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O Senhor Vereador Fernando Serpa trouxe ao conhecimento público um conjunto de informação sobre a situação difícil em que se encontra a “Fábrica do Inglês”, bem como da urgência da sua superação, no interesse do concelho, da educação, da cultura e acrescentamos nós, do Algarve.
A premência que colocou no apelo, através da sua divulgação massiva e no próprio contacto directo, caso a caso, merece uma solidariedade acrescida da sociedade civil, sendo que, o projecto, ele próprio, já reúne condimentos suficientes para a mobilização daquela e as enfermidades económico-financeiras que a ameaçam de morte, emprestam-lhe um colorido dramático que justificam plenamente uma verdadeira “cruzada” de participação por parte de todos os bem intencionados e amigos do Algarve.
Defendendo como defendemos a participação da sociedade civil e atribuindo ao défice de participação da mesma a causa da maior parte dos males deste pais, não podíamos deixar de intervir, pronunciando-nos sobre os dados em presença (reportamo-nos aos constantes das actas daquela reunião e restantes informações publicadas no jornal “Voz de Silves”, nº. 453).
Fazemo-lo ao nosso jeito, inflamado aqui, inflamatório acolá, apesar da solenidade do assunto, informando desde logo que não nos move outro intuito que não seja o de participar, tentando concorrer para a solução com os meios -restritos- ao nosso alcance, sempre sem prejuízo dos valores e princípios por que norteamos a nossa participação neste Sítio.
Numa primeira análise, a transcrição da Reunião Extraordinária de 02-12-09, constitui um documento precioso sobre o estado de espírito dos presentes, o qual muito próximo do “pânico”, evidencia, desde logo, a elevada conta em que têm a Fábrica do Inglês, a importância que lhe atribuem e o elevado risco de colapso em presença, bem como a sintonia dos presentes, apartidária, na sua salvação, mas também a confissão expressa de que acordaram todos um pouco tarde (segundo o Dr. José António Silva esta reunião deveria ter ocorrido há 4/5 meses atrás) e alguns ainda nem sequer se levantaram (registe-se o facto de, uma vez mais, a Vereação não dispor atempadamente de documentação essencial para a preparação de tão importante reunião).
Ainda no decurso de uma primeira análise, a Administração da Fábrica do Inglês, em nosso entender e salvo melhor opinião, não fez o trabalho de casa!
A importância do assunto requereria ter um plano em carteira como competiria aos primeiros interessados – os accionistas-.
Não ter dinheiro ou crédito não é sinonimo de não ter um plano, de não ser diligente e profissional na elaboração de relatórios sintéticos para, atempadamente, serem postos à disposição de todos os presentes numa reunião que se pretendia decisiva para o futuro da empresa e a última instancia de apelo.
De alguma forma pretendeu-se uma decisão por parte de quem não dispunha de informação suficiente para decidir em consciência, o que é sempre um mau princípio quando estamos a falar de uma intervenção que se pretende cirúrgica para um caso de vida ou morte.
O clima de alarme, o apelo ao coração, à nostalgia, ao medo da perca, não nos parecem bons conselheiros, e a manterem-se, não prenunciam, um final feliz!
E muito menos o prenuncia uma súbita caída do tema ao nivel da
"petit caísse" que sustentará três trabalhadores e nas soluções criativas para contornar juridicamente os imperativos legais, tudo para os próximos meses.
Convenhamos que, de uma brevíssima análise, escandalosamente incipiente e genérica da situação complexa que a realidade apresenta, passou-se, abruptamente, para uma detalhada contabilidade para a gestão do curto prazo, da tesouraria, enfim de uma fracção ínfima da realidade, socialmente relevante é certo, mas ainda assim muito relativamente, atentos os números que o desemprego apresenta actualmente.
Sem pôr em causa a boa-fé e as melhores intenções da malograda administração da Fábrica do Inglês, se fossem ocultos os seus intuitos não teriam tido um comportamento muito diverso.
A legitimidade para colocar os pontos nos ii como vimos de fazer, advém do facto da solução cogitada se esgotar no recurso ao Município e ao seu orçamento – aos contribuintes numa palavra – para solver o passivo (astronómico para a realidade concelhia) de uma empresa privada insolvente, a pretexto do seu putativo interesse público.
É pouco, em nosso entender, para vencer os engulhos que o sucesso do empreendimento tem pela frente.
Podemos sempre ir a um Banco pedinchar. Será no entanto sempre melhor propor-lhe um negócio, consistente de preferência.
E, a solução politica que a administração da Fábrica do Inglês, pela forma utilizada, procurou, está “curta nas mangas” ao cidadão-contribuinte, sendo mais típica de um pretendido arranjo (atabalhoado) de bastidores que de uma reunião extraordinária de uma Câmara onde se pretende o concurso forçado do orçamento municipal, isto é, de todos nós, nos tempos e no contexto das aflições, que vivemos.
Por outro lado, numa segunda análise, a diversidade dos pontos de partida deixam-nos alguma perplexidade quanto ao ponto de chegada.
Se o “voluntarismo” do Dr. Fernando Serpa nos parece autêntico, embora refreado pelo peso que a aquisição do imóvel pode representar para o estafado orçamento municipal, no que é seguido de perto pela Dra Lisete Romão, Vereadores do PS, atentos aos sinais que o governo do seu partido vai dando todos os dias acerca das dificuldades na obtenção de receita que sustente a despesa – desmesurada- do OGE, já, por outro lado, a “contenção” positiva do Dr. Rogério Pinto, Vereador do PSD, nos parece voluntarista e tendencialmente ameaçadora do parco orçamento municipal.
