Por António
Costa Silva, professor do IST , in "Expresso" de 27.04.2013
Portugal
está hoje numa situação muito difícil sem crescer desde 2000, com o
investimento a cair há 18 trimestres consecutivos, a recessão profunda, a alta
dívida pública, os níveis recorde do desemprego, as falhas sistemáticas das
metas do défice orçamental. A crise é muito grave e há que abandonar o
dogmatismo da austeridade sendo que a austeridade é necessária mas há que mudar
o ritmo e dosear a aplicação, como aqui há muito escrevi. Há que abandonar as
ortodoxias de direita e de esquerda, fazer uma síntese criativa com respostas
adequadas e ir buscar ideias boas a todo o espectro político. Há que
restabelecer a cooperação política a todos os níveis numa situação de
emergência nacional. A cooperação implica discutir caminhos diferentes para se
atingir um mesmo fim: construir o futuro do país, pô-lo a crescer, equilibrar
as contas públicas e combater o desemprego. Para isso são necessárias quatro
condições fundamentais.
A
primeira é aprender com os erros. Portugal já esteve oito vezes na bancarrota e
nos últimos 30 anos já foi resgatado três vezes. Então como agora, as razões são
as mesmas: vícios profundos na gestão económica do Estado, trajetória
insustentável da dívida, falta de atenção à economia produtiva, modelo
económico esgotado com crescimento anémico e financiamento a partir da dívida.
As consequências são as mesmas: perda de soberania, colapso económico, cerco
dos credores, dívida galopante, crise política, revolta nas ruas. É crucial
fazer a anatomia destas crises, estudar o que se passou e pensar em políticas
públicas que as evitem no futuro.
A
segunda é compreender que é possível o país voltar a crescer e para isso não
pode falhar o comboio da globalização. Há que definir os nichos de mercado
global onde devemos estar, especializar a indústria e o tecido económico e
alinhá-los com objetivos, explorar as nossas vantagens competitivas à escala
global, encorajar com políticas públicas adequadas a participação do maior
número de pessoas na atividade económica, estabelecer mecanismos de crédito
para as PME e para empreendedores que queiram lançar novos negócios, dar a possibilidade
a quem tem boas ideias de criar a sua empresa, capitalizar o talento e
estabelecer mecanismos de incentivo para premiar boas ideias e boas iniciativas
empresariais. Há que ter uma justiça funcional, melhorar a qualidade da gestão
a todos os níveis, definir uma nova atitude empresarial mostrando que o modelo
para o futuro começa no indivíduo, começa com a escolha e iniciativa individual
e com a competição e não com o “financismo”.
A
terceira é entender que para voltarmos a crescer precisamos de uma nova síntese
criativa entre as várias teorias económicas e ideias novas. A discussão sobre o
crescimento é muito polarizada: ou é com investimento privado mas este é
difícil com a situação das empresas, a falta de crédito, a baixa
competitividade, a enorme carga fiscal; ou é com mais procura interna e
investimento do Estado, o que faz aumentar o défice e a dívida e resulta em
mais despesa pública. E ficamos neste “ou, ou” quando é preciso um “e e. Em
Portugal precisamos de um modelo económico inteligente que transforme ideias em
negócios à escala global em áreas onde temos investigação de ponta como nas
ciências da saúde, nas biotecnologias, nas telecomunicações, nas tecnologias da
informação, nas nanotecnologias, nas energias renováveis, nas redes energéticas
inteligentes, na robótica, na aquacultura, nos videojogos. É essencial ligar o
design dos produtos à engenharia, criar aceleradores de novos negócios e
produzir uma nova geração de campeões globais. Não existe um país de sucesso
sem um bom porto de águas profundas (e nós temos Sines), sem um bom mercado
financeiro (temos muito a melhorar), sem cidades globais (Lisboa/Sines e
Porto/Aveiro podem sê-lo no futuro), sem uma inserção nas redes comerciais e
energéticas globais (com a extensão da plataforma continental, os nossos portos
e a nossa posição geográfica este é um desafio que podemos ganhar).
Finalmente
temos que fazer uma reflexão profunda sobre as nossas falhas coletivas. Porque
tem o país falhado? Desta reflexão deve nascer uma visão nova e integradora que
mobilize o país para o futuro, restabeleça a vontade coletiva, agregue forças,
crie mecanismos de participação dos cidadãos, reconecte a política com a
realidade e com a sociedade. Não podemos fechar as portas do futuro a toda uma
geração de jovens e a todo um povo. Não podemos deixar que os mecanismos da
esperança sejam destruídos. Como Dante escreveu em “A Divina Comédia”: “Fechar
a porta do futuro é tornar o conhecimento e o homem inertes.”
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