O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"Preferia uma dona de casa nas Finanças"


07 Fevereiro 2010 - 00h30
Entrevista
"Preferia uma dona de casa nas Finanças"

Correio da Manhã/Rádio Clube - Há alguns anos um Presidente da República dizia que ‘há vida para além do défice'. Nesta altura, apetece perguntar se há vida para além da crise?
Medina Carreira - Agora há crise e défice. Jorge Sampaio, meu amigo e colega de faculdade, devia estar calado. Com o que se passou até agora verifica-se que ele não devia ter dito isso. Sabe que o problema do défice é a febre de uma doença que é a economia. Porque se nós tivéssemos uma economia que produzisse rendimento poderia não haver défice.
ARF - O mal está na economia?
- Nós temos dois males. A economia que não funciona e as políticas orçamentais que são erradas. Sem a produção de rendimentos os governos vão redistribuindo rendimentos. Que começam por ser pagos através do agravamento dos impostos. E quando o agravamento não pode ir mais longe começamos a pedir dinheiro emprestado. Nós andamos a pagar pensões e subsídios de desemprego com dinheiro emprestado. Uma parte do dinheiro que devemos é para aí. Nós criámos uma espécie de Estado social falido, que poderia funcionar noutras circunstâncias mas que é vítima de duas mudanças destrutivas.

ARF - Quais?
- A primeira a demografia. Quando as políticas sociais começaram a surgir na Europa havia um equilíbrio demográfico. Nasciam tantas pessoas como morriam. Em segundo lugar havia economias prósperas. Hoje não há economias prósperas e há um grande desequilíbrio demográfico. E isto não se resolvera sem outra economia. Se não tivermos outra economia teremos de cortar nas pensões, nos salários e tudo.
ND - O défice é só um sintoma?
- É. Realmente é a economia e as más políticas. Nós devíamos ter políticas em função da economia que temos. Os políticos fazem aquilo que lhes dá na cabeça. Todas as semanas descobrem mais um subsídio. E com esta economia este Estado social está falido. É uma questão de dez, quinze, vinte anos.

ND - É preciso cortar a eito?
- Se não criarmos outra economia vai ter que se cortar, goste-se ou não se goste.
ARF - Neste momento estamos neste pântano, com os mercados a olhar para Portugal, défices elevadíssimos e essas coisas todas. O ministro anuncia um PEC mais duro do que o grego. O que é isso? Cortar salários? Despedir funcionários públicos, baixar pensões?
- Eu estou curioso em saber como é que vão resolver o problema. Repare. Se a economia crescer 1,5 % em 2011, 2012 e 2013 terá que se cortar em muita coisa. Nomeadamente salários e vantagens sociais.

ND - Cortar?
- Sim.
ND - Não apenas congelar?
- Não. Não apenas congelar. Congelamentos é chão que deu uvas.
ARF - E reduzir os funcionários públicos?
- Não se pode reduzir porque o Estado se comprometeu a não reduzir.
ARF - Disse que precisamos de uma outra economia.
- Precisamos de uma outra economia. Repare, Vendemos vinte e importamos trinta e estes dez de diferença são pagos com empréstimos. A ideia que construir auto-estradas faz crescer a economia. Fazemos essas obras com dinheiro emprestado. É uma ilusão, é um crescimento que não é crescimento. Nós estamos a endividarmo-nos à ordem dos 60 milhões por dia, dois milhões e tal por hora. Isto não tem solução.
ARF - Não tem solução?
- Não. Eu costumo dizer que o melhor ministro das Finanças seria uma senhora porque têm muito mais senso que os homens. Qualquer dona de casa no Ministério das Finanças perceberia ao fim de três meses que não tinha solução. Marido não ganha mais, mulher não ganha mais, todos os meses gastamos mais do que temos, bem isto tem de bater em qualquer sítio. Porque ninguém faz caridade à escala internacional. Ou nós temos juízo e nos metemos no que temos ou temos sarilho.

ND
- Já tivemos uma ministra das Finanças e mesmo assim não resultou.
- Eu preferia uma dona de casa. Porque teria senso comum, que é uma coisa que não existe hoje nos políticos. E porque os políticos estão pouco tempo no poder e não querem saber disso. Porque a seguir virá alguém que vai fechar a porta.
ARF - Sim alguém virá fechar a porta.

- No imediato a nossa solução é vir alguém do estrangeiro dizer-nos que temos de fazer coisas.

ND - Como aconteceu no passado?
- Como aconteceu no passado. No passado os Governos estavam sempre de braços cruzados à espera do FMI. Diziam coisas horríveis do FMI mas era só para fingir, para enganar a malta. Mas é a solução Eu estou ansioso por ver a notícia de que chegou um estrangeiro ao aeroporto da Portela que vem cá dizer o que temos de fazer.
ARF - Porque há falta de coragem política?
- Não. Estão à espera que o odioso fique para o estrangeiro. Isto é clássico.
ND - Quem é que poderá ser esse estrangeiro?
- Isso é-me indiferente. Desde que seja alguém de fora.
ND - Na altura era o FMI. E agora?
- Não sei. A União Europeia, FMI e União Europeia, o Ecofin, não sei. É mandatarem alguém. É a razão pela qual o Salazar chegou ao poder.
ND - Toda a gente está a fazer essa comparação, é curioso.
- Não é curioso, é assim. Quando Salazar desceu a Lisboa já não tínhamos solução. Como não tinham política foram buscá-lo ao Luso e trouxeram-no para Lisboa para consertar o Orçamento.

