O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Para sair do beco sem saída

Por estranho que pareça ao (des)governo de Portugal, há, felizmente, quem pense coerentemente a salvaguarda de todos os interesses em presença nesta crise financeira e, por via dela, da economia portuguesa...


A conselheira nas instituições europeias propõe estratégia concreta para Portugal recuperar a autonomia financeira e pagar as dívidas
Maria João Rodrigues in "Expresso" de 3.11.12

Estar a ser empurrado para um beco sem saída do empobrecimento e enfraquecimento coletivo é hoje a sensação das esmagadora maioria dos portugueses. Porque aceitam entrar nele? Porque lhes é dito que regressar a condições normais de financiamento do país depende de se alcançar o mais rápido possível a meta dos 2,5% de défice público sobre o PIB.

Para sair deste beco há primeiro que pôr de lado algumas ideias feitas.

A capacidade do país atrair de novo crédito e investimento não depende apenas do nível do défice público, mas da sua capacidade de crescer e valorizar o capital investido.

A meta central para o país não deve assim ser estabelecida apenas em termos de défice, mas em termos da melhor combinação entre défice, dívida e crescimento, devendo este ser claramente positivo.

A meta do défice não deve ser definida em termos nominais, mas em termos estruturais, retirando o efeito do ciclo económico. Um país em recessão profunda deve ser autorizado a uma redução do défice mais lenta, aliás de acordo com o tratado orçamental já ratificado em quase toda a eurozona.

As variáveis-chave da negociação com a UE não são apenas o nível da despesa e da receita públicas, mas sim a taxa de investimento e crescimento e taxa de juro que as condicionam na base.

A melhor forma de manter o Estado social sustentável não é apenas reformá-lo regularmente, é dar-lhe uma base sólida de mais crescimento e de mais população empregada capaz de o sustentar. Fazer essas reformas durante uma recessão profunda e maior carga fiscal, é não só inviabilizá-las mas também aprofundar a recessão.

O que está hoje em causa não é apenas o orçamento público, nem apenas o programa da troika que o enquadra, mas sobretudo a capacidade nacional de definir uma estratégia de crescimento sustentável e de influenciar um quadro europeu que a suporte.

O nosso interlocutor externo principal não deve ser a troika, que é uma mera equipa que age no quadro instruções gerais, mas antes o topo do sistema político que lhe dá essas instruções gerais.

Com base nestes novos pressupostos, a mensagem do país para o topo do sistema político europeu e internacional não deve ser apenas que estamos a conseguir o défice externo e o défice público e que, prosseguindo esta via, vamos certamente recuperar a autonomia financeira e pagar as nossas dívidas. Deve antes ser:

Estamos a fazer um esforço intenso para corrigir os nossos problemas: aumentar a capacidade de exportação, tornar o Estado mais eficaz, cortar despesa desnecessária, melhorar e compensar o mérito profissional. Mas este esforço está também a produzir efeitos muito negativos: subida do desemprego e da pobreza sem precedentes, emigração em grande escala, incluindo de jovens qualificados.

Apresentamos este alerta: se este tipo de trajetória for prosseguida sem mais, estes efeitos vão agravar-se ainda mais, colocando uma parte importante da população ao nível da sobrevivência.

Temos uma estratégia melhor para revitalizar a atividade económica e manter a coesão social, fazendo também uma redução consistente do défice e da dívida em relação ao PIB.

Estas são as áreas onde temos competência acumulada para crescer e esta é a carteira de projetos que preparámos. Estes são os cortes de despesa pública e as alterações fiscais que podemos fazer sem destruir empresas e empregos viáveis e sem pôr em causa a rede de proteção de que as pessoas precisam.

Para tudo isto ser viável precisamos de condições de financiamento mais razoáveis, combinando de forma dinâmica os novos instrumentos disponíveis: FEEF, MEE, BCE, BEI e a atual construção de uma união bancária. Esta é uma peça central da reforma mais geral da UEM que está em curso, em que tencionamos participar ativamente para assegurar que ela respeitará o princípio de convergência - nos défices, mas também no crescimento e nas taxas de juro - sem os quais a integração europeia não poderá superar a crise atual.

Esta mensagem será entendida.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Gaspassos: Com a dose certa de porradinhas, não há rolha que me meta medo!




