O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 29 de setembro de 2013

Resultados para a Freguesia de Armação de Pêra



Votantes: 1.781
Inscritos: 4.376

Lista            %         Votos

PPD/PSD  53,62        955
PS             26,56        473
PCP          12,86        229
Totais        93,04     1.657


BRANCO    4,04       72
NULOS       2,92       52

Reflectindo com Charlie Chaplin...



sábado, 28 de setembro de 2013

Reflectindo com Natália Correia...


"Quando a crise não é geradora de grandes audácias, mais indicado é dar-lhe o nome de agonia."


Natália Correia

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Impoluto? Só quem nunca foi eleito ou teve nas mãos as rédeas do poder!


Já escrevemos que na dúvida será melhor optar por votar no candidato que não tenha sido alguma vez eleito.

A velha tese de que “este já conheço, o outro não sei do que será é capaz” está carregada de apatia e por essa via não se pode augurar melhor futuro!

Sendo indiscutível que todos precisamos de um futuro melhor!

Para nós, cuja opinião é escutada, pelo menos, pelos nossos visitantes – que não são assim tão poucos – a questão, no concelho de Silves, coloca-se de uma forma cristalina.

Comecemos por onde “mais nos dói”: Armação de Pêra.

É escusado dizer que apoiamos Paulo Vieira. Mas é importante sublinhar alguns argumentos:

-É nado e criado em Armação de Pêra;

-Tem profissão, trabalha na economia real e é empenhado e dinâmico nas suas actividades;

-Tem iniciativa e incorpora a geração de armacenenses que terá de lidar e liderar o futuro imediato;

-Apesar de se candidatar na lista PS, é um independente!

-É-lhe reconhecido o amor à terra e estabeleceu com as várias sensibilidades da Vila uma ponte de diálogo e uma plataforma que propiciará a participação no futuro da comunidade.

-Nunca teve cargo(s) na administração pública, não podendo de facto ser-lhe imputada qualquer responsabilidade na gestão do passado.

-A falta de experiência política (saber chamar de ouro ao chumbo e se alguma coisa corre mal, ter a coragem de atribuir responsabilidades a quem nem sabe do que se está a passar), quanto a nós, é uma extraordinária vantagem para quem quer desenvolver uma política de verdade e responsabilidade – exatamente o que a comunidade dos cidadãos exige -.

Por tudo isto, com o devido respeito por todos os outros candidatos, não se apresenta ao escrutínio candidato mais dotado para o lugar em disputa que o Paulo Vieira!


Seguindo para o caso da Câmara:

-Do leque de candidatos que se apresentam a escrutínio, dificilmente poderemos encontrar algum que mais tenha entendido e feito por Armação de Pêra, que o Dr. Fernando Serpa! É tão sincera esta convicção que desafiamos qualquer um a contradizer esta afirmação com factos.

-Deu particular atenção e empenhou-se nalgumas causas exclusivamente armacenenses, quando foi solicitado: De entre outras, no caso da qualificação do Casino como imóvel de interesse concelhio, no caso da Lota e do trator e outras justas reclamações dos pescadores, as que mais “mediaticamente” revelaram o seu empenho no exercício do dever do eleito de “acudir” na Câmara, ao acautelar dos interesses das populações.

-Por muitos anos que conheça os corredores do poder na Câmara, nunca dispôs do poder efetivo, pelo que não pode ter sido “corrompido” por ele! Se merecer o poder por o povo decidir atribuir-lho, não terá sido pela manipulação que as rédeas do poder permitem (não é por ter comprado os votos com obras e favores). E, não o tendo tido, não somos susceptiveis de ser surpreendidos pela existência de eventuais cadáveres ocultos dentro dos armários da Câmara.

Por estas razões, mas também pelas omissões de uns e sobretudo pelas verdadeiras agressões de outros aos mais elementares interesses de Armação de Pêra, consideramos, com o devido respeito a todos os restantes candidatos, o Dr. Fernando Serpa a escolha mais prudente e acertada.

Um voto no Vieira...não fica na prateleira!


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Vote PSD: Com o PSD os Portugueses são os maiores em qualquer coisa: Maiores consumidores de antidepressivos da UE!


Portugueses compram 75 mil embalagens de psicotrópicos por dia

in: Público de 25.09.2013

Trata-se de um aumento da ordem dos 1,9% face ao mesmo período do ano passado, mas que é mais expressivo no caso dos antidepressivos e estabilizadores de humor. Entre Janeiro e Agosto, venderam-se, em média, 21 mil embalagens deste tipo de medicamentos por dia.

O aumento do consumo de antidepressivos tem sido constante ao longo dos últimos anos (quase um milhão de embalagens entre 2008 e 2012), colocando Portugal no topo da lista dos maiores consumidores. Um fenómeno que não preocupa os psiquiatras, que lembram que cerca de 15% da população portuguesa sofre de patologias psiquiátricas de ansiedade e depressivas graves a moderadas (estudo feito em 2010), percentagem que chega a ser duas vezes superior à de outros países europeus, como a Alemanha, por exemplo.

O que preocupa os especialistas em saúde mental é o aumento das vendas das chamadas benzodiazepinas (tranquilizantes, hipnóticos e sedativos), que causam dependência. Após anos de quebra, a sua venda está de novo a aumentar, o que já se tinha verificado no ano passado.

Pode estabelecer-se uma relação de causa-efeito com a crise? A resposta é complexa. Os psiquiatras apenas admitem, para já, um aumento da afluência aos serviços. “É frequente os médicos de família enviarem-nos doentes com episódios de depressão, colocando nas causas o desemprego e dificuldades económicas graves”, declarou à Lusa a presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), Luísa Figueira.

“Mas mais do que tratar, também era importante a reintegração destes doentes no trabalho, o que passa por um trabalho junto das pessoas que os empregam”, defendeu.

