O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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sexta-feira, 4 de julho de 2025
"Armação, esse paraíso intocável (de críticas)"
Fomos recentemente brindados com uma mensagem inflamável (e um tanto inflamada) de um armacenense muito ofendido, que, julgando ser um assíduo leitor do blogue Cidadania, decidiu fazer justiça com as próprias palavras — chamando-nos nomes que, por pudor e bom gosto, optamos por não reproduzir aqui. Afinal, há crianças que podem estar a ler.
Aparentemente, este nosso leitor considera que não temos mais nada que fazer do que apontar o dedo a tudo o que vai mal em Armação de Pêra. Como se isso fosse um problema! Ora bolas, se há coisa que esta terra não nos deixa, é falta de material. Armação é o Netflix dos "tesourinhos deprimentes": há sempre um novo episódio, uma nova personagem secundária que se julga protagonista, ou um cenário decrépito que ainda assim leva orçamento camarário para figurar como "melhoria urbana".
Dirão: “Mas porquê tanto azedume?” Não é azedume, é realismo com sabor a limão — ácido, sim, mas refrescante.
À semelhança de Joana Marques com os Anjos, também nós não saímos à caça de polémicas: elas aparecem, vestem-se mal, estacionam em cima do passeio e fazem selfies junto a rotundas artisticamente duvidosas. Se há quem se ponha a jeito, não somos nós que vamos virar a cara. Seria uma indelicadeza jornalística.
A verdade, caro armacenense indignado, é que enquanto os verdadeiros problemas desta vila continuarem a ser tratados com a mesma eficácia com que se limpa uma sarjeta em agosto, nós cá estaremos, de lupa na mão e ironia na ponta dos dedos. No dia em que Armação for um exemplo de boa gestão, civismo e visão urbana… prometemos dedicar-nos a atividades menos espinhosas. Tipo sudoku. Ou origami. Ou até, imagine-se, elogiar!
Até lá, estimado leitor, o melhor que tem a fazer é preparar-se: o verão ainda agora começou, e Armação ainda tem muito para nos oferecer — nem que seja mais um “tesourinho” para a coleção.
Com estima e um leve sarcasmo,
Os chatos do costume
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opinião
terça-feira, 9 de julho de 2019
Opinião de chinês
1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir.
O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros.
Mas, ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar.
Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos ...
2. Os industriais Europeus deslocalizam-se porque não estão disponíveis para suportar
o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência
generalizada.
3. Portanto endividam-se, vivem a crédito.
Mas os seus filhos não poderão pagar 'a conta'.
4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo.
Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la.
5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos 'sangram' os contribuintes.
A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal.
É um verdadeiro 'inferno fiscal' para aqueles que criam riqueza.
6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando, mas sim trabalhando.
Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que
produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham
são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores.
7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação.
A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e
o aumento do... da China!
8. Dentro de uma ou duas gerações, 'nós' (chineses) iremos ultrapassá-los.
Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacos de arroz...
9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco.
Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem
trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas
vezes em greve. Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um
desempregado...
10. (Os europeus) vão-se desintegrar diretos a um muro e a alta velocidade...
sábado, 7 de janeiro de 2017
Coisas que o mundo inteiro deveria aprender com Portugal por Ruth Manus (blog no Estado de São Paulo)
26/11/2016, 13:39
Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal.
Dentre as coisas que mais detesto, duas podem ser destacadas: ingratidão e pessimismo. Sou incuravelmente grata e otimista e, comemorando quase 2 anos em Lisboa, sinto que devo a Portugal o reconhecimento de coisas incríveis que existem aqui- embora pareça-me que muitos nem percebam.
Não estou dizendo que Portugal seja perfeito. Nenhum lugar é. Nem os portugueses são, nem os brasileiros, nem os alemães, nem ninguém. Mas para olharmos defeitos e pontos negativos basta abrir qualquer jornal, como fazemos diariamente. Mas acredito que Portugal tenha certas características nas quais o mundo inteiro deveria inspirar-se.
Para começo de conversa, o mundo deveria aprender a cozinhar com os portugueses. Os franceses aprenderiam que aqueles pratos com porções minúsculas não alegram ninguém. Os alemães descobririam outros acompanhamentos além da batata. Os ingleses aprenderiam tudo do zero. Bacalhau e pastel de nata? Não. Estamos falando de muito mais. Arroz de pato, arroz de polvo, alheira, peixe fresco grelhado, ameijoas, plumas de porco preto, grelos salteados, arroz de tomate, baba de camelo, arroz doce, bolo de bolacha, ovos moles.
Mais do que isso, o mundo deveria aprender a se relacionar com a terra como os portugueses se relacionam. Conhecer a época das cerejas, das castanhas e da vindima. Saber que o porco é alentejano, que o vinho é do douro. Talvez o pequeno território permita que os portugueses conheçam melhor o trajeto dos alimentos até a sua mesa, diferente do que ocorre, por exemplo, no Brasil.
O mundo deveria saber ligar a terra à família e à história como os portugueses. A história da quinta do avô, as origens trasmontanas da família, as receitas típicas da aldeia onde nasceu a avó. O mundo não deveria deixar o passado escoar tão rapidamente por entre os dedos. E se alguns dizem que Portugal vive do passado, eu tenho certeza de que é isso o que os faz ter raízes tão fundas e fortes.
O mundo deveria ter o balanço entre a rigidez e a afeto que têm os portugueses.
De nada adiantam a simpatia e o carisma brasileiros se eles nos impedem de agir com a seriedade e a firmeza que determinados assuntos exigem. O deputado Jair Bolsonaro, que defende ideias piores que as de Donald Trump, emergiu como piada e hoje se fortalece como descuido no nosso cenário político. Nem Bolsonaro nem Trump passariam em Portugal. Os portugueses- de direita ou de esquerda- não riem desse tipo de figura, nem permitem que elas floresçam.
Ao mesmo tempo, de nada adianta o rigor japonês que acaba em suicídio, nem a frieza nórdica que resulta na ausência de vínculos. Os portugueses são dos poucos povos que sabem dosar rigidez e afeto, acidez e doçura, buscando sempre a medida correta de cada elemento, ainda que de forma inconsciente.
Todo país do mundo deveria ter uma data como o 25 de abril para celebrar. Se o Brasil tivesse definido uma data para celebrar o fim da ditadura, talvez não observássemos com tanta dor a fragilidade da nossa democracia. Todo país deveria fixar o que é passado e o que é futuro através de datas como essa.
Todo idioma deveria carregar afeto nas palavras corriqueiras como o português de Portugal carrega. Gosto de ser chamada de miúda. Gosto de ver os meninos brincando e ouvir seus pais chama-los carinhosamente de putos. Gosto do uso constante de diminutivos. Gosto de ouvir “magoei-te?” quando alguém pisa no meu pé. Gosto do uso das palavras de forma doce.
O mundo deveria aprender a ter modéstia como os portugueses -embora os portugueses devessem ter mais orgulho desse país do que costumam ter. Portugal usa suas melhores características para aproximar as pessoas, não para afastá-las. A arrogância que impera em tantos países europeus, passa bem longe dos portugueses.
O mundo deveria saber olhar para dentro e para fora como Portugal sabe. Portugal não vive centrado em si próprio como fazem os franceses e os norte americanos. Por outro lado, não ignora importantes questões internas, priorizando o que vem de fora, como ocorre com tantos países colonizados.
Portugal é um país muito mais equilibrado do que a média e é muito maior do que parece. Acho que o mundo seria melhor se fosse um pouquinho mais parecido com Portugal. Essa sorte, pelo menos, nós brasileiros tivemos.
Ruth Manus é advogada e professora universitária e assina um blogue no Estado de São Paulo, Retratos e relatos do cotidiano
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quarta-feira, 7 de setembro de 2016
O modelo economico para Portugal e os cidadãos.
Uma questão que os cidadãos deverão debater é o “business model” do país.
A opinião dominante é que o país só pode crescer por via do aumento das exportações e não do consumo. O FMI, por exemplo, dá mais importância aos défices da balança de pagamentos dos países em detrimento do défice e da divida dos países (publica e privada). Igualmente defende-se um suposto liberalismo económico sem intervenção do Estado a quem estariam reservadas apenas as funções de soberania (Defesa, Segurança, etc) e o livre cambismo ou seja a não existência de pautas aduaneiras e outras actividades protecionistas. Esta situação é relativamente recente porque em Portugal, como aliás na Europa, a preponderância é de considerar o Estado como facilitador das condições para o investimento privado, entidade reguladora das actividades económicas e mesmo proprietário de empresas de serviço publico permitindo-lhes que (essas empresas) possam actuar no mercado em concorrência com empresas privadas.
Só um país europeu não tem um banco do Estado, o Reino Unido! Todos os outros têm-nos! No caso da Alemanha há dois bancos do Estado que são o terceiro e quarto na hierarquia. A maior accionista da VW é o Estado alemão que chegará aos 30%. O ex Chanceler Gerard Schroeder era, antes de ir para o governo, membro da Administração em Wolsburg, sede da VW, como representante do accionista Estado.
As empresas de produção de electricidade na Alemanha ou são do Estado ou estão em regime de concessão mantendo-se a propriedade do Estado. As infraestruturas (a REN lá do sítio) são do Estado por imperativo Constitucional por razões estratégicas e de defesa nacional.
A Espanha há 3 anos nacionalizou todas as empresas de fornecimento de águas no país, dando em concessão da exploração por 100 anos aos actuais donos mas mantendo o Estado a respectiva propriedade. É bom de ver que o foi por razões estratégicas: trata-se de um bem essencial á vida das pessoas, não pode estar na mão de privados.
E quem fez isto foi um governo de direita e não perigosos comunistas.
Queremos com isto dizer que a Europa segue uma direcção keynesiana mesmo quando é governada por partidos de direita, ditos neo liberais.
Esta opinião neo liberal é no entanto dominante em Portugal, que anda sempre atrasado, é defendida pelos nossos comentadores e professores de economia quase todos eles com formações, mestrados e doutoramentos em Universidades americanas. (relembro a sua falta de contacto com a realidade internacional, a falta de cosmopolitismo das nossas elites).
As Universidades americanas embora bastante ecléticas inclinam-se normalmente para o modelo liberal, como é de esperar de um país que efectivamente tem talvez o regime económico mais liberal do mundo.
É curioso constatar no entanto que nos últimos anos os economistas galardoados pelos prémios Nobel da Economia americanos são todos neo-keynesianos sendo os mais recentes Stiglitz ou Krugman e, no caso da Europa os mais conceituados alemães são também neo-keynesianos, como Martin Wolf e Wolgang Monchau que apesar de alemão é o editor adjunto do Finantial Times. É claro que os nossos economistas não apanharam esta gente e portanto ainda não se aperceberam da grande mudança que houve nos EEUU como resultado desta última crise não só com a subsidiação dos bancos mas também das empresas de que a GM e a Chrysler são bons exemplos e que foi coisa nunca vista nos EEUU e, note-se, que a intervenção do Estado na economia começou mesmo com o Snr. George W. Bush, o Presidente mais á direita que os EEUU tiveram nos últimos 50 anos, á revelia de todos os dogmas neo liberais de não intervenção do Estado na economia.
Para abreviar chamemos a uns liberais e a outros keynesianos com a ressalva de que hoje em dia não há liberalismo puro em nenhuma parte do mundo e o keynesianismo é diferente do defendido por Lord Keynes a seguir á crise de 1929.