As grandes descobertas acontecem muitas vezes por acaso e a inovação não tem de ser um processo tecnológico sofistificado, encontrando-se à disposição de qualquer burocrata.

Quem imaginaria que seria possível tirar a rolha de uma garrafa, acedendo livremente ao seu conteúdo, sem o indispensável saca-rolhas?

O poder de umas quantas porradas permite o acesso pleno ao seu precioso conteúdo, enrolhado “a sete chaves” !

Um visitante atento e informado (ex crítico de cinema no desemprego) revelou-nos a origem da terrível eficácia da pressão fiscal, a qual, tanto quanto julga saber, reside nos ensinamentos deste filme simplório (segundo alguns, uma raríssima curta metragem de Manoel de Oliveira da fase: Aniki Bóbó, porém nunca assumida pelo Mestre e até por ele, amiúde, repudiada com veemência), que a inspirou.

Na verdade o “modus operandi”, evidencia um inconfundível paralelismo: desde as porradas (massificação das notificações, verdadeiras chicotadas psicológicas, seguidas de penhoras a torto e a direito) à saída progressiva da rolha que retém o precioso liquido, cedendo à pressão das porradas (a quebra progressiva da resistência do contribuinte à abertura da bolsa) até à libertação do precioso liquido para o seu usufruto ( o encaixe do dinheirinho dos cidadãos para seu uso e abuso).

O que o filme não explica, dada a sua simplicidade neo realista e não recurso a efeitos especiais,  é como pode a garrafa, sujeita a mais porrada, mesmo depois de esgotado o seu precioso conteúdo, continuar a verter vinho?

Nessa matéria e dando crédito à tese que atribui a autoria a Manoel de Oliveira, a obra já seria conhecida ao tempo do salazarismo, período durante o qual, em matéria de cobrança, este filme já teria produzido a sua influência neste e noutros domínios ainda menos recomendáveis, sendo que, nestes, se terão revelado resultados surpreendentes (por exemplo no caso da tortura pela gota-de-água o cidadão brotava informação muitas vezes quintuplicada).

Seguro, seguro é que nesta matéria. a máquina burocrática fiscal revelou uma capacidade extraordinária de inovação, porquanto se assiste a uma enormidade de casos de contribuintes que, mesmo depois de esgotadas as suas poupanças, continuam a ceder às porradas, prosseguindo a pagar, nem que para isso tenham de assaltar dependências bancárias por todo o pais.

Estão pois de parabéns os trabalhadores da cobrança que conseguem este verdadeiro milagre, ou, noutros casos, poupanças obvias para a despesa pública.

Na verdade vão sendo conhecidos vários casos de suicídio de contribuintes que, esgotadas as suas poupanças recorrem à banca sem sucesso e face às penhoras que prenunciam a desonra e uma existência indigna, resolvem pagar com a vida ao lhe porem termo voluntariamente.
De facto geram por esta via, uma poupança/redução da despesa na pensão de reforma que o Estado deixa de suportar.

Este progressivamente maior contributo para os cofres públicos ainda não é publicado no boletim do Instituto Nacional de Estatística, mas, segundo fontes habitualmente bem informadas, já consta da folha de Excel do snr. Vítor Gaspar.

Entretanto, sabe-se à boca pequena, que alguns cobradores mais estafados têm sido sujeitos a baixas médicas por esgotamento. Consta-se que padecem de autêntica esquizofrenia, pois são unânimes ao assegurarem aos seus moderados chefes que são responsáveis por descobertas verdadeiramente surpreendentes, pois concluíram, em resultado de sofisticadíssimos mas cada vez mais frequentes processos alucinatórios, nos seus detalhados relatórios internos, que muitas garrafas de 7,5 decilitros afinal não passam de garrafões de cinco litros ardilosamente camuflados 


Vá lá saber-se porquê?

sábado, 15 de dezembro de 2012

Vandalismo


Abéculas: as nossas e as outras são inseparáveis!

“Considerando que o espólio estava devidamente catalogado, descontando o material que foi para Faro, importa saber se o restante ainda se encontra dentro das quatro paredes do edifício do Museu?
E, quem é o responsável pelo espólio que lá permaneceu?
Aguardo assim que esta minha chamada de atenção, seja correspondida com os devidos esclarecimentos, e tomadas as medidas que se impõe para a manutenção e segurança do que ainda resta do Museu da Cortiça, distinguido em 2001 com o prémio Luigi Micheletti para melhor museu industrial da Europa. “
diz Fernando Serpa, em agonia, no blog “vereador c.m. Silves”.

