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3 Como no ano passado, a Câmara Municipal de Lisboa lançou um concurso de ideias aberto a todos os munícipes, em que o único limite é que os projectos propostos não ultrapassem o valor de 50.000,00 euros.
Eu tenho uma ideia, mas infelizmente custa bem mais que isso. Todavia, acho que valia a pena pensar nela e, já aqui a tendo aflorado, vou agora concretizá-la mais.
A minha ideia é pegar no lindíssimo, histórico e abandonado edifício da Cordoaria Nacional, em Belém, e ali montar um Museu do Mar e das Descobertas – uma grave lacuna da cidade e do pais.
Um museu que através do recurso à pintura, aos objectos, mapas, vídeos, literatura (excertos da “Carta de Pero Vaz de Caminha”, da “História Trágico Maritima”, poesia, etc.), da reprodução de navios celebres em escala pequena, como existe no Museu da Marinha em Veneza (e temos ainda artífices para isso), de batalhas navais em que participámos ou que testemunhámos ( Trafalgar foi ao lado do Algarve), nos desse, para nós e para todos os que nos visitam, uma visão histórica e compreensiva do que foi a longa e incrível relação dos portugueses com o mar. Não apenas as Descobertas, mas também, a extraordinária epopeia da pesca à baleia (que nunca teria sido levada a cabo sem as tripulações portuguesas, dos Açores e Cabo Verde, como atesta uma visita ao Museu da baleia, em New Bedford), ou a igualmente incrível epopeia da pesca ao bacalhau, à vela. Que contivesse uma descrição, através de desenhos, mapas, fotografias, dos fortes que os portugueses edificaram nas duas costas de África, do Malabar, no Golfo Pérsico e no Brasil e da sua importância para a história; das culturas que, por via marítima, introduzimos no Brasil, do intenso tráfico comercial que promovemos durante séculos entre a Índia, o Brasil, África e Lisboa e, sim, também da escravatura que praticámos intensamente até ao século XX. Trataríamos da História, mas também da oceanografia, de que D. Carlos foi pioneiro e deixou vasto testemunho, das artes de pesca, das espécies do nosso mar, da importância dos recursos da nossa ZEE e a pensar nas escolas, também coisas como princípios rudimentares de navegação em alto-mar, importância dos faróis e seu funcionamento, vida a bordo, técnicas de resgate e salvamento, etc. Acho que devemos isto a nós mesmos e Lisboa deve isso a si própria.
Miguel Sousa Tavares, in : “Expresso” de 23 de Abril de 2016
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
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