigos” e os “golpes” que também caracterizam habitualmente qualquer “albergue espanhol”) por parte do cidadão-eleitor.
É tempo (pelo menos, porque se nos impõe a situação económica nacional) do cidadão-eleitor interiorizar que é o cidadão-contribuinte que tem de ir às urnas no dia das eleições!
E na falta de outros indicadores para decidir, porque tem andado, hoje, como secularmente, essencialmente preocupado com o seu sustento, deixando a política para os políticos (os algozes), deverá decidir pelo candidato que se apresenta para ter a responsabilidade de administrar a coisa pública, salvo honrosas e dignas exceções com evidencia pública e manifesta, que não tenha tido essa responsabilidade anteriormente!
Porque não se pode premiar quem, para se reeleger, invariavelmente, usou de meios públicos à sua disposição – dos telefonemas (no mínimo) à oportunidade da obra e sua inauguração à boca das eleições, ou à utilização do aparelho do estado para fins eleitorais (no limite) – como tem vindo a ser estória na nossa história recente!
O que é facto é que não há renovação possivel quando em 82% (oitenta e dois por cento) das Câmaras há um presidente ou vice-presidente candidato a reocupar a Presidência.
A limitação dos mandatos, quanto a nós, é inconstitucional! Mas o privilégio dos candidatos que à partida gozam de meios ilegítimos, que são pagos por todos os cidadãos-contribuintes, para além de má despesa pública que é imperioso condenar, é de uma desonestidade a toda a prova, cuja reiteração não a converte em virtude, e ameaça o futuro de todos, o que já não é pouco, mas também o próprio sistema democrático (para os que sobrarem da razia)!