O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Do "toque de Midas" ao "quem não chora não mama" na busca de um lugar à mesa do Orçamento!


O poder politico concelhio tem manifestado publicamente o seu apoio aos trabalhadores do grupo Alisuper, solidarizando-se perante aquele que parece ser o seu destino inevitável: o desemprego. “Nobless oblige”!

Neste patamar tem-se feito de tudo um pouco: telefonemas e mais telefonemas, algum acompanhamento, tentativas de influência sobre a CGD, e a última sugestão tornada publica pelo Vereador F. Serpa, vai no sentido da CMS, enquanto tal, empenhar-se pessoalmente em reuniões com o IAPMEI e o BPN, visando “emprestar” uma credibilidade que manifestamente parece faltar aos interlocutores para viabilizar a empresa.

Não temos dado uma atenção especial ao fenómeno Alisuper, razão pela qual não temos informação suficiente para nos pronunciarmos com fundamentação.

Do pouco que sabemos porém, com sustentação, chega para, numa abordagem simplista, manifestarmos em primeiro lugar o nosso mais sincero e profundo espanto quanto à situação em que irão ficar os trabalhadores face ao incumprimento das obrigações de garantes (avales) que assumiram pessoalmente, com vista a tentarem viabilizar a empresa, numa etapa anterior da sua caminhada descendente.

Confessamos que nunca tínhamos visto uma coisa parecida…os trabalhadores a garantirem pessoalmente obrigações bancárias do empregador…

Esta verdadeira raridade, que mereceria um conjunto largo de comentários escabrosos que nos vamos dispensar de fazer pelo menos para já, constitui também uma evidência sobre o conteúdo emocional que terá caracterizado no essencial a gestão da crise naquela estrutura empresarial.

A recuperação de uma empresa tecnicamente falida pode assumir versões verdadeiramente românticas que, bem descritas, dariam certamente preciosidades literárias, inclusivamente no género policial.

Não estão naturalmente em causa, o empenhamento dos trabalhadores na manutenção dos seus postos de trabalho ou, em abstrato, o empenhamento da CMS em tentar minorar ou evitar um “desastre” social que o fim da Alisuper irá causar.

Feita esta ressalva, importará tentar uma conclusão à laia de moral da história!

Este caso constitui apenas mais um exemplo da absoluta irracionalidade em que muitos e muitos “responsáveis” deste concelho e deste pais, andam sintonizados.

Ora bem:

É da mais elementar linearidade a conclusão acerca da incompetência da gestão da empresa de distribuição que, nos dias de hoje, que já são de ontem, sem ter um enquadramento empresarial mais amplo e outros capitais próprios, pretender ocupar um lugar neste mercado de tubarões.

Recorde-se que, mesmo os grupos financeiros importantes como a Sonae e a Jerónimo Martins, para entrarem na distribuição recorreram a grandes grupos especialistas estrangeiros para se implantarem no mercado: Continente e Lyon Deonaise, com quem se associaram.

Recorde-se ainda que, as fatias remanescentes de mercado, geraram apetite bastante para outros grupos estrangeiros virem disputá-las com a sua competência, armas e bagagens: Lidl, Plus, Dia, etc, etc.

Recorde-se por fim a retirada do mercado das pequenas lojas de conveniência – as novas mercearias de proximidade - que num ápice cresceram como cogumelos e num ápice desapareceram do mercado por manifesta inviabilidade do modelo, sobrevivendo resquícios da espécie somente agregadas às estações de serviço de distribuição de combustível.

Que futuro se poderia augurar, já há alguns anos, para o modelo Alisuper?

Melhor, que modelo de oferta ao mercado representa a Alisuper?

É certo que a empresa sobreviveu até hoje apesar daqueles tubarões, dirão os emotivos!

À conta do financiamento voluntário (?)do BPN (hoje CGD, activo do Estado), do financiamento involuntário do Ministério das Finanças (O.G.Estado) e dos fornecedores, dirão os racionais!

À conta das relações privilegiadas, típicas das famílias partidárias e sua teias, e da abundância dos verdadeiros toques de Midas de que são capazes. O caso BPN é de resto fértil nessa matéria, dirão todos os que não se encontrem comprometidos com a empresa.