Depressão causa de incapacidade
Este ano, o tema escolhido para assinalar o Dia Mundial da Depressão (no próximo dia 1 de Outubro) é a “Recessão económica e depressão no trabalho” e vai ser debatido quinta-feira em Lisboa num encontro organizado pela SPPSM. “A depressão no local de trabalho é um assunto que temos falado pouco”, mas é um problema com “um impacto muito grande” nos trabalhadores e empresários, explicou Maria Luísa Figueira.

O problema da depressão é mundial. Citando dados de um inquérito realizado pela Aliança Europeia de Depressão em 2012, que envolveu cerca de sete mil trabalhadores e empresários, a presidente da SPPSM sublinhou que um em cada dez trabalhadores fica de baixa por depressão. Estudos realizados na União Europeia pelas associações de especialistas da área prevêem que em 2030 a depressão seja a maior causa de incapacidade no mundo.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Dar tempo de antena à Picha

Porque a Picha também merece, publicamos este comentário.

Achei interessante lembrarem-se de Picha, certamente não sabem nada sobre esta aldeia, localizada no no concelho de Pedrógão Grande.

A minha aldeia tem apenas 24 habitantes distribuídos por 18 habitações. Mas Picha é um lugar bonito, de características rurais onde a maioria da população vive do trabalho no campo.

Já estamos habituados às perguntas dos forasteiros sobre tão invulgar toponímia. Trocadilhos e piadas são habituais quando a conversa é o nome da terra.

Eu sou filho da Picha e por acaso vim parar a Armação de Pera.

Na Picha não temos praia, mas temos campos para amanhar, não temos escola, nem lojas, mas temos um café.

Mas temos uma Associação de Melhoramentos que luta pela aldeia.

Em Picha somos unidos, e se puderem passem por Pedrogão Grande, freguesia da Graça, levem o vosso presidente, para aprender alguma coisa com o nosso, o João Marques que com pouco faz muito.

No concelho somos menos de 4000, temos um parque de campismo à maneira, mas sem mosquitos e nas nossas ruas não se vê lixo.

Mas também temos uma festa de nossa senhora dos Aflitos.

Vão à Picha e saibam o que é bom!

sábado, 21 de setembro de 2013

É tempo do cidadão-eleitor interiorizar que é o cidadão-contribuinte que tem de ir às urnas no dia das eleições!


Não é fácil ser candidato! Sobretudo depois de ter sido eleito e ter prestado provas.

O resultado do trabalho realizado nos anos do exercício anterior do cargo persegue o candidato à reeleição como a sua sombra em dias soalheiros.

Pode suceder que essa gestão seja impoluta e, nesse caso, infelizmente raro, pode influenciar positivamente os cidadãos-eleitores que reelegem o candidato.

Porém, sucede amiúde que o resultado dessa mesma gestão seja merecedora de critica e, nesse caso, constitui uma canga a que o candidato não escapa.

No entanto, tal como o resultado da gestão anterior que pode ser uma ou outra coisa, o destino do candidato, num caso ou noutro, pode ser a reeleição ou a derrota eleitoral.

Que concluir então sobre a “racionalidade” dos processos eleitorais?

Que são religiosos? Isto é, que se Deus quiser ganha o candidato mais qualificado para ocupar um cargo de responsabilidade com capacidade, competência, dedicação e seriedade e, querendo Deus o contrário ganhará aquele que já demonstrou não ter capacidade, ou competência, ou dedicação, ou seriedade?

Até parece que, muitas vezes, assim é!

O que nos parece porém é que Deus terá muito mais com que se preocupar, deixando para o homem-cidadão-eleitor, a decisão sobre quem haverá de administrar a coisa pública.

Como explicar então que aquele que o senso comum consideraria indesejável, possa ser eleito?

A recente legislação sobre a limitação do número de mandatos, não dando uma resposta directa sobre o mecanismo eleitoral-partidário, reconhece os efeitos perniciosos de prolongar no poder “eternamente” aqueles que melhor sabem jogar este jogo, limitando pelo número, as vezes que o jogo pode ser jogado.

Prevenindo que, aqueles que jogam com “dados viciados” não possam enganar os eleitores ad eternum.

Ou prevenindo que os viciados no jogo preservem a saúde económica ...dos cidadãos-contribuintes.

Todos sabemos que, quem se perpetua no poder, a maior parte das vezes, consegue-o à conta do erário público (da distribuição de vantagens económicas: dos empregos públicos às obras públicas, dos aumentos de prestações pública sem sustentação para tanto).

Por esse caminho chegámos à situação de agonia em que se encontra o orçamento e a generalidade dos cidadãos contribuintes!
Isto é: a manipulação eleitoral dos resultados ocorre mediante parte das promessas cumpridas no mandato anterior (todos constatam estes factos e atribuem-lhes imediatamente causa: uma estrada esburacada finalmente tapetada de novo, mais uma rotunda, imprescindível ou voluptuária, sendo habitualmente a última construída em primeiro lugar, etc...etc...).

Só que tais melhorias, as imprescindíveis e as voluptuárias, não são pagas pelo candidato que as reivindica como se de um mecenas se tratasse.

Tais obras, realizadas a maior parte das vezes com recurso a crédito, são pagas pelos cidadãos-contribuintes, sem que tenham tido a possibilidade de decidir que prioridade dar ao dinheiro que pagou, nem àquele que lhe irão pedir no futuro!

Teoricamente é para decidir sobre o dinheiro que lhe vão exigir (a sua contribuição), os tributos que lhe são impostos - que se elegem os políticos!

Não é por isso indiferente o candidato ser competente ou incompetente, ser leal ou desleal, ser trabalhador ou pária!

As eleições em Portugal mantêm um estilo competitivo de cariz ideológico, sintetizado em partidos-clubes e portanto essencialmente emocional (sem esquecermos os “esquemas”, os “amigos” e os “golpes” que também caracterizam habitualmente qualquer “albergue espanhol”) por parte do cidadão-eleitor.

