O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 28 de abril de 2013

Portugal: um caminho



Por António Costa Silva, professor do IST , in "Expresso" de 27.04.2013

Portugal está hoje numa situação muito difícil sem crescer desde 2000, com o investimento a cair há 18 trimestres consecutivos, a recessão profunda, a alta dívida pública, os níveis recorde do desemprego, as falhas sistemáticas das metas do défice orçamental. A crise é muito grave e há que abandonar o dogmatismo da austeridade sendo que a austeridade é necessária mas há que mudar o ritmo e dosear a aplicação, como aqui há muito escrevi. Há que abandonar as ortodoxias de direita e de esquerda, fazer uma síntese criativa com respostas adequadas e ir buscar ideias boas a todo o espectro político. Há que restabelecer a cooperação política a todos os níveis numa situação de emergência nacional. A cooperação implica discutir caminhos diferentes para se atingir um mesmo fim: construir o futuro do país, pô-lo a crescer, equilibrar as contas públicas e combater o desemprego. Para isso são necessárias quatro condições fundamentais.

A primeira é aprender com os erros. Portugal já esteve oito vezes na bancarrota e nos últimos 30 anos já foi resgatado três vezes. Então como agora, as razões são as mesmas: vícios profundos na gestão económica do Estado, trajetória insustentável da dívida, falta de atenção à economia produtiva, modelo económico esgotado com crescimento anémico e financiamento a partir da dívida. As consequências são as mesmas: perda de soberania, colapso económico, cerco dos credores, dívida galopante, crise política, revolta nas ruas. É crucial fazer a anatomia destas crises, estudar o que se passou e pensar em políticas públicas que as evitem no futuro.

A segunda é compreender que é possível o país voltar a crescer e para isso não pode falhar o comboio da globalização. Há que definir os nichos de mercado global onde devemos estar, especializar a indústria e o tecido económico e alinhá-los com objetivos, explorar as nossas vantagens competitivas à escala global, encorajar com políticas públicas adequadas a participação do maior número de pessoas na atividade económica, estabelecer mecanismos de crédito para as PME e para empreendedores que queiram lançar novos negócios, dar a possibilidade a quem tem boas ideias de criar a sua empresa, capitalizar o talento e estabelecer mecanismos de incentivo para premiar boas ideias e boas iniciativas empresariais. Há que ter uma justiça funcional, melhorar a qualidade da gestão a todos os níveis, definir uma nova atitude empresarial mostrando que o modelo para o futuro começa no indivíduo, começa com a escolha e iniciativa individual e com a competição e não com o “financismo”.

A terceira é entender que para voltarmos a crescer precisamos de uma nova síntese criativa entre as várias teorias económicas e ideias novas. A discussão sobre o crescimento é muito polarizada: ou é com investimento privado mas este é difícil com a situação das empresas, a falta de crédito, a baixa competitividade, a enorme carga fiscal; ou é com mais procura interna e investimento do Estado, o que faz aumentar o défice e a dívida e resulta em mais despesa pública. E ficamos neste “ou, ou” quando é preciso um “e e. Em Portugal precisamos de um modelo económico inteligente que transforme ideias em negócios à escala global em áreas onde temos investigação de ponta como nas ciências da saúde, nas biotecnologias, nas telecomunicações, nas tecnologias da informação, nas nanotecnologias, nas energias renováveis, nas redes energéticas inteligentes, na robótica, na aquacultura, nos videojogos. É essencial ligar o design dos produtos à engenharia, criar aceleradores de novos negócios e produzir uma nova geração de campeões globais. Não existe um país de sucesso sem um bom porto de águas profundas (e nós temos Sines), sem um bom mercado financeiro (temos muito a melhorar), sem cidades globais (Lisboa/Sines e Porto/Aveiro podem sê-lo no futuro), sem uma inserção nas redes comerciais e energéticas globais (com a extensão da plataforma continental, os nossos portos e a nossa posição geográfica este é um desafio que podemos ganhar).

Finalmente temos que fazer uma reflexão profunda sobre as nossas falhas coletivas. Porque tem o país falhado? Desta reflexão deve nascer uma visão nova e integradora que mobilize o país para o futuro, restabeleça a vontade coletiva, agregue forças, crie mecanismos de participação dos cidadãos, reconecte a política com a realidade e com a sociedade. Não podemos fechar as portas do futuro a toda uma geração de jovens e a todo um povo. Não podemos deixar que os mecanismos da esperança sejam destruídos. Como Dante escreveu em “A Divina Comédia”: “Fechar a porta do futuro é tornar o conhecimento e o homem inertes.”

Sem comentários:

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

Visite as Grutas

Visite as Grutas
Património Natural

Algarve