Pedir a compreensão dos credores e a sua cumplicidade para com uma empresa sem futuro no mercado onde sempre esteve inserida, sem uma gestão que consiga conceber uma estratégia de inovação ou conversão que angarie o respeito técnico dos fornecedores de capital, é uma pura perca de tempo.

Mais, é um insulto a todos aqueles que, com projectos viáveis e sem passivos, não conseguem, hoje em dia, obter apoios bancários, ou para aqueles que perdem as suas casas em sequência de execuções fiscais por créditos do OGE verdadeiramente ridículos face aos montantes atingidos pela Alisuper.

Mas também é bem sintomático da distância que há a percorrer até sermos uma sociedade de eficiência e de racionalidade que teremos necessariamente de ser se quisermos manter um Estado social sustentável.

Claro que nem para todos, os envolvidos publicamente na acção de resgate, a questão se coloca nos mesmos termos.

Os políticos não podem deixar de estar publicamente ( e demagogicamente) solidários com os trabalhadores em vias do desemprego e das execuções.

Apesar de poderem ser absolutamente omissos nos deveres de, enquanto representantes dos cidadãos eleitores e contribuintes, curarem de publicamente dar o exemplo de esclarecimento que a situação justifica e de zelarem pela racionalidade na aplicação dos dinheiros públicos, a qual, face ao caso concreto aponta no sentido da CGD e, ou, o IAPMEI não envolverem directa ou indirectamente o OGE numa empresa que, nas circunstâncias presentes de desenvolvimento do mercado e face à manifesta insusceptibilidade de inovação por parte da sua gestão, não garante um retorno SOCIAL que o justifique.

Sim, porque uma empresa equilibrada, para além do lucro que legitimamente gera para o accionista, contribui socialmente para o desenvolvimento e sustentabilidade da comunidade.

E ao OGE chega-lhe o contributo social que justamente irá prestar com os subsídios de desemprego àqueles que foram destinatários desta fatalidade empresarial e laboral.

Outros contributos do OGE serão benvindos à economia e são infelizmente menos que os necessários, por intermédio de apoios a empresas e empresários que os saibam aplicar e com eles frutificar, no interesse da comunidade de um estado solidário.

É que, por estas e por muitas outras, já não existem meios que permitam continuar a pôr dinheiro bom em cima de dinheiro mau!

Emmanuel

Chris Botti w/ Lucia Micarelli

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tomates a passo de caracol!

«É imprescindível aproveitar esta oportunidade, porque certamente não haverá nova possibilidade de comprar este espaço e seria uma enorme perda se a sua compra não tivesse sido aprovada», afirmou Isabel Soares, Presidente da CMS, depois da reunião de ontem(1.3.2009). «Este edifício será uma mais-valia significativa para a autarquia, porque nos permitirá juntar serviços num mesmo espaço físico, no sentido de os racionalizar, optimizar e tornar mais eficientes para responder às diversas solicitações que lhes são impostas», explicou a autarca.
In Algarvefm.pt de 2.3.2009

Através do Blog do ex vereador, sempre atento e habitualmente informativo, veio a saber-se porque se justificava a aquisição da Fábrica do Tomate.

Para tanto remete o leitor para a noticia supra de 2.3.2009, que faz um conjunto de considerandos cheios de sentido económico e que militam em favor da aquisição do dito imóvel.

O que não deixa de ser curioso é a argumentação de Isabel Soares sobretudo no que respeita à “oportunidade” que se esgotaria se a CMS não tivesse decidido pela aquisição há exactamente um ano atrás.

O assunto porém continua pendente e a oportunidade única que então urgia aproveitar, apesar de decorrido um ano, sem que ninguém lhe tenha pegado, continua lá à espera de ser aproveitada... e ao mesmo preço!

Nunca foi visto um negócio de ocasião tão lento quanto este.

Sem curar da oportunidade da aquisição face ao estado das contas concelhias e nacionais, o que não é de somenos, acreditamos que se trata de uma questão de dinheiro e quem sabe, de garantia suficiente para que o banqueiro abra os cordões à bolsa.

