Íamos nós começar por dizer que não tínhamos com este texto qualquer pretensão a sermos tidos como qualificados em matéria económica, quando demos conta de que aqueles que são tidos como tal pela generalidade dos ignorantes na matéria, não só estão na base do estado das coisas financeiras, como, como se isso não chegasse, do alto das suas cátedras, apresentam-se muito pouco capazes de serem categóricos relativamente a qualquer terapia para a grave crise financeira que atravessamos.Afinal ou somos TODOS relativamente ignorantes ou relativamente competentes para falar de economia.
Do alto das suas cátedras referem a natureza de filigrana do sistema financeiro mundial, da sua extrema fragilidade e de, carecer, para funcionar perfeitamente da harmonia de um relógio suíço!
O sistema financeiro a Confiança, a Fé, o Jogo e o Vício
António Borges, um professor e economista de renome, explicava-nos no Expresso que o sistema financeiro internacional conjuga duas características, qual delas a mais explosiva, por um lado, é de uma fragilidade de cristal e por outro de uma complexidade de filigrana. Enfim uma filigrana de cristal!Por outro lado falou em inovação e da forma como a inovação em produtos financeiros é fundamental ao desenvolvimento e, numa palavra: à “ampliação” da riqueza, nesta economia do Sec. XXI.
Quanto a nós ao desenvolvimento de uma riqueza virtual, sem correspondência na economia real. Dai o verdadeiro problema.
Que grau de confiança conseguiu atingir esta Banca no mercado? Afinal, pugnando pela absoluta necessidade de confiança no sistema financeiro que vai nu, elevada a N, uma vez que a sua natureza, hoje em dia, é a de uma filigrana de cristal, não constitui um verdadeiro reconhecimento de que devemos ou temos de ter confiança mesmo sem o sistema financeiro ser digno de confiança?
Em boa verdade está aquele ilustre Professor e tantos outros que afinam pelo mesmo diapasão, mais a falar de FÉ do que de confiança!
Curiosamente, a sofisticação do sistema financeiro atribuída à modernidade que o Sec. XXI exige, pelo que ficou demonstrado, mais não passa de que uma via muito antiga de obter (?) rendimento:
O JOGO! E dai que lhe chamem justamente de Capitalismo de Casino!A sucessiva intermediação financeira, qualquer tenha sido o crédito concedido prime ou sub prime, existiu e a Banca que o concedeu ganhou com isso. E para continuar a ganhar com isso arriscou o que podia e o que não podia até ficar exaurida de fundos e crédito em verdadeiro estado de insolvência!
É como se a banca (do casino) tivesse perdido a cabeça e entrado no próprio jogo como um vulgar viciado!
Conclusões elementares mas cristalinas
Com competência em matéria económica ou com falta dela, atenta a relatividade da mesma face ao resultado que se encontra à vista, tornam-se imperativas algumas conclusões de uma pureza cristalina:
1.- Se um sujeito ou um grupo de sujeitos engendrassem um esquema semelhante em pequena escala para obterem proveito ilegitimo, seriam muito naturalmente acusados e condenados por burla e associação criminosa o que não vai suceder porque a associação é de um sem numero de sujeitos e instituições que se torna, na prática, impossível condenar esta larga quantidade de gente.
2.- Mais curioso ainda é o facto de, entre outras razões, não vir a acontecer por constituir uma ameaça à saúde e estabilidade do próprio sistema financeiro, que ameaçaram letalmente.
3.- A fragilidade do sistema financeiro é enorme e excede largamente o grau elementar de segurança que as instituições financeiras deveriam estar obrigadas para poderem operar livremente e acima de qualquer suspeita com o dinheiro dos outros.
4.- Os economistas são, comprovadamente, perigosos e devem ser tidos como tal!
5.- As instituições financeiras não são, por principio, pessoas de bem nem se deve subentender que, no âmbito da sua actividade, usam dos critérios de gestão e prudência de bons pais de família, pelo que não devem gozar generalizadamente desse estatuto/conceito, como aconteceu até há bem pouco tempo.
6.- Enquanto não se puser, decididamente, este sistema de desenvolvimento em causa, o sistema financeiro e a sua regulação, têm de ser sujeitos a UMA TERAPIA DE CHOQUE que os reveja profundamente e adapte à necessária estabilidade e segurança das poupanças dos depositantes, designadamente mediante avaliação prévia aos produtos financeiros comercializados, como se de MEDICAMENTOS se tratassem!
Correndo atrás do prejuízo
Os contribuintes, entretanto, vêem-se na conformidade de ter de socorrer o seu agressor (o sistema financeiro), sob pena de se verem confrontados com a economia real e a simplicidade da sua elementaridade, para a qual não se encontram preparados, destinatários privilegiados que têm sido de algumas das virtualidades da economia virtual.
Sucede é que os contribuintes, que sustentam o Estado Social, dificilmente podem, em simultâneo, ocuparem-se da doença e da cura.
O Estado providência, suado de estopinhas, com esta crise (que é só mais uma das suas doenças), corre o risco sério de colapsar, e resista ou não às maleitas de que padece, agora acrescidas, é um modelo – à falta de outro melhor - que não podemos perder de vista, o qual deve constituir o Norte no emaranhado deste atoleiro.Quer subsista como mera referencia de um paradigma ensaiado mas perdido, quer se mantenha adaptado ao possível com amputações mais ou menos profundas no essencial da sua bondade, vai ter que se repensar profundamente, sobretudo na vertente das excrescências que gerou ao ponto de o intoxicarem até ao estado de
moribundo.
A presente crise constitui por conseguinte e antes de outras consequências com que esperamos não ter de lidar, uma ameaça ao Estado Providência, mas também uma oportunidade para repensar o sistema de desenvolvimento em que, mais ou menos activamente, nos encontramos todos.




































