O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
domingo, 27 de julho de 2025
A Matemática e os Cantoneiros: Uma Equação por Resolver
Em 16 de julho, quando foram divulgados os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais, um número sobressaiu como um ponto vermelho num quadro branco: 42% dos alunos chumbaram a Matemática. A média caiu de 12,1 para 10,5 – e parece que o conceito de “regra de três simples” já é mais ficção científica do que realidade.
Ora, vem isto a propósito de uma pergunta aparentemente banal, mas que fez soar os sinos cá na vila:
— “Quantos cantoneiros são necessários para manter a freguesia limpa?”
Foi perguntado ao tesoureiro da Junta, homem de fala mansa e discurso polido, que logo respondeu:
— “Mais.”
Sim, mais. Mas quantos mais?
A partir daqui, a conversa descambou:
— “Ó senhor tesoureiro, e se fizéssemos as contas? Quantos quilómetros de estrada temos, quantos metros cada cantoneiro varre por hora, e pronto: uma conta de multiplicar e dividir.”
O homem coçou a cabeça, olhou para o assessor de Marting (sim, com “n”, porque “Marketing” parece palavra difícil de soletrar) e atirou:
— “Matemática é complicado. Nós cá trabalhamos é com sensações.”
O assessor, de blazer apertado e cara de quem fez um workshop de três horas em “Branding Territorial”, reforçou:
— “Bruno, não complique. Diga só que está tudo ‘em curso’ e use palavras fortes: reforçamos o compromisso com as pessoas, juntos conseguimos, resiliência, compromisso!”
Enquanto isso, lá continuam 10 cantoneiros, heróis anónimos, a varrer as ruas com vassouras gastas, porque os equipamentos da Junta estão encostados no parque de estacionamento. Avançam rumores de que uma das máquinas até foi usada como suporte de roupa do carnaval, mas nada foi confirmado.
E pensar que o avô de um dos moradores o “Recatreca” fazia contas com pipas de vinho:
— “Se com 3 pipas de vinho dava para 15 homens, quantas pipas preciso para regar a festa de Nossa Senhora dos Navegantes toda?”
Pois, parece que antigamente a Matemática tinha aplicação prática. Hoje, a aplicação é outra:
— “Se 42% dos alunos não sabem fazer contas, quantos políticos vamos ter daqui a 20 anos que ainda não sabem responder quantos cantoneiros precisamos?”
A Junta continua a responder que “está a fazer o melhor que pode”. O problema é que esse “melhor” não envolve operações de soma, subtração ou divisão.
No fim, resta a pergunta que devia estar no exame nacional do próximo ano:
“Se a vila tem 50 quilómetros de estrada, um cantoneiro varre 5 km por dia, e temos 10 cantoneiros, quantos dias serão precisos para varrer tudo? (Mostre o raciocínio, sem ajuda do assessor de Marting.)”
Etiquetas:
Educação
sábado, 26 de julho de 2025
Silves é o centro do mundo? E as restantes freguesias?
No passado dia 21 de dezembro de 2024, a Câmara Municipal de Silves anunciou, no seu site oficial, a aprovação do Orçamento Municipal e das Grandes Opções do Plano (GOP) para 2025. Entre os muitos tópicos apresentados, destacou-se a programação cultural para o próximo ano – uma agenda rica, variada e, como o comunicado sublinha, de “qualidade”.
Eventos como a Mostra da Laranja, a Feira Medieval de Silves, o Jazz nas Adegas, o Silves Urban Music e as comemorações do 25 de abril são apontados como exemplos do dinamismo cultural do concelho. Contudo, há uma questão que não pode ser ignorada: quase todos estes eventos acontecem exclusivamente na cidade de Silves.
Será que as restantes freguesias não merecem igual atenção?
Será que Armação de Pêra, Alcantarilha, Pêra, São Bartolomeu de Messines, São Marcos da Serra e as outras localidades do concelho não têm direito a uma programação cultural própria, adequada à sua identidade e à sua população?
Em plena época natalícia, a aprovação do orçamento parece ter sido uma verdadeira “prenda de Natal” oferecida à cidade de Silves. Mas e os munícipes das outras freguesias? Não pagam os mesmos impostos? Armação de Pêra, por exemplo, é uma das freguesias que mais receita gera para o concelho – não deveria, no mínimo, receber uma fatia mais visível do investimento cultural?
Esta centralização levanta uma reflexão inevitável: os atuais eleitos estão a governar para todo o concelho ou apenas para a sede do município? E, mais importante, será que os eleitores de Armação de Pêra (e das restantes freguesias) ainda confiam que a sua voz é ouvida?