Não há liberalismo puro porque mesmo nos EEUU existem pautas aduaneiras com países que não têm acordos bilaterais, existe a intervenção da Reserva Federal aumento ou baixando a taxa dos juros de referência conforme se quer lutar contra a inflação ou contra a recessão, respectivamente. E como acima dizemos a intervenção do Estado na economia com a crise do Lehman Brothers não tem precedentes na história da América.
Não há keynesianismo puro porque a doutrina diz que os Estados têm que amealhar nos bons tempos para gastar nos tempos maus. Na verdade, em todo o mundo com o crescimento da influência do Estado, as suas responsabilidades aumentam e portanto nunca chega a haver tempos bons porque, a acontecerem, em democracia os cidadãos exigem redução de impostos afastando a possibilidade de aforramento do Estado e portanto nos tempos maus só resta o recurso ao crédito. No entanto, á falta de melhor designação, chamaremos a uns liberais a outros keynesianos, como disse.
É quase óbvia que minha inclinação para os segundos. As minhas convicções são o que são, e sempre estou de espírito aberto para a discussão e a dialética e, por isso, várias vezes mudei de opinião.
No entanto, as minhas convicções são sobretudo baseadas não em teorias gerais académicas (que são necessárias mas têm que ser adaptadas á realidade e eu não sou economista ) mas em resultados concretos que podem ser lidos e vistos na história. Ou seja, factos.
São também influenciadas pelos meus ideais de justiça social, dignidade do ser humano e obrigação de solidariedade, e pela convicção de um não crente que o objectivo da vida é fazer alguma coisa pela sociedade, e tornar os homens o mais felizes possível nesta vida, e que a economia actual foi desenvolvida pelos homens e se não serve para garantir a dignidade mínima humana, o melhor que temos a fazer é arranjar outra.
Os economistas, pelo contrário entendem que a economia foi imposta por mão divina e nós humanos temos que obedecer ás regras imutáveis dessa economia, “no matter what”!
Não posso portanto acreditar que a economia e particularmente o mercado estão protegidos por uma mão invisível, como dizia o fundador da Economia, Adam Smith.
Ora sendo ele um professor de Religião e Moral, parece-me que a Mão Invisível a que se referia seria provavelmente Deus.
E a primeira razão é ao contrário do que se possa pensar muito pragmática. E resume-se no seguinte:
As duas razões principais que há seculos definem e decidem qual é o modelo de desenvolvimento de uma determinada economia não é qualquer teoria económica (liberal. Comunista ou Keynesiana) mas sim os interesses geo estratégicos de um país e/ou os seus recursos naturais.
Assim, economias como a Noruega ou a Dinamarca, por exemplo, são fortemente proteccionistas e, contudo, extremamente prósperas. Á parte o facto de gerirem bem a coisa pública (o que não é pouco...), é resultante de um factor fundamental e excepcional: o facto de 40% do seu PIB resultar das receitas do petróleo (como diria o outro:assim também eu!). Como consequência, o peso do Estado na economia é o maior de todos os países europeus, com a característica de serem extremamente eficientes.
Reparem... o Estado português emprega “oficialmente” 600 mil pessoas, mas se incluirmos os recibos verdes, os outsourcings, etc, digamos que temos 1 milhão de funcionários a trabalharem para o Estado.
Na Dinamarca que tem metade da população de Portugal, existem 1 milhão de empregados do Estado e ninguém parece estar preocupado por este facto!
A influencia do Estado na economia portuguesa esta um pouco abaixo de 50% (aumentou com a política da troika e do anterior governo, ao contrário dos objectivos que defendiam o contrário) mas nos países escandinavos ultrapassa os 55%, o que viola todas as convicções dos liberais. Ainda mais quando estes países têm fundos soberanos que actuam nos negócios internacionais como qualquer empresa privada. A ultima empresa de alumínios onde trabalhei tinha sido fundada por um desses fundos da Noruega. E na cartilha dessa empresa constava, tal como acontecia na Noruega que o despedimento era proibido “tout court”! Note-se que o despedimento não é proibido na Noruega mas é nas empresas do Estado que são pagas pelos cidadãos.
Todas estas empresas continuam a existir e até a crescer sob o beneplácito de governos de direita como é o caso actualmente na Dinamarca e da Noruega dirigidos por governos da direita, sem que este status seja posto em causa.
Cá está um exemplo da definição do modelo económico ser dependente dos recursos do país e não das teorias académicas. O mesmo se pode dizer por exemplo com os países árabes, etc.
Temos outro exemplo de um país cujo modelo de desenvolvimento é definido pelos seus interesses estratégicos que é Israel. Este país vive cercado por paises hostis (alguns com grandes e justas razões de queixa de Israel), portanto a sobrevivência e a capacidade de defesa do país são absolutamente vitais. Assim, este país é um dos maiores produtores de armas e de munições do mundo apesar da sua diminuta dimensão (era o maior fornecedor de munições de 7,65 para o Exército Português durante a guerra colonial).
Aproveitaram o Know How que tiveram que desenvolver para se defenderem e transformaram-no num negócio global. E, claro, devido ás preocupações obvias com a segurança e a defesa nacional, todos estes negócios são controlados a 100% pelo Estado.
A economia é ditada mais uma vez pela necessidade criada com a segurança e sobrevivência e não de qualquer teoria de política económica.
E que dizer das decisões da 1ª Ministra inglesa do 1º Ministro da Austrália de se recusarem a entregar negócios ou áreas estratégicas do país a um país estrangeiro ainda por cima um país que vive sob uma ditadura comunista, a China?
Ou seja, os negócios provavelmente eram chorudos, mas o Estado renunciou a eles com óbvio prejuízo financeiro para defender os interesses estratégicos do país, o que viola frontalmente a cartilha neo liberal.
De notar que ambos os países são governados por partidos conservadores de direita.
Claro que não fui eu que compreendi isto. Desde o Kissinger (para falar nos tempo modernos). até ao General Loureiro dos Santos (cuja leitura recomendo e que foi Ministro da Defesa do Governo do PSD, até ao nóvel comentador Bernardo Pies de Lima, todos concordam com esta linha. Leiam-se escritores americanos não académicos sobre esta questão e irão ficar surpreendidos pelo seu pragmatismo. Peter Moore por exemplo, embora esse livro esteja circunscrito a situação europeia, situa-se na mesma linha.
A Judite de Sousa da TVI perguntou ao actual Presidente quando ele era comentador o que significava ser Social Democrata hoje em Portugal. Ele respondeu “ É ter preocupações sociais, defender a dignidade das pessoas, proteger os mais débeis, criar condições para a iniciativa privada existir pujante, ser o Estado um forte regulador dos comportamentos e ter o Estado o controle (que nem sempre significa a propriedade) de sectores necessários á população como por exemplo a energia”. “Ó prof, dizia ela, então o melhor é inscrever-se no PS porque a actual direcção do seu partido defende ideias muito diferentes”. Faço minhas as palavras do Marcelo. É o que eu penso também.
Chegamos assim ao ponto: “Europa” e “de como saímos daqui”?.
É evidente que sem o pais líder, a Alemanha, mudar a política, nada feito!
A Europa tem andado a perder competitividade com o resto do mundo, sobretudo os países emergentes e o mesmo se diz na Alemanha. A solução, dizem os liberais é a inovação (tem que se inventar a roda todos os dias) e reduzir o custo dos factores de produção sendo o primeiro e mais fácil os salários.
Ora bem, a primeira pergunta que devemos fazer é: Porque e que a Alemanha e a Europa são menos competitivosa que estes países emergentes (BRIC)?
A razão fundamental prende-se com as condições legais em que trabalham essas economias versus as exigências das economias desenvolvidas. Não só os salários são muito mais baixos, como não gastam, por exemplo, em tratamentos de efluentes, programas sociais, reformas, dias de descanso, financiamento a fundo perdido pelos Estados, é um nunca mais acabar de “encargos” que não suportam nos seus custos.
Ora, contra essa realidade não há hipótese efectivamente de competir. Não há inovação que resista!
Mas isto também é uma concorrência desleal, que perdemos á partida. Os liberais dizem que esta é a realidade e portanto, dentro da sua lógica de raciocínio, teremos que seguir por um caminho equivalente e portanto acabar no ocidente com essas despesas “supérfluas” –a maior parte delas, verdadeiros avanços civilizacionais -, etc.
Ou seja, em vez da economia propiciar melhor bem estar para os povos desses países, eles deverão continuar “per omni seculum, seculorum” a não beneficiar das condições dos países ocidentais, as quais, dada a perda de competitividade destes face àqueles, passam também a ver as suas conquistas progressivamente mais ameaçadas.
Ora para um tipo como eu a economia existe para servir as pessoas e não são as pessoas que têm que prescindir das conquistas sociais alcançadas ao longo de séculos com grandes sacrifícios só porque há países menos desenvolvidos cujos cidadãos aceitam condições de vida infinitamente mais duras com pouca recompensa, porque apesar de tudo, ainda assim constituem uma melhoria para eles.
Para a globalização funcionar de forma equitativa, teremos que obrigar a todos os países que fazem parte da OMC a propiciarem as mesmas regras laborais, de ambiente, de certificação, etc, senão não há realmente concorrência leal.
De qualquer forma, esta situação é transitória. Os países baratos ao desenvolverem-se, tornam-se caros como todos os outros. Vejam a nossa Delphi. Hoje colocar negócio na Polónia, Republica Checa e Hungria é mais caro que Portugal. (estes estudos existem e estão disponíveis). O mesmo acontecerá a todos os outros do leste europeu uns mais depressa que outros.
O mesmo aconteceu com a China. Certas fábricas em Pequim e Xangai pagam 450€ de salário. O mesmo salário pago pelas mesmas em Portugal é de 600€.
Quer dizer, já não é económico a deslocalização de produção para a China em ordem a exportar para o ocidente. Os custos de logística , o tempo de transporte a que obriga a dispendiosos stocks de segurança, a impossibilidade de reposição rápida de matérias defeituosos, etc, torna a coisa inviável.
Daí, actualmente verificam-se deslocalizações ou para outros países para ganhar mais algum tempo, que são chamados Países PC (ou post China em inglês) que são países na Indochina e em outros pontos da Ásia (In “As Guerras que nos rodeiam de Gen Loureiro dos Santos”) ou então, no caso dos EEUU, o regresso a casa.
Claro que se manterão por muitos anos empresas estrangeiras na China mas sobretudo para satisfazer o absolutamente fabuloso mercado Chinês, não mais para exportação.
Isto compreenderam os lideres chineses e por isso concentraram de novo a direcção da economia (até porque agora são auditados pela OMC) e apostaram no mercado interno e no consumo. E muito bem. Os geoetrategas e os economistas keynesianos afirmam ambos que a a morte dos interesses de um país é quando ele tem um alto grau de dependência seja ele do que for. Portanto ao apostar no consumo está a apostar-se na própria população que não foge. Ao apostar na exportação criam-se dependências que não são controladas pelo próprio país. Veja-se o que aconteceu num ápice em Angola. O petróleo foi abaixo e eles aproximam-se do colapso.