É tempo (pelo menos, porque se nos impõe a situação económica nacional) do cidadão-eleitor interiorizar que é o cidadão-contribuinte que tem de ir às urnas no dia das eleições!

E na falta de outros indicadores para decidir, porque tem andado, hoje, como secularmente, essencialmente preocupado com o seu sustento, deixando a política para os políticos (os algozes), deverá decidir pelo candidato que se apresenta para ter a responsabilidade de administrar a coisa pública, salvo honrosas e dignas exceções com evidencia pública e manifesta, que não tenha tido essa responsabilidade anteriormente!

Porque não se pode premiar quem, para se reeleger, invariavelmente, usou de meios públicos à sua disposição – dos telefonemas (no mínimo) à oportunidade da obra e sua inauguração à boca das eleições, ou à utilização do aparelho do estado para fins eleitorais (no limite) – como tem vindo a ser estória na nossa história recente!

O que é facto é que não há renovação possivel quando em 82% (oitenta e dois por cento) das Câmaras há um presidente ou vice-presidente candidato a reocupar a Presidência.

A limitação dos mandatos, quanto a nós, é inconstitucional! Mas o privilégio dos candidatos que à partida gozam de meios ilegítimos, que são pagos por todos os cidadãos-contribuintes, para além de má despesa pública que é imperioso condenar, é de uma desonestidade a toda a prova, cuja reiteração não a converte em virtude, e ameaça o futuro de todos, o que já não é pouco, mas também o próprio sistema democrático (para os que sobrarem da razia)!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

"Retratos" da campanha eleitoral





Adriano Moreira: Estamos esmagados


"A culpa morre solteira" - expressão sua.
Usei-a no Parlamento. É uma prática muito verificável em Portugal, designadamente na crise que estamos a atravessar. Você ainda não viu que alguém assumisse a responsabilidade pelas circunstâncias a que chegámos.

Esse é um traço constante, observável em diferentes momentos históricos da vida portuguesa. De onde é que acha que vem esta característica?
Em Portugal tudo fia no ar, e raramente há consequências e um sentimento de justiça que o acompanha.
Acho que devia ter nascido mais cedo e ter feito essa pergunta ao Agostinho da Silva. [riso] Era capaz de lhe dar uma resposta satisfatória. Há, em todo o caso, uma circunstância de que Portugal é vítima neste momento.
Normalmente, quando examinamos a vida de um país, há três forças que é necessário avaliar. Uma é a sociedade civil, que neste momento faz manifestações completamente apartidárias, o que é preciso ver com cuidado.
São expressões que dizem respeito a sentimentos que unem a população, por razões de queixa fundamentais.

Está a pensar na manifestação de 15 de Setembro de 2013?
Exactamente. Depois há outra força: o Governo. E finalmente a terceira força: a conjuntura internacional que influencia qualquer país, e cada vez mais face ao globalismo. Uma ordem internacional implica que pelo menos estes três factores tenham uma harmonia de funcionamento.
Essa harmonia não existe. Com frequência, aconteceu em Portugal a desarmonia entre o Governo e a população, a desarmonia do país com a conjuntura internacional. Portugal sofreu nos últimos tempos uma evolução extremamente alarmante. Na História portuguesa, o país precisou sempre de um apoio externo.

Sempre?
O Afonso Henriques pediu apoio à Santa Sé. A Segunda Dinastia pediu a aliança inglesa e pagou caríssimo por ela. No fim do império euro-mundista o único apoio que restou foi a União Europeia. Esta evolução mostra que o país(na ligação com o mundo) é muitas vezes exógeno. Quer dizer: sofre as consequências de causas em que não participou. Um exemplo: a Guerra de 14/18. Portugal participou nas causas? Não. As consequências, quer em Moçambique, quer em Angola, quer na Flandres [foram enormes].
Começou a ser evidente que o país tinha evoluído para um "estado exíguo".(Escrevi um livro com esse título há anos, dizendo que a relação entre os recursos do país e os objectivos do país é deficitária.) Várias pessoas com responsabilidade na vida pública avisaram que este declínio estava em marcha. Quando essa equação(recursos objectivos) chegou à situação de desastre em que nos encontramos, o país ficou em regime de protectorado.

Um regime sobretudo imposto pela situação financeira?

Sim. Os países têm uma espécie de hierarquia internacional - é por isso que o Conselho de Segurança tem as superpotências. Para terem essa hegemonia precisam de ter um poder que abrange o poder militar, estratégico e financeiro. Quando esses poderes começam a afastar-se, a hierarquia começa a diminuir. Os Estados Unidos estão a ser atingidos por isso. Portugal (últimas notícias sobre as restrições nas forças armadas) mostra que nessa relação (poder militar-poder financeiro) a nossa debilidade é extrema. É isso que justifica a situação de protectorado em que o país se encontra. As outras debilidades evidentemente atingem o país de um modo mais previsível.

Soluções?
Remédios? Em primeiro lugar é preciso restaurar um valor importante: o da confiança. A confiança entre a sociedade civil, Estado e conjuntura internacional está profundamente atingido. Parece-me que tem havido uma certa dificuldade, da parte do Governo, em compreender que há uma diferença entre a legitimidade eleitoral, que justifica a tomada de poder, e a legitimidade do exercício [de poder], que começa a ser avaliada no dia seguinte [à tomada de posse]. Esta legitimidade para a execução não é uma coisa para entretenimento das estatísticas de popularidade.

Está a dizer que tem de haver uma correspondência com aquilo que foi o programa eleitoral.
E com a autoridade que foi conferida. Não é só em Portugal que esse valor está em crise. O novo-riquismo que orientou a gestão europeia, e que levou a Europa a esta situação, já se traduziu no seguinte: a fronteira da pobreza, que ainda no século passado os relatórios da ONU situavam a sul do Sahara,ultrapassou o norte do Mediterrâneo.
Portugal está na área de pobreza. Como está a Espanha, a Grécia, a Itália; a França já começa a dar sinais disso.