Em 24 de Maio deste ano postámos um texto(Museu da Cortiça. Futuro à guarda de um Ourives ou de um Pedófilo?), já então a propósito da inquietação (fundada, de resto) do Vereador F. Serpa acerca do futuro do Museu da Cortiça/ Fábrica do Inglês.

Ironizámos então acerca dos sentidos disponíveis na estrada da solução do problema e o papel de alguns escolhos que iam surgindo pelo caminho. Da Lei ao interesse público, fizemo-los passar pela lupa do nosso ponto de vista.

Hoje a preocupação de F. Serpa inspira-nos de novo...

Como é possível que o Vereador da CMS desconheça (e com ele a grande maioria de nós), objectivamente, onde param as reservas do Museu da Cortiça?

Um Vereador da CMS não tem acesso a esta informação que existindo, não lhe é fornecida?

A CMS não sabe, pura e simplesmente, o que se passa com aquele espólio?

A CMS sabe o que se passa mas não quer responder para não dar a “vantagem” à oposição de “liderar” a defesa daquele património?

O Curador do Museu e seu empenhado defensor não sabe o que se passa com tal património, ou sabendo não esclareceu o Vereador?

O assunto em questão não diz respeito à opinião pública local, regional ou nacional e por isso ninguém se preocupa em esclarecer este apelo público?

É segredo de Estado?

Há abandono ou descaminho do espólio necessariamente com negligência ou dolo?

Há ou existem interesses económicos que pretendem manter-se ocultos, não sendo conveniente à sua estratégia de opacidade, confrontar a opinão pública com o abandono a que tais reservas se encontram votadas e, ou, a insusceptibilidade de, pelo caminho que já percorreram, voltarem a reunir-se em Museu?

Ou será apenas  que todos os mangericos responsabilizáveis só nos querem fazer uma surpresa zelando ufanosamente por abrir um dia destes o Museu da Cortiça em muito melhores condições de segurança, estabilidade e esplendor, ao serviço do público ?

Meus senhores, responsabilizáveis e irresponsabilizáveis pela omissão em causa, esta simples nota de desconhecimento e ausência de resposta pronta constitui abandono e é, infelizmente, significativa acerca de como tratamos o que prezamos e tem valor e é estimável.

Também esclarece da importância que a comunidade dos cidadãos tem para aqueles, ou que por ela foram eleitos e por ela são pagos, ou que por ela são “apenas” pagos para zelarem por valores que se lhes encontram confiados.

Enquanto tratarmos os interesses da comunidade dos cidadãos, em casos como este e por maioria de razão, nos outros que assolam diariamente os telejornais, com este exemplar nível de lealdade, competência, profissionalismo e zelo, não só não teremos futuro, como permaneceremos merecedores das Abeculas Salassié (s) que por cá andam, pois seremos tão bons quanto elas!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Fortaleza de Armação de Pêra: novos documentos para a sua história


Sobre o arco de entrada da fortaleza de Armação de Pêra destaca-se uma pedra de armas, em que, por baixo do escudo real, está gravada uma data que, devido aos estragos da erosão, tanto pode ler-se 1661 como 1667.

Essa data indica, muito provavelmente, a conclusão das obras de construção do histórico forte, já que três relações das fortalezas algarvias (1621-Descrição de Alexandre Massai[1], 1653-Relatório de Pedro de Santa Colomba[2], 1654-Relação das obras nas fortificações do Algarve[3]), não referem qualquer fortificação entre Albufeira e Nossa Senhora da Rocha, antes assinalam a sua falta para defesa das armações de atuns de Pêra e de Pedra da Galé e das povoações vizinhas.(...)


Pode continuar a ler aqui.

Como consegue alguém sobreviver sem ter um familiar autarca?



Este mergulho foi em Bali, mas podia ter sido na baia de Armação de Pêra




Energias renováveis: Temos potencial, não temos é politica...


terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Direitos Humanos: contra o Poder

Depois do "folclore" da comemoração de mais um aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, vale a pena uma análise mais aprofundada sobre as ilações que se podem retirar dessa importante conquista da humanidade organizada politicamente.

