O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

HISTÓRIA

INQUISIÇÃO: UMA HISTÓRIA DE TERROR E DE VERGONHA!

Por sugestão de um visitante fizemos um “tour” por alguns elementos históricos à disposição, na busca de informação sobre a acção da famigerada Inquisição por terras do Algarve.
Lemos, reflectimos e sintetizamos alguma informação, para dividir com os visitantes do Blog.
Naturalmente que não encontrámos nada sobre Armação de Pêra porquanto, esta ainda não existia, enquanto tal.

Mas não fiquem descansados, pois um barbeiro de Alcantarilha foi preso por afirmar em público que não havia de confessar-se a outro homem, que o sacerdote não tinha mais que ele senão o dizer missa.

Mas, a naturais de Alcantarilha ou ai residentes, pelo menos entre 1590 e 1668, foram instaurados 4 processos pela Inquisição de Évora.
Não será exagerado o número se atendermos a um período de 78 anos.
O mesmo não se poderá dizer do Algarve em geral.
Com efeito nesse período de 78 anos foram instaurados cerca de 1.135 processos (tanto quanto foi possível apurar), o que representou cerca de 1,2 processos por mês.
Imaginamos (não imaginamos) o clima de terror que perpassou a população algarvia durante quase um século.

Recorde-se que muitos destes processos conduziam à morte.
Mas, talvez pior que a morte de centenas de vitimas, o que já não seria pouco, foram as práticas sistematicamente implementadas:”Os inqusidores passavam a pente fino a escrita e as falas, procurando detectar qualquer pensamento herético ou maligno e semeavam escrúpulos entre a gente simples. Por exemplo um dia a mulher de um pobre agricultor ouviu o marido, cansado da chuva e dos temporais, que blasfemava:” Deus tem alma de cavalo”. A mulher hesitou mas, para aliviar a sua consciência, foi denunciá-lo ao Santo Oficio.” (in: O Algarve da antiguidade aos nossos dias, Coordenação de Maria da Graça Maia Marques, Edições Colibri, Lisboa, Abril 1999).

O mapa estatístico que juntamos é elucidativo das vítimas processadas!
Não há memória escrita das enormidades e do flagelo causado nas populações contemporâneas deste “polvo” tirânico e muito menos nas mentalidades das gerações futuras, mantidas mais tarde em “banho Maria” da mesma natureza, durante o consulado salazarista.
Temos para nós que o amorfismo e o alheamento da sociedade civil tiveram ai a sua origem histórica!

Não se cansam os Israelitas, que aliás enquanto cristãos-novos eram vitimas predilectas do Santo Oficio, de manter, por todos os meios à sua disposição, designadamente através do cinema e da televisão, a memória do holocausto bem presente, em ordem a sensibilizar a opinião pública para a aberração humana que tal facto histórico constituiu, reduzindo, pela divulgação às gerações mais recentes, a possibilidade de se ver repetida tamanha monstruosidade.

Seria adequado e, no nosso entender absolutamente necessário, pela pedagogia que a divulgação e reflexão sobre esta parte da nossa história comum poderia constituir, para a educação cívica e a participação da sociedade civil, contribuindo, talvez de forma impar para exorcizar este demónio do passado que é responsável pelo muito do que hoje somos como povo.

Quando hoje se apela, do ponto de vista politico, por exemplo à participação, do ponto de vista económico à inovação, à iniciativa, ao empreendorismo e em qualquer circunstância à auto estima e à confiança, seria provavelmente útil conhecer porque nos encontramos neste atoleiro psicológico colectivo, que qualquer um, dentro de si próprio, reconhece como estrutural e que alguns vão tentando escamotear com um ou outro exemplo de sucesso, habitualmente precário ou pouco representativo.

Pugnar pela participação da sociedade civil e levantar a bandeira da cidadania, são seguros obrigatórios contra a herança cultural das inquisições que ainda povoa a generalidade das mentalidades dos que exercem os poderes, legítimos ou ilegítimos, públicos ou privados.

5 comentários:

Anónimo disse...

Como a nossa memória se apaga tão depressa!

Anónimo disse...

Gosto do blog, da sua arrumação e qualidade gráfica e da iniciativa em si mesma.Estão de parabens, foi uma surpreza agradavel encontrar-vos.

Anónimo disse...

Convem não nos esquecermos dos bom e maus momentos da nossa história.

Anónimo disse...

O povo Judeu têm sofrido muito ao longo das séculos.
Se no século passado foram os Nazis Alemães, Espanha e Portugal também tem o seu lado negro na história, que como diz Levy nunca devemos esquecer.
A nossa memória é habitualmente muito curta.

Anónimo disse...

Mário Soares, em nome dos Portugueses já pediu desculpa aos Judeus.
Um Papa, penso que o João Paulo II, já pediu desculpa a todos pelos crimes da Inquisição.
Quem tem consciência desses crimes, agradeçe, mas, como diz o articulista, nunca é demais lembrar e sobretudo não repetir, ainda que dissimuladamente!
Todos devem estar atentos!

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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