Veja-se o que aconteceu á Finlândia. A NOKIA estourou e com as sanções europeias á Rússia, as exportações reduziram-se em 50% destruindo a economia. A Finlândia gerida por falcões neo liberais que começaram por aplicar a receita da austeridade pura e dura, conseguindo com isso obter a maior recessão de toda a Europa que vai agora em 8,8%. Portugal chegou aos 7,5%.
Ora os mesmos falcões liberais dizem agora que têm que sair do Euro e estão a estudar dar 800 euros a fundo perdido a cada cidadão, violando toda a convicção e o discurso austeritário e liberal para sair do buraco. Neo liberais my ass!
Eu tenho alguma sensação positiva de vingançazinha. Os Finlandeses foram daqueles que disseram que os países do sul eram gastadores e preguiçosos. Afinal eles austeritários e trabalhadores estão num buraco maior que o nosso!
Isto para dizer que os EEUU os maiores exportadores mundiais, exportam cerca de 10% do PIB e não estão interessados em exportar mais sobretudo por razões estratégicas e não o farão. Os chineses já perceberam que a coisa só funcionou durante um determinado período e que agora há que mudar. E estão claramente a mudar apostando no consumo interno.
Porém os nossos políticos e comentadores continuam a apontar para um modelo que já está ultrapassado. A Alemanha que é vitima desta situação, mudará a sua política largando os cordões á bolsa como bons keynesianos que efectivamente são, logo que acabem as eleições de 2017. Ou talvez, quem sabe, o tenham que fazer antes das eleições para travar o avanço eleitoral da extrema direita. E a perda de popularidade da snra Mekel e da CDU.
Porém o Zé português continua alguns episódios atrasados na telenovela.
Portugal exporta uma percentagem do PIB maior que qualquer país do sul da Europa e só alguns países de leste têm uma maior percentagem, porque ainda estão a beneficiar de investimento de low cost que também está em vias de desaparecer.
O que importa é exportar uma percentagem razoável mas não demasiada e sobretudo que seja variada e não como a Alemanha que só exporta 4 produtos e sobretudo que seja de produtos com mais conteúdo tecnológico.
Podemos exportar menos mas ganhar mais em cada euro exportado. (as empresas portuguesas industriais são sobretudo subcontratantes tendo as suas margens altamente pressionadas e obtendo muito pouco lucro destas exportações.) Segundo, interessa-nos produzir produtos que evitem fazer importações. Por exemplo na alimentação Portugal importa 2/3 das sua necessidades!. Isto apesar de produzirmos mais 80% do que se produzia em 1974 e com menos 90% das pessoas. Há que considerar que a agricultura, particularmente o vinho e fruta e ainda os têxteis e calçado tiveram uma reestruturação com êxito talvez mais lentamente do que seria desejável.
Esta questão explica porque o argumento da massa critica apontada pelo José Henriques fica prejudicado. Disse ele que Portugal tem que exportar porque não consegue consumir o que produz. Isso seria verdade se não fosse a realidade de importarmos mais do que exportamos.
Temos excessos de produtos em áreas que exportamos mas temos falta ou nem sequer produzimos bens de que necessitamos que temos que importar. Temos o que não precisamos mas falta-nos o que precisamos.
E, nada de confusões ninguém com dois dedos de testa diz que não devemos exportar. O que se diz é que se não deve exportar demasiado, que se deve diversificar as exportações e finalmente que se escolham produtos em que se ganha mais dinheiro; bem como produzir bens de que necessitamos para reduzir as importações.
Finalmente o último argumento é o de que para exportar mais ou obter mais “market share” num mercado maduro como é a Europa, temos que ter produtos melhores e/ou mais baratos para vencer a concorrência dos espanhóis, franceses, alemães, etc.
Isso, meus amigos é um sonho!
O nosso desenvolvimento tecnológico e a investigação em Portugal na área da industria é inferior a esses países, as condições de financiamentos são muito mais duras que nesses países e finalmente a geografia é-nos desfavorável, impossibilitando a produção e exportação de produtos de grandes dimensões e de custo unitário de logística bastante caro, sendo obrigados por isso e escolher produtos pequenos com custos de logística mais competitivos.
Consequentemente o aumento das exportações atingiram provavelmente o número máximo enquanto percentagem do PIB e mesmo que o não fosse as condições para ganhar “market share” são agora e no próximo futuro muito difíceis e mesmo que tudo isto fosse possível constituiria uma vulnerabilidade do país que cairia na crise sempre que os ciclos económicos de prosperidade e crise nos atingissem.
É esta a minha conclusão!
Ora, para fazer esta alteração no nosso modelo económico levaremos certamente muitos anos. E não terá que ser feito pelo Estado que deve apenas ser o facilitador. Serão os empresários, os sindicatos, os académicos e as universidades que têm de o fazer.
Para isso há que mudar as Associações patronais que apenas se interessam por receber mais subsídios e pagar menos impostos salários e regalias e que sempre se queixam do Estado, esquecendo-se de que têm um importantíssimo papel a desempenhar na reestruturação das suas industrias e nos seus negócios, em lugar de ser o Estado a fazê-las.
Igualmente os sindicatos com teorias obsoletas sobre o seu papel como se estivéssemos a viver em ditadura, têm que se reestruturar e passar a ser um parceiro útil e obrigatório para as questões estratégicas, e não apenas um corpo reivindicativo de novas regalias e aumentos de salários.
Os académicos têm em primeiro lugar que estar actualizados sobre as tendências mundiais e não ficarem presos ás teorias que aprenderam enquanto estudantes. Um pouco de investigação é necessário.
As Universidades, por sua, vez, devem cada vez mais trabalhar com as empresas e formar cidadãos que serão úteis á economia e que conseguem assim a sua realização pessoal, em lugar de formarem gente em assuntos sem qualquer utilidade e sem perspectivas de emprego.
Ao Estado, cabe estabelecer objectivos e timings e por esta gente toda a falar, o que não é coisa pouca!
J.Luis Coelho C.
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segunda-feira, 29 de junho de 2015
O paradoxo, a causa e a solução*
Portugal é um paradoxo.
Por um lado é o único pais da Europa e um dos poucos no mundo que foi à falência em pouco mais de três décadas (78/83/2011). Já foi ultrapassado em PIB per capita por cinco países do alargamento (Malta, Chipre, Eslovénia, Rep. Checa e Eslováquia) e tem a produtividade mais baixa da zona Euro (mesmo apenas 84% da grega que contudo tem menor % de população activa e maior taxa de desemprego).
Por outro lado, tem oito coisas para ser dos países mais ricos do mundo. Uma localização excelente entre os dois blocos económicos mais ricos do mundo; a 11ª maior zona marítima mundial; um clima ameno (sem tufões, nevões, verões tórridos); o português é a 5ª língua mais falada no mundo; e o 6º maior mercado mundial; um pais seguro; e uma força de trabalho apreciada no exterior (inquéritos colocam os portugueses sistematicamente entre os mais estimados).
Como explicar este paradoxo?
A causa remonta a D. Luís da Cunha (mentor do Marquês de Pombal) que numa carta lhe referiu que os países pequenos necessitam mais de estratégia que os grandes, porque aqueles carecem dos recursos destes para se reerguerem em caso de queda.
No zénite do seu poder (1578), Portugal afastou-se da sua core competence com que criou o seu império: batalhas marítimas, ataques a fortificações e cidades costeiras, metendo-se pelo deserto a dentro para dar uma batalha campal, algo que não fazia há mais de cem anos (desde a batalha de Toro da sucessão dinástica ibérica em 1476).
Resultado: não houve nem plano de batalha, nem sequer ordem de inicio de combate. Morreu o rei. A elite. E de um exército de 23.000, cem (!) escaparam.
As consequências foram três. No curto prazo o centro de decisão passou para Castela e as possessões portuguesas negligenciadas foram tomadas pelos holandeses e ingleses, de Ormuz, a Salvador, a Luanda.
No médio prazo uma emigração incessante. E no longo prazo um circulo vicioso entre a emigração (em quantidade e qualidade) e o declínio (políticos, económicos, social e cultural).
Hoje Portugal tem 5 milhões de portugueses registados nos consulados no exterior e nos anos recentes o fluxo tem aumentado em quantidade e qualidade.
Depois de Malta, Portugal é o pais europeu com maior percentagem de população no exterior.
A solução é reconhecer como José Hermano Saraiva que somos poucos (15 milhões), mas se formos todos seremos suficientes e assim criar sinergia entre os 5 do exterior e os 10 do interior.
Em quatro áreas: turismo (só 4 em 10 brasileiros que passam pela Portela pernoitam em Portugal); social, facilitando p.e. a aquisição de segundas residências e o acesso às universidades e o acesso às universidades (há residências 42 milhões de jovens entre os 15-24 anos nos CPLP); económica (usar a diáspora para agentes de exportação para além do mercado da saudade); e financeira (benefícios fiscais aos residentes no exterior).
Em Janeiro uma iniciativa da AICEP reuniu mais de trinta líderes da diáspora que apresentaram 42 medidas para criar sinergia: desde o voto da internet, até articular as câmaras de comércio com as delegações da AICEP nas acções promocionais no exterior, até acabar com a dupla tributação dos reformados que regressam a Portugal (que em teoria acabou mas na prática não).
Em conclusão, criar sinergia entre os 5 e os 10 para transformar Portugal de um pais periférico na Europa em central no mundo.
Tal requer medidas e acções concretas.
Não discursos. Nem planos. Lembrando Shakespeare que dizia que “ a acção é a maior das eloquências” e Churchill cujo motto era “acção hoje”.
*Jorge A. Vasconcellos e Sá
Mestre Drucker School PhD Columbia University
Professor Catedrático
In “ Vida Económica” de 26 de Junho 2015
Por um lado é o único pais da Europa e um dos poucos no mundo que foi à falência em pouco mais de três décadas (78/83/2011). Já foi ultrapassado em PIB per capita por cinco países do alargamento (Malta, Chipre, Eslovénia, Rep. Checa e Eslováquia) e tem a produtividade mais baixa da zona Euro (mesmo apenas 84% da grega que contudo tem menor % de população activa e maior taxa de desemprego).
Por outro lado, tem oito coisas para ser dos países mais ricos do mundo. Uma localização excelente entre os dois blocos económicos mais ricos do mundo; a 11ª maior zona marítima mundial; um clima ameno (sem tufões, nevões, verões tórridos); o português é a 5ª língua mais falada no mundo; e o 6º maior mercado mundial; um pais seguro; e uma força de trabalho apreciada no exterior (inquéritos colocam os portugueses sistematicamente entre os mais estimados).
Como explicar este paradoxo?
A causa remonta a D. Luís da Cunha (mentor do Marquês de Pombal) que numa carta lhe referiu que os países pequenos necessitam mais de estratégia que os grandes, porque aqueles carecem dos recursos destes para se reerguerem em caso de queda.
No zénite do seu poder (1578), Portugal afastou-se da sua core competence com que criou o seu império: batalhas marítimas, ataques a fortificações e cidades costeiras, metendo-se pelo deserto a dentro para dar uma batalha campal, algo que não fazia há mais de cem anos (desde a batalha de Toro da sucessão dinástica ibérica em 1476).
Resultado: não houve nem plano de batalha, nem sequer ordem de inicio de combate. Morreu o rei. A elite. E de um exército de 23.000, cem (!) escaparam.
As consequências foram três. No curto prazo o centro de decisão passou para Castela e as possessões portuguesas negligenciadas foram tomadas pelos holandeses e ingleses, de Ormuz, a Salvador, a Luanda.
