O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Fartos do discurso da culpabilização


Por Nicolau Santos, in "Expresso", de 19.01.2013

Desde que chegou ao poder, o primeiro-ministro adotou um discurso culpabilizador para com a população portuguesa. A culpa de termos chegado até aqui é das famílias que se endividaram demais, das empresas que se endividaram demais e do Estado que se endividou demais. Agora, para resolvermos o problema, temos de empobrecer. Será a forma de expiar na terra os nossos pecados do consumismo, da gula, da avidez, da luxúria e, claro, da preguiça. Por causa disto, seremos punidos através de sucessivos e brutais aumentos de impostos, quebras assinaláveis dos rendimentos das famílias e subida exponencial de falências e desemprego.

A nossa matriz judaico-cristã leva-nos a admitir que talvez o primeiro-ministro tenha razão. Provavelmente não precisávamos de comprar tudo o que comprámos, de comer todas as iguarias que comemos, de beber os vinhos que bebemos, de adquirir roupa e sapatos um pouco melhores, de mudar de casa ou fazer obras na antiga, de trocar o velho carro por um novo, de ter um computador e um televisor, de tratar os dentes, de fazer check-ups e análises, de ir de férias.

Acontece que esta conversa não tem nenhuma fundamentação científica. Visa levar-nos a aceitar de cabeça baixa e mansamente os sacrifícios que a troika e o Governo nos estão a impor.

Ora o que é preciso dizer, de uma vez por todas, é que todos os agentes económicos reagiram a estímulos. Os governos investiram em autoestradas, hospitais e mais betão porque havia grande disponibilidade de fundos comunitários para isso. As empresas fizeram investimentos com dinheiro emprestado porque, em primeiro lugar, do ponto de vista fiscal não existe nenhum incentivo para que reforcem os seus capitais próprios; e em segundo porque havia grande facilidade no acesso ao crédito, a taxas muito favoráveis. As famílias, por seu turno, compraram casa porque o mercado de arrendamento estava bloqueado há muitos anos e porque todo o sistema bancário apostou neste segmento, concedendo crédito a longo prazo a taxas muito baixas. E compraram também muitos bens de consumo ou viajaram a crédito porque os bancos insistiram em dar-lhes financiamento barato, cartões de crédito e todo o tipo de estímulos e facilidades para aceder a esses bens. Os agricultores, por seu turno, deixaram de produzir cereais, leite ou outros produtos porque a Política Agrícola Comum os orientou nesse sentido. E a nossa frota de pesca foi desmantelada porque Bruxelas deu chorudas indemnizações para que os empresários assim procedessem.

Claro que em várias áreas houve excessos e casos existirão em que os agentes económicos deveriam ter resistido às tentações que lhes colocavam à frente. Também é verdade que, em vários casos, deveriam ter sido as autoridades a usar os meios à sua disposição para travar o caminho errado que estávamos a percorrer. Mas, em termos gerais, os agentes económicos reagiram a estímulos: estímulos das políticas europeias e dos fundos estruturais, estímulos do sistema financeiro, estímulos da publicidade da distribuição e das grandes superfícies, estímulo das agências de viagens, etc.

O discurso da culpabilização quer que aceitemos a brutalidade da austeridade com resignação e um sentimento de inevitabilidade. Mas o que precisamos é de um discurso que nos ajude a sair do pessimismo e do desânimo com que nos tentam sequestrar, que nos mobilize para ultrapassar as dificuldades e que nos faça acreditar que podemos construir um país melhor, mais justo, inovador e atraente. Desconfio que nunca será o atual primeiro-ministro a fazê-lo.


A nova Universidade de Lisboa



Há pessoas que têm sonhos e os concretizam. António Cruz Serra, reitor da Universidade Técnica de Lisboa, e António Sampaio da Nóvoa, reitor da Universida e Clássica, são os grandes responsáveis pelo renascimento da Universidade de Lisboa, herdeira das tradições académicas de 1288. Foi esse acontecimento que saudaram na sessão de abertura do Ano Académico 2012/13. Cruz Serra disse que o que se está a construir é “uma Universidade que reconquistará para Lisboa o seu protagonismo como uma das grandes capitais europeias da cultura e do conhecimento, cidade Erasmus e pólo de atração de jovens de todo o mundo”. António Nóvoa sublinhou que “quando os outros se calam, nós falamos. Quando os outros se resignam, nós fazemos. Quando os outros se demitem, nós não”. São dois discursos entusiasmantes, motivadores, de profunda crença em Portugal e nos portugueses. Só por si, 80% do sucesso da Universidade de Lisboa está garantido. Cruz Serra e António Nóvoa terão soldados dispostos a bater-se por eles porque lhes prometem um sonho.



Voltar aos mercados para quê?



Portugal colocou esta semana €2,5 mil milhões de dívida pública, com diferentes maturidades. As taxas desceram significativamente e na da dívida a 3 meses, caíram de quase 2% para 0,66%. A procura foi sempre superior ao dobro da oferta e num leilão chegou a quadruplicar. Sucesso é, pois, a palavra que melhor se adequa a estes resultados. Portugal está muito perto de regressar aos mercados sem o chapéu de chuva da ajuda internacional, seguindo o exemplo da Irlanda, que a 8 de janeiro deu esse passo.

Como é óbvio, o Governo fará disso um enorme sucesso, esquecendo entretanto os três anos de recessão a que sujeitou o país, coisa que nunca tinha acontecido.

A questão é saber o que se fará quando Portugal se libertar da troika, porque não houve uma mudança na estrutura produtiva, mas o seu enfraquecimento; não há trabalhadores mais produtivos, mas mais pobres e desmotivados; e muitos dos nossos melhores jovens talentos foram obrigados a emigrar. E esse é o resultado das escolhas do Governo e não dos ditames da troika.



O enorme sucesso do patinho feio



Há dez anos, o que se ouvia era a agricultura em Portugal acabou. Hoje somos um dos três maiores produtores mundiais de azeite. Temos a segunda maior produtividade mundial no tomate, 25% acima da média europeia. Na área dos sumos de frutas somos dos mais inovadores a nível mundial. A inovação sobre derivados de ovo é também um caso de estudo. Alguns vinhos nacionais estão entre os melhores do planeta. A exportação da castanha ascende a €15 milhões. Os ovos lusitanos têm um grau de cor 14; a média europeia está abaixo de 12. Só uma empresa portuguesa exporta um milhão de euros de fios de ovos para Espanha. E vários têm sido os prémios internacionais de inovação para estas empresas. Estes são apenas alguns exemplos, que dão uma ideia da revolução que se tem vindo a verificar no sector agroindustrial. Estimular e consolidar esta revolução é imperioso.

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