Cultura não deve ser privilégio de uma cidade. Cultura deve ser partilhada, descentralizada e inclusiva. Porque um concelho só é verdadeiramente forte quando todas as suas freguesias sentem que fazem parte dele.
Etiquetas:
más práticas
Sonho Urbano à Beira-Mar: O delírio noturno de José Casimiro
José Casimiro sentou-se, como tantas noites de verão, na esplanada do café Frente ao Mar, no Largo da Igreja. Pediu o seu café expresso — curto, para não adulterar a noite — e um Dom Rodrigo, que olhava para ele do prato como um pequeno tesouro açucarado.
À sua frente, o Jonathan, entertainer de rua, preparava-se para mais uma atuação. A coluna Bluetooth ganhou vida e, entre turistas distraídos e moradores sonolentos, começou a soar Dunas, dos GNR.
José Casimiro fechou os olhos ao beber o primeiro gole de café. E foi então que sonhou.
💭 O Sonho
As freguesias de Armação de Pêra e Alcantarilha e Pêra tinham finalmente deixado de ser duas entidades separadas: uniram-se, formando um território de 55,41 km², com mais de 11 mil habitantes, um verdadeiro motor económico do concelho de Silves.
No centro desta nova terra, a ribeira de Alcantarilha estava reabilitada. A água corria limpa, serena, e ligava o interior ao litoral como uma artéria azul. Ao longo dela, um passadiço pedonal transformara a paisagem — famílias passeavam ao entardecer, turistas tiravam selfies à luz da lua, e hashtags nasciam como flores: #NovaArmação, #PêraUnida, #DoRioAoMar.
🚋 O metro bus era a espinha dorsal do território. Não era só noturno, era uma linha regular, moderna, elétrica, que ligava as duas freguesias, cruzando o território com paragens bem pensadas. Da praia às escolas, do mercado ao interior, todos usavam o metro bus: moradores, turistas, estudantes, até os reformados iam ao café de Alcantarilha e voltavam em Armação como se nada fosse.
📈 Os números falavam por si: 14% da população tinha ensino superior, as indústrias criativas floresciam em antigos armazéns, os nómadas digitais trocavam Lisboa e Porto por este “novo território inteligente”. Havia coworkings com vista para a ribeira e até Nicole Kidman — sim, a própria — trocava a Comporta por uma vivenda algarvia, dizendo aos jornais: “Aqui encontrei o equilíbrio perfeito entre praia, pastéis de nata e internet rápida.”
🌱 Era um território sustentável, vibrante, jovem, com energia. Tudo parecia funcionar, tudo parecia fazer sentido.
📀 Mas então a música mudou.
Jonathan, num salto inesperado, abandonou GNR e começou a entoar o hino hip-hop da moda: “Rap da Esperança (Ou Não!)”. O beat pesado ecoou pelo largo e fez José Casimiro abrir os olhos.
☕ O café estava frio. O Dom Rodrigo, reduzido a um monte de fios de ovos e açúcar.
E a realidade caiu-lhe em cima como um balde de água gelada: os buracos nas calçadas, o lixo esquecido nas esquinas, os caixotes do lixo a transbordar no verão, a sensação de que quem devia gerir a freguesia andava a dormir em serviço.
José Casimiro suspirou. O metro bus, a ribeira reabilitada, Nicole Kidman a beber bica no Largo — tudo isso era apenas um sonho de verão.
Por agora, restava-lhe pagar o café, sacudir o açúcar do colo e pensar: “Talvez amanhã.”
Etiquetas:
A costura caseira
sexta-feira, 25 de julho de 2025
Praia de Armação de Pêra: quando a receita existe, mas a limpeza falha
Muito se tem discutido sobre o impacto das concessões balneares na Praia de Armação de Pêra. O artigo publicado pelo Terra Ruiva, intitulado “Na Praia de Armação de Pêra – Sobe o mar, falta areal e sobram concessões privadas e públicas”, trouxe à luz um dado relevante: a Junta de Freguesia lucrou, só em 2024, mais de 250 mil euros com a exploração das suas três concessões de praia. Um valor que representa quase um terço do seu orçamento anual.
Não é, de todo, condenável que a Junta obtenha uma receita significativa a partir da exploração das suas concessões. Pelo contrário: uma gestão eficaz dos recursos públicos deve procurar receitas alternativas que aliviem o peso sobre os contribuintes. O problema, no entanto, não está na origem da verba, mas sim no destino (ou falta dele).
Visitando a praia e áreas circundantes, é difícil não reparar na quantidade de resíduos acumulados: beatas, garrafas de vidro e plásticos diversos espalhados tanto na areia como nos acessos à praia. O cenário é preocupante e atenta contra a segurança, a higiene e a imagem turística da vila. Se a Junta consegue encaixar mais de 250 mil euros anuais com a exploração de toldos e estruturas balneares, por que motivo essa verba não está a ser canalizada para reforçar os serviços de limpeza urbana, reparar equipamentos avariados e garantir um espaço digno e seguro para os veraneantes?