No médio prazo uma emigração incessante. E no longo prazo um circulo vicioso entre a emigração (em quantidade e qualidade) e o declínio (políticos, económicos, social e cultural).
Hoje Portugal tem 5 milhões de portugueses registados nos consulados no exterior e nos anos recentes o fluxo tem aumentado em quantidade e qualidade.
Depois de Malta, Portugal é o pais europeu com maior percentagem de população no exterior.
A solução é reconhecer como José Hermano Saraiva que somos poucos (15 milhões), mas se formos todos seremos suficientes e assim criar sinergia entre os 5 do exterior e os 10 do interior.
Em quatro áreas: turismo (só 4 em 10 brasileiros que passam pela Portela pernoitam em Portugal); social, facilitando p.e. a aquisição de segundas residências e o acesso às universidades e o acesso às universidades (há residências 42 milhões de jovens entre os 15-24 anos nos CPLP); económica (usar a diáspora para agentes de exportação para além do mercado da saudade); e financeira (benefícios fiscais aos residentes no exterior).
Em Janeiro uma iniciativa da AICEP reuniu mais de trinta líderes da diáspora que apresentaram 42 medidas para criar sinergia: desde o voto da internet, até articular as câmaras de comércio com as delegações da AICEP nas acções promocionais no exterior, até acabar com a dupla tributação dos reformados que regressam a Portugal (que em teoria acabou mas na prática não).
Em conclusão, criar sinergia entre os 5 e os 10 para transformar Portugal de um pais periférico na Europa em central no mundo.
Tal requer medidas e acções concretas.
Não discursos. Nem planos. Lembrando Shakespeare que dizia que “ a acção é a maior das eloquências” e Churchill cujo motto era “acção hoje”.
*Jorge A. Vasconcellos e Sá
Mestre Drucker School PhD Columbia University
Professor Catedrático
In “ Vida Económica” de 26 de Junho 2015
sábado, 10 de janeiro de 2015
sábado, 13 de setembro de 2014
Informação, desinformação, intoxicação e verdade
"A informação que temos não é a que desejamos. A
informação que desejamos não é a que precisamos. A informação que precisamos
não está disponível” John Peers
“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” Luís F. Veríssimo
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Biscates...
Para que servem as primeiras páginas dos jornais e os grandes casos dos noticiários das TV?
Se pensarmos no que as primeiras páginas e as aberturas dos telejornais nos disseram enquanto decorriam as traficâncias que iriam dar origem aos casos do BPN, do BPP, dos submarinos, das PPP, dos SWAPs, da dívida, e agora do Espírito Santo, é fácil concluir que servem para nos tourear.
Desde 2008 que as primeiras páginas dos Correios das Manhas, os telejornais das Moura Guedes, os comentários dos Medinas Carreiras, dos Gomes Ferreiras, dos Camilos Lourenços, dos assessores do Presidente da República, dos assessores e boys dos gabinetes dos ministros, dos jornalistas de investigação, nos andam a falar de tudo e mais alguma coisa, excepto das grandes vigarices, aquelas que, de facto, colocam em causa o governo das nossas vidas, da nossa sociedade, os nossos empregos, os nossos salários, as nossas pensões, o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. Que me lembre, falaram do caso Freeport, do caso do exame de inglês de Sócrates, da casa da mãe do Sócrates, do tio do Sócrates, do primo do Sócrates que foi treinar artes marciais para a China, enfim, que o Sócrates se estava a abotoar com umas massas que davam para passar um ano em Paris… mas nem uma página sobre os Espirito Santo! É claro que é importante saber se um primeiro ministro é merecedor de confiança, mas também é, julgo, importante saber se os “Donos Disto Tudo” o são. E, quanto a estes, nem uma palavra. O máximo que sei é que alguns passam férias na Comporta a brincar aos pobrezinhos. Eu, que sei tudo do Freeport, não sei nada da Rioforte! E esta minha informação, num caso, e falta dela, noutro, não pode ser fruto do acaso. Os directores de informação são responsáveis pela decisão de saber uma e desconhecer outra.
Os jornais, os jornalistas, andaram a tourear o público que compra jornais e que vê telejornais.
Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados e moços de estoques: em vez de notícias temos chicuelinas.
Não tenho nenhuma confiança no espirito de autocritica dos jornalistas que dirigem e condicionam o meu acesso à informação: todos eles aparecerão com uma cara à José Alberto de Carvalho, à Rodrigues dos Santos, à Guedes de Carvalho, à Judite de Sousa (entre tantos outros) a dar as mesmas notícias sobre os gravíssimos casos da sucata, dos apelos ao consenso do venerando chefe de Estado, do desempenho das exportações, dos engarrafamentos do IC 19, das notas a matemática, do roubo das máquinas multibanco, da vinda de um “rebenta-canelas” uzebeque para o ataque do Paiolense de Cima, dos enjoos de uma “apresentadeira” de TV ou das tiradas filosóficas da Teresa Guilherme. Todos continuarão a acenar-me com um pano diante dos olhos para eu não ver o que se passa onde se decide tudo o que me diz respeito.
Tenho a máxima confiança no profissionalismo dos directores de informação e que eles continuarão a fazer o que melhor sabem: tourear-nos. Abanar-nos diante dos olhos uma falsa ameaça para nos fazerem investir contra ela enquanto alguém nos espeta umas farpas no cachaço e os “empresários” arrecadam o dinheiro do respeitável público.
Não temos comunicação social: temos quadrilhas de toureiros; uns a pé, outros a cavalo.
Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espirito Santo, um passe de peito.
Uma segunda página será uma sorte de bandarilhas.
Um editor é um embolador, um tipo que enfia umas peúgas de couro nos cornos do touro para a marrada não doer.
Um director de informação é um “inteligente” que dirige uma corrida.
Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Gomes Ferreira, um Júdice, um Marcelo, um Miguel Sousa Tavares ou um Ângelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados: Os Amadores do Espirito Santo, por exemplo. Eles pegam-nos sempre e imobilizam-nos: caem-nos literalmente em cima.
As primeiras páginas do Correio da Manhã podiam começar por uma introdução diária: para não falarmos de toiros mansos nem de toureiros manhosos, temos as habituais notícias de José Sócrates, do memorando da troika, dos cortes, da imperiosa necessidade de pagar as nossas dividas…
Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a música de um passo doble.
O silêncio que os “negócios“ da família dona disto tudo mereceu da comunicação social - tão exigente noutros casos - é um atestado de cumplicidade: uns venderam-se, outros queriam ser como os Espirito Santo. Em termos tauromáticos, na melhor das hipóteses não temos jornalistas, mas moços de estoques. Na pior, temos as redacções cheias de vacas a que chamam, na gíria, as “chocas”.
O que o silêncio cúmplice, deliberadamente cúmplice, feito sobre o caso Espirito Santo, o que a técnica do desvio de atenções revela é que temos uma comunicação social avacalhada, que não merece grande confiança.
Quando um jornal ou uma TV dão uma notícia na primeira página sobre Sócrates (e falo dele porque a comunicação social montou sobre ele um operação de barragem, que na altura se justificou com o direito a sabermos o que se passava com quem nos governava e se esqueceu de nos informar sobre quem se governava) ficamos agora a saber que esteve a fazer como o toureiro, a abanar-nos um trapo diante dos olhos para nos enganar com ele e a esconder as suas verdadeiras intenções: dar-nos uma estocada fatal!
Porque será que comentadores e seus patrões, tão lestos a opinar sobre pensões de reforma, TSU, competitividade, despedimentos, aumentos de impostos, gente tão distinta como Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Ângelo Correia, Soares dos Santos, Ulrich, Maria João Avilez e esposo Vanzeller, não aparecem agora a dar a cara pelos amigos Espirito Santo?
Porque será que os jornais e as televisões não os chamam, agora que acabou o campeonato da bola?
Um grande Olé aos que estão agachados nas trincheiras, atrás dos burladeros!
Por Carlos de Matos Gomes
Se pensarmos no que as primeiras páginas e as aberturas dos telejornais nos disseram enquanto decorriam as traficâncias que iriam dar origem aos casos do BPN, do BPP, dos submarinos, das PPP, dos SWAPs, da dívida, e agora do Espírito Santo, é fácil concluir que servem para nos tourear.
Desde 2008 que as primeiras páginas dos Correios das Manhas, os telejornais das Moura Guedes, os comentários dos Medinas Carreiras, dos Gomes Ferreiras, dos Camilos Lourenços, dos assessores do Presidente da República, dos assessores e boys dos gabinetes dos ministros, dos jornalistas de investigação, nos andam a falar de tudo e mais alguma coisa, excepto das grandes vigarices, aquelas que, de facto, colocam em causa o governo das nossas vidas, da nossa sociedade, os nossos empregos, os nossos salários, as nossas pensões, o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. Que me lembre, falaram do caso Freeport, do caso do exame de inglês de Sócrates, da casa da mãe do Sócrates, do tio do Sócrates, do primo do Sócrates que foi treinar artes marciais para a China, enfim, que o Sócrates se estava a abotoar com umas massas que davam para passar um ano em Paris… mas nem uma página sobre os Espirito Santo! É claro que é importante saber se um primeiro ministro é merecedor de confiança, mas também é, julgo, importante saber se os “Donos Disto Tudo” o são. E, quanto a estes, nem uma palavra. O máximo que sei é que alguns passam férias na Comporta a brincar aos pobrezinhos. Eu, que sei tudo do Freeport, não sei nada da Rioforte! E esta minha informação, num caso, e falta dela, noutro, não pode ser fruto do acaso. Os directores de informação são responsáveis pela decisão de saber uma e desconhecer outra.
Os jornais, os jornalistas, andaram a tourear o público que compra jornais e que vê telejornais.
Em vez de directores de informação e jornalistas, temos novilheiros, bandarilheiros, apoderados e moços de estoques: em vez de notícias temos chicuelinas.
Não tenho nenhuma confiança no espirito de autocritica dos jornalistas que dirigem e condicionam o meu acesso à informação: todos eles aparecerão com uma cara à José Alberto de Carvalho, à Rodrigues dos Santos, à Guedes de Carvalho, à Judite de Sousa (entre tantos outros) a dar as mesmas notícias sobre os gravíssimos casos da sucata, dos apelos ao consenso do venerando chefe de Estado, do desempenho das exportações, dos engarrafamentos do IC 19, das notas a matemática, do roubo das máquinas multibanco, da vinda de um “rebenta-canelas” uzebeque para o ataque do Paiolense de Cima, dos enjoos de uma “apresentadeira” de TV ou das tiradas filosóficas da Teresa Guilherme. Todos continuarão a acenar-me com um pano diante dos olhos para eu não ver o que se passa onde se decide tudo o que me diz respeito.
Tenho a máxima confiança no profissionalismo dos directores de informação e que eles continuarão a fazer o que melhor sabem: tourear-nos. Abanar-nos diante dos olhos uma falsa ameaça para nos fazerem investir contra ela enquanto alguém nos espeta umas farpas no cachaço e os “empresários” arrecadam o dinheiro do respeitável público.
Não temos comunicação social: temos quadrilhas de toureiros; uns a pé, outros a cavalo.
Uma primeira página de um jornal é, hoje em dia e após o silêncio sobre os Espirito Santo, um passe de peito.
Uma segunda página será uma sorte de bandarilhas.