Por outro lado ainda a Dra Rosa Palma, Vereadora da CDU, esteve suficientemente presente e suficientemente ausente para se perceber que está solidária com a manutenção dos postos de trabalho dos três trabalhadores e a conservação em funcionamento do Museu da Cortiça – a menina dos olhos – do ex-Vereador Dr. Manuel Ramos, mesmo sabendo, como saberá, que os custos envolvidos, neste particular suficientemente conhecidos, serviriam para criar, sustentadamente, vinte vezes mais postos de trabalho.
O PS cumpre, também aqui, uma vez mais,o seu desígnio histórico de: O entalado!
Postos estes considerandos, importará deixar uma opinião sobre soluções possíveis!
Assim, sinteticamente:
Porque o turismo (o maior gerador de emprego por milhão de dólares investidos)(ainda hoje e talvez cada vez mais o maior exportador nacional) é e continuará a ser um sector de importância vital para a região do Algarve e, de resto, para o Pais.
Porque a oferta turistica, estaremos todos de acordo, não pode prefigurar-se, atento o peso e responsabilidade que apresenta no quadro da nossa economia, resumido ao Sol e Mar que é o que tem sido, pouco mais ou menos, até aqui!
Porque sabemos e é relativamente comum saber-se pelos guias turísticos acerca da falta de produtos para “vender” aos turistas, relativamente “profissionalizados” no consumo de bens da cultura e do património.
E porque pensamos que todo o património existente no Algarve (no Pais) deveria ser reinventariado, bem como as suas carências rigorosamente levantadas e estudado na vertente do seu restauro na óptica conjugada do criterioso respeito pelo seu valor histórico-patrimonial intrínseco e da vocação económica que lhe poderia ser adicionada, tudo em ordem a assegurar que o património gere os recursos necessários à sua manutenção física, à criação e sustentação de emprego ao mesmo inerente, à prossecução da sua finalidade pedagógica, estética, cultural e turística, transformando-os em agentes vivos da preservação da nossa identidade cultural e de divulgação da nossa história e cultura, numa época em que se admitem as limitações à nossa independência, como a ordem natural das coisas, seria de meridiana prudência acautelar através destes meios a preservação física e viva da memória colectiva, contributo insubstituível para a definição da história daquele que foi um dia o território dos Portugueses.
E porque é indiscutível o interesse cultural do Museu da Cortiça, o interesse regional do edifício, activos que bem poderiam beneficiar de uma primeira intervenção da “Fundação ProAlgarve”(de que falaremos adiante) , “socializando-se”(não nas costas do cidadão-contribuinte, mas transparentemente com o seu concurso) os custos neste e nos casos seguintes que carecem de atenção e cuidado ( e são bastantes no Algarve) para que possam contribuir para dar maior sustentabilidade à nossa oferta turística, bastião do futuro colectivo.
Neste contexto, um primeiro passo será conhecer profundamente os circunstancialismos económico-financeiros da situação da Fábrica do Inglês.
De seguida conceber-se um projecto económico de viabilização do empreendimento, credível e sustentável, para o qual concorram todos os benefícios (existentes ) decorrentes do seu estatuto cultural e de Património edificado, bem como os projectos aprovados (desde que devida e esteticamente integrados) para o aparthotel/auditório, cuja implementação poderá ocorrer quer extrajudicialmente quer no âmbito de um processo de insolvência, caso seja insustentável a pressão.
Nesta senda e sabendo que o património existente no Algarve é diminuto, como aliás os recursos por definição o são, e nunca perdendo de vista a abrangência de fins que a preservação e conservação do mesmo enquanto espaços vivos e activos visam, consideramos uma tarefa de interesse regional (e nacional) que deveria ser protagonizada por todos os municípios do Algarve.
Deveria assim promover-se eventualmente a criação de sociedade intermunicipal com todos os municípios do Algarve ou uma Fundação a constituir com todos os municípios do Algarve que pudesse vir desde a sua constituição a beneficiar da lei do Mecenato (como foi o caso do centro cultural de Belém) estimulando-se a participação dos recursos económicos da sociedade civil neste desiderato desde o inicio.
Para tanto sim precisamos de políticos com dimensão e vocacionados para uma acção prospectiva, à luz do dia, que ultrapasse os interesses paroquiais.
Para tanto precisamos de lobbing naturalmente, e de gente determinada e empenhada que agilize os procedimentos administrativos e políticos necessários.
Na certeza de que venha a ser gerido por profissionais competentes, contratados no mercado (nacional ou internacional)e não coio de desempregados da politica ou objecto do pagamento de tributos de vassalagem ou comércio de influências.
Um projecto desta envergadura convencerá os bancos à reestruturação dos créditos de acordo com os programas e sua cronologia.
Por isso um projecto desta envergadura carece mais urgentemente de trabalho e determinação que de dinheiro!
Utopia... dirão os cínicos das soluções do curto prazo, que não são soluções mas, pelo contrário, mais problemas!
A eles respondemos nós cidadãos-contribuintes, curiosamente como os Bancos farão : Apresentem-nos um projecto consistente, sustentado e com uma liderança credível, que nós apoiamos!