Se for este o caso e sem prejuizo da patente descida do valor da propriedade no ultimo ano, é inevitável concluir tratar-se o valor pretendido pela fundação Oriente de um luxo asiático!

A crise

quarta-feira, 26 de maio de 2010

DESPERTAR É PRECISO


"Na primeira noite, eles aproximam-se
e colhem uma flor no nosso jardim,
e não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores, matam o nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles
entra sózinho em nossa casa, rouba-nos
a lua e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada".

Vladimir Maiakóvski, "Despertar é preciso".

Monarquia vs República

terça-feira, 25 de maio de 2010

Tomates para que vos quero?!!!


O Blog Caoscosmos, no seu ultimo post, pôs o dedo numa das muitas feridas da nossa politica concelhia: a Opacidade!

A aquisição da fábrica de tomate que o Vereador F. Serpa contestou, publicando no seu blog a sua posição, sofre, e é aí que a questão é pertinentemente levantada pelo blog Caoscosmos, de uma omissão fundamental, que é aquela de saber, para que quer o município o edifício da fabrica de tomate?

Esta aquisição cuja natureza sempre se justificaria conhecer e ser do domínio público, hoje, no contexto económico e financeiro em que nos encontramos, assume uma importância muito maior.

Na verdade a contenção na despesa pública que a breve trecho terá, inevitavelmente, uma dimensão como nunca foi vista, é, como nunca foi tanto, uma matéria do interesse directo do cidadão-contribuinte, antes de ser de interesse público que o é também manifestamente.

Que a snra Presidenta não o tenha feito, lamentavelmente não nos surpreende.

Já que o Vereador F.Serpa, cuja denuncia os cidadãos agradecem vivamente, não se refira ao propósito invocado pelo município para tal aquisição, não pode deixar de ser considerada uma omissão essencial, até para a defesa pública da sua posição.

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. Cheira-nos que prometem!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

19 x 17 quantos são? Dou um doce a quem souber de cabeça!...

Pelo menos 300 mil funcionários públicos britânicos correm o risco de ficar sem emprego nos próximos anos devido às medidas anti-défice.

O número está hoje a ser avançado pelo semanário ‘Sunday Times', o que acontece um dia antes de o novo Executivo britânico apresentar o plano de cortes orçamentais de cerca de seis mil milhões de libras (6,9 mil milhões de euros) para este ano. O orçamento rectificativo chega à Câmara dos Comuns, pouco mais de um mês após a entrada em funções do Governo de coligação.

Os cortes vão afectar muitas regalias de que gozam os funcionários, tais como viagens de táxi, voos, hotéis, bem como uma série de organismos privados que oferecem serviços públicos mas que são financiados pelo Governo.

Só no sector da Saúde, revela o jornal britânico, 120 mil pessoas podem ficar sem emprego, assim como 100 mil funcionários de autarquias em todo o país e milhares de polícias e pessoal civil que trabalha nas esquadras.
O Ministério da Defesa, que tem que cortar os gastos em 25%, também terá que eliminar 20 mil postos de trabalho.

Para dar o exemplo, o primeiro-ministro, David Cameron, que já tinha reduzido o número de seguranças e motoristas dos ministérios, comprometeu-se a pagar do seu bolso as despesas da reforma da residência oficial de Downing Street, para onde deve mudar-se com a família esta semana.
Diário Económico 23/05/10
A Inglaterra, como aliás outros países ricos, não se coíbem de tomar as medidas impopulares que se impõem face à situação em que as suas contas se encontram.
E lá por isso não deixam de ser países democráticos, nem os seus politicos deixam de depender de eleições para alcançarem o poder.

Mas Sócrates não deixa de ter alguma razão quando remete para os outros – o mundo – e para causas externas – a mudança – parte da origem dos seus (nossos) problemas. Porém realmente só alguma razão lhe assiste.