"Apropriámo-nos" assim de um texto de Paulo Sérgio Pinheiro (Coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo e Relator Especial das Nações Unidas para o Burundi)que consideramos de qualidade e de toda a utilidade a sua divulgação:


A luta pelos direitos do homem não pode jamais se efetivar senão contra o poder, pensava René Cassin, um dos pais-fundadores da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao ver-se face a face com o general De Gaulle, a quem acompanhara no exílio de Londres, agora de volta ao governo em 1981.

Porque os direitos humanos estariam sempre em conflito com o Estado, com o governo, enfim com o poder?
Governo, estado, significa poder.

O poder é mais que a coerção, mas o poder do Estado tem uma característica única porque ele está acima de todos os outros “poderes” no interior da sociedade pelo direito que lhe é reconhecido de recorrer à força, mesmo de matar, quando seus representantes estimam que tal ação seja necessária (e a mais legítima, ali aonde a legalidade é respeitada).

Se examinarmos a coerção exercida pelo Estado, devemos constatar que essa tem uma particularidade: como o Estado não é um ser real, não pode executar nenhum ato de coerção, seja física ou de outra espécie porque ele não pode ele mesmo agir de alguma maneira.

A afirmação de que o Estado age pela coerção é somente uma forma de falar que corresponde na realidade a muitas situações diferentes.

Primeiramente, ela completa e prolonga a ficção pela qual alguns atos de coerção física cometidos por homens/mulheres são considerados como desempenhados pelo Estado. É essa ficção que o direito chama de “imputação”.

O Estado exerce assim a coerção por intermédio de homens, que são considerados como órgãos do Estado. Esses atos, que não serão imputados ao Estado, mas aos próprios indivíduos, são entretanto autorizados ou mesmo prescritos pelo Estado.

O mesmo ocorre com o Estado. Não há na verdade uma distinção significativa entre o Estado e o governo do Estado. Não importa qual o regime, o cidadão comum estabelece uma clara equação entre os dois.

Para fundamentar esse postulado Sir Moses Finley recorre a um texto de Harold Lasky, The State in Theory and Practice (1935) há muito esquecido:
“O cidadão não pode ter acesso ao Estado senão pelo intermediário do aparelho de governo (...). as conclusões que ele as tira sobre (...) a natureza do Estado, ele tira-as do caráter das ações governamentais; e ele não poderia conhecer de outra maneira.

Esta é a razão porque nenhuma teoria do Estado é adequada se não situa a ação governamental no centro da explicação que ela propõe. Um Estado é o que faz seu governo; o que uma teoria qualquer requer do aparelho governamental para que seja atingido o fim último do Estado (...) não é senão um critério para julgar este Estado, não um índice de sua essência real”.

O Estado não pode pretender-se democrático se as práticas do governo e de seus agentes não respeitam os requisitos da democracia.

O Estado não pode pretender ser democrático se tolera as violações de direitos humanos e se não consegue implementar o acesso efetivo da população aos direitos fundamentais.

O triângulo fatal das violações

Os critérios disponíveis para classificar as violações de direitos humanos não são claros.

Nenhuma resolução de organização ou conferência internacional oferece um critério claro para delinear o que são violações de direitos humanos: no máximo indicam o conteúdo dessas violações.
Por exemplo os parágrafos 7 e 11 da Programação da Conferência Internacional de Direitos Humanos de Teerã de 13 de maio de 1968 refere-se a “gross denial of human rights”.

Já a Declaração e Programa de Ação de Viena de 25 de junho de 1993 usa as expressões “massive violations of human rights” (par. I.29), e “gross human rights violations” (par. I.30).

Apesar de conscientes dessas dificuldades, para analisarmos a arbitrariedade do Estado temos de contar com um conceito operacional. Nas novas democracias, nas quais os governos não coordenam ou organizam a repressão ilegal, violações de direitos humanos continuam a ocorrer perpetradas pelos agentes do Estado que contam muitas vezes com a impunidade.

Entre os operadores do Estado que perpetram maior número de graves violações de direitos humanos, como execuções sumárias, sequestros e torturas, estão as polícias dos Estados modernos, falhando na sua missão originária de construir a pacificação.
Cremos que podemos trabalhar com um conceito operacional provisório dessas violações, fundado na Declaração Universal de Direitos Humanos e no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.

