O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O "rating" que os parta! Tribunal com eles!

 É verdadeiramente interessante a noticia precedente sobre a justiça Australiana e a Standard & Poor’s. E não devia sê-lo!

De facto estas acções judiciais deviam “chover” nos tribunais de todo o mundo, desde muito antes de 2008, mas sobretudo depois de 2008 – com a bolha do imobiliário-!

Muitas instituições poderão ter deixado de pagar os seus serviços por deles terem prescindido. É claramente uma penalização dos mercados. Mas...terá sido suficiente?

Pensamos que não!

Os países e as instituições que carecem das notações das empresas de rating, pois carecem das mesmas para recorrerem ao crédito internacional “mantendo-se em jogo”, deixando de recorrer a tais fontes de “abastecimento” (saindo de jogo), deixaram de precisar das notações daquelas entidades e denunciaram os contratos.

Mas, não deviam ficar por aqui as consequências de uma actividade que, até podemos reconhecer a sua utilidade num sistema financeiro tal como se apresenta, não sendo exercida com o zelo e isenção necessárias, pode revelar-se autenticamente criminosa.

Todos sabemos das notações AAA que entraram rapidamente em insolvência ao primeiro abanão forte da crise do subprime.

Também ouvimos o que se diz acerca dos sócios das agências de rating e da diversidade dos interesses de que são titulares no mercado financeiro, muitas vezes cruzados quando não contraditórios e não menos vezes alavancados pelas notações daqueles ainda prestigiados faróis dos mercados do crédito planetário.

O que diríamos de um excelente cirurgião que insistisse em operar os seus pacientes bêbado ou drogado?

Diríamos que, em caso de fatalidade, deveria responder pelo resultado de uma acção culposa e indemnizar!
Podemos até sofisticar o exemplo: a operação era a um órgão vital e ninguém poderia garantir o seu sucesso! Sucederia o mesmo caso ele não zelasse por se apresentar na sala de operações na totalidade das suas capacidades técnicas e cognitivas.

Em que diferirá o caso do cirurgião adito a um qualquer vicio que lhe diminua as competências ao agir no âmbito da sua actividade especializada e o caso destas empresas que concedem notações de rating que determinam decisões de investimento pelo mundo fora exactamente baseadas naquelas informações privilegiadas?

As agências, enquanto sobreviver este sistema de desenvolvimento (e vamos lá ver se sobrevive...) são instrumentos necessários ao mercado financeiro global.
As agências em causa, através de uma enormidade de casos de notações levianas, senão de burla, causaram prejuízos incomensuráveis.

Agir sobre as agências de imediato retirando-as do mercado, ou manifestando a sua evidente incapacidade face às teias que as tecem, seria num caso, tarefa impossível pois pressupunha a capacidade politica global e concertada de o fazer e a capacidade técnica e económica de o poder fazer, ou criar um sistema alternativo que delas não carecesse, ou de as substituir por outras impolutas que teriam de recorrer aos mesmos meios humanos e técnicos que o sistema gerou.

Deste modo, os políticos do mundo, pouco ou nada se referiram ao contributo objectivo que as empresas de rating deram à crise de 2008 e aos seus episódios seguintes.

Medo de mexer nesta Caixa de Pandora que é o mercado financeiro global, foi o que foi...
Pudera! não fazem a mínima ideia de como a consertar ou sequer de como a regular.

Porém, os tribunais a quem qualquer um pode recorrer, podem e devem avaliar situações, com mais certeza quanto mais evidentes, geradoras do dever de indemnizar.

Os tribunais não estão condicionados pelos mercados, nem são objecto de notações. Acresce que são onde, com maior propriedade se aplica a lei dos cidadãos e não a lei do mercado, a do mais forte ou a da selva, constituindo por excelência o lugar onde é obrigatório fazer justiça.

A justiça civilizada da comunidade e dos seus valores, perante quem renunciou a servi-la dentro dos cânones, que conhecem o risco, a tolerância e a razoabilidade mas também a ganância, a burla e o embuste!

Seriam difíceis de executar as sentenças que viessem a ser condenatórias das agências de rating em causa? , diria um céptico. E depois? Sem prejuízo de não se dar por adquirida tal “impunidade”, não se contribuiria claramente para outro patamar de responsabilidade e competência para as funções dessas empresas, tornando tais decisões alavancas das opiniões públicas para outras exigências e pressão para uma futura regulação mais apertada e consentânea com o interesse global e comum.

Alguém acredita que o Tribunal Penal Internacional só se destina a prender um ditador louco e facínora? E o efeito preventivo e inibidor que gera nas condutas das bestas que se candidatam a serem por eles julgados?

Por tudo isso se estranha a falta de mais reações, em tribunal, como a do caso australiano! Quer seja em Portugal quer seja noutros países e, ou, instituições lesadas.