Se é certo que têm de continuar a entrar diariamente não sei quantos mil milhões de euros de empréstimos para manter o Estado e a Banca (e seus clientes) neste nível de despesa, investimento e consumo, não é menos certo que não se pode gastar para além da nossa capacidade de endividamento para sempre...

De facto, a exposição da banca alemã nos países do sul: Portugal, Espanha e Grécia já vai num nível preocupante (para ela), o que conduziu a Snra Merkl, em salvaguarda da banca do seu pais e a seu pedido, a exigir um comportamento mais disciplinado a esses países, não vá o diabo teçê-las e lá vá a economia alemã, com a falência dos seus banqueiros, pelo mesmo caminho.

Nessas diligências pouco lhe importa com o que irá suceder a essas economias. O que importa é que os devedores cortem onde for necessário para assim garantirem que vão poder pagar o que devem. Sendo certo que, sem recurso a outros empréstimos ou sem estes cortes, dificilmente o poderão fazer.

O “aperto” que grassa por todos os países fornecedores do dinheiro obriga-os a emprestar com mais cautelas e a exigir comportamentos decentes àqueles que lhe devem o dinheirinho.

O que Sócrates quer então dizer quando afirma que, em quinze dias, o mundo mudou?
O que se alterou foi que as contas dos devedores passaram a ter outra atenção por parte dos credores e a verdade das mesmas veio ao de cima!

Afinal a Espanha que se arrogava de uma outra Alemanha não passa de Espanha, a Grécia foi vista sem maquilhagem e assustou, e Portugal acordou ressacado de uma bebedeira de vinte anos, sem saber bem onde se encontra e muito menos para onde caminha.

É verdade que alguma coisa se alterou no mundo, mas não foi verdadeiramente a atitude dos banqueiros. Essa é velha de séculos e nós tínhamos o dever de a conhecer de “gingeira”.

O que se alterou no mundo é que os estudantes da primária indianos já aprendem de cor a nossa antiga tabuada [que rejeitámos por constituir uma violência para os meninos (que era até ao numero 10)] até ao número 19 (19 x 17 quantos são?) e os estudantes portugueses no sexto ano para obterem o resultado da divisão de 8 por 4, levam a máquina de calcular!

Não será de estranhar portanto que nisto das contas, públicas ou privadas, não estando nada bem, não caminhemos certamente para melhor!

domingo, 23 de maio de 2010

sábado, 22 de maio de 2010

A vez da bancarrota

Vasco Pulido Valente, in Público 07/05/2010

Irracionalidades

O dr. Oliveira Salazar, em nome do que ele chamava a integridade da Pátria, resolveu meter Portugal numa guerra em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique), que Portugal não podia ganhar. Não havia, para começar, os meios para sustentar milhares de homens em campanha a uma distância proibitiva das bases. Não havia, como se constatou, oficiais que chegassem e,
principalmente, não havia maneira de os formar a tempo. Não havia dinheiro para um esforço tão longo e, por natureza, tão indefinido. O mundo inteiro estava contra nós, mesmo aliados tradicionais, como a Inglaterra e o Brasil, para não falar da ONU e até da NATO. Em 1974, já ninguém nos vendia armamento e os próprio militares tinham chegado ao fi m da resistência física e moral. Nada nisto foi nunca uma consideração séria para Salazar e, a seguir, para Marcelo Caetano. A irracionalidade perpassa por tudo o que escreverem e disserem e também por tudo o que escreveram e disseram as grandes personagens do regime.

Como era de esperar, veio o desastre. Não, em si mesmo, o “25 de Abril” – a loucura a que se chamou o PREC. Íamos passar, segundo os teóricos, de uma sociedade atrasada e semirural para uma espécie única de socialismo, com a prestimosa ajuda do MFA e do Partido Comunista de Álvaro Cunhal. E, eventualmente, de outro país falido, como já era a URSS. Para essa conversão bastavam as a nacionalizações, com a reforma agrária – só no Sul – e o mítico poder dos trabalhadores. Quando acabou a “festa”, não sobrava um tostão e chegou o FMI para pôr a casa em ordem. Vale a pena insistir outra vez na irracionalidade do exercício? Vale sequer a pena nas ruínas que ele deixou atrás de si e que visivelmente continuam apodrecer no meio de nós? Parece que não.

