Não há pior cego, surdo ou mudo que aquele que não quer ver, ouvir ou falar. |
O que diz Artur e o Governo não ouve
Por
Nicolau Santos in "Expresso" de 22.12.1 2
Artur Baptista da Silva é um ilustre
desconhecido para a maioria dos portugueses. Mas não devia ser um ilustre
desconhecido para o Governo. Em primeiro lugar, porque coordena a equipa de
sete economistas que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, decidiu
criar para estudar o risco geopolítico e social na Europa do Sul como resultado
dos programas de ajustamento. E em segundo, porque é ele que ficará encarregado
do Observatório Económico e Social das Nações Unidas para a Europa do Sul, a
instalar em Portugal a partir de 2013.
Quais são as razões que levam a ONU a
estar preocupada com o ajustamento nos países do Sul? Por um lado, a Europa,
que tem sido uma grande zona de paz social, está agora a ser confrontada com
uma mancha de descontrolo no Sul que pode gerar a passagem, “por osmose, dos
problemas do Sul para o Norte”. E a tal mancha de descontrolo assenta no
aparecimento, em países catalogados como ricos, de bolsas de pobreza, que
atingem milhões de pessoas. Segundo as contas do Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUP), em Portugal existem dois milhões de pessoas que
vivem com menos de 7 euros por dia, o limiar da indigência. E no limiar da pobreza,
menos de 14 euros por dia, estão três milhões de pessoas.
Por outro, os sete economistas passaram,
todos eles, por países onde processos de ajustamento semelhantes foram levados
a cabo, “com resultados tenebrosos”, na opinião do Artur Baptista da Silva.
Uma Troika de Abéculas... |
Tendo por pano de fundo estas razões, a
ONU propõe então a renegociação da dívida acumulada pelos países sob
intervenção externa e que os está a asfixiar. Nesse sentido, os sete
economistas analisaram os fundos estruturais a que estes países tiveram acesso,
mas que obrigavam a um cofinanciamento nacional, e chegaram à conclusão que 41%
do total da dívida soberana portuguesa, que de 1986 a 2011 soma €121 mil
milhões, resultam precisamente dessa obrigatoriedade e não de decisões
políticas internas ou de políticas económicas erradas. Defendem assim que o
Banco Central Europeu refinancie esta parte da dívida a vencer à taxa de 0,25%
por um prazo de dez anos, bem como a suspensão do artigo 123 dos estatutos do
BCE por uma década para que a instituição possa comprar dívida soberana no
mercado primário. Portugal pouparia assim €3,1 mil milhões com esta operação.
A segunda proposta é que a troika aceite
um desconto global de 15% sobre o total dos juros a pagar, na casa dos €34,4
mil milhões, pelo empréstimo que nos foi concedido de €78 mil milhões. Este
montante de juros é superior a 40% do total do empréstimo, o que “é um absurdo
para um fundo que se diz de assistência.”
Finalmente, a parte do FMI no empréstimo
a Portugal usa os Direitos de Saque Especiais (DSE), que estão indexados à
cotação de quatro moedas. A penalização cambial de Portugal entre 2012 e 2015 é
estimada em 12%, devido à valorização do euro em relação àquelas moedas (dólar,
euro, iene e libra esterlina), num total de mais de €2 mil milhões. A ONU
propõe a renegociação com o FMI desta penalização cambial.
Conclusão: a ONU, que suponho não pode
ser acusada de estar contra o Governo, defende que Portugal tem de renegociar a
sua dívida, pois de outra maneira o processo de ajustamento terá consequências
devastadoras para a economia e para a sociedade portuguesas. Será pedir muito a
Passos Coelho, Vítor Gaspar e Carlos Moedas que leiam a entrevista que Artur
Baptista da Silva deu ao caderno de Economia do Expresso a 15 de dezembro?
3 comentários:
AH AH AH AH AH AH AH!!!!!!
Nicolau Santos burlou os leitores do Expresso! Por ser desleixado e emprenhar de ouvido e não ter confirmado o curriculum do cavalheiro, deveria pedir a demissão e ir para Paris. Mas. claro, essas coisas são para os outros...
Gostavas tanto da prosa do senhor que fostes embalado nela.
É esta a isenção jornalistica que temos por cá.
Enviar um comentário