Os países mediterrânicos são os que mais têm sentido esse espectro de pobreza, são os que estão mais vulneráveis à crise, Porquê?
A hierarquia de capacidades, não apenas financeiras, mas científicas,técnicas, a eficácia de governo e de iniciativa económica - tudo isso faz que sejam ressuscitadas fracturas europeias. Não é de hoje a opinião que a senhora Merkel tem sobre o sul. Se bem me recordo, há um texto do Guizot[primeiro-ministro francês em 1847] que quase emprega as mesmas palavras para o dizer. O que considero errado é considerar que esta crise é uma crise puramente europeia. Se a comunidade europeia deixar aprofundar as quebras de solidariedade que já se verificam, a Europa arrisca-se a não ter voz no mundo. A crise é ocidental. E o ocidente todo que está num período de decadência.

Isso deve-se, sobretudo, à emergência da China, dos BRlC?
Há uns que perdem capacidades e outros que a adquirem. Não necessariamente com culpas. A Alemanha, que foi responsável pelas duas guerras mundiais que destruíram muitas das capacidades europeias, teve, entre outras coisas, a benesse de estar dispensada de despesas militares durante anos. E todos colaboraram, incluindo os povos do sul, na defesa do Muro para impedir que a República Federal fosse atingida pela [força política] a que o Leste estava submetido. Nos cemitérios da Normandia, as sepulturas são de soldados americanos. Não são de soldados alemães. Portanto, estas solidariedades, a Alemanha teve-as.

Como teve quando se tratou da reunificação das duas Alemanhas, após a queda do Muro.
Exactamente. Mas se a nossa crise é uma crise global, quem é que já convocou o Conselho Económico e Social das Nações Unidas? Ninguém.

Quem é que deveria tê-lo feito?
Qualquer membro interessado.

Na Europa existe uma subjugação à Alemanha? A orientação da chanceler Merkel é grandemente responsável pelo destino actual da Europa?
Ela - [Alemanha] -, a responsabilidade, é evidente que a tem. O que é discutível é que a percepção que tem da evolução da Europa coincida com o projecto dos fundadores. Atribuo aos fundadores da União Europeia uma espécie de [estatuto de] santidade. Esses homens enfrentaram a guerra, a destruição dos seus países, transformaram o sofrimento em sabedoria, e disseram: "Vamos criar condições para isto nunca mais acontecer". Schuman e Adenauer, sobretudo esses tiveram esse espírito. Não podemos esquecer Jean Monet. Nas memórias, escreve que, se fosse hoje (quando estava a escrever), teria começado, não pelo comércio, mas pela cultura. Porque a crise de valores era extraordinária. Essa crise é que afecta as solidariedades, e faz que, mesmo num ponto de vista internacional, a governação ande entregue a órgãos que nenhum tratado criou - caso do G-20 - ou a órgãos que parecem transformar as Nações Unidas num templo de orações a um deus desconhecido.

A ONU está destituída de poderes e de importância?
Acho que a ONU está numa crise enorme. Precisa de uma remodelação. A começar pelo Conselho de Segurança que já não corresponde, de maneira nenhuma, às condições em que vivemos. As potências, qualificadas de superpotências, com direito de veto, também têm a sua crise - incluindo os Estados Unidos. Mas para a Europa é importante saber porque é que a França e a Inglaterra têm direito de veto. Que poder é que [estes países] têm em relação ao mundo? Uma das reformas que seria útil fazer seria pôr no Conselho de Segurança países que, pela sua dimensão, são efectivamente necessários lá, e regionalismos.
Era a Europa que devia estar no Conselho de Segurança e não a França e a Inglaterra.
Há cerca de um ano assinalaram-se os 5O anos do Tratado Franco-Alemão.
É extraordinário pensar como este "longínquo" projecto europeu se esgotou.
Na sua génese, estava uma ideia de solidariedade e de desenvolvimento harmonioso que promovesse o equilíbrio entre as diferentes partes da Europa.

Acha inevitável que se faça uma refundação de toda a Europa? Esse projecto assinado há 50 anos pode ainda ser afinado e recuperado?
Na base de qualquer projecto destes tem de estar um princípio. O princípio da unidade europeia é muito antigo. Continuo a ter admiração pelo conde Coudenhove-Kalergi, que parecia ter nascido para o internacionalismo. Todos os grandes líderes europeus depois da Guerra estiveram nos congressos que promoveu. (Ainda hoje existe uma fundação Coudenhove-Kalergi a que pertenço; já lá não vou). Esse homem falava na federação europeia. E claro que a palavra "federação" tem muitos sentidos, e isso não significava que ele tivesse o modelo final.
Significava que tinha de se caminhar, como sempre entenderam os projectistas da paz (é preciso sempre falar do Kant). Tinha que haver uma gestão solidária, comum, da Europa, que está mais ligada por valores do que por etnias, pela língua, pela cultura, que são variadas mas que têm um tronco comum. Não temos dúvidas quando dizemos que somos europeus.

Essa pertença é ainda herdeira dos valores da Revolução Francesa? É a famosa trilogia liberdade, igualdade, fraternidade que nos guia e que define o tronco comum?
Não é só isso. Esses valores são um produto da evolução do espírito europeu. "Todas as pessoas nascem com igual direito à felicidade", mas os índios não, os escravos não, os trabalhadores não, as mulheres não... Foi preciso uma grande luta [para efectivar estas conquistas].
Mas sempre a partir do tal paradigma. Esse conjunto de valores é que dá identidade à Europa.
A Europa que teve a ambição de europeizar o mundo... - daí o império euro-mundista que morreu o ano passado.
Essa circunstância tem uma consequência importante: a redefinição (a ideia de refundação é muito ambiciosa) desses valores. O principal deles é a soberania. E o direito a certas prestações que o Estado deve fornecer ("le droit aux prestations", como dizem os franceses) - o Estado Social. Há uma coisa curiosa na vida [das nações] (na vida das pessoas também): mantêm a convicção do poder quando já não o têm.