Sabe-se que há equipamentos de limpeza urbana avariados há anos, o que reduz drasticamente a eficácia do trabalho dos cantoneiros. Ao mesmo tempo, o lixo acumula-se nas ruas e nos acessos à praia, prejudicando não apenas a qualidade de vida dos residentes, mas também a reputação de Armação de Pêra enquanto destino turístico.
Esta situação denuncia uma falta de visão estratégica e uma má gestão dos recursos disponíveis. Quando o orçamento existe, mas as prioridades estão desalinhadas com as necessidades da população e do espaço público, não estamos perante falta de meios, mas sim perante falta de vontade política.
Se Armação de Pêra quer continuar a atrair visitantes e garantir qualidade de vida à sua população, é urgente que as receitas obtidas com as concessões balneares sejam reinvestidas na manutenção, limpeza e valorização do espaço público. Só assim se poderá justificar a exploração pública de concessões que, em teoria, deveriam beneficiar toda a comunidade.
Etiquetas:
más práticas
Armação de Pêra: Quando Contribuir Não Garante Receber
Recentemente, fomos surpreendidos por um comentário “assanhado” — expressão que aqui adotamos com ironia — em resposta ao nosso post “Armação de Pêra Cresce, Mas Fica para Trás”. A reação partiu, ao que tudo indica, de um residente de Silves, incomodado com a crítica legítima que levantámos: a desproporcionalidade entre o que Armação de Pêra contribui em impostos e aquilo que recebe em investimentos por parte da Câmara Municipal de Silves.
Não se trata de opinião vazia ou de bairrismo gratuito. Falamos de números, de factos e de justiça fiscal. Tomemos como exemplo o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). A arrecadação deste imposto em Armação de Pêra representa uma fatia expressiva da receita do concelho, mas os investimentos feitos na freguesia não acompanham essa realidade. O dinheiro entra, mas não volta — ou volta pouco, e mal distribuído.
E o IMI é apenas uma parte da equação. Há também o Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT), cuja receita também cabe aos municípios. Este imposto incide sobre as transações de imóveis, e, novamente, Armação de Pêra revela-se uma das maiores contribuintes. Para contextualizar: embora a média de transações no concelho represente 3% do valor dos imóveis existentes, Armação de Pêra contribui com 4,6%, e Alcantarilha e Pêra com 3,8%.
Onde estão, então, os investimentos proporcionais nestas freguesias?
O exemplo mais gritante é o da urbanização Bay Line, em Armação de Pêra, com os seus 255 apartamentos. Só essa obra terá gerado mais de 9 milhões de euros em receita de IMT para o município de Silves. Um valor extraordinário, que deveria traduzir-se em melhorias visíveis para os moradores, comerciantes e visitantes da freguesia. Mas, até agora, Armação paga... e espera.
Armação de Pêra não quer favores. Quer justiça. Quer que o retorno dos impostos que aqui se pagam se reflita em infraestrutura, equipamentos, requalificação urbana, serviços públicos eficientes e qualidade de vida.
É legítimo que se questione o modelo de distribuição dos recursos municipais. Porque uma câmara que arrecada milhões à custa de certas freguesias não pode continuar a agir como se essas mesmas freguesias fossem um fardo, e não motores de crescimento económico.
Silves não pode continuar a esquecer que Armação de Pêra não é apenas um destino turístico: é um polo habitacional, económico e social em plena expansão. E expansão sem investimento é como um corpo que cresce sem alimento. Inevitavelmente, adoece.
O tempo de pagar sem ver retorno tem de acabar. Armação de Pêra merece — e exige — um Novo Rumo.
Etiquetas:
economia
quinta-feira, 24 de julho de 2025
Entrevista Fictícia com Nicole Kidman: “Sorry, Armação de Pêra. It's not you, it's... actually, it is you.”
Cidadania: Nicole, estamos muito curiosos. Porque preferiu a Comporta a Armação de Pêra?
Nicole (com ar diplomático): Oh... before tudo, desculpa meu português, ainda é muito... tourist level, you know? Mas vou tentar.
I love Portugal, very muito. Eu tenho uma house in Lisbon — bairro calmo, people nice, and I love pastel de nata at 5pm. My dream was beach house, you know... feet in sand, wine in hand.
Cidadania: E foi aí que surgiu Armação de Pêra?
Nicole: Sim, sim! My manager show me photos — muito bonito! Praia, sol, and um senhor chamado Vivaldo Gonçalves que tira fotografias like Vogue but with fish. So I go.
Cidadania: E como foi a visita?