Um editor é um embolador, um tipo que enfia umas peúgas de couro nos cornos do touro para a marrada não doer.
Um director de informação é um “inteligente” que dirige uma corrida.
Quando uma estação de televisão convida um Camilo Lourenço, um Proença de Carvalho, um Gomes Ferreira, um João Duque, um Gomes Ferreira, um Júdice, um Marcelo, um Miguel Sousa Tavares ou um Ângelo Correia, devia anunciá-los como um grupo de forcados: Os Amadores do Espirito Santo, por exemplo. Eles pegam-nos sempre e imobilizam-nos: caem-nos literalmente em cima.
As primeiras páginas do Correio da Manhã podiam começar por uma introdução diária: para não falarmos de toiros mansos nem de toureiros manhosos, temos as habituais notícias de José Sócrates, do memorando da troika, dos cortes, da imperiosa necessidade de pagar as nossas dividas…
Todos os programas de comentário político nas TV deviam começar com a música de um passo doble.
O silêncio que os “negócios“ da família dona disto tudo mereceu da comunicação social - tão exigente noutros casos - é um atestado de cumplicidade: uns venderam-se, outros queriam ser como os Espirito Santo. Em termos tauromáticos, na melhor das hipóteses não temos jornalistas, mas moços de estoques. Na pior, temos as redacções cheias de vacas a que chamam, na gíria, as “chocas”.
O que o silêncio cúmplice, deliberadamente cúmplice, feito sobre o caso Espirito Santo, o que a técnica do desvio de atenções revela é que temos uma comunicação social avacalhada, que não merece grande confiança.
Quando um jornal ou uma TV dão uma notícia na primeira página sobre Sócrates (e falo dele porque a comunicação social montou sobre ele um operação de barragem, que na altura se justificou com o direito a sabermos o que se passava com quem nos governava e se esqueceu de nos informar sobre quem se governava) ficamos agora a saber que esteve a fazer como o toureiro, a abanar-nos um trapo diante dos olhos para nos enganar com ele e a esconder as suas verdadeiras intenções: dar-nos uma estocada fatal!
Porque será que comentadores e seus patrões, tão lestos a opinar sobre pensões de reforma, TSU, competitividade, despedimentos, aumentos de impostos, gente tão distinta como Miguel Júdice, Proença de Carvalho, Ângelo Correia, Soares dos Santos, Ulrich, Maria João Avilez e esposo Vanzeller, não aparecem agora a dar a cara pelos amigos Espirito Santo?
Porque será que os jornais e as televisões não os chamam, agora que acabou o campeonato da bola?
Um grande Olé aos que estão agachados nas trincheiras, atrás dos burladeros!
Por Carlos de Matos Gomes
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Adriano Moreira: Estamos esmagados
"A culpa morre solteira" - expressão sua.
Usei-a no Parlamento. É uma prática muito verificável em Portugal, designadamente na crise que estamos a atravessar. Você ainda não viu que alguém assumisse a responsabilidade pelas circunstâncias a que chegámos.
Esse é um traço constante, observável em diferentes momentos históricos da vida portuguesa. De onde é que acha que vem esta característica?
Em Portugal tudo fia no ar, e raramente há consequências e um sentimento de justiça que o acompanha.
Acho que devia ter nascido mais cedo e ter feito essa pergunta ao Agostinho da Silva. [riso] Era capaz de lhe dar uma resposta satisfatória. Há, em todo o caso, uma circunstância de que Portugal é vítima neste momento.
Normalmente, quando examinamos a vida de um país, há três forças que é necessário avaliar. Uma é a sociedade civil, que neste momento faz manifestações completamente apartidárias, o que é preciso ver com cuidado.
São expressões que dizem respeito a sentimentos que unem a população, por razões de queixa fundamentais.
Está a pensar na manifestação de 15 de Setembro de 2013?
Exactamente. Depois há outra força: o Governo. E finalmente a terceira força: a conjuntura internacional que influencia qualquer país, e cada vez mais face ao globalismo. Uma ordem internacional implica que pelo menos estes três factores tenham uma harmonia de funcionamento.
Essa harmonia não existe. Com frequência, aconteceu em Portugal a desarmonia entre o Governo e a população, a desarmonia do país com a conjuntura internacional. Portugal sofreu nos últimos tempos uma evolução extremamente alarmante. Na História portuguesa, o país precisou sempre de um apoio externo.
Sempre?
O Afonso Henriques pediu apoio à Santa Sé. A Segunda Dinastia pediu a aliança inglesa e pagou caríssimo por ela. No fim do império euro-mundista o único apoio que restou foi a União Europeia. Esta evolução mostra que o país(na ligação com o mundo) é muitas vezes exógeno. Quer dizer: sofre as consequências de causas em que não participou. Um exemplo: a Guerra de 14/18. Portugal participou nas causas? Não. As consequências, quer em Moçambique, quer em Angola, quer na Flandres [foram enormes].
Começou a ser evidente que o país tinha evoluído para um "estado exíguo".(Escrevi um livro com esse título há anos, dizendo que a relação entre os recursos do país e os objectivos do país é deficitária.) Várias pessoas com responsabilidade na vida pública avisaram que este declínio estava em marcha. Quando essa equação(recursos objectivos) chegou à situação de desastre em que nos encontramos, o país ficou em regime de protectorado.
Um regime sobretudo imposto pela situação financeira?
Sim. Os países têm uma espécie de hierarquia internacional - é por isso que o Conselho de Segurança tem as superpotências. Para terem essa hegemonia precisam de ter um poder que abrange o poder militar, estratégico e financeiro. Quando esses poderes começam a afastar-se, a hierarquia começa a diminuir. Os Estados Unidos estão a ser atingidos por isso. Portugal (últimas notícias sobre as restrições nas forças armadas) mostra que nessa relação (poder militar-poder financeiro) a nossa debilidade é extrema. É isso que justifica a situação de protectorado em que o país se encontra. As outras debilidades evidentemente atingem o país de um modo mais previsível.
Soluções?
Remédios? Em primeiro lugar é preciso restaurar um valor importante: o da confiança. A confiança entre a sociedade civil, Estado e conjuntura internacional está profundamente atingido. Parece-me que tem havido uma certa dificuldade, da parte do Governo, em compreender que há uma diferença entre a legitimidade eleitoral, que justifica a tomada de poder, e a legitimidade do exercício [de poder], que começa a ser avaliada no dia seguinte [à tomada de posse]. Esta legitimidade para a execução não é uma coisa para entretenimento das estatísticas de popularidade.
Está a dizer que tem de haver uma correspondência com aquilo que foi o programa eleitoral.
E com a autoridade que foi conferida. Não é só em Portugal que esse valor está em crise. O novo-riquismo que orientou a gestão europeia, e que levou a Europa a esta situação, já se traduziu no seguinte: a fronteira da pobreza, que ainda no século passado os relatórios da ONU situavam a sul do Sahara,ultrapassou o norte do Mediterrâneo.
Portugal está na área de pobreza. Como está a Espanha, a Grécia, a Itália; a França já começa a dar sinais disso.
Os países mediterrânicos são os que mais têm sentido esse espectro de pobreza, são os que estão mais vulneráveis à crise, Porquê?
A hierarquia de capacidades, não apenas financeiras, mas científicas,técnicas, a eficácia de governo e de iniciativa económica - tudo isso faz que sejam ressuscitadas fracturas europeias. Não é de hoje a opinião que a senhora Merkel tem sobre o sul. Se bem me recordo, há um texto do Guizot[primeiro-ministro francês em 1847] que quase emprega as mesmas palavras para o dizer. O que considero errado é considerar que esta crise é uma crise puramente europeia. Se a comunidade europeia deixar aprofundar as quebras de solidariedade que já se verificam, a Europa arrisca-se a não ter voz no mundo. A crise é ocidental. E o ocidente todo que está num período de decadência.
Isso deve-se, sobretudo, à emergência da China, dos BRlC?
Há uns que perdem capacidades e outros que a adquirem. Não necessariamente com culpas. A Alemanha, que foi responsável pelas duas guerras mundiais que destruíram muitas das capacidades europeias, teve, entre outras coisas, a benesse de estar dispensada de despesas militares durante anos. E todos colaboraram, incluindo os povos do sul, na defesa do Muro para impedir que a República Federal fosse atingida pela [força política] a que o Leste estava submetido. Nos cemitérios da Normandia, as sepulturas são de soldados americanos. Não são de soldados alemães. Portanto, estas solidariedades, a Alemanha teve-as.
Como teve quando se tratou da reunificação das duas Alemanhas, após a queda do Muro.
Exactamente. Mas se a nossa crise é uma crise global, quem é que já convocou o Conselho Económico e Social das Nações Unidas? Ninguém.
Quem é que deveria tê-lo feito?
Qualquer membro interessado.
Na Europa existe uma subjugação à Alemanha? A orientação da chanceler Merkel é grandemente responsável pelo destino actual da Europa?
Ela - [Alemanha] -, a responsabilidade, é evidente que a tem. O que é discutível é que a percepção que tem da evolução da Europa coincida com o projecto dos fundadores. Atribuo aos fundadores da União Europeia uma espécie de [estatuto de] santidade. Esses homens enfrentaram a guerra, a destruição dos seus países, transformaram o sofrimento em sabedoria, e disseram: "Vamos criar condições para isto nunca mais acontecer". Schuman e Adenauer, sobretudo esses tiveram esse espírito. Não podemos esquecer Jean Monet. Nas memórias, escreve que, se fosse hoje (quando estava a escrever), teria começado, não pelo comércio, mas pela cultura. Porque a crise de valores era extraordinária. Essa crise é que afecta as solidariedades, e faz que, mesmo num ponto de vista internacional, a governação ande entregue a órgãos que nenhum tratado criou - caso do G-20 - ou a órgãos que parecem transformar as Nações Unidas num templo de orações a um deus desconhecido.
A ONU está destituída de poderes e de importância?
Acho que a ONU está numa crise enorme. Precisa de uma remodelação. A começar pelo Conselho de Segurança que já não corresponde, de maneira nenhuma, às condições em que vivemos. As potências, qualificadas de superpotências, com direito de veto, também têm a sua crise - incluindo os Estados Unidos. Mas para a Europa é importante saber porque é que a França e a Inglaterra têm direito de veto. Que poder é que [estes países] têm em relação ao mundo? Uma das reformas que seria útil fazer seria pôr no Conselho de Segurança países que, pela sua dimensão, são efectivamente necessários lá, e regionalismos.
Era a Europa que devia estar no Conselho de Segurança e não a França e a Inglaterra.
Há cerca de um ano assinalaram-se os 5O anos do Tratado Franco-Alemão.
É extraordinário pensar como este "longínquo" projecto europeu se esgotou.
Na sua génese, estava uma ideia de solidariedade e de desenvolvimento harmonioso que promovesse o equilíbrio entre as diferentes partes da Europa.
Acha inevitável que se faça uma refundação de toda a Europa? Esse projecto assinado há 50 anos pode ainda ser afinado e recuperado?
Na base de qualquer projecto destes tem de estar um princípio. O princípio da unidade europeia é muito antigo. Continuo a ter admiração pelo conde Coudenhove-Kalergi, que parecia ter nascido para o internacionalismo. Todos os grandes líderes europeus depois da Guerra estiveram nos congressos que promoveu. (Ainda hoje existe uma fundação Coudenhove-Kalergi a que pertenço; já lá não vou). Esse homem falava na federação europeia. E claro que a palavra "federação" tem muitos sentidos, e isso não significava que ele tivesse o modelo final.
