Apesar de ter ficado para a posteridade associado ao nome da capital portuguesa, o terramoto de 1755 causou devastação equivalente quando não superior no Algarve, produzindo também extensos danos no Norte de Africa e, em menor escala, no Sudoeste de Espanha.
A distribuição dos estragos no território português ficou excepcionalmente bem documentada para a época, porque Carvalho e Melo determinou o envio de um questionário a todos os párocos, com resposta obrigatória sob pena de sanções, solicitando descrições precisas do ocorrido em cada paróquia. Não se conhece qual dos colaboradores do Marquês redigiu o texto do inquérito, caso contrário o seu nome teria merecida menção na história dos primórdios da sismologia científica. Apenas se apanha a pista da sua distribuição aos párocos num texto distribuído na diocese de Coimbra, e assinado pelo respectivo bispo, conde de Arganil: “Fazemos saber que Sua Majestade é servido que Vossa mercê distintamente responda aos interrogatórios seguintes, e que nos mande a sua resposta, para nós a pormos na Sua Real presença, o que Vossa mercê fará dentro do espaço de um mês, aproveitando-se desse tempo para conferir os pontos duvidosos com pessoas inteligentes e peritas, que comuniquem a Vossa mercê a luz necessária para o acerto” (in: “ Lisboa em 1758, Memórias Paroquiais de Lisboa” de F. Portugal e A. Matos, Ed. Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa, Lisboa 1974, p.26).
Uma parte substancial das respostas ao Inquérito do Marquês de Pombal, como ficou conhecido, foram descobertas já no sec xx. Contudo estão ainda por localizar as respostas de algumas regiões-chave como o Algarve.
Quanto aos dados recolhidos do Algarve assumiu particular importância um outro inquérito enviado aos párocos em 1758, pelo padre Luís Cardoso, que trabalhava num Dicionário Geográfico, e que incluía a pergunta seguinte:”Se (a freguesia) padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê; e se já está reparada”.
É no Algarve, e principalmente no Barlavento, que os estragos causados pelo terramoto que atingem um maior grau, sugerindo a proximidade da região epicentral.
Infelizmente não se conhecem as respostas ao Inquérito do Marquês de Pombal, referentes ao Algarve, pelo que as informações disponíveis resultam em grande parte das Memórias Paroquiais compiladas em 1758 pelo padre Luís Cardoso, ou de missivas avulsas. Uma carta em Lagoa, a 3 de Novembro, refere que “na cidade de Lagos só ficou de pé uma casa do Castelo, que é o Palácio em que residem os governadores e capitães generais deste Reino”, enquanto “ em Vila Nova de Portimão caiu o sumptuoso edifício do Colégio dos Padres da Companhia de Jesus, e todas as mais igrejas, excepto a do Corpo Santo”.
SILVES. Em Silves, segundo o mesmo relato, “perdeu-se a Sé, Torre, Castelo e muralhas, Casa da Câmara e da Audiência, Cadeia, um convento de religiosos…e ruas inteiras ficaram arruinadas, perdendo-se nelas infinita gente”. Em múltiplas povoações os estragos são descritos como totais. Boliqueime foi reconstruída noutro local, de tal modo as habitações ficaram reduzidas a escombros.
VILA DO BISPO. Também em Vila do Bispo “todas as casas vieram abaixo”.
Numa carta escrita pelo bispo do Algarve ao padre Manuel Portal pode ler-se que se “arruinou completamente esta cidade de Faro, a de Lagos, a de Silves, a Vila de Loulé, a de Albufeira, a do Bispo, Vila Nova de Portimão, Boliqueime; mas sobretudo Lagos e Albufeira, que como entrou o mar com a fúria infernal levou o que restava das ruínas do terramoto, mas contudo não me parece que mortos passaram de mil e duzentos, até mil e trezentos”. Todas as povoações referidas na missiva estão localizadas para ocidente de Faro, o Barlavento Algarvio.
FARO. Em Faro foi extenso o rol de edifícios importantes que sofreram colapso, como a Sé Catedral, o Palácio Episcopal, e as principais igrejas e conventos. Mas no sector oriental do Algarve, ou Sotavento, são já variáveis os graus de destruição relatados.
OLHÃO. Olhão “padeceu pouca ruína”, e de São Lourenço de Almancil é-nos relatado que “só cinco azulejos…caíram do alto da abóbada” da igreja. Mais para leste, no entanto, os estragos terão sido muito importantes, nomeadamente em Tavira e Castro Marim. Nas povoações costeiras do Algarve, uma parte significativa dos danos parece ter sido causada pelo maremoto – ou tsunami (grande onda em Japonês) - que, em resultado do terramoto, atingiu a costa cerca de 15 minutos depois das ondas sísmicas.