Na Declaração estão formulados três direitos que dizem respeito especificamente aos operadores do Estado: o direito à vida, liberdade e segurança (art. 3), de não ser submetido à tortura (art. 5) e de não ser preso arbitrariamente (art. 9). Quando esses direitos são violados, como Alex Schmid propôs em seu relatório Reserarch on Gross Human Rights Violations, estamos diante de graves violações de direitos humanos reconhecidas pelo direito internacional dos direitos humanos; como essas violações geralmente ocorrem simultaneamente, esses direitos correspondem a um “Triângulo fatal”.

Evidentemente, para uma avaliação do alcance dessas violações, essas violações precisam ser medidas, o que pode ser feito usualmente recorrendo-se a três indicadores:
o escopo da violação e grau de seriedade, sua intensidade, e seu alcance, isto é, o tamanho da população afetada. Uma violação isolada cometida por indivíduos privados ou grupo de pessoas, sem ligação com o Estado, obviamente não constitui violação de direitos humanos: como regra geral, o Estado não pode ser responsabilizado por ações de indivíduos (a única exceção sendo aqueles casos em que o governo impede esses indivíduos de serem responsabilizados).

As graves violações de direitos humanos são aquelas cometidas por órgãos locais do governo, do Estado ou seus funcionários, atuando dentro de sua autoridade; a responsabilidade perante o direito internacional dos direitos humanos cabe ao Estado, mesmo que as violações não tenham sido perpetradas sob sua orientação.

Nas democracias os principais responsáveis pelas violações dentro desse “triângulo fatal” nas novas democracias são os operadores do Estado, as polícias.

No caminho percorrido desde 1948

Desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, como já vimos ao examinarmos as violações dentro do triângulo fatal, a definição das normas do direito internacional dos direitos humanos e a construção do sistema internacional de proteção têm dado grande atenção ao controle da violência do Estado.

Nós estamos convencidos de que nesse processo, que vai da Declaração até a recente instituição do Tribunal Internacional, os direitos humanos têm sido um instrumento importante de controle do arbítrio do Estado tanto em regimes de exceção como em regimes democráticos.

Lembre-se que a Declaração e Programa de Viena, adotada consensualmente em Plenário pela Conferência Mundial dos Direitos Humanos, em 25 de junho de 1993, afirma que “a natureza universal desses direitos e liberdades não admite dúvidas”.

A Declaração de Viena ultrapassou assim tanto o dilema tradicional entre universalismo e relativismo, como as alegações de eurocentrismo dos direitos humanos por consenso entre todos os Estados membros da ONU presentes na conferência. Em consequência, nenhum Estado pode alegar tradições locais que possam sustentar graves violações de direitos humanos praticadas por suas polícias.

As primeiras fontes básicas, que apenas indicamos, são obviamente a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além dessas, trazem normas e princípios decisivos para o controle do arbítrio os dois Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e o de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Queria ressaltar que a proteção contra a privação arbitrária da vida, presente no artigo 6 do Pacto de Direitos Civis e Políticos tem grande importância para o controle das práticas ilegais dos operadores:

“Os Estados partes devem tomar medidas não apenas para prevenir e punir a privação da vida por atos criminosos, mas devem também prevenir as execuções arbitrárias por suas próprias forças de segurança. A privação da vida por autoridades do Estado é uma questão da mais alta gravidade. Portanto, a lei deve estritamente controlar e limitar as circunstâncias nas quais uma pessoa pode ser privada da vida por tais autoridades”.

Que largo caminho fez o Leviatã nascido da concentração do monopólio da violência física legítima do Estado, esse lugar onde se afrontam interesses em conflito.

Da antiguidade aos dias que correm, os pensadores, os políticos, os partidos buscaram atingir um modelo ideal, um Estado onde se pudesse transferir os conflitos de modo que todos os cidadãos pudessem atingir uma vida verdadeiramente digna. Mas, a constatação é fácil, nenhum Estado, hoje ou outrora, atingiu esse fim ou mesmo aproximou-se dele.
Do Estado a busca se transferiu, faz cinquenta anos, para padrões universais que pudessem funcionar como uma contenção da barbárie.