Ou talvez não!

É que, desse modo, pela omissão, não podemos saber que instituições gestoras dos dinheiros dos cidadãos, foram lesadas e em quanto!

Mas se assim for, teremos nesses putativos interessados verdadeiros cúmplices da acção potencial ou evidentemente criminosa daquelas agências!



2 comentários:

Anónimo disse...

Águas do Algarve indica autarca Isabel Soares para administradora delegada por unanimidade dos presidentes de Câmara do Algarve

A assembleia-geral da Águas do Algarve indicou hoje a antiga presidente da Câmara Municipal de Silves Isabel Soares para administradora delegada da empresa, que trata do fornecimento de água e do tratamento de esgotos aos municípios da região, disse Macário Correia.

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e presidente da Câmara de Faro adiantou que a nova administração da Águas do Algarve, que integra Isabel Soares, foi designada “por unanimidade” dos presidentes das 16 câmaras da região.

O autarca considerou que a participação de Isabel Soares na administração da Águas do Algarve pode ser uma “mais-valia” na relação entre a empresa e os municípios da região.

“A empresa tem uma relação fortíssima com os municípios, porque o seu objeto principal é tratar do fornecimento de água e do tratamento de esgotos aos municípios do Algarve. E sendo uma pessoa que vem de uma câmara municipal, onde prestou serviço durante muitos anos, traz uma experiência e um conhecimento da realidade que é importante e que pode ser vista com uma mais-valia na relação com os municípios”, afirmou o presidente da AMAL.

Macário Correia frisou que a reunião de hoje contou, pela primeira vez, com a participação de dois novos presidentes de câmara, nomeadamente José Carlos Rolo (Albufeira) e Rogério Pinto (Silves).

Macário Correia acrescentou que José Carlos Rolo, até aqui vice-presidente da Câmara de Albufeira, substituiu Desidério Silva na presidência do município, depois de o autarca ter sido eleito para presidir à Entidade Regional de Turismo do Algarve (ERTA), cargo do qual tomou posse na sexta-feira.

Rogério Pinto substituiu Isabel Soares na presidência da Câmara de Silves, devido à passagem da autarca para administradora delegada da Águas do Algarve.

A AMAL também tomou hoje posição sobre a situação social do Algarve, que os autarcas da região dizem estar “a agravar-se cada vez mais, quando comparada com o resto do país”.

A taxa de desemprego de 17,5 por cento, quando no resto do país é de 15 por cento, o aumento do número de pedidos de ajuda alimentar, com 16 mil pessoas apoiadas pelo Banco Alimentar este ano (mais 1500 do que em igual período do ano passado), o aumento das solicitações às redes sociais dos municípios e sua menor capacidade de resposta, em função da lei dos compromissos, são alguns dos indicadores que demonstram esse agravamento, segundo a AMAL.

Dadas as crescentes dificuldades económicas e sociais, os presidentes de câmara ponderam passar a cobrar uma taxa sobre as dormidas na região, cuja receita serviria para fins sociais e apoio à população carenciada”, e vão pedir ao Governo a “adoção urgente de um conjunto de medidas que atentem à especificidade do Algarve”.

Entre essas medidas, estão a conclusão da requalificação da Estrada Nacional 125, medidas de estímulo ao empreendedorismo, a retoma do Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais (PARES) ou linhas de financiamento, no quadro do Banco Europeu de Investimento, para alavancar o investimento público local.

Anónimo disse...

António Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados ,Austeridade e privilégios, no Jornal de Notícias. Excertos:


«[...] O primeiro-ministro, se ainda possui alguma réstia de dignidade e de moralidade, tem de explicar por que é que os magistrados continuam a não pagar impostos sobre uma parte significativa das suas retribuições; tem de explicar por que é que recebem mais de sete mil euros por ano como subsídio de habitação; tem de explicar por que é que essa remuneração está isenta de tributação,sobretudo quando o Governo aumenta asfixiantemente os impostos sobre o trabalho e se propõe cortar mais de mil milhões de euros nos apoios sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, no rendimento social de inserção, nos cheques-dentista para crianças e ? pasme-se ? no complemento solidário para idosos, ou seja, para aquelas pessoas que já não podem deslocar-se, alimentar-se nem fazer a sua higiene pessoal.


O primeiro-ministro terá também de explicar ao país por que é que os juízes e os procuradores do STJ, do STA, do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas, além de todas aquelas regalias, ainda têm o privilégio de receber ajudas de custas (de montante igual ao recebido pelos membros do Governo) por cada dia em que vão aos respetivos tribunais, ou seja, aos seus locais de trabalho.


Se o não fizer, ficaremos todos, legitimamente, a suspeitar que o primeiro-ministro só mantém esses privilégios com o fito de, com eles, tentar comprar indulgências judiciais.»

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

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