Nicole (olhando para os lados, como quem se certifica que ninguém de Armação está a ouvir): How do I say this nicely...? Look, I ate at Lobo do Mar — very good, muito good! A cataplana que... Jesus Christ, I cried. It was emotion or too much garlic, não sei.
But then... I walk in the village. Oh my God.
Cidadania: Oh?
Nicole: Lixo no chão. Everywhere! Calçada looked like Tetris drunk edition. E havia... como se diz? The smell of sadness. Smell no bom. Like... fish funeral. Sorry!
Cidadania: Sentiu-se insegura?
Nicole: Not insegura… mas I thought, if I trip here, I end up in Madeira. The holes were deep. You could lose a tourist there for days. I saw a child disappear. Maybe he's still lá.
Cidadania: E foi isso que a levou a escolher a Comporta?
Nicole: Também. But final decision was insurance. My consultant, um tipo muito sério, he say: “Nicole, insurance for Armação? Not advisable. Too many risks. Olfactory trauma not covered.” So I say, “OK, let’s Comporta.”
Cidadania: E como descreve a Comporta?
Nicole: It’s like Ibiza had a baby with a design magazine. Tudo clean, people barefoot with expensive sunglasses, zero cheiro de peixe morto. Só cheiro a eucalyptus and money.
Cidadania: Tem saudades de Armação?
Nicole: Kind of. The cataplana haunts my dreams. Maybe one day I go back… with a hazmat suit and low expectations.
Cidadania: Se pudesse deixar uma mensagem a Armação de Pêra?
Nicole (pensativa): Don’t give up. Clean the floor. Fix the tiles. Hide the smell. And for God’s sake… hug Vivaldo, he’s doing his best.
Etiquetas:
Comportamento
"Cabaz Dourado": O novo luxo da dieta mediterrânica
O cabaz alimentar analisado pela DECO Proteste e pela SIC Notícias registou um novo recorde de preço, batendo os tambores da inflação com uma subida de quase 6 euros só neste mês. Comparado com janeiro, já lá vão 7 euros a mais — o equivalente a um frango com pernas de caviar ou duas batatas com certificado de autenticidade do Douro.
O tomate e a batata, outrora humildes figurantes no prato português, subiram 25% desde 2022 e já se consideram produtos gourmet. Rumores indicam que o próximo Masterchef terá um episódio especial: “Como cozinhar uma batata sem hipoteca bancária.”
Mas enquanto os especialistas debatem números e gráficos em estúdios com ar condicionado, nas ruas de Armação de Pera, a matemática é feita com sacos de compras e suspiros fundos.
— Oh MiMi! Então não vais para casa? Já vais a caminho da praia com isso tudo? — perguntou a D. Teresa, ajeitando a alface murcha no saco de pano, ainda incrédula com o preço dos legumes.
— Praia? Nem pensar, mulher! Vou ali à Ourivesaria Carvalheiro, ver se me aplicam este salmonete no fio que o meu neto me deu. — respondeu MiMi, erguendo com orgulho um peixe prateado como quem mostra uma joia rara. — Com os preços que estão no mercado, isto agora já vale mais do que ouro.
— Ah! Então agora é isso... vai-se ao mercado comprar peixe e sai-se de lá com uma fortuna em proteínas! — riu-se a Teresa. — Parece que ir à ourivesaria sai mais barato do que vir ao mercado!
— E sem fila! — acrescentou a MiMi, já a subir a rua. — Ali ao menos não tenho de discutir com a peixeira se é 18 euros o quilo ou 18 euros o exemplar.
A indignação local cresce a par dos preços. Há quem diga que, se a tendência continuar, o próximo cabaz alimentar virá com código de barras em ouro e segurança privada. Em Armação de Pera, onde o calor aperta e o bolso esvazia, a sensação geral é clara: a inflação está mais salgada que a água do mar.
"Já não se faz gaspacho, faz-se joalharia líquida!" — brinca um comerciante que prefere manter o anonimato, mas que admite ter guardado dois tomates no cofre da loja.
A DECO ainda não comentou as aspirações artísticas do salmonete, mas fontes próximas da Ourivesaria Carvalheiro confirmam que já há encomendas para pendentes de lula e brincos de sardinha.
Até lá, resta-nos escolher: jantar uma posta de pescada ou investir numa pequena barra de ouro em forma de courgette.
Etiquetas:
economia
"Raízes do problema: a saga épica da árvore da Beira Mar (e da Câmara que a ignora)"
Na vibrante e movimentada Av. Beira Mar, frente ao imponente Casino, desenrola-se há meses uma epopeia moderna digna de Homero – com menos deuses do Olimpo e mais fitas plásticas. A protagonista? Uma árvore robusta e resiliente, que ousou... crescer.