Ou seja, funcionando Portugal num regime de protectorado, não temos o mesmo poder nem a mesma soberania.
Não, não temos. Nem temos o que está previsto no Tratado Europeu. Fomos vítimas do facto de sermos um estado exógeno. Também fomos vítimas de mau governo, [dito em tom irónico] Sem culpas, sem culpas... Mas queria dizer-lhe alguma coisa de esperança.

E voltamos à palavra antiga que usou: remédios. Há remédios?
[riso] Acho que há. Em primeiro lugar, olhar para o país na situação actual e ver quais são os factores da redefinição da soberania de que precisamos.
Não é só a segurança que diz respeito às forças armadas e à segurança interna. Há um elemento da soberania que é fundamental: o ensino e a investigação. Uma das razões da mudança de centros (entre os países emergentes e os que estão a descer) é que talvez tenha sido esquecido que não há fronteiras para a circulação do saber e do saber fazer. Hoje, a Alemanha parece que tem um bom mercado para os seus excelentes automóveis na China. Não me admira que daqui a algum tempo seja a Alemanha a comprar os automóveis à China. Um país que quer manter-se na competição global precisa de um ensino e de uma investigação que lhe permitam utilizar o saber e o saber fazer.

Em Portugal, era preciso que se continuasse a investir na investigação científica, na qual nos temos destacado nos últimos anos?
Sim. A minha vida tem sido quase toda na universidade. O que ouvi recentemente foi um conselho, [um apelo à] emigração. Há cursos de tal qualidade (sobretudo na área da Economia e da Gestão) que se orgulham que os seus diplomados, mestres e doutores emigrem e sejam muito bem recebidos lá fora. Eu não me sinto feliz que vão trabalhar por conta de outrem, para outro país. Queria era que tivéssemos condições para que aqui ficassem, e fizessem do país um país capaz de competir.
Esta vaga de emigração que agora temos. É de alta qualidade.
Nada tem que ver com a vaga dos anos 50 e 60, essencialmente constituída por força braçal e iletrada.
É uma força altamente qualificada. Se os melhores se vão embora... As contribuições de jovens cientistas, em especial da Universidade do Minho e da Universidade de Aveiro, sim, ajudam o país a recuperar uma posição no mundo concorrencial em que estamos.

E ajudam a recuperar confiança. Alento.
Sim. Por isso sempre sustentei que ensino e investigação é um problema de soberania. As propinas são taxas do Direito Financeiro. Não são o preço do serviço que o professor presta ao aluno. Diz respeito ao interesse do país que isso se faça. Temos outras janelas de liberdade para o país. A meu ver, há duas principais. Uma é a CPLP.

A língua portuguesa como património, como motor, como tesouro?
Não é só a língua E a maneira portuguesa de estar no mundo. É mais do que a língua. Da língua, o que digo é que a língua não é nossa - ela também é nossa. Mas os valores que a língua transporta, porque a língua não é neutra, esses valores não são iguais em todos os países onde se fala português. A maneira portuguesa de estar no mundo, o Brasil soma valores indígenas, africanos, alemães, japoneses, italianos...
A CPLP é um caso único. A França que teve uma importância tão grande no norte de África, e naquele bocadinho do Canadá, não tem uma CPLP.
A Espanha também não. E [a constituição da CPLP ainda é mais significativa] depois de uma guerra de tantos anos [com os países que a constituem]... O que significa que o conflito era com a forma de governo, não era com o povo português.

Angola, Brasil e Moçambique estão a crescer, mas todos têm grandes assimetrias entre ricos e pobres.
É. Acho que a CPLP precisa de grande atenção. A universidade deu por isso: há uma associação das universidades de língua portuguesa. A última vez que reuniu foi em Bragança, 400 pessoas.
Outro problema: o mar. A terra que não se pisa e a água que não se navega não são nossas. Lembro-me sempre da reunião de D. João I com os filhos.

Como foi essa reunião?
Tanto quanto a minha memória me diz, das leituras de há tantos anos, juntaram-se para discutir o que é que haviam de fazer para se expandir.
Havia quem entendesse que a expansão devia ser para a Andaluzia. Os rapazes [os infantes] disseram: "Não. Tivemos uma guerra com Castela que durou anos, agora estamos em paz. Castela considera que a sua zona de expansão natural é a Andaluzia. Se formos para aí, vamos ter guerra outra vez". Então para onde? "Para o mar."
Discutiram. Os recursos, o saber, as armas, os navios, tudo. Definiram um conceito estratégico nacional.
Portugal tem uma posição estratégica privilegiada, mas não um Conceito estratégico nacional. Mesmo agora está a ser discutido um documento sobre defesa e segurança Fui ouvido. A minha primeira pergunta foi: defesa e segurança de quê? Falta o conceito estratégico.
Ser uma plataforma continental é outra janela de liberdade. Se nos for reconhecida pelas Nações Unidas, será a maior plataforma continental do mundo. O reconhecimento estava previsto acontecer em 2013. Agora já se fala em 2015. Não gosto disto. Esta plataforma é uma riqueza incomensurável. Vi uma notícia sobre a intenção da União Europeia de redefinir o mar europeu. Lembrei-me de 1890. Nós também tínhamos a ideia de Angola à Contra-Costa e depois veio o Ultimato [Inglês]. Se definem o mar europeu antes de definir que a plataforma é nossa, provavelmente todos os países da União Europeia vão considerar-se co-proprietários.

Devíamos apressar isto. E meios, e força, e dinheiro para apressar isto?
O financiamento é um problema, naturalmente. Aí precisa de uma esplêndida diplomacia. A nossa é boa. E equivalente à do Vaticano!, com a diferença de a do Vaticano ser ajudada pelo Espírito Santo, [riso].