ARF - Também veio de fora.
- Praticamente foi um estrangeirado que desceu a Lisboa. Nós não temos espírito e rigor para fazer as coisas com seriedade. Político anda a vender-se a toda a hora.
ND - É a história de termos políticos e não termos estadistas?
- Não gosta dessas comparações. Mas acho que nem temos políticos nem estadistas. Temos uma gente que anda na política, o que é diferente.
ARF - O senhor fala em décadas e critica quem anda a olhar para as décimas. Os políticos não percebem o que se passa na economia há décadas?
- Não, não percebem. Porque um governante não olha para décimas. Olha para décadas. Nós desde os anos 80 que podíamos perceber que isto ia acontecer.

ARF
- Não percebem ou não querem perceber?
- Não percebem.
ARF - Não percebem mesmo?
- Não percebem. Porque estão hipotecados ao dia ao dia, ao imediato.

ARF
- Isto leva-nos a esta crise da Madeira, das finanças regionais. O que é que entende desta crise?
- Acho que é uma fantochada da parte do Governo, que não se importa de mandar fazer auto-estradas que custam milhões de milhões e agora prende-se ali por uma linha podre. Da parte da oposição, porque quer dar os seus ares. É tempo perdido. Se forem mais 50 milhões ou 100 milhões é indiferente. No Estado que gasta 85 mil milhões aquilo não tem significado nenhum.
ARF - Andamos nestas crises, os mercados olham para isto tudo, não é uma irresponsabilidade?
- Não sei, o tempo dirá. Mas eu acho que o primeiro-ministro anda a ver se arranja uma crise para provocar eleições e apanhar de costas o PSD.
ARF - Para ter de novo maioria absoluta?
- Sim, eu penso que é isso que está em causa. A retirada perante os professores, perante os tribunais e isso tudo pressupõe esse objectivo.
ND - Esse é o problema dos políticos. A tal falta de visão.
- Ai têm visão a mais. Mas é uma visão rasteira.
ND - É curta?
- É rasteira. O problema em Portugal não é estabilidade política. Nos últimos quinze anos o PS está no Governo treze. E nos últimos sete anos tivemos maiorias absolutas. O que é que aconteceu? Nada. A Educação é a lástima que é, a Justiça é outra lástima, a corrupção é mais que lástima, a burocracia é sempre a mesma lástima, não há lei de arrendamento que sirva, não há nada. E havia estabilidade e maioria absoluta.

ND - Acha que estamos num impasse?
- Em que sentido?
ND - Num impasse de regime, como País?
- Como País sobrevivemos. Até os haitianos vão sobreviver, quanto mais nós. Não vamos morrer.
ND - Não podemos é viver como agora?
- Com esta política e com estes políticos não vamos longe. A primeira coisa que um político sério tem de vir dizer á televisão é a verdade. Para convencer a sociedade do que é preciso fazer. Antes de começar a congelar ou a diminuir seja o que seja temos de convencer as pessoas que outra alternativa é sempre pior. Ora ninguém vem à televisão dizer a verdade. Vemos sempre uns sujeitos a pensar nas palavras. Os palradores.

ARF - O nosso problema não é crise internacional?
- Não. A crise veio antecipar as dificuldades. Sem crise estaríamos nesta situação dentro de dois ou três anos. Nós não nos parecemos com os gregos. De facto os gregos estão pior. Mas nós estamos a caminhar para ser gregos deste ponto de vista. O problema é que não temos forças políticas e gente susceptível de convencer a sociedade das dificuldades e das soluções difíceis que temos de aplicar.
ARF - Não há ninguém?
- Ninguém com legitimidade. Têm andado a enganar toda a gente.
ND - Estes ataques internacionais não pioram a situação?
- Andam por aí a atacar as agências de rating. Pois é. Mas são eles que mandam nos nossos juros.
ARF - A curto e médio prazo não temos solução nenhuma?
- Temos uma solução. É irmos escorregando para a pobreza.

ARF
- Para a pobreza.
- Sim. Se não recompusermos a economia é isso. E a esquerda é a primeira responsável por isso. A esquerda quer é redistribuir e não percebeu que não há riqueza para distribuir. Claro que se podem matar uns ricos, mas mesmo matando-os a todos cada um de nós recebe dez euros.

2 comentários:

luis disse...

É o único que diz a verdade e não tem papas na lingua...
Deve estar quase a ser calado como todos os outros...
Viva a ditadura Socialista !!!!

Doninha disse...

Viva Portugali, o país dos tristes e incompetentes... a ruína está ao virar da esquina! Só temos de agradecer aos gananciosos da politica!

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