Em sua nobre missão de encontrar água e nutrientes, a árvore expandiu suas raízes de forma rebelde, erguendo o pavimento com a mesma determinação de um filme-catástrofe de domingo à tarde. O solo, é claro, colabora pouco: compacto, ingrato, impermeável e emocionalmente indisponível. Resultado? Uma calçada transformada em pista de obstáculos para atletas de parkour, idosos destemidos e carrinhos de bebé com suspensão off-road.
Mas eis que surge a heroína improvável da trama: a solução provisória da Câmara Municipal de Silves. Em vez de intervenções sérias ou engenheiros, optou-se por algo mais artesanal – um cercadinho de fita plástica, preso com varetas de ferro tortas, provavelmente reaproveitadas de uma feira medieval. Um toque de design urbano ao estilo “faça você mesmo com materiais que sobraram do Natal”.
E então, como num plot twist digno de telenovela, uma bobcat apareceu. Durante alguns dias, desfilou pela área como se estivesse a avaliar o terreno para uma nova série da Netflix. Mas como toda personagem misteriosa, desapareceu sem explicações. Alguns dizem que era só um holograma para acalmar os ânimos. Outros acham que foi colocada lá como decoração temática de verão: "Silves e as máquinas que não fazem nada".
Afinal, a Câmara está à espera de quê? De que as raízes se inscrevam no orçamento participativo? De uma manifestação das árvores em frente aos Paços do Concelho com cartazes a dizer “Queremos espaço para respirar”? Ou de uma intervenção divina, talvez por parte de Santo Urbanístico, padroeiro das obras paradas?
Urge lembrar que árvores em meio urbano não são vilãs, são aliadas – desde que tratadas com o respeito que merecem e com o planeamento que os cidadãos esperam. Há soluções técnicas, há conhecimento, há bons exemplos... só parece faltar vontade.
E até lá, seguimos na Beira Mar, a tropeçar nas raízes do descaso.
Etiquetas:
espaço público
quarta-feira, 23 de julho de 2025
Onde anda a GNR? Armação de Pêra vive dias de insegurança
Armação de Pêra está a ser alvo de uma onda de assaltos que tem deixado a população em estado de alerta e indignação. Em poucos dias, o mini mercado “Ú Cantinho da Telma” foi assaltado duas vezes, um apartamento na Rua D. Afonso III foi invadido, e até a ótica junto ao mercado municipal não escapou à ação dos criminosos.
A revolta dos moradores é cada vez mais audível. As caras dos suspeitos são conhecidas por muitos na vila — e mesmo assim, as autoridades parecem continuar de braços cruzados. A GNR tarda em agir com eficácia e visibilidade, e a ausência de respostas concretas começa a levantar sérias questões sobre a presença e atuação das forças de segurança na freguesia.
Enquanto isso, os responsáveis políticos locais — Junta de Freguesia e Câmara Municipal — parecem mais preocupados com a gestão da imagem do que com a proteção efetiva dos seus munícipes. O silêncio e a passividade dos autarcas perante estes acontecimentos agravam o sentimento de abandono e insegurança.
Os armacenenses não querem promessas vagas nem discursos formais. Querem segurança, presença policial ativa e respostas firmes. Querem voltar a viver numa vila onde o comércio local não tenha de fechar portas por medo, onde os residentes possam dormir tranquilos e onde a criminalidade não se sinta à vontade para agir impunemente.
É urgente que as autoridades — civis e policiais — deixem de assobiar para o lado. A segurança pública não pode ser uma miragem, nem um luxo reservado a outras localidades. Armação de Pêra exige ação. E merece respeito.
Etiquetas:
segurança
“Do Estrado à Chucha: Uma História de Mercado(s) e Migalhas”
Diz-se por aí que Lisboa tem o Terreiro do Paço, Paris tem o Marché de Rungis, e Armação de Pêra… bem, Armação tem os restos de Silves. Literalmente.
Corria o ano de 1958, e um visionário lisboeta — o arquiteto Paulo Henrique de Carvalho Cunha — desceu até à costa algarvia, armado de régua, esquadro e um “Plano Geral de Arranjo Urbanístico”. Palavra chique essa: arranjo. Porque arranjo foi precisamente o que se fez — e que grande “arranjo”! — com o velho mercado de peixe de Silves.
A necessidade de um mercado em Armação já vinha de longe. As vendedeiras equilibravam peixe e legumes sobre estrados nas ruas, entre gaivotas e veraneantes. Era, digamos… um modelo de mercado ao ar livre avant-garde. E o povo clamava: “Queremos um mercado de verdade!”