Está a pensar especificamente no actual ministro dos Negócios Estrangeiros?
Também no nosso ministro, mas a nossa diplomacia é muitíssimo boa. E muitas vezes trabalha sem instruções. É o amor à Pátria, é o que [é considerado] o interesse nacional, e lá vão. Acho que isto faz parte do futuro de Portugal.
Usou a expressão "janela de liberdade", e não "janela de oportunidade", que é uma expressão que agora se usa muito. Não é a mesma coisa. Não, não é. As pessoas acham que, porque pertencemos à União Europeia, tudo tem de ser feito de acordo com a UE. Eu digo: "Não, não. Há um espaço de liberdade. A França: aquela gendarmerie que manda para África, para explicar o que é a democracia, não tem nada a ver com a UE. Tem a sua liberdade".
Temos de ter a nossa. Temos de cumprir com os tratados da União, mas a União não nos impede que tenhamos um espaço de liberdade. A CPLP é a nossa liberdade. Por isso prefiro a palavra "liberdade". Essa liberdade já vem ligada a uma espécie de posse. A oportunidade é outra coisa. E preciso [para essa oportunidade] ainda um outro esforço.

Este Governo que temos vai para dois anos está desapontado? Têm sido crítico nas intervenções públicas que tem feito. Esperava mais?
Devo dizer que desapontado estou com a Europa. Depois estou desapontado com a solidariedade atlântica. (Os efeitos colaterais do abandono dos Açores são enormes do ponto de vista económico para o arquipélago.) Neste Governo, há uma coisa que me incomoda: o objectivo fundamental é o Orçamento. Uso a expressão "ministro do Orçamento".

Ministro ou primeiro-ministro?
Ministro do Orçamento, e não ministro das Finanças ou primeiro-ministro. O ministro mais importante é o do Orçamento.

Portugal não está refém do Orçamento, ou seja, do cumprimento do memorando da Troika?
O estar preso pelas obrigações financeiras internacionais é evidente que exige que essas obrigações sejam assumidas. É isso que restaura a confiança e que restaura a igualdade internacional do país (e que elimina o protectorado). Mas se fosse um caso isolado, a nossa debilidade seria maior.

Não é o caso. O caso é que a fronteira da pobreza atingiu a Europa, como disse. A solidariedade do espaço, que é um princípio que está em vigor, implica que a situação real dos países tenha de ser avaliada. Não é com fórmulas aritméticas que se governam os países. E não é um favor que fazem.

É uma dedução do princípio da solidariedade. Já viu algum médico tratar todos os doentes com o mesmo remédio? Nunca viu. O remédio não é igual para todas as situações. A situação de cada país precisa concretamente de ser avaliada. Portugal não está na mesma posição que está a Inglaterra ou a França Os países com que nos comparam não são esses. Portugal quis comparar-se com a Grécia, para dizer que não é a Grécia. Que é o bom aluno,cumpridor.

Mas estão todos em pé de igualdade com a Alemanha e a França no que respeita a direitos e obrigações dentro da UE. Se há o princípio de ajuda mútua na UE, tão obrigada [a isso] está a Alemanha como estamos nós. Quando chegam as dificuldades queremos ser tratados como os outros.

Voltemos à apreciação a este Governo. Falta-lhe conceito estratégico, dizia.
Falta conceito estratégico. E é evidente que a gestão neoliberal do Governo está a destruir o Estado Social. O Estado Social, uma conquista do ocidente, é uma convergência do socialismo democrático, da doutrina social da Igreja e até do manifesto comunista de Karl Marx. (As palavras têm uma força
tremenda. Às vezes falo do poder da palavra contra a palavra do poder.)

Na Constituição portuguesa o Estado Social é uma principiologia. Não é uma regra imediatamente imperativa. O que diz é: na medida da possibilidade. E estranho que se transforme uma principiologia numa rejeição. Não se devem rejeitar princípios, em especial princípios que levaram séculos a ser desenvolvidos e a ser incorporados na cultura da população. Nesse aspecto, tenho uma certa apreensão e falta de confiança no entendimento da real situação portuguesa. E não posso considerar que o Orçamento seja o elemento fundamental. Os que estão já numa situação de pobreza, juntos, têm força suficiente para dar um murro na mesa [e exigir] que os princípios da UE sejam respeitados.

Estamos na iminência de uma revolução em Portugal, justamente porque esses que apontou, juntos, já são capazes de dar um murro na mesa?
Tenho admirado a maneira ordeira e não-partidária com que as reacções se têm verificado. Mas penso que a população portuguesa atingiu o limite da pressão fiscal. Quando vemos os suicídios, as mães que se atiram da janela com os filhos para não os deixar cá, quando as coisas chegam a estes extremos, lembro-me disto: a fome não é um dever constitucional. Sabido isto, a inquietação aumenta dia-a-dia Não preciso de dizer mais palavras.

Isto que estamos a viver tem algum paralelo com alguma coisa que tenha vivido nos seus 90 anos?
Não. É a situação mais deprimente que vivi na minha longa vida. As condições de vida eram diferentes. E mais difícil [agora] perder [determinadas] condições de vida As condições não eram as desejáveis, mas as pessoas não sofriam tanto. Porque havia a... "vida habitual".
Embora a culpa morra solteira, a sociedade civil não é a que tem mais responsabilidades. Estamos esmagados. Pagamos as dívidas que o novo-riquismo do Estado desenvolveu (não tenho de fazer distinção entre partidos).Temos de pagar as dívidas das câmaras, dos institutos que o Estado multiplicou, e o que sobeja, e que não pode ser o último dos interesses, é a vida de cada ser humano. A dignidade tem de ser igual. A Europa sabe isto.

É por cegueira que os políticos não aterram nisso que diz?
Vou dar-lhe um texto do Padre António Vieira [que responde]: "Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra.
Vedes as desatenções do governo, vedes as injustiças, vedes os sonhos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes os respeitos, vedes as potências dos grandes, e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos povos, os clamoroso e gemidos de todos? Ou os vedes ou não os vedes. Se os vedes, como não os remediais? E se não os remediais, como os vedes? Estais cegos."

