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Pachos na
  testa, terço na mão,
 
Uma botija, chá
  de limão,
 
Zaragatoas,
  vinho com mel,
 
Três aspirinas,
  creme na pele
 
Grito de medo,
  chamo a mulher.
 
Ai Lurdes que
  vou morrer.
 
Mede-me a
  febre, olha-me a goela,
 
Cala os miúdos,
  fecha a janela,
 
Não quero
  canja, nem a salada,
 
Ai Lurdes,
  Lurdes, não vales nada.
 
Se tu sonhasses
  como me sinto,
 
Já vejo a morte
  nunca te minto,
 
Já vejo o
  inferno, chamas, diabos,
 
Anjos
  estranhos, cornos e rabos,
 
Vejo demónios
  nas suas danças
 
Tigres sem
  listras, bodes sem tranças 
Choros de
  coruja, risos de grilo
 
Ai Lurdes,
  Lurdes fica comigo
 
Não é o pingo
  de uma torneira,
 
Põe-me a
  Santinha à cabeceira,
 
Compõe-me a
  colcha,
 
Fala ao prior,
 
Pousa o Jesus
  no cobertor. 
Chama o Doutor,
  passa a chamada,
 
Ai Lurdes,
  Lurdes nem dás por nada.
 
Faz-me tisana e
  pão de ló,
 
Não te levantes
  que fico só,
 
Aqui sozinho a
  apodrecer,
 
Ai Lurdes,
  Lurdes que vou morrer 
António Lobo
  Antunes –  
(Sátira aos
  HOMENS quando estão com gripe) | ||
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sábado, 20 de junho de 2015
Poema aos homens constipados - Lobo Antunes
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