O Tsunami de 1755 no Algarve
O HISTORIADOR Damião de Faria e Castro, que estava em Faro à data do sismo, falaria do seguinte modo do maremoto, ou tsunami: “ No terramoto do Peru (em 1746) … causou admiração notável o grande retrocesso que fez o mar. Ele deixou descoberto largo terreno no seu fundo, que depois tornou a ser ocupado pela mesma mole de água costumada…Na nossa costa foi visto o primeiro efeito dele retroceder; mas logo a voltar tão impetuoso que, excedendo os seus limites, em umas partes montou rochas de noventa braças de alto, em outras correu além das praias longos espaços pela terra adentro. Então discorri eu que, como o terramoto abriria grandes concavidades no vasto leito do mar, enchendo-se estas de grande cópia das suas águas, esta diminuição delas o faria como retroceder. Que depois tornando a fechar-se, e a ir-se unindo as mesmas cavidades, estas cuspiriam as águas em si reconcentradas com tanto ímpeto que, enquanto ele lhes durava, as fazia correr fora das ordinárias balizas das suas enchentes. Que as vezes alternadas em que ele se avançava na carreira isso seria à proporção em que as bocas se iam fechando, e cuspindo as águas”.
A intuição do historiador captou de modo notável a essência da geração do tsunami, causado pela deformação do fundo oceânico na vizinhança da região epicentral, a qual perturba a coluna de água sobrejacente. O modelo conceptual da ruptura sismogénica de uma falha geológica – o elastic rebound ou ressalto elástico – que abriria caminho a uma mais rigorosa compreensão da génese dos tsunami só viria a ser desenvolvido no início do sec. XX, o que torna surpreendentemente avançada esta explicação de Faria e Castro.
O SEGUINTE RELATO dá-nos conta dos efeitos do tsunami no Algarve…
ALBUFEIRA. A Grande parte dos incautos moradores da Vila de Albufeira, que fica situada em uma rocha eminente, desceu a encontrar na praia asilo, que teve por seguro. Veio o mar e tragou a todos.
PORTIMÃO. Na Vila de Portimão, sobre as ruínas que ela sentiu lastimosas, foi horrendo o combate das ondas. A sua barra forma uma grande boca atracada entre duas rochas altas, onde estão em frente uma da outra as fortalezas de Santa Catarina e de São João. Por ela entraram apertadas formidáveis ondas sucessivamente, que corriam pelo rio acima mais do que uma légua. Elas bateram os muros da barbacã, e todos os que encontrou sem terrapleno lhes foi degolando os parapeitos, até os deixar rasos…
LAGOS. Lagos foi outro objecto particular do furor do mar, e do terramoto. Quase todos os templos e casas se arrasaram com grandes perdas de vidas e cabedal.
ALVOR. O mar que correu da praia do Alvor tudo foi tragando. Levou pescadores, que puxavam pelas redes. Edifícios a que não deixou vestígio dos lugares onde estiveram. Atacou o forte chamado da Meia Praia, e o traçou ao meio, ficando cortado o baluarte que faz face ao poente. Daqui foi dar fortes repelões na grossa muralha de fortificação de Lagos. Toda a que bateu deitou por terra.”
(Texto adaptado do original “1755 O terramoto de Lisboa”, de João Duarte Fonseca, ed. Argumentum, Lisboa, 2004)
18 comentários:
O homem não é mesmo a medida de todas as coisas...
Não vivo no Algarve, e só esporádicamente lá vou de férias.Tanto quanto sei e agora confirmo é em grande parte uma zona sismica (ou tendentemente).Conheço Armação e Albufeira e Quarteira e espero nunca ver os efeitos de um sismo sério nessas zonas tão densamente construidas.E o serviço de bombeiros no Algarve é proporcional a sua capacidade de resposta em caso (sabido) de um sismo sério nessas zonas?
Parece-me infelismente que não. Continuemos cantando e rindo como se nada fosse e veremos (não veremos por não ter tempo)no que isto pode vir a dar...
Relativamente a uma catastrofe como esta não sei se existiram no mundo bombeiros ou qualquer outras autoridades que estivessem preparadas para tratar duma situação tão complicada.
No entanto estou muito preocupado caso possa deflagar um incêncio numa das torres em Armação de Pêra.
Onde estão os bombeiros?
Quanto tempo levarão a chegar a Armação?
Será que face ao n.º de edifícios construídos e ao risco de incêndio Armação não deveria ter um corpo de Bombeiros?
Será que actulamente os bombeiros têm equipamentos para intervirem em torres?