Mas não bastaram estas duas lições. Com a “normalização” do país, chegou um novo mito, que o dr. Cavaco propagou com entusiasmo: Portugal seria um “bom aluno” da “Europa” e os portugueses viveriam, evidentemente, como “europeus”, com um impecável Estado-providência e altos salários. Mais do que isso: a Pátria voltava a ocupar a posição de importância e de prestígio, que sempre merecera. O CCB, a Europália, a Expo-98 e o Euro 2004 mostravam à humanidade estupefacta e maravilhada a nossa indubitável ressurreição. Como de costume, este puro delírio não se fundava numa economia forte e numa sólida solvência financeira. Era o frágil efeito de uma situação internacional e dos milhões de Bruxelas: o velho produto da nossa velha irracionalidade. Depois do Império, do socialismo e da “Europa”, entra agora em cena a bancarrota. Muito lógico.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Richard Rorty

"Take care of freedom and truth will take care of itself"






Filósofo e crítico norte-americano. Estudou em Chicago e Yale e foi professor de Humanidades na Universidade da Virgínia. É muito conhecido como o filósofo analítico que se voltou contra aquilo que considera as categorias tradicionais de interesse nessa tradição — verdade, conhecimento, objectividade — substituindo-as por uma versão pós-modernista muito própria do pragmatismo, associada a autores como Heidegger e Gadamer, onde tais tópicos foram banidos. Tendo ultrapassado tais interesses, o intelectual liberal assume uma atitude irónica e distanciada, mesmo em relação às suas convicções fundamentais; a vida intelectual transforma-se numa espécie de conversa diletante; os seus críticos acham que o quietismo político ou o conservadorismo sugeridos por esta posição são preocupantes. Philosophy and the Mirror of Nature (1979, trad. A Filosofia e o Espelho da Natureza, 1986) e Contingency, Irony and Solidarity (1989, trad. Contingência, Ironia e Solidariedade, 1994), são algumas das suas influentes obras.

Simon Blackburn

O que há para o jantar?

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Crise nacional(II)

NÃO MORREMOS DA DOENÇA, MORREMOS DA CURA...


Facto é que andámos nas últimas semanas "embalados" pelas pressões especulativas sobre o euro.

A UE reagiu forte e para além de criar um fundo especial em ordem a ser utilizado em caso de necessidade, obrigou a Grécia, Portugal e Espanha a tomarem medidas imediatas e draconianas para acalmar os mercados e afastar os especuladores, medidas estas que a Irlanda, mais conscientemente, já tinha tomado.

O problema é que as tais medidas draconianas assentes no aumento dos impostos e no cancelamento dos investimentos públicos, acabarão por ter um efeito contrário.

Em nosso entender, não só não diminuirão o défice público como poderão conduzir ao seu agravamento, pelo risco que comportam de determinar uma recessão económica.

Este foi o pacote utilizado pelos países que decidiram meter na gaveta os preciosos ensinamentos de Lord Keynes. Resultado: os mercados entraram outra vez em grave queda, dando aos especuladores novamente condições para novo ataque já que, de acordo com os correctores os investidores na bolsa pensam (e com razão) que estas medidas irão agravar o problema, causando recessão, em lugar de o resolver, estimulando o desenvolvimento económico!!!

Assim, em vez de, com humildade intelectual, se empreenderem politicas de raiz Keynesiana, não se compreendendo bem porquê optou-se por outras vias.

De facto, afirmam os detractores daquela solução, que esta situação é diferente de outras, e sem explicarem porquê, decidem ignorar os ensinamentos de Keynes que foram utilizados em TODAS as situações as mais diversas durante os séculos XX e XXI).

O resultado está já á vista, não sendo necessário esperar pelos novos capítulos.

Concretizando:

O aumento dos impostos conduzirá necessariamente á redução da procura e do consumo.

Logo, a receita decorrente dos impostos sobre o consumo diminuirá!

E o que sucederá pelo lado da despesa?

