O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A Parábola da Divida...

 
“ Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete”.

Foi assim que o Tio Sam respondeu a Mercklozy em relação ao perdão.

§§§

A questão da dívida não era nova.
E, o Tio Sam prosseguiu citando o evangelista S. Mateus – 18;23 e seguintes:
‘23. Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
24. E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
25. E não tendo ele como pagar, o seu Senhor mandou que ele e sua mulher e seus filhos fossem vendidos com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse;
26. Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo e tudo te pagarei.
27. Então o Senhor daquele servo, movido de íntima compaixão soltou-o e perdoou-lhe a dívida’.

“A decisão do Rei”, continuou o Tio Sam “é um acto de piedade; O que quer que tenha determinado o incumprimento não é relevante: pode ter ocorrido uma calamidade ou simplesmente gestão negligente.
Deus perdoa aos arrependidos exigindo aos credores que não se limitem a conceder apenas uma segunda oportunidade.”

Mercklozy ouvia inquieto.

“O perdão de dívidas é um acto de misericórdia mas que prossegue uma lógica equitativa” – sublinhou o Tio Sam que continuou citando o Evangelista:
‘28. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem dinheiros e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
29. Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
30. Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo numa prisão, até que pagasse a dívida.
31. Vendo pois os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu Senhor tudo o que se passara.
32. Então o seu Senhor, chamando-o á sua presença, disse-lhe: servo malvado, perdoei-te toda  aquela dívida, porque me suplicaste;
33. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu tive misericórdia de ti?
34. E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores até que pagasse tudo o que devia’.  

Mercklozy ouviu estupefacto e o Tio Sam continuou:

“Por isso se Deus no Novo Testamento é um Deus misericordioso e imparcial, é também um Deus justo como, aliás, já o era no Antigo Testamento: no capítulo 15 do Deuteronómio - o quinto livro da Torah - estipula-se o princípio do cancelamento das dívidas de sete em sete anos ampliando as normas sabáticas – descanso da terra e libertação de escravos – às actividade de mútuo.
No Levítico, as normas mosaicas vão mesmo mais longe ao determinarem que no 7º ano sabático – o ano do Jublileu -, as terras vendidas durante os 49 anos anteriores deveriam ser devolvidas gratuitamente aos seus anteriores proprietários reflectindo uma preocupação com a estabilidade social num mundo rural onde a assimetria de riqueza poderia comprometer a coesão social indispensável à sobrevivência num universo rodeado de vizinhos hostis.
Na sociedade hebraica as actividades de mútuo eram, pois, estimuladas não servindo para financiar actividades comerciais com fins lucrativos ou elevar padrões de consumo, mas para acudir a situações de emergência económica, como por exemplo, perda de colheitas”, explicou o Tio Sam.

“O cancelamento das dívidas por parte dos credores”, - prosseguiu – “neste contexto é um acto de justiça social, redistribuindo as perdas causadas por calamidades, dos mais afectados para os menos afectados”:

“Portanto” – concluiu o Tio Sam “-quer o perdão das dívidas consagrado no Novo Testamento, quer o seu cancelamento prefigurado no Antigo Testamento, evidenciam um Deus misericordioso mas justo.”


Mercklozy, lívido, quedou-se incrédulo: perdão das dívidas? cancelamento das dívidas?
Parábola?
Alegoria?
Profecia?
Europa?
Portugal?
Quem diria!!...
… Disse!!... lembrando factos com mais de sessenta anos ocorridos na Europa, então em escombros, avisadamente recordados na perspectiva de que, como se diz, “para quem não sabe História, uma pedra é apenas uma pedra…”

Paulo Modesto Pardal in http://paulomodestopardal.blogspot.pt/


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