O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Portugal arrecadou mais de 1000 milhões na venda de passes de jogadores de futebol


6/3/2014 jornal oje Vitor Norinha


Portugal é um dos grandes players mundiais na transferência de jogadores e na última década o país vendeu mais de 1000 milhões de euros em passes de jogadores, afirmou Mário Figueiredo, presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, durante a conferência do International Club of Portugal, que decorreu ontem em Lisboa.


O gestor adiantou que Portugal é, de acordo com um estudo encomendado pela Comissão Europeia à Universidade de Limoges, o único país europeu com um saldo positivo no balanço entre compras e vendas de jogadores. Mário Figueiredo realçou, no encontro do ICPT, que não são apenas os três grandes (Benfica, Sporting e Porto) a vender passes de jogadores.

Mas também os clubes do meio da tabela fazem vendas para o estrangeiro. Este modelo de negócio permite o equilíbrio de contas dos clubes que, sem este recurso, estariam em situação de insolvência.

Mário Figueiredo realçou o facto de o país apresentar um PIB modesto - 17.º lugar no conjunto dos países da UE - mas ter uma indústria de futebol forte, com a UEFA a colocar Portugal no 5.º lugar do ranking europeu de forma consistente. A França está atrás de Portugal no ranking da UEFA quando é a terceira economia europeia.

Esta situação é caso único na Europa "onde existe uma correlação entre o dinheiro e a performance desportiva", afirma. "Temos algo de especial, temos uma indústria de futebol altamente qualificada" e adianta que nenhum clube português faz parte dos 20 mais ricos da Europa, mas em termos de performance desportiva o Benfica está em 6.º lugar e o Porto em 11º. O que significa que a capacidade desportiva está acima da capacidade económica.

O gestor atribui este facto à globalização que também aconteceu no mundo do futebol. O principal exportador de jogadores de futebol é o Brasil e o facto de Portugal e o Brasil darem estatuto de igualdade permitiu a entrada de atletas da América do Sul no futebol europeu de muito milhões. Portugal ficou também a ganhar com brasileiros na seleção nacional, sendo que Portugal tem servido de "porta de entrada no mercado europeu".

Estes números serviram para Mário Figueiredo avançar com as suas ideias de renovação no futebol nacional. "Estamos overperforming", afirma, sendo que o modelo de 18 clubes na I Liga permitirá manter a nossa competitividade.

Três das 15 maiores transferências de sempre no mundo do futebol nos últimos anos aconteceram com atletas nacionais. O gestor sublinhou que "numa altura de crise, o futebol português é uma indústria exportadora e consegue ter uma balança de pagamentos positiva, o que outros setores não conseguem".

Os clubes de futebol em Portugal apresentam fracas receitas correntes, sendo que a receita extraordinária com a venda de passes de jogadores acaba por ser a principal receita. "Os nossos clubes vivem uma situação financeira frágil, com capitais próprios negativos e muitas vezes com os ativos de longo prazo a serem suportados por ativos de curto prazo".

Acrescenta que nos últimos anos de crise bancária os clubes têm muitas dificuldades em cumprirem com as obrigações. Os ativos dos clubes duplicaram nos últimos 10 anos, mas os passivos subiram muito mais, enquanto os capitais próprios tendem para níveis negativos.

O modelo tradicional de receita dos clubes são a bilheteira, o merchandising, a TV, os passes de jogadores e os prémios de participação em jogos.

Nas cinco grandes ligas europeias, com a Inglaterra à frente, as receitas são correntes através dos direitos televisivos de transmissão e jogos. Em Portugal, a receita televisiva tem pouco peso e os clubes estão dependentes das receitas extraordinárias, "fazendo talentos e vendendo-os", diz Mário Figueiredo.

Portugal é um dos grandes players mundiais na transação de passes de jogadores, posicionando-se consistentemente no 5.º lugar do ranking da UEFA, o que tem permitido ao país ter cinco a seis equipas em competições europeias. O gestor aproveitou o "palco" do International Club of Portugal para avançar com algumas das suas ideias para o futebol profissional.

Afirmou que a Liga renegociou os direitos televisivos com o operador, mas precisa de aumentar mais a receita oriunda das transmissões televisivas, ao mesmo tempo que tem de alargar a I Liga, renegociar o salário mínimo com o sindicato dos jogadores e gerar receitas dos jogos online.

Socorrendo-se do estudo de uma empresa alemã que trabalha para a UEFA, Figueiredo elencou os prós e os contras de reduzir a liga a 12 clubes, excluindo quatro. Disse que para estes clubes haveria um grave problema de finanças e que os conduziria à insolvência, tendo em conta o atual modelo de gestão dos clubes.

O caso Bosman teve impacto no modelo de transferência e, como já se disse, os clubes portugueses vivem destas receitas extraordinárias. Figueiredo citou um estudo que aconselha o aumento de número de clubes na I Liga para 18. Esta opção permitirá aos clubes aumentarem o número de passes de jogadores que poderão vender para o mercado externo. O maior número de clubes obriga a mais jogos na I Liga, sendo que a maioria das ligas europeias têm 18 a 20 clubes. Este facto tem a ver com competitividade, refere a mesma fonte.

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