Significava que tinha de se caminhar, como sempre entenderam os projectistas da paz (é preciso sempre falar do Kant). Tinha que haver uma gestão solidária, comum, da Europa, que está mais ligada por valores do que por etnias, pela língua, pela cultura, que são variadas mas que têm um tronco comum. Não temos dúvidas quando dizemos que somos europeus.
Essa pertença é ainda herdeira dos valores da Revolução Francesa? É a famosa trilogia liberdade, igualdade, fraternidade que nos guia e que define o tronco comum?
Não é só isso. Esses valores são um produto da evolução do espírito europeu. "Todas as pessoas nascem com igual direito à felicidade", mas os índios não, os escravos não, os trabalhadores não, as mulheres não... Foi preciso uma grande luta [para efectivar estas conquistas].
Mas sempre a partir do tal paradigma. Esse conjunto de valores é que dá identidade à Europa.
A Europa que teve a ambição de europeizar o mundo... - daí o império euro-mundista que morreu o ano passado.
Essa circunstância tem uma consequência importante: a redefinição (a ideia de refundação é muito ambiciosa) desses valores. O principal deles é a soberania. E o direito a certas prestações que o Estado deve fornecer ("le droit aux prestations", como dizem os franceses) - o Estado Social. Há uma coisa curiosa na vida [das nações] (na vida das pessoas também): mantêm a convicção do poder quando já não o têm.
Ou seja, funcionando Portugal num regime de protectorado, não temos o mesmo poder nem a mesma soberania.
Não, não temos. Nem temos o que está previsto no Tratado Europeu. Fomos vítimas do facto de sermos um estado exógeno. Também fomos vítimas de mau governo, [dito em tom irónico] Sem culpas, sem culpas... Mas queria dizer-lhe alguma coisa de esperança.
E voltamos à palavra antiga que usou: remédios. Há remédios?
[riso] Acho que há. Em primeiro lugar, olhar para o país na situação actual e ver quais são os factores da redefinição da soberania de que precisamos.
Não é só a segurança que diz respeito às forças armadas e à segurança interna. Há um elemento da soberania que é fundamental: o ensino e a investigação. Uma das razões da mudança de centros (entre os países emergentes e os que estão a descer) é que talvez tenha sido esquecido que não há fronteiras para a circulação do saber e do saber fazer. Hoje, a Alemanha parece que tem um bom mercado para os seus excelentes automóveis na China. Não me admira que daqui a algum tempo seja a Alemanha a comprar os automóveis à China. Um país que quer manter-se na competição global precisa de um ensino e de uma investigação que lhe permitam utilizar o saber e o saber fazer.
Em Portugal, era preciso que se continuasse a investir na investigação científica, na qual nos temos destacado nos últimos anos?
Sim. A minha vida tem sido quase toda na universidade. O que ouvi recentemente foi um conselho, [um apelo à] emigração. Há cursos de tal qualidade (sobretudo na área da Economia e da Gestão) que se orgulham que os seus diplomados, mestres e doutores emigrem e sejam muito bem recebidos lá fora. Eu não me sinto feliz que vão trabalhar por conta de outrem, para outro país. Queria era que tivéssemos condições para que aqui ficassem, e fizessem do país um país capaz de competir.
Esta vaga de emigração que agora temos. É de alta qualidade.
Nada tem que ver com a vaga dos anos 50 e 60, essencialmente constituída por força braçal e iletrada.
É uma força altamente qualificada. Se os melhores se vão embora... As contribuições de jovens cientistas, em especial da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro, sim, ajudam o país a recuperar uma posição no mundo concorrencial em que estamos.
E ajudam a recuperar confiança. Alento.
Sim. Por isso sempre sustentei que ensino e investigação é um problema de soberania. As propinas são taxas do Direito Financeiro. Não são o preço do serviço que o professor presta ao aluno. Diz respeito ao interesse do país que isso se faça. Temos outras janelas de liberdade para o país. A meu ver, há duas principais. Uma é a CPLP.
A língua portuguesa como património, como motor, como tesouro?
Não é só a língua E a maneira portuguesa de estar no mundo. É mais do que a língua. Da língua, o que digo é que a língua não é nossa - ela também é nossa. Mas os valores que a língua transporta, porque a língua não é neutra, esses valores não são iguais em todos os países onde se fala português. A maneira portuguesa de estar no mundo, o Brasil soma valores indígenas, africanos, alemães, japoneses, italianos...
A CPLP é um caso único. A França que teve uma importância tão grande no norte de África, e naquele bocadinho do Canadá, não tem uma CPLP.
A Espanha também não. E [a constituição da CPLP ainda é mais significativa] depois de uma guerra de tantos anos [com os países que a constituem]... O que significa que o conflito era com a forma de governo, não era com o povo português.
Angola, Brasil e Moçambique estão a crescer, mas todos têm grandes assimetrias entre ricos e pobres.
É. Acho que a CPLP precisa de grande atenção. A universidade deu por isso: há uma associação das universidades de língua portuguesa. A última vez que reuniu foi em Bragança, 400 pessoas.
Outro problema: o mar. A terra que não se pisa e a água que não se navega não são nossas. Lembro-me sempre da reunião de D. João I com os filhos.
Como foi essa reunião?
Tanto quanto a minha memória me diz, das leituras de há tantos anos, juntaram-se para discutir o que é que haviam de fazer para se expandir.
Havia quem entendesse que a expansão devia ser para a Andaluzia. Os rapazes [os infantes] disseram: "Não. Tivemos uma guerra com Castela que durou anos, agora estamos em paz. Castela considera que a sua zona de expansão natural é a Andaluzia. Se formos para aí, vamos ter guerra outra vez". Então para onde? "Para o mar."
Discutiram. Os recursos, o saber, as armas, os navios, tudo. Definiram um conceito estratégico nacional.
Portugal tem uma posição estratégica privilegiada, mas não um Conceito estratégico nacional. Mesmo agora está a ser discutido um documento sobre defesa e segurança Fui ouvido. A minha primeira pergunta foi: defesa e segurança de quê? Falta o conceito estratégico.
Ser uma plataforma continental é outra janela de liberdade. Se nos for reconhecida pelas Nações Unidas, será a maior plataforma continental do mundo. O reconhecimento estava previsto acontecer em 2013. Agora já se fala em 2015. Não gosto disto. Esta plataforma é uma riqueza incomensurável. Vi uma notícia sobre a intenção da União Europeia de redefinir o mar europeu. Lembrei-me de 1890. Nós também tínhamos a ideia de Angola à Contra-Costa e depois veio o Ultimato [Inglês]. Se definem o mar europeu antes de definir que a plataforma é nossa, provavelmente todos os países da União Europeia vão considerar-se co-proprietários.
Devíamos apressar isto. E meios, e força, e dinheiro para apressar isto?
O financiamento é um problema, naturalmente. Aí precisa de uma esplêndida diplomacia. A nossa é boa. E equivalente à do Vaticano!, com a diferença de a do Vaticano ser ajudada pelo Espírito Santo, [riso].
Está a pensar especificamente no actual ministro dos Negócios Estrangeiros?
Também no nosso ministro, mas a nossa diplomacia é muitíssimo boa. E muitas vezes trabalha sem instruções. É o amor à Pátria, é o que [é considerado] o interesse nacional, e lá vão. Acho que isto faz parte do futuro de Portugal.
Usou a expressão "janela de liberdade", e não "janela de oportunidade", que é uma expressão que agora se usa muito. Não é a mesma coisa. Não, não é. As pessoas acham que, porque pertencemos à União Europeia, tudo tem de ser feito de acordo com a UE. Eu digo: "Não, não. Há um espaço de liberdade. A França: aquela gendarmerie que manda para África, para explicar o que é a democracia, não tem nada a ver com a UE. Tem a sua liberdade".
Temos de ter a nossa. Temos de cumprir com os tratados da União, mas a União não nos impede que tenhamos um espaço de liberdade. A CPLP é a nossa liberdade. Por isso prefiro a palavra "liberdade". Essa liberdade já vem ligada a uma espécie de posse. A oportunidade é outra coisa. E preciso [para essa oportunidade] ainda um outro esforço.
Este Governo que temos vai para dois anos está desapontado? Têm sido crítico nas intervenções públicas que tem feito. Esperava mais?
Devo dizer que desapontado estou com a Europa. Depois estou desapontado com a solidariedade atlântica. (Os efeitos colaterais do abandono dos Açores são enormes do ponto de vista económico para o arquipélago.) Neste Governo, há uma coisa que me incomoda: o objectivo fundamental é o Orçamento. Uso a expressão "ministro do Orçamento".
Ministro ou primeiro-ministro?
Ministro do Orçamento, e não ministro das Finanças ou primeiro-ministro. O ministro mais importante é o do Orçamento.
Portugal não está refém do Orçamento, ou seja, do cumprimento do memorando da Troika?
O estar preso pelas obrigações financeiras internacionais é evidente que exige que essas obrigações sejam assumidas. É isso que restaura a confiança e que restaura a igualdade internacional do país (e que elimina o protectorado). Mas se fosse um caso isolado, a nossa debilidade seria maior.
Não é o caso. O caso é que a fronteira da pobreza atingiu a Europa, como disse. A solidariedade do espaço, que é um princípio que está em vigor, implica que a situação real dos países tenha de ser avaliada. Não é com fórmulas aritméticas que se governam os países. E não é um favor que fazem.
É uma dedução do princípio da solidariedade. Já viu algum médico tratar todos os doentes com o mesmo remédio? Nunca viu. O remédio não é igual para todas as situações. A situação de cada país precisa concretamente de ser avaliada. Portugal não está na mesma posição que está a Inglaterra ou a França Os países com que nos comparam não são esses. Portugal quis comparar-se com a Grécia, para dizer que não é a Grécia. Que é o bom aluno,cumpridor.
Mas estão todos em pé de igualdade com a Alemanha e a França no que respeita a direitos e obrigações dentro da UE. Se há o princípio de ajuda mútua na UE, tão obrigada [a isso] está a Alemanha como estamos nós. Quando chegam as dificuldades queremos ser tratados como os outros.
Voltemos à apreciação a este Governo. Falta-lhe conceito estratégico, dizia.
Falta conceito estratégico. E é evidente que a gestão neoliberal do Governo está a destruir o Estado Social. O Estado Social, uma conquista do ocidente, é uma convergência do socialismo democrático, da doutrina social da Igreja e até do manifesto comunista de Karl Marx. (As palavras têm uma força
tremenda. Às vezes falo do poder da palavra contra a palavra do poder.)
Na Constituição portuguesa o Estado Social é uma principiologia. Não é uma regra imediatamente imperativa. O que diz é: na medida da possibilidade. E estranho que se transforme uma principiologia numa rejeição. Não se devem rejeitar princípios, em especial princípios que levaram séculos a ser desenvolvidos e a ser incorporados na cultura da população. Nesse aspecto, tenho uma certa apreensão e falta de confiança no entendimento da real situação portuguesa. E não posso considerar que o Orçamento seja o elemento fundamental. Os que estão já numa situação de pobreza, juntos, têm força suficiente para dar um murro na mesa [e exigir] que os princípios da UE sejam respeitados.