Que é que acha?
O que o Padre António Vieira escreveu em 1669 o que podia ser escrito hoje.

Esta é a nossa sina?
Se isto nos acontecer mais vezes, pode ser que a gente, quando vier para a rua traga o papel e mude.

Porque é que o seu discurso está muito mais esquerdista do que eu imaginaria?
Porque você tem uma imaginação pequena. Vamos lá ver. Nasci numa família muito pobre. Sei muito bem como é que vivem os pobres.
Descrevi isso num livro de memórias que publiquei. Éramos felizes - engraçado. Havia uma solidariedade. O que fiz [politicamente] não obedece a esquerda ou a direita. Obedece à escala de valores que aprendi em criança.
Uso muitas vezes a expressão: os valores são o eixo da roda. A roda corre todas as paisagens. O eixo acompanha a roda, mas não anda. Quando fui presidente do CDS, disse: "Este partido tem que assumir a obrigação em relação aos pobres". Parece-lhe muito de direita?

Entrevista conduzida por Anabela Mota Ribeiro

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Premonições de Natália Correia

"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".



Natália Correia

Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993

in "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.

Uma nova gestão das finanças locais


Não pode existir gestão rigorosa, responsável e transparente sem um sistema de controlo interno, tecnicamente independente dos gestores

Na hora que o país atravessa, em que os mais frágeis e os mais velhos e desprotegidos da sociedade são chamados a pagar desmandos que não cometeram, sinto dever dar o meu contributo, enquanto actor da sociedade civil, para o imperativo nacional de todos os autarcas a eleger em breve pelo povo se comprometerem a levar a cabo uma gestão criteriosa, ética, transparente e responsável dos dinheiros dos munícipes, durante o seu próximo mandato. Para além, evidentemente, do respeito pelo princípio da legalidade.

Tenho de ser sintético e, por isso, alinho oito pontos decisivos que deveriam ser respeitados por todas as autarquias e respectivos universos empresariais, fundacionais ou outros.

1. Austeridade pública permanente, visível e comprovável por todos os munícipes. Exemplos deste comportamento seriam a abolição, para todos os responsáveis autárquicos e das respectivas empresas e fundações, de cartões de crédito e do transporte em veículos oficiais (excepto no caso de cerimónias públicas que o exigissem), com a consequente diminuição das frotas municipais.

2. Cumprimento dos critérios da economia, da eficiência e da eficácia em toda a decisão de dispêndio acima de 50 mil euros. O cumprimento destes critérios deveria constar de documento escrito, assinado pelos responsáveis máximos autárquicos, ou das empresas ou fundações municipais, e ser confirmado pelo órgão de controlo interno.

3. Orçamentos rigorosos, sem empolamento de receita ou suborçamentação de despesa. O orçamento de base zero deveria ser regra durante cada um dos anos do próximo mandato autárquico.

4. Aquisição de bens e serviços. Sempre que legalmente permitido, o ajuste directo deveria, a partir dos 10 mil euros, ser sistematicamente precedido de uma consulta ao mercado (três fornecedores) pelo adjudicante e dado a conhecer aos munícipes o seu resultado. Semestralmente, deveria também ser amplamente publicitada uma listagem das aquisições, dos fornecedores e dos respectivos procedimentos.

5. Obras públicas. Toda a obra levada a cabo pelo município, suas empresas ou fundações deveria depender de uma análise prévia de custo-benefício, cobrindo o respectivo custeio global e, portanto, também as respectivas fases de exploração e manutenção. Esta será a única forma de evitar os chamados "elefantes brancos", verdadeiros sorvedouros de dinheiros municipais sem benefício para as populações.

6. Dever de accountability. No dever de prestar contas seria decisivo, para além dos documentos contabilísticos estabelecidos na lei, que os responsáveis autárquicos dessem conta, semestralmente, em lugar público, do que fizeram e não fizeram, e porquê, no tocante aos seus compromissos eleitorais. Em caso de desvio grave desses compromissos, deveriam assumir a responsabilidade política de se demitirem.

7. Controlo interno independente, exaustivo e eficaz. Não pode existir gestão rigorosa, responsável e transparente sem um sistema de controlo interno, tecnicamente independente dos gestores, com acesso a todos os órgãos e serviços das autarquias, suas empresas e fundações, e cujas apreciações e recomendações sejam publicitadas e devidamente acatadas pelos gestores responsáveis.

8. Criação de speaker's corner. Em período de tamanha escassez de fundos a nível nacional e autárquico, todas as autarquias deveriam criar nos mais frequentados locais do concelho o "canto do orador", no qual os munícipes poderiam elogiar ou criticar o que se passasse na autarquia, assim se permitindo dar voz ao povo anónimo. Esta iniciativa teria a virtualidade de pôr a nu casos de corrupção, de desperdício, de má despesa pública, de eliminação da concorrência e outros que constituíssem, na conjuntura actual, pecados sociais.

Carlos Morenos Juiz conselheiro jubilado do Tribunal de Contas.in Jornal i

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Quando a família tem emprego na câmara

Seja por favor ou num processo totalmente transparente, os casos de autarcas que trabalham na mesma câmara da mulher, do marido, dos filhos, dos sobrinhos ou dos cunhados repetem-se pelo País. Conheça alguns.

Filho de peixe sabe nadar. E filho de autarca... sabe trabalhar numa autarquia? Os laços de família não ficam à porta das câmaras. Aqui se elencam alguns casos recolhidos pelo DN, entre a suspeita de favorecimentos dos familiares e a defesa de que garantem ter sido contratações nos parâmetros da legalidade.

Para saber mais leia aqui

por Rui Marques Simões

domingo, 15 de setembro de 2013

Na minha panela não entra qualquer colher...

UM MOMENTO DE ALTO SIGNIFICADO CULTURAL

Para desanuviar dos comentários fora de contexto...



