As
grandes descobertas acontecem muitas vezes por acaso e a inovação não tem de
ser um processo tecnológico sofistificado, encontrando-se à disposição de
qualquer burocrata.
Quem
imaginaria que seria possível tirar a rolha de uma garrafa, acedendo livremente
ao seu conteúdo, sem o indispensável saca-rolhas?
O
poder de umas quantas porradas permite o acesso pleno ao seu precioso conteúdo,
enrolhado “a sete chaves” !
Um
visitante atento e informado (ex crítico de cinema no desemprego) revelou-nos a
origem da terrível eficácia da pressão fiscal, a qual, tanto quanto julga
saber, reside nos ensinamentos deste filme simplório (segundo alguns, uma
raríssima curta metragem de Manoel de Oliveira da fase: Aniki Bóbó, porém nunca
assumida pelo Mestre e até por ele, amiúde, repudiada com veemência), que a
inspirou.
Na
verdade o “modus operandi”, evidencia um inconfundível paralelismo: desde as
porradas (massificação das notificações, verdadeiras chicotadas psicológicas,
seguidas de penhoras a torto e a direito) à saída progressiva da rolha que
retém o precioso liquido, cedendo à pressão das porradas (a quebra progressiva
da resistência do contribuinte à abertura da bolsa) até à libertação do precioso
liquido para o seu usufruto ( o encaixe do dinheirinho dos cidadãos para seu
uso e abuso).
O que o filme não explica, dada a sua simplicidade neo
realista e não recurso a efeitos especiais, é como pode a garrafa,
sujeita a mais porrada, mesmo depois de esgotado o seu precioso conteúdo,
continuar a verter vinho?
Nessa matéria e dando crédito à tese que atribui a autoria a Manoel de Oliveira, a obra já seria conhecida ao tempo do salazarismo, período durante o qual, em matéria de cobrança, este filme já teria produzido a sua influência neste e noutros domínios ainda menos recomendáveis, sendo que, nestes, se terão revelado resultados surpreendentes (por exemplo no caso da tortura pela gota-de-água o cidadão brotava informação muitas vezes quintuplicada).
Seguro,
seguro é que nesta matéria. a máquina burocrática fiscal revelou uma capacidade
extraordinária de inovação, porquanto se assiste a uma enormidade de casos de
contribuintes que, mesmo depois de esgotadas as suas poupanças, continuam a
ceder às porradas, prosseguindo a pagar, nem que para isso tenham de assaltar
dependências bancárias por todo o pais.
Estão
pois de parabéns os trabalhadores da cobrança que conseguem este verdadeiro
milagre, ou, noutros casos, poupanças obvias para a despesa pública.
Na
verdade vão sendo conhecidos vários casos de suicídio de contribuintes que,
esgotadas as suas poupanças recorrem à banca sem sucesso e face às penhoras que
prenunciam a desonra e uma existência indigna, resolvem pagar com a vida ao lhe
porem termo voluntariamente.
De
facto geram por esta via, uma poupança/redução da despesa na pensão de reforma
que o Estado deixa de suportar.
Este progressivamente maior contributo para os cofres
públicos ainda não é publicado no boletim do Instituto Nacional de Estatística,
mas, segundo fontes habitualmente bem informadas, já consta da folha de Excel
do snr. Vítor Gaspar.
Entretanto, sabe-se à
boca pequena, que alguns cobradores mais estafados têm sido sujeitos a baixas médicas
por esgotamento. Consta-se que padecem de autêntica esquizofrenia, pois são unânimes
ao assegurarem aos seus moderados chefes que são responsáveis por descobertas
verdadeiramente surpreendentes, pois concluíram, em resultado de sofisticadíssimos
mas cada vez mais frequentes processos alucinatórios, nos seus detalhados relatórios
internos, que muitas garrafas de 7,5 decilitros afinal não passam de garrafões
de cinco litros ardilosamente camuflados
Vá
lá saber-se porquê?
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