A Câmara de Silves, magnânima como sempre, respondeu à chamada. Mas em vez de gastar um tostão na construção de um mercado digno, decidiu reciclar — que é muito moderno — e despachou para a vila praiana o material da antiga praça de peixe de Silves.
E assim, no glorioso dia 26 de junho de 1960, pelas 17 horas (hora exata para quem quer tapar o sol com a peneira), inaugurava-se, com pompa e peixinhos, o mercado remendado.
Em Silves: um mercado novo, fresquinho.
Em Armação: o cabaz da reciclagem.
Claro que aquilo não servia para as necessidades da população, nem para os veraneantes, que já nessa altura exigiam mais do que sardinha ao sol. Resultado? A rua em redor foi-se transformando numa extensão não-planeada do mercado, onde cada vendedor plantava a sua banca como quem planta couves.
Foram precisos mais de 30 anos de pedidos, súplicas e promessas em papel timbrado até que, finalmente, em Abril de 1990 — ano glorioso para a democracia e para o bacalhau seco — surgiu o atual mercado. Bonito? Funcional? Talvez. Mas já velhinho, cansado, a ranger das pernas como um banquinho de três pés.
E agora, mais de 35 anos depois, os armacenenses olham para Silves e veem obras, pavilhões, centros culturais. E olham para o mercado da vila… e veem a mesma estrutura de sempre, com cheiro a sardinha e nostalgia.
Pedem modernização. Recebem promessas. Pagam impostos. Recebem chuchas.
Enquanto isso, os autarcas de Silves devem rir-se discretamente, talvez entre uma alfarroba e um café na esplanada do mercado novo da sede de concelho. E Armação de Pêra? Armação continua à espera. À espera que um novo plano urbano traga mais que remendos — e talvez, quem sabe, um mercado onde as bancas não fiquem com os pés na rua e os fregueses de molho até aos tornozelos.
Porque, sejamos honestos: reciclar é bom. Mas reciclar a dignidade de uma freguesia inteira? Isso sim, cheira a peixe.
Etiquetas:
economia
terça-feira, 22 de julho de 2025
Armação de Pêra não merece mais um atentado urbanístico
No final da década de 1970, os terrenos confinantes com o emblemático Hotel Garbe, em Armação de Pêra, foram destinados à construção de mais uma unidade hoteleira. Os proprietários, então donos da histórica Empresa de Viação do Algarve (EVA), sediada em Faro, viam nessa aposta uma forma de integrar o setor dos transportes com o turismo emergente — duas forças em franca expansão no Algarve da época.
À luz do contexto socioeconómico daquela altura, a ideia até fazia sentido. O turismo crescia, a costa algarvia começava a ganhar visibilidade internacional e havia espaço — e necessidade — para acolher visitantes. Mas o tempo passou, os paradigmas mudaram e, com eles, as exigências e preocupações da população local também.
Hoje, mais de quatro décadas depois, esses mesmos terrenos voltam ao centro do debate. O Plano Diretor Municipal (PDM) de Silves assinala esta zona como um compromisso urbanístico, o que levanta preocupações legítimas sobre a possibilidade de retomar o projeto hoteleiro. Mas será que, em 2025, ainda faz sentido construir mais um hotel naquela área?
A resposta parece óbvia para quem vive em Armação de Pêra: não. A zona está já excessivamente densificada, com uma malha urbana apertada, falta crónica de estacionamento, escassos espaços verdes e uma praia sobrelotada durante o verão. A densidade populacional atinge níveis que se aproximam dos de algumas cidades chinesas — um absurdo quando falamos de uma vila costeira que deveria primar pela qualidade de vida, pelo equilíbrio entre residentes e visitantes e pela valorização ambiental.
O receio da população aumentou quando, antes do verão, foi vista uma empresa a realizar um levantamento topográfico naqueles terrenos. A associação imediata a um novo projeto de construção foi inevitável. O sentimento de insegurança instalou-se. O que se teme não é o progresso — é a repetição dos erros do passado. Armação de Pêra já sofreu demasiado com um urbanismo desenfreado, feito à margem da sustentabilidade e do interesse público.
Os residentes perguntam, com razão: Armação não merece melhor? Não merece um plano urbano que privilegie qualidade de vida em vez de betão? Não merece ver valorizados os seus espaços naturais, o seu património arquitetónico e a sua identidade local?
Este não é apenas um debate técnico ou jurídico — é um debate ético. A decisão de permitir (ou não) mais uma construção massiva naquela zona deve ser feita com base naquilo que se quer para o futuro de Armação de Pêra. E esse futuro não pode passar por mais um atentado urbanístico, mascarado de desenvolvimento.
Há momentos em que é preciso dizer "basta" e mudar de rumo. Este é um deles.