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Paulo Vieira: FAZER O QUE É POSSIVEL, DESEJÁVEL E REALIZÁVEL



A freguesia de Armação de Pêra comunga da generalidade dos problemas que afectam o restante pais.
Os portugueses em geral e os armacenenses em particular sabem que, apesar das contingências, é possível fazer melhor com os meios disponíveis.

Sabem também que, no presente contexto, o que pode fazer a diferença é a intensidade do empenho, a seriedade da dedicação e a sinceridade do amor à sua terra. Nunca deixando de parte o trabalho e a competência!

Conhecendo bem, pelo resultado, as últimas administrações, quer no concelho quer na freguesia, sabemos no nosso intimo, que não é possível melhorar sem uma rotura com essas práticas e uma mudança sincera quer nos objectivos, quer nos meios para tal.

Armação tem problemas sociais, económicos e políticos. É preciso interiorizar estes factos para com eles podermos lidar de frente!

Esta equipa tem ideias sobre os caminhos para atingir soluções nestes domínios e, recebendo a confiança dos cidadãos-eleitores, irá contribuir com trabalho, competência, seriedade e transparência para os atingir!

Esta equipa quer que a terceira idade residente em Armação disponha de um Centro de Dia. Entende que tal é possível, desejável e realizável!

Esta equipa considera que a Junta de Freguesia deve e pode contribuir para reduzir as necessidades básicas de extratos da população menos favorecidas. Entende que tal é possível, desejável e realizável!

Esta equipa considera que pode facilitar a vida a muitos pais melhorando as condições de acesso à Gaivota. Entende que tal é possível, desejável e realizável!

Esta equipa considera que as principais atividades económicas da Vila – restauração, hotelaria e pesca - carecem de uma atenção mais cuidada e um apoio por parte da Junta, indireto mas facilitador em vários domínios, com vista à melhoria da sua sustentabilidade. Entende que tal é possível, desejável e realizável!

Esta equipa considera que o pouco património da Vila deve ter uma utilização mais digna e útil á comunidade. Entende que tal é possível, desejável e realizável!

Esta equipa considera que as receitas do seu orçamento provêm dos cidadãos-contribuintes e não existem razões para que as suas contas não sejam rigorosas, apresentadas publicamente em prazo e absolutamente transparentes; Entende que tal é possível, desejável e realizável!

Esta equipa considera também que continuar a dirigir a Junta de Freguesia da mesma forma e esperar resultados diferentes não constitui nem rotura nem mudança; Por isso se propõe a implementar uma administração participativa. Entende que tal é possível, desejável e realizável!

 Paulo Vieira

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

"Lave os seus vidros"; "Abra a sua Janela"!


Recebemos recentemente um comentário da visitante Paula Silva, o qual, pela sua irrepreensível lucidez e esmagador bom senso, merece, em nosso entender, ser divulgado:



"Deixo esta reflexão para aqueles que neste sítio fazem determinados post e comentários.

Um casal, recém-casado, mudou-se para um bairro muito tranquilo.
 
Na primeira manhã que passaram na casa nova, enquanto tomavam café, a mulher reparou, atráves da janela, numa vizinha que pendurava lençóis no varal e comentou com o marido:
 
- Que lençóis tão sujos que ela está a pendurar no varal!
- Está precisando de um sabão novo. Se eu tivesse intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
 
O marido observou calado.
 
Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a mulher comentou com o marido:
 
- Nossa vizinha continua a pendurar os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade perguntava se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
 
E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.
 
Passado um tempo a mulher surpreendeu-se ao ver os lençóis muito brancos a serem estendidos, e empolgada foi dizer ao marido:
 
- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas, será que outra vizinha ensinou?
 
O marido calmamente respondeu:
 
- Não, hoje eu levantei-me mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!
 
E assim é.
 
Tudo depende da janela, através da qual observamos os factos.
 
Antes de criticar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir, verifique seus próprios defeitos e limitações. Olhe antes de tudo, para a sua própria casa, para dentro de você mesmo.
 
Só assim poderemos ter noção do real valor de nossos amigos.
 
Lave os seus vidros.
Abra sua janela !!! "

terça-feira, 10 de setembro de 2013

FIRST THINGS FIRST



Numa conferência, um especialista em Gestão do Tempo colocou em cima da mesa um frasco grande de boca larga junto a uma bandeja com pedra.

Começou a meter pedras lá dentro até que encheu o frasco. Depois perguntou:

 - “Está cheio?” – perguntou.

Toda a gente assentiu. Então ele tirou de baixo da mesa um saco com gravilha. Meteu parte da gravilha dentro do frasco e agitou-o. As pedrinhas penetraram pelos espaços que deixavam as pedras grandes. O especialista repetiu:

- “Está cheio?” – perguntou novamente.

Desta vez os assistentes duvidaram:

- “Talvez não…”
- “Muito bem!” – retorquiu.

Pousou, então, na mesa, um saco com areia que começou a despejar no frasco. A areia infiltrava-se nos pequenos buracos deixados pelas pedras e pela gravilha.


- “Está cheio?” – perguntou de novo;
- “Não!” – exclamaram os assistentes.

Pegou num jarro de água, que começou a verter para dentro do frasco. O frasco absorvia a água sem transbordar.


- “Bom, o que é que acabámos de demonstrar?” – perguntou.
- “Que não importa quão cheia está a nossa agenda, se quisermos, sempre conseguimos
    que nela caibam mais coisas” – respondeu alguém.
- “Não!” – concluiu o especialista – “O que esta lição nos ensina é que, senão
    colocarmos as pedras grandes primeiro, nunca poderemos coloca-las depois.”

Quais são as grandes pedras das nossas vidas?

Ponham-nas sempre em primeiro lugar.

O resto encontrará o seu lugar!

[Ouvido num workshop da Associação para a Cooperação Entre os Povos, Lisboa, contado por Prof. Paulo Modesto Pardal, no seu blog]

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

Visite as Grutas

Visite as Grutas
Património Natural

Algarve