Será que a Drª Isabel Sores ou o responsável pela proteção civil terá resposta?
Grave não é Armação de Pêra não ter ainda um corpo de bombeiros.
Grave é terem estado um série de cabeças pensantes durante dez anos a elaborarem um plano de pormenor e não terrem pervisto um local para a instalação de um quartel de bombeiros.
Armação para ter o que necessita nessecita de se tornar independente de SILVES.
Caros amigos
Armação não necessita de bombeiros!
Como qualquer bom português o povo Armacenese no dia em que deflagar um fogo reza à Nª Senhora dos Aflitos que é a nossa padroeira e estamos salvos.
O concelho de Silves tem excelentes bombeiros e além disso Já existe em Armação uma delegação da Cruz Vermelha Portuguesa.
Só querem armar confusão.
Podem informar-me como é que ficou a votação do plano de pormenor do Sapal de Armação de Pêra, é que tenho estado com gripe e não saio de casa desde sexta-feira e não veio nada nos jornais sobre a Assembleia Municipal.
Oh D. Adelina e vai combater um fogo com a cruz vermelha? Bem pode esperar.
Oh Srº Meireles
Claro que a Cruz Vermelha não cobate fogos, mas no caso de uma catastrofe, como um sismo, DEUS NOS LIVRE, estão preparados para actuar.
A d.Adelina já se tornou num icone do ridiculo e do disparate.Era um favor que fazia, e ai sim demonstrava toda a sua inteligencia,se nunca mais se manifesta-se uma vez que este blog e os seus participantes não merecem de maneira nenhuma levar com tamanha baixeza e ignorancia dos seus comentarios.
Caro anónimo:
Como funcionária da CMS e lambe cús da presidência tenho que defender quem me paga! Não acha?
A ironia de alguèm que em meu nome subscreveu o anterior post só merece da minha parte um comentário!
Estão incomodados.
Meu caro(a) não sou nem nunca fui funcionária da CMS e sempre vivi do meu trabalho no sector privado num negócio que tenho aqui em Armação, nunca necessitei de "lamber" seja quem for para dai obter benefícios seja eles quais forem.
Se defendo a Drª Isabel Sores é porque ela como líder e como mulher foi o único presidente da Câmara de Silves que realmente fez alguma coisa por Armação.
Pelo que meu caro(a) se tem agumentos válidos diga-os, senão o melhor é ir lamber para outro lado!
Se não é funcionária da Câmara deve ser militante irracional do PSD minha cara adelina.
Só existem 3 hipóteses para alguém com a escolaridade obrigatória votar Isabel Soares:
A - Trabalha na Câmara
B - É fanática do PSD
C - É cego
D. Adelina Capelo, a avaliar pelo seu post, parece que alguém assumiu a sua identidade, por isso aconselho-a a visitar o blogue do Dr. Carneiro Jacinto e ver o que lá foi escrito em seu nome.
O candidato fracturou o tendão de aquiles e neste momento precisa de toda a nossa solidariedade e apoio moral para recuperar. O que lá foi escrito é de uma pessoa muito mal formada.
Não gosto do que você escreve mas também penso que usurpar a identidade dos outros não é só cobardia como também vergonhoso.
JJJ, teve tanto trabalho de pesquisa, deu-nos este óptimo trabalho, e acaba sempre tudo no mesmo. Nem o seu trabalho nem o seu blogue merecem isto.
No blogue do C.J. anda sempre um meireles de capuz de malha a estragar tudo; aqui, é uma capelo (sabia que também significa capuz?). O seu, do que é feito? Deve ter dentro uma cassete; Será a "cassete capelo Soares"?
JJJ, obrigado pelo seu trabalho, tanto o do costume, como o de hoje. Lamento dizê-lo, "mas isto é dar pérolas a capelos"!
Sr Meireles
Eu sei que incomodo ao dizer umas verdades, que alguns não querem ouvir, pelo que, quando já não têm argumentos nem ideias vale tudo para descredibilizar quem aqui deixa os seus comentários.
Como estamos domínio do virtual os actos ficam com quem os pratica, pelo que vou ignorar esse "ser".
O que me interssa realmente é o desenvolvimento de Armação de Pêra, detesto ouvir dizer mal por quem nunca fez nada por esta terra.
Atendendo ao sismo de ontem, este post foi aviso, premeditação ou o bloguer é adivinho.
Houve quem já tivesse associado o sismo à votação do dia anterior e, se Malagrida ainda existisse, chamar-lhe-ia um aviso dos céus! Mas credo, onde é que isso já vai! Só a Sra. Capelo acreditaria ainda!
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