Etiquetas:
más práticas
segunda-feira, 21 de julho de 2025
Sereia de Armação: Raptada por Indianos ou Farta da Junta? Um Mistério que Ecoa nas Ondas
Armação de Pêra acordou esta semana com um silêncio ensurdecedor vindo do mar. A Sereia — sim, Aquela Sereia, musa mística das selfies turísticas e dos pescadores reformados — desapareceu. Sumiu. Evaporou-se nas ondas do desencanto.
O povo, habituado à sua pose estoica e à sua voz hipnótica que cantava promessas vagas de um futuro glorioso para a vila, está em choque. Uns juram que viram luzes estranhas no céu. Outros garantem que foi levada por uma traineira espanhola. Mas a teoria que mais ganha força é... foram os Indianos.
Sim, segundo fontes não identificáveis mas muito barulhentas, um grupo de nacionalistas locais do Chega garantem “a pés juntos, de peito feito e cérebro em modo de espera” que a Sereia foi levada por Indianos — talvez como vingança por Camões ter estado na Índia em 1553 sem visto Schengen. “Se ele lá foi sem autorização, por que é que agora eles não podem vir cá buscar uma sereia? É tudo culpa do Camões!” – bradou um senhor de bigode e bandeira na varanda, enquanto consultava o “Facebúquio” para confirmar os factos históricos.
Outros, porém, acreditam numa explicação mais triste — ou mais sensata. Dizem que a Sereia regressou à mítica Ilha dos Amores, porque já não aguentava ver Armação tratada como o anexo balnear do abandono. “Mesmo virada para o mar, ela via tudo”, sussurrou uma idosa que lhe deixava sardinhas aos pés em dias de vento leste. “Via os buracos nas ruas, as promessas enterradas nas areias da junta, os concertos cancelados e os bancos de jardim que mais parecem armadilhas para hérnias discais.”
A Sereia cantava. Mas ninguém a ouvia. E quando uma sereia canta e ninguém a escuta, até o mar perde a vontade de ser salgado.
Dizem que partiu numa onda silenciosa. Que deixou um bilhete escrito com espuma:
"Não fui levada. Fui embora. Cansada de ver tanto sol mal aproveitado e tanta sombra mal intencionada."
Mas há esperança. Talvez volte. Talvez, quando os discursos deixarem de ser apenas espuma das marés eleitorais, e os responsáveis perceberem que uma vila não se governa com selfies e promessas de verão, ela regresse.
Até lá, resta-nos olhar o mar e ouvir... o silêncio.
Etiquetas:
Eleições Autárquicas
Limpeza Urbana no Algarve: Quando a Comparação Fala Mais Alto
Vídeo mostra a diferença gritante entre o serviço de limpeza de um concelho vizinho e o estado de abandono nos pontos de recolha de resíduos em Armação de Pêra.
Nas imagens recentes captadas num concelho vizinho do Algarve, é visível um serviço de limpeza urbana exemplar: contentores limpos, áreas envolventes cuidadas e ausência de lixo fora dos recipientes. O contraste com a realidade em Armação de Pêra é, no mínimo, preocupante.
Enquanto noutros pontos da região os serviços camarários demonstram organização e eficácia, em Armação de Pêra – sob responsabilidade da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal de Silves – os locais junto aos contentores de lixo revelam um cenário desolador: sacos espalhados no chão, odores intensos, resíduos a céu aberto e limpeza praticamente inexistente.
Este vídeo comparativo expõe de forma clara a urgência de uma intervenção mais eficaz por parte das entidades responsáveis. A falta de manutenção e limpeza regular compromete não só a saúde pública, mas também a imagem de uma vila turística que, especialmente no verão, recebe milhares de visitantes.
A população local e os empresários da zona têm vindo a manifestar a sua indignação, exigindo mais atenção e transparência na gestão dos serviços básicos de higiene urbana. Em tempos em que a sustentabilidade e o bem-estar urbano são prioridades em vários municípios algarvios, é inadmissível que Armação de Pêra continue a apresentar este tipo de cenário.
Fica a pergunta: se outros concelhos conseguem manter as suas ruas limpas, porque continua Armação de Pêra a falhar?
Etiquetas:
más práticas
Armação de Pêra Cresce, Mas Fica para Trás
Nos últimos anos, Armação de Pêra tem-se destacado como a freguesia com maior crescimento populacional no concelho de Silves, registando, de acordo com os Censos de 2021, um impressionante aumento de 23,4%. Com uma área territorial de apenas 8 km² e uma densidade populacional de 751,4 hab/km², Armação aproxima-se, em termos de compactação urbana, de cidades como Lisboa, Atenas ou Nápoles.
Esta concentração populacional, longe de ser um problema, representa uma oportunidade rara para a eficiência da gestão urbana. Quanto mais densa for uma cidade, mais barato se torna manter os serviços básicos como abastecimento de água, drenagem e recolha de resíduos. No entanto, essa vantagem estrutural está a ser desperdiçada.
