
O poder politico concelhio tem manifestado publicamente o seu apoio aos trabalhadores do grupo Alisuper, solidarizando-se perante aquele que parece ser o seu destino inevitável: o desemprego. “Nobless oblige”!
Neste patamar tem-se feito de tudo um pouco: telefonemas e mais telefonemas, algum acompanhamento, tentativas de influência sobre a CGD, e a última sugestão tornada publica pelo Vereador F. Serpa, vai no sentido da CMS, enquanto tal, empenhar-se pessoalmente em reuniões com o IAPMEI e o BPN, visando “emprestar” uma credibilidade que manifestamente parece faltar aos interlocutores para viabilizar a empresa.
Não temos dado uma atenção especial ao fenómeno Alisuper, razão pela qual não temos informação suficiente para nos pronunciarmos com fundamentação.
Do pouco que sabemos porém, com sustentação, chega para, numa abordagem simplista, manifestarmos em primeiro lugar o nosso mais sincero e profundo espanto quanto à situação em que irão ficar os trabalhadores face ao incumprimento das obrigações de garantes (avales) que assumiram pessoalmente, com vista a tentarem viabilizar a empresa, numa etapa anterior da sua caminhada descendente.
Confessamos que nunca tínhamos visto uma coisa parecida…os trabalhadores a garantirem pessoalmente obrigações bancárias do empregador…
Esta verdadeira raridade, que mereceria um conjunto largo de comentários escabrosos que nos vamos dispensar de fazer pelo menos para já, constitui também uma evidência sobre o conteúdo emocional que terá caracterizado no essencial a gestão da crise naquela estrutura empresarial.
A recuperação de uma empresa tecnicamente falida pode assumir versões verdadeiramente românticas que, bem descritas, dariam certamente preciosidades literárias, inclusivamente no género policial.
Não estão naturalmente em causa, o empenhamento dos trabalhadores na manutenção dos seus postos de trabalho ou, em abstrato, o empenhamento da CMS em tentar minorar ou evitar um “desastre” social que o fim da Alisuper irá causar.
Feita esta ressalva, importará tentar uma conclusão à laia de moral da história!
Este caso constitui apenas mais um exemplo da absoluta irracionalidade em que muitos e muitos “responsáveis” deste concelho e deste pais, andam sintonizados.
Ora bem:
É da mais elementar linearidade a conclusão acerca da incompetência da gestão da empresa de distribuição que, nos dias de hoje, que já são de ontem, sem ter um enquadramento empresarial mais amplo e outros capitais próprios, pretender ocupar um lugar neste mercado de tubarões.
Recorde-se que, mesmo os grupos financeiros importantes como a Sonae e a Jerónimo Martins, para entrarem na distribuição recorreram a grandes grupos especialistas estrangeiros para se implantarem no mercado: Continente e Lyon Deonaise, com quem se associaram.
Recorde-se ainda que, as fatias remanescentes de mercado, geraram apetite bastante para outros grupos estrangeiros virem disputá-las com a sua competência, armas e bagagens: Lidl, Plus, Dia, etc, etc.
Recorde-se por fim a retirada do mercado das pequenas lojas de conveniência – as novas mercearias de proximidade - que num ápice cresceram como cogumelos e num ápice desapareceram do mercado por manifesta inviabilidade do modelo, sobrevivendo resquícios da espécie somente agregadas às estações de serviço de distribuição de combustível.
Que futuro se poderia augurar, já há alguns anos, para o modelo Alisuper?
Melhor, que modelo de oferta ao mercado representa a Alisuper?
É certo que a empresa sobreviveu até hoje apesar daqueles tubarões, dirão os emotivos!
À conta do financiamento voluntário (?)do BPN (hoje CGD, activo do Estado), do financiamento involuntário do Ministério das Finanças (O.G.Estado) e dos fornecedores, dirão os racionais!
À conta das relações privilegiadas, típicas das famílias partidárias e sua teias, e da abundância dos verdadeiros toques de Midas de que são capazes.

Pedir a compreensão dos credores e a sua cumplicidade para com uma empresa sem futuro no mercado onde sempre esteve inserida, sem uma gestão que consiga conceber uma estratégia de inovação ou conversão que angarie o respeito técnico dos fornecedores de capital, é uma pura perca de tempo.
Mais, é um insulto a todos aqueles que, com projectos viáveis e sem passivos, não conseguem, hoje em dia, obter apoios bancários, ou para aqueles que perdem as suas casas em sequência de execuções fiscais por créditos do OGE verdadeiramente ridículos face aos montantes atingidos pela Alisuper.
Mas também é bem sintomático da distância que há a percorrer até sermos uma sociedade de eficiência e de racionalidade que teremos necessariamente de ser se quisermos manter um Estado social sustentável.
Claro que nem para todos, os envolvidos publicamente na acção de resgate, a questão se coloca nos mesmos termos.
Os políticos não podem deixar de estar publicamente ( e demagogicamente) solidários com os trabalhadores em vias do desemprego e das execuções.
Apesar de poderem ser absolutamente omissos nos deveres de, enquanto representantes dos cidadãos eleitores e contribuintes, curarem de publicamente dar o exemplo de esclarecimento que a situação justifica e de zelarem pela racionalidade na aplicação dos dinheiros públicos, a qual, face ao caso concreto aponta no sentido da CGD e, ou, o IAPMEI não envolverem directa ou indirectamente o OGE numa empresa que, nas circunstâncias presentes de desenvolvimento do mercado e face à manifesta insusceptibilidade de inovação por parte da sua gestão, não garante um retorno SOCIAL que o justifique.
Sim, porque uma empresa equilibrada, para além do lucro que legitimamente gera para o accionista, contribui socialmente para o desenvolvimento e sustentabilidade da comunidade.
E ao OGE chega-lhe o contributo social que justamente irá prestar com os subsídios de desemprego àqueles que foram destinatários desta fatalidade empresarial e laboral.
Outros contributos do OGE serão benvindos à economia e são infelizmente menos que os necessários, por intermédio de apoios a empresas e empresários que os saibam aplicar e com eles frutificar, no interesse da comunidade de um estado solidário.
É que, por estas e por muitas outras, já não existem meios que permitam continuar a pôr dinheiro bom em cima de dinheiro mau!