Estamos na iminência de uma revolução em Portugal, justamente porque esses que apontou, juntos, já são capazes de dar um murro na mesa?
Tenho admirado a maneira ordeira e não-partidária com que as reacções se têm verificado. Mas penso que a população portuguesa atingiu o limite da pressão fiscal. Quando vemos os suicídios, as mães que se atiram da janela com os filhos para não os deixar cá, quando as coisas chegam a estes extremos, lembro-me disto: a fome não é um dever constitucional. Sabido isto, a inquietação aumenta dia-a-dia Não preciso de dizer mais palavras.
Isto que estamos a viver tem algum paralelo com alguma coisa que tenha vivido nos seus 90 anos?
Não. É a situação mais deprimente que vivi na minha longa vida. As condições de vida eram diferentes. E mais difícil [agora] perder [determinadas] condições de vida As condições não eram as desejáveis, mas as pessoas não sofriam tanto. Porque havia a... "vida habitual".
Embora a culpa morra solteira, a sociedade civil não é a que tem mais responsabilidades. Estamos esmagados. Pagamos as dívidas que o novo-riquismo do Estado desenvolveu (não tenho de fazer distinção entre partidos).Temos de pagar as dívidas das câmaras, dos institutos que o Estado multiplicou, e o que sobeja, e que não pode ser o último dos interesses, é a vida de cada ser humano. A dignidade tem de ser igual. A Europa sabe isto.
É por cegueira que os políticos não aterram nisso que diz?
Vou dar-lhe um texto do Padre António Vieira [que responde]: "Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra.
Vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os sonhos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes os respeitos, vedes as potências dos grandes, e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos povos, os clamoroso e gemidos de todos? Ou os vedes ou não os vedes. Se os vedes, como não os remediais? E se não os remediais, como os vedes? Estais cegos."
Que é que acha?
O que o Padre António Vieira escreveu em 1669 o que podia ser escrito hoje.
Esta é a nossa sina?
Se isto nos acontecer mais vezes, pode ser que a gente, quando vier para a rua traga o papel e mude.
Porque é que o seu discurso está muito mais esquerdista do que eu imaginaria?
Porque você tem uma imaginação pequena. Vamos lá ver. Nasci numa família muito pobre. Sei muito bem como é que vivem os pobres.
Descrevi isso num livro de memórias que publiquei. Éramos felizes - engraçado. Havia uma solidariedade. O que fiz [politicamente] não obedece a esquerda ou a direita. Obedece à escala de valores que aprendi em criança.
Uso muitas vezes a expressão: os valores são o eixo da roda. A roda corre todas as paisagens. O eixo acompanha a roda, mas não anda. Quando fui presidente do CDS, disse: "Este partido tem que assumir a obrigação em relação aos pobres". Parece-lhe muito de direita?
Entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro
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domingo, 15 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES
Transcrição do artigo do médico psiquiatra Pedro Afonso, publicado no Público, 2010-06-21
Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.
Alguns dedicam-se obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas.
Recentemente, ficámos a saber, através do primeiro estudo epidemiológico nacional de Saúde Mental, que Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na população. No último ano, um em cada cinco portugueses sofreu de uma doença psiquiátrica (23%) e quase metade (43%) já teve uma destas perturbações durante a vida.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque assisto com impotência a uma sociedade perturbada e doente em que violência, urdida nos jogos e na televisão, faz parte da ração diária das crianças e adolescentes. Neste redil de insanidade, vejo jovens infantilizados incapazes de construírem um projecto de vida, escravos dos seus insaciáveis desejos e adulados por pais que satisfazem todos os seus caprichos, expiando uma culpa muitas vezes imaginária. Na escola, estes jovens adquiriram um estatuto de semideus, pois todos terão de fazer um esforço sobrenatural para lhes imprimirem a vontade de adquirir conhecimentos, ainda que estes não o desejem. É natural que assim seja, dado que a actual sociedade os inebria de direitos, criando-lhes a ilusão absurda de que podem ser mestres de si próprios.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque, nos últimos quinze anos, o divórcio quintuplicou, alcançando 60 divórcios por cada 100 casamentos (dados de 2008). As crises conjugais são também um reflexo das crises sociais. Se não houver vínculos estáveis entre seres humanos não existe uma sociedade forte, capaz de criar empresas sólidas e fomentar a prosperidade. Enquanto o legislador se entretém maquinalmente a produzir leis que entronizam o divórcio sem culpa, deparo-me com mulheres compungidas, reféns do estado de alma dos ex-cônjuges para lhes garantirem o pagamento da miserável pensão de alimentos.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque se torna cada vez mais difícil, para quem tem filhos, conciliar o trabalho e a família. Nas empresas, os directores insanos consideram que a presença prolongada no trabalho é sinónimo de maior compromisso e produtividade. Portanto é fácil perceber que, para quem perde cerca de três horas nas deslocações diárias entre o trabalho, a escola e a casa, seja difícil ter tempo para os filhos. Recordo o rosto de uma mãe marejado de lágrimas e com o coração dilacerado por andar tão cansada que quase se tornou impossível brincar com o seu filho de três anos.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque a taxa de desemprego em Portugal afecta mais de meio milhão de cidadãos. Tenho presenciado muitos casos de homens e mulheres que, humilhados pela falta de trabalho, se sentem rendidos e impotentes perante a maldição da pobreza. Observo as suas mãos, calejadas pelo trabalho manual, tornadas inúteis, segurando um papel encardido da Segurança Social.
INTERESSA-ME A SAÚDE MENTAL DOS PORTUGUESES porque é difícil aceitar que alguém sobreviva dignamente com pouco mais de 600 euros por mês, enquanto outros, sem mérito e trabalho, se dedicam impunemente à actividade da pilhagem do erário público. Fito com assombro e complacência os olhos de revolta daqueles que estão cansados de escutar repetidamente que é necessário fazer mais sacrifícios quando já há muito foram dizimados pela praga da miséria.
Finalmente, interessa-me a saúde mental de alguns portugueses com responsabilidades governativas porque se dedicam obsessivamente aos números e às estatísticas esquecendo que a sociedade é feita de pessoas. Entretanto, com a sua displicência e inépcia, construíram um mecanismo oleado que vai inexoravelmente triturando as mentes sãs de um povo, criando condições sociais que favorecem uma decadência neuronal colectiva, multiplicando, deste modo, as doenças mentais.
E hesito em prescrever antidepressivos e ansiolíticos a quem tem o estômago vazio e a cabeça cheia de promessas de uma justiça que se há-de concretizar; e luto contra o demónio do desespero, mas sinto uma inquietação culposa diante destes rostos que me visitam diariamente.
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segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Icones de um paradigma perdido
Quino, Autor da "Mafalda", desiludido com o rumo deste século no que respeita a valores e educação, criou estes sugestivos cartoons








quarta-feira, 2 de junho de 2010
Que bela estás, Armação de Pêra!
Do Blog Rua do Saco
Parabéns, Armação de Pêra
Finalmente, Armação de Pêra tem uma frente marítima à sua altura!
À altura do seu passado e virada para o seu futuro!
Podemos discutir e discordar aqui e ali (não faltará quem) com algumas opções quanto à escolha de alguns elementos do mobiliário urbano (sobre gostos não há nada escrito nem regulamentado), mas julgo que o resultado global é francamente positivo.....
sábado, 12 de dezembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
OS ECONOMISTAS SÃO TIPOS PERIGOSOS!
Tenho um amigo que me diz que os economistas são tipos perigosos.
Tenho outro que afirma que os economistas são aqueles que hoje estão a explicar as razões porque não aconteceram as suas previsões.
Brincadeira à parte e, salvo excepções que sempre existem, os economistas da nossa praça realmente não têm dado conta do recado.
A maior parte dos economistas comentadores são ou foram membros do Governo sem que, durante os seus mandatos, tenham feito algo que tire o país do atoleiro.
No entanto, diariamente temos que “aturar” as suas lições ao Governo actual de como proceder.
Vemos o Dr. Augusto Mateus alinhar pelo lado dos liberais ( ou neo-liberais ), esquecendo, no entanto que, enquanto Ministro comprou a fábrica de Setúbal com dinheiros públicos (o que a Renault agradeceu porque certamente não encontraria comprador para instalações tão grandes para um país como Portugal), para aparentemente cumprir algum “plano da pólvora”. O que aconteceu é que mais uma vez foi tudo por água abaixo e se atirou dinheiro à rua.
O Prof. César das Neves foi assessor de Cavaco Silva, campeão do liberalismo, o qual após oito anos de Governo, ainda deixou o Estado a controlar muitas empresas que foram privatizadas pelos Governos seguintes.
O Dr. Catroga, não se vislumbra o que fez pelo país como Ministro das Finanças, a não ser gastar mais do que estava autorizado pelo Orçamento aprovado na Assembleia da República, tendo para o efeito aprovado um Orçamento Rectificativo, endividando ainda mais o Estado.
O Dr. Bagão Félix que afirma que os portugueses devem desconfiar do “actual” Governo, foi o tal que , enquanto Ministro de Santana Lopes enganou os portugueses dizendo que a crise tinha passado e aprovou um Orçamento que após alguns meses estava esgotado e, mais uma vez, teve que se aprovar um Orçamento rectificativo.
Foram também ilustres economistas (entre eles o Dr. António Borges ) que há muito pouco tempo propunham, face à falência do sistema de Segurança Social, que o mesmo deveria ser parcialmente privatizado, devendo os cidadãos investir nos Fundos que o mercado oferecia.
Perante a situação actual de insolvência absoluta dos referidos fundos, podemos bem avaliar acerca dos magníficos resultados em que tal ideia, a ter sido posta em prática, teria importado!
O que é incrível é que estes senhores que vêem a solidez dos seus conceitos, reduzida a cacos pelas realidades da vida e da economia, continuam a debitar opiniões e a abusarem como Catilina, da nossa paciência.
Agora criticam os governos por intervirem na Economia, com a possível excepção da Banca, e mesmo assim, criticando as entidades e os modos de interferência do Estado nas mesmas.
Ou seja, ainda não reconheceram, como fez o Snr. Greenspan, que humildemente reconheceu publicamente no âmbito de um inquérito, que, efectivamente, se tinha enganado.
Ora, é esta humildade que falta aos “nossos” economistas que continuam a barafustar contra aqueles que não alinham na cartilha da mão invisível.
O problema desta gente, entre outros, é que concebem a Economia como uma ciência (que pelos vistos não é, ou se é, eles não a dominam) numa espécie de relação com a arte industrial (onde a plasticidade das operações buscam a originalidade duma obra de arte original e única), que colocam no centro do mundo, o qual deve girar à sua volta.
Nesta gravitação, o Homem encontra-se ao seu serviço a pretexto de lhe ser essencial!
Na verdade, não é como pensam e se mais provas fossem necessárias, a recente crise internacional, pela sua profundidade demonstra que, por maiores que sejam os seus cérebros e saberes, dominam tanto a economia como o homem domina o mar.
Esqueceram por tempo demais que a economia é obra do Homem e deveria estar sempre ao seu serviço. Não o contrário, cujo ensaio deu no que está à vista desarmada!