Enquanto Silves e São Bartolomeu de Messines, apesar de representarem metade da população do concelho, registam uma taxa de crescimento negativa (-3,2%), continuam a absorver a maior parte do investimento público municipal. Silves concentra os principais serviços públicos, os equipamentos culturais e as infraestruturas mais bem cuidadas. Na cidade de Silves, as ruas não cheiram a lixo nem têm buracos nas calçadas.
Armação de Pêra, pelo contrário, paga mais do que recebe. Com um forte peso no turismo, no comércio e na atividade económica local, é um motor de receita para o concelho — mas não é tratada como tal. Apesar do crescimento e da densidade, não se verifica o correspondente investimento em equipamentos públicos, mobilidade, espaços verdes, ou reforço dos serviços essenciais.
Nos últimos 12 anos, é legítimo perguntar:
👉 Qual foi o investimento estrutural significativo feito pela Câmara Municipal em Armação de Pêra?
👉 Onde estão os equipamentos públicos que acompanham o crescimento da freguesia?
👉 Por que razão as decisões continuam a ser tomadas em gabinetes distantes dos cidadãos, com pouca escuta ativa e ainda menos ação concreta?
A gestão municipal não pode continuar a ignorar os dados e a realidade do território. Governar não é apenas manter o centro histórico arranjado, mas garantir coesão territorial, equilíbrio nos investimentos e justiça social entre freguesias. O crescimento de Armação de Pêra precisa de ser acompanhado de investimento — não apenas por razões de equidade, mas por uma questão de visão estratégica.
Se Armação cresce, é porque tem potencial. E esse potencial merece ser reconhecido, respeitado e sustentado.
Etiquetas:
modelo de desenvolvimento
domingo, 20 de julho de 2025
Praia de Armação de Pêra: o problema não está só nas concessões
A recente publicação do jornal Terra Ruiva, sob o título “Na Praia de Armação de Pêra – Sobe o mar, falta areal e sobram concessões privadas e públicas”, traz à tona um problema que há muito se sente, mas que poucos têm coragem de enfrentar com profundidade: o crescente aperto da praia frente ao aumento da procura e à diminuição do espaço disponível. Mas será que acabar com as concessões é mesmo a solução?
É inegável que o espaço útil na praia está cada vez mais reduzido. A subida do mar, as alterações climáticas e a configuração natural da baía tornam a situação ainda mais complexa. No entanto, culpar apenas as concessões – sejam elas privadas ou públicas – parece simplista. Quem hoje utiliza uma concessão com toldos, caso esta desapareça, não deixará de vir à praia; apenas competirá por um espaço ainda mais escasso no areal livre.
Além disso, não se discute o tamanho dos chapéus-de-sol, a quantidade de espaço que cada família ocupa ou o comportamento dos utilizadores. Tudo isso influencia o usufruto coletivo da praia, mas raramente entra no debate. A solução, portanto, deve ser mais ampla e estrutural.
É preciso olhar para além da linha do mar. A norte da Praia do Olival, observando imagens do Google Earth ou fotografias antigas da década de 70, é possível ver a mudança radical no território: uma densificação urbana acelerada, incentivada por sucessivas decisões camarárias que priorizaram receitas imediatas em detrimento da sustentabilidade da vila.
Hoje, Armação de Pêra conta com cerca de 11 mil alojamentos. Durante a época alta, a população flutuante pode atingir os 50 mil habitantes.
A pergunta impõe-se: há espaço de praia suficiente para todos durante a praia mar? Claramente, não. E o problema não está na concessão de 1,8 m2 de sombra com espreguiçadeiras. Está, sim, na forma como se permitiu – e continua a permitir – a ocupação do território sem planeamento urbano coerente.
Entre o minigolfe e a praia do Olival, a faixa de areia é ainda mais exígua, emparedada pela falésia. A pressão sobre esta zona é enorme, e qualquer solução que se limite a “acabar com as concessões” será apenas um paliativo.
Talvez esteja na hora de pensar em alternativas mais criativas e sustentáveis: criar zonas balneares alternativas ao longo do concelho, investir em transportes e acessos que facilitem a distribuição dos banhistas por outras praias menos sobrecarregadas, repensar o urbanismo local e criar mais espaços públicos de lazer fora da linha costeira.
Armação de Pêra não pode continuar a crescer em população e construções enquanto a sua frente marítima permanece limitada e vulnerável. É hora de pensar o futuro com seriedade, pois areia não se fabrica e o mar não recua.
Etiquetas:
modelo de desenvolvimento
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Correio para:
Visite as Grutas

Património Natural