A redução do consumo agravará a exploração das empresas o que determinará mais despedimentos e, ou, mais falências!
Assim sendo, o Estado arrecadará menos IRS, IRC, Contribuições para a Segurança Social, ao mesmo tempo que aumenta os seus custos em subsídios de desemprego!

É aqui que está o busilis! Com ou sem Keynes, as medidas tomadas produzirão o efeito contrário ao que se pretende acentuando-se a perspectiva da recessão.

O único resultado, aparentemente positivo, visado com esta cosmética para banqueiro ver, é que, teoricamente, possibilitará a Portugal endividar-se a um juro mais leve, o que não é necessariamente verdade a acreditar no que o presidente do BPI disse recentemente: que o crédito nos estará vedado nas próximas semanas!

Recordem-se os títulos do Expresso de Sábado passado:
- Medo da recessão levou Sócrates a recuar disse a 1ª página
- Mercados em quebra devido ás preocupações de que as medidas draconianas levem á recessão
- Nicolau Santos escreve : os contribuintes vão emagrecer com certeza. Sobre o monstro (leia-se 1 milhão de empregados que custam cerca de 70% do orçamento)não há tanta certeza. Todos os governos em dificuldades reduziram os salários na função pública. Aqui não.
- Em Editorial diz-se : O ajustamento era incontornável, mas atira-nos para a recessão e faz explodir o desemprego
- Na página 6 do 1º caderno, Medina Carreira diz que sendo 70% da despesa com salários, sem se tocar nesse assunto nunca se conseguirá resolver o problema.

Ou seja, tomamos medidas deste tipo para resgatar a credibilidade nos mercados e para evitar que a dívida publica suba em consequência do aumento dos juros.

Com a terapia não conseguimos equilibrar as contas do Estado e, aumentamos o desemprego e vamos para a recessão, aumentando o défice (diminuição das receitas e aumento das despesas).

Que credibilidade ganhámos? Quem continuará a emprestar dinheiro a um país em recessão e a caminho da insolvência?
Esta é a questão: não morremos da doença, morremos da cura !
Porquê?
Recorde-se que o nível do défice e do endividamento são vistos em função do PIB ou seja da quantidade de dinheiro que está em dívida na sua relação com o que o pais produz, certo ?
Então para que o défice e o endividamento diminuam não basta que os Estados gastem menos é preciso que o reduzam a percentagem daqueles factores na sua relação com o PIB.
Ora isso só acontecerá se:
- O PIB crescer ao mesmo tempo que o Estado gasta menos;
-O PIB se mantiver enquanto o Estado gasta menos;
- O PIB se reduzir, mas menos que a redução da despesa do Estado.

A 3ª seria a única eventualmente atingível, mas não é credível que, com mais impostos e despedimentos, os portugueses não tenham uma quebra brutal no consumo e com ela a inevitável redução do PIB á semelhança do que aconteceu no início da crise.

Assim, tudo indica que aumentará o défice e o endividamento em relação ao PIB e os sacrifícios vão para a valeta.

O que queremos dizer é que o Estado só equilibrará o orçamento quando tiver mais receitas e isso só acontecerá se e quando o PIB crescer !!!Ora estas medidas não farão esse milagre, pelo contrário.

Não duvidamos que são necessárias medidas draconianas para estabelecer o equilíbrio orçamental e diminuir a divida externa, mas entendemos que, como já vimos no passado com o governo Durão Barroso/Manuela Ferreira Leite, medidas desta natureza não visam a saúde da economia e muito menos o desenvolvimento, destinam-se exclusivamente a sossegar os credores, fazendo-lhes ver, rapidamente, que estamos dispostos a sacrificar-nos para conservar a nossa solvência como meninos bem comportados.

Na Espanha, na Grécia e na Irlanda, os respectivos governos "penalizaram" os funcionários públicos – um factor sempre importante da despesa – tentando manter um nível razoável de consumo privado e com ele aquelas economias, sem aparentes preocupações com as consequências eleitorais para o partido do Governo.

Aqui preferiu-se atacar a economia, para manter o milhão de votos na expectativa.

Bonnie Raitt


Bonnie Raitt


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