Os grandes perigos da enorme concentração de violência nos Estados encontra-se hoje, no final do século XX, delimitada pela crescente normalização e pelas inesperadas possibilidades de monitoramento que o sistema internacional de direitos humanos tornou realidade, abrindo possibilidade para que as vítimas, os cidadãos, pudessem queixar-se das violações. Chegamos ao começo do próximo milênio com a montagem acabada de uma formidável maquinaria para a proteção dos direitos do homem.

No começo do próximo milênio que se inicia, cada vez mais a transparência e a prestação de contas à comunidade internacional será uma exigência para todos os Estados.

A luta pelos direitos humanos, como dizia René Cassin, continua a ser uma luta contra o poder, enquanto arbítrio e violência ilegal, mas a luta dos cidadãos contra o Leviatã tende a ficar mais equilibrada, em razão da soberania não mais poder ser invocada em termos absolutos quando estiverem em causa os direitos humanos.

Se nosso curto século XX foi a era dos extremos, como Eric Hobsbawn propôs, paradoxalmente essa era também ficará na memória dos tempos, lembra Norberto Bobbio, como a era dos direitos.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Divulgação:Movimento Zé Povinho



Chamo-me Zé Povinho e faz agora mais de 100 anos que sou governado por gerações de políticos incompetentes que pedem fiado em meu nome lá fora e la tenho eu sempre que pagar as contas deles no final. Eles já pediram tanto emprestado que chegou hoje ao ponto de eu não ter mais nem um tostão para comprar um rabo de sardinha. Eu e vocês e as próximas gerações de portugueses estamos todos como sabem na bancarrota.

Por isso fartei-me de ser "paciente, crédulo, submisso, humilde, manso, apático, indiferente, abúlico, céptico, desconfiado, descrente e solitário" e decidi agir.

Não tenham medo, compatriotas, não preciso do vosso voto pois não tenho a intenção de me tornar político e viver também a vossa custa. O que eu e que todos nós precisamos para ter um futuro, é não deixá-lo nas mãos deles, pois eu sei por experiência como é que o filme acaba!

Mas não basta ser "capaz de se mostrar incrédulo, revoltado, resmungão, insolente e furioso" como eu fiz até hoje para dar a volta a situação. É preciso ser capaz de mudar o nosso próprio comportamento e deixar de acreditar que a solução aos nossos problemas está nas mãos dos políticos.

Compatriotas, a solução está nas nossas mãos. Se os políticos não são capaz de dar um futuro ao nosso país, teremos que ser nós a fazê-lo. Para tal, precisamos de encontrar uma nova forma de viver juntos, que não deixe a maior parte dos nossos nas ruas da amargura. Precisamos sobretudo de ideias novas para sairmos da situação trágica onde nós encontramos hoje e precisamos de expressa-las. Temos que nos unir e contribuir todos de uma forma mais directa no governo da nossa nação sem nos limitar a ir as urnas votar ou a ir rua protestar de vez em quando. Temos sobretudo que ser nós a dar aos políticos as ideias que irão voltar a dar a este país a esperança de ter um futuro pois ideias novas, eles tem geralmente poucas a não ser quando se trata de nos ir ao bolso!

No meu tempo de juventude, teria escrito nas paredes ou trocado cartas com vocês, mas os tempos são outros e temos que acompanhar a carruagem se não queremos ficar para trás. Por isso peço que partilhem as vossas ideias nesta plataforma wiki, de modo a elaborarmos juntos um programa político para dar um futuro para o país. Todos podem contribuir, pois como já devem ter percebido, eu Zé Povinho, não pertenço a nenhum partido, religião ou clube de football, apenas pertenço a um país chamado Portugal, por isso todos estão bemvindos. Contudo como quero que as ideias aqui expressas sejam suficientemente consensuais para orientarem a acção dos políticos, todos poderão se pronunciar sobre elas e decidir se devem ser integrados no nosso programa de salvação nacional.

Escolhi o formato de webwiki e não uma plataforma de forum, porque o wiki permite editar conteúdos com ligações intertextuais de forma colectiva, sem encorrer no risco de dispersão que é comum nas plataformas de forum. Assim, não será a opinião deste Zé Povinho que o nosso programa vai exprimir mas sim aquela de todos os Zés deste país que quiserem participar nesse projecto.

O PAIS PRECISA DE TI. DÁ O TEU CONTRIBUTO!
(em ideias, não em dinheiro para variar!)

in: Movimento Zé Povinho

Autarcas, banqueiros e promotores imobiliários levaram-nos a isto...



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