Para esses economistas aqui vão os meus conselhos:
1. Adoptem a humildade intelectual como método de análise e reconheçam que o “vosso” sistema falhou.
E falhou porque deixaram a economia ao sabor de si própria e, hoje, é mais que claro que nunca, que não há nenhuma mão invisível
2. Não adianta, aliás continuar a defender um modelo de desenvolvimento que está esgotado.
Não é verdade que a “morte” do sistema comunista tenha provado que maniqueistamente, o sistema capitalista “vencedor “ era o único possível, porque é fundado num consumismo exacerbado que, para ser satisfeito, esbulha o planeta dos seus recursos naturais, aumenta a diferença entre ricos e pobres e não é capaz de corresponder aos anseios de paz dos povos.
3. Seria, portanto de grande utilidade que utilizassem os seus vastos conhecimentos, não para arranjar soluções/remendos para o regime actual, mas, pelo contrário a CONSTRUIR um novo modelo económico mais justo e sustentável.
Justificariam, assim, o investimento que neles, como em todos os licenciados, foi feito pelo Estado, isto é: por todos nós!
Tenho outro que afirma que os economistas são aqueles que hoje estão a explicar as razões porque não aconteceram as suas previsões.
Brincadeira à parte e, salvo excepções que sempre existem, os economistas da nossa praça realmente não têm dado conta do recado.

No entanto, diariamente temos que “aturar” as suas lições ao Governo actual de como proceder.
Vemos o Dr. Augusto Mateus alinhar pelo lado dos liberais ( ou neo-liberais ), esquecendo, no entanto que, enquanto Ministro comprou a fábrica de Setúbal com dinheiros públicos (o que a Renault agradeceu porque certamente não encontraria comprador para instalações tão grandes para um país como Portugal), para aparentemente cumprir algum “plano da pólvora”. O que aconteceu é que mais uma vez foi tudo por água abaixo e se atirou dinheiro à rua.
O Prof. César das Neves foi assessor de Cavaco Silva, campeão do liberalismo, o qual após oito anos de Governo, ainda deixou o Estado a controlar muitas empresas que foram privatizadas pelos Governos seguintes.
O Dr. Catroga, não se vislumbra o que fez pelo país como Ministro das Finanças, a não ser gastar mais do que estava autorizado pelo Orçamento aprovado na Assembleia da República, tendo para o efeito aprovado um Orçamento Rectificativo, endividando ainda mais o Estado.
O Dr. Bagão Félix que afirma que os portugueses devem desconfiar do “actual” Governo, foi o tal que , enquanto Ministro de Santana Lopes enganou os portugueses dizendo que a crise tinha passado e aprovou um Orçamento que após alguns meses estava esgotado e, mais uma vez, teve que se aprovar um Orçamento rectificativo.
Foram também ilustres economistas (entre eles o Dr. António Borges ) que há muito pouco tempo propunham, face à falência do sistema de Segurança Social, que o mesmo deveria ser parcialmente privatizado, devendo os cidadãos investir nos Fundos que o mercado oferecia.
Perante a situação actual de insolvência absoluta dos referidos fundos, podemos bem avaliar acerca dos magníficos resultados em que tal ideia, a ter sido posta em prática, teria importado!

Agora criticam os governos por intervirem na Economia, com a possível excepção da Banca, e mesmo assim, criticando as entidades e os modos de interferência do Estado nas mesmas.
Ou seja, ainda não reconheceram, como fez o Snr. Greenspan, que humildemente reconheceu publicamente no âmbito de um inquérito, que, efectivamente, se tinha enganado.
Ora, é esta humildade que falta aos “nossos” economistas que continuam a barafustar contra aqueles que não alinham na cartilha da mão invisível.
O problema desta gente, entre outros, é que concebem a Economia como uma ciência (que pelos vistos não é, ou se é, eles não a dominam) numa espécie de relação com a arte industrial (onde a plasticidade das operações buscam a originalidade duma obra de arte original e única), que colocam no centro do mundo, o qual deve girar à sua volta.
Nesta gravitação, o Homem encontra-se ao seu serviço a pretexto de lhe ser essencial!
Na verdade, não é como pensam e se mais provas fossem necessárias, a recente crise internacional, pela sua profundidade demonstra que, por maiores que sejam os seus cérebros e saberes, dominam tanto a economia como o homem domina o mar.
Esqueceram por tempo demais que a economia é obra do Homem e deveria estar sempre ao seu serviço. Não o contrário, cujo ensaio deu no que está à vista desarmada!

1. Adoptem a humildade intelectual como método de análise e reconheçam que o “vosso” sistema falhou.
E falhou porque deixaram a economia ao sabor de si própria e, hoje, é mais que claro que nunca, que não há nenhuma mão invisível
2. Não adianta, aliás continuar a defender um modelo de desenvolvimento que está esgotado.
Não é verdade que a “morte” do sistema comunista tenha provado que maniqueistamente, o sistema capitalista “vencedor “ era o único possível, porque é fundado num consumismo exacerbado que, para ser satisfeito, esbulha o planeta dos seus recursos naturais, aumenta a diferença entre ricos e pobres e não é capaz de corresponder aos anseios de paz dos povos.
3. Seria, portanto de grande utilidade que utilizassem os seus vastos conhecimentos, não para arranjar soluções/remendos para o regime actual, mas, pelo contrário a CONSTRUIR um novo modelo económico mais justo e sustentável.
Justificariam, assim, o investimento que neles, como em todos os licenciados, foi feito pelo Estado, isto é: por todos nós!
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
OBRAS SIM! INCOMPETÊNCIA NÃO!

Em primeiro lugar confirmar as razões da nossa apreensão (revelada no post de 29 de Setembro de 2008 (OBRAS ESTRUTURAIS EM ARMAÇÃO: MIRAGEM OU REALIDADE? (I))) acerca do montante em que, na versão tornada pública entre Agosto e Setembro de 2008, se cifravam as obras em questão, o qual “andava” pelos 2,5 milhões de euros, quando hoje vemos que a consignação das obras foi por 6 milhões de euros.
Não temos informação suficiente para “responsabilizar” quem quer que seja sobre esta “distorção” do montante inicial (?), razão pela qual nos abstemos de o fazer.
Na conjuntura económica-financeira que atravessamos porém, não podemos deixar de manifestar uma profunda preocupação quanto à qualidade e rigor na informação tornada pública, sobretudo no que respeita à aplicação da receita pública, seja ela oriunda do contribuinte nacional ou europeu.
Em segundo lugar corrigir e completar o nosso post de 23 de Novembro (JULHO/AGOSTO: UM ESTALEIRO PELA CERTA! Triste sina a de Armação, na época balnear de 2009), porquanto falámos em 8 meses de obras (com base na notificação da CMS de 28-10-08, aos comerciantes da Vila, assinada pelo Senhor Vice-Presidente da edilidade) e afinal o site da CMS, em post de 30-11-08, assinado por sm, informa que, afinal, o prazo previsto para a conclusão das obras é de 9 meses.
Independentemente do facto de, entre 28-10 e 30-11, a CMS, através de meios idóneos de comunicação oficial (uma notificação e o site oficial), ter fornecido aos cidadãos da Vila, comerciantes ou não, informação relevante, contraditória, a qual constituiu, objectivamente, a primeira prorrogação, sub-reptícia, do prazo tornado público, o que já não é pouco, em termos de concreta violação do dever de informação fidedigna aos mais directamente interessados – os cidadãos da Vila -sobre tão importante acontecimento de repercussões tão significativas na economia local, ainda acresce a exemplar evidência do rigor das previsões da CMS acerca do seu principal mister.
Não esquecendo, naturalmente, a omissão e negligência daquela mesma Autarquia quanto aos deveres de reduzir o impacte negativo deste investimento na actividade económica da Vila, ao mínimo, isto é: iniciando os trabalhos tão cedo quanto possível, por forma a que se concluíssem antes do período de ouro 15 de Julho/15 de Agosto.
O que é facto é que, meus amigos, podemos, hoje com maior propriedade, prever que os trabalhos não se concluirão antes de 30 de Setembro de 2009, por todas as razões já referidas no nosso post já citado, acrescidas da prorrogação sub-reptíca de 8 para 9 meses e antever a enormidade do prejuízo que tal circunstância determinará para todos os que têm no turismo o seu meio principal de sustentação.
As obras de requalificação propostas são de uma importância estrutural e profunda para a Vila e seu futuro e justificam algum sacrifício transitório da população!
Todos os pesos e medidas avaliados apontam inequivocamente em seu favor!
As questões que se suscitam com as mesmas e sobre as quais insistimos em “pôr o dedo na ferida”, prendem-se, uma vez mais com as evidências, sobre os mais variados défices, deixadas pela administração do concelho.
DÉFICE DE RIGOR na comunicação pública de despesa relevante, o qual permite subentender um défice, muito mais grave, de rigor na administração e gestão da despesa, o que inevitavelmente é corrigido pelo lado da receita, isto é, histórica e inevitavelmente, à custa do cidadão-contribuinte.
DÉFICE DE ORGANIZAÇÃO E PLANEAMENTO na execução do investimento porquanto, num espaço de trinta dias imediatamente anteriores ao inicio das obras, a previsão do prazo de execução dos trabalhos é, sem qualquer explicação adicional, prorrogado de 8 para 9 meses. As faltas de organização e planeamento podem bem ser responsáveis por despesa excessiva e desnecessária, malbaratando-se os recursos o que inevitavelmente é corrigido pelo lado da receita, isto é, histórica e inevitavelmente, à custa do cidadão-contribuinte.
DÉFICE DE RESPONSABILIDADE no dever de minimização do impacte negativo na economia da Vila, dando-se o inicio aos trabalhos com a antecedência necessária e suficiente a reduzir os seus efeitos, desprezando-se a saúde económica dos agentes económicos.
DÉFICE DE CAPACIDADE para zelar, implementar e executar politicas económicas tendentes à sustentabilidade do concelho, em favor da conservação do subdesenvolvimento e em oposição ao seu desenvolvimento económico.
DÉFICE POLÍTICO no incumprimento dos deveres de comunicação rigorosa, competente e convenientemente atempada, quer do inicio dos trabalhos, quer do prazo da sua execução, fazendo especial e infeliz referência aos deveres contributivos com os novos licenciamentos para ocupação da via pública, tratando a população como súbditos e não como cidadãos.
DÉFICE DEMOCRÁTICO na comunicação demagógica da natureza e importância da obra fazendo ressaltar os benefícios da forma e do “entertainment” e reduzindo os benefícios estruturais ao nível da modernização das infraestruturas a: “melhores condições de higiene e conforto” quando na realidade se trata de realizar obras com mais de vinte anos de atraso, as quais, esperamos embora sem grande convicção, possam vir a “esbater” as atrocidades urbanísticas até aqui permitidas, tratando os cidadãos como verbos de encher e não como seres inteligentes e seus mandantes.
DÉFICE ESTÉTICO, HISTÓRICO E CONCEPTUAL quando se propõe invocar, com evidente mau-gosto e falta de rigôr histórico, o passado e a natureza da Vila de Armação de Pêra, colocando no pavimento junto ao Casino “baralhos de cartas e roletas”, quando qualquer autócne sabe que nunca existiu uma roleta naquele estabelecimento, nem o jogo foi, alguma vez, a sua actividade principal, tratando a memória colectiva e os cidadãos como meros figurantes da sua visão “ALLGARVE iana” e totalmente desmemoriados, como se a Vila tivesse nascido consigo e o seu futuro fosse Hollywoodesco!
A lembrar folclore eleitoral(de má-nota)!

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