O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

DIÁLOGO ENTRE COLBERT E MAZARINO DURANTE O REINADO DE LUIS XIV

Cardeal Mazarino*

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

Colbert:
Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino:
Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Colbert**

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo!...Como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.
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Cardeal e primeiro-ministro durante a menoridade de Luís XIV da França nascido em Pescina, reino de Nápoles, conhecido por ter estabelecido a supremacia francesa na Europa com a Paz de Vestfália e consolidar o absolutismo real na França.

Oriundo de uma modesta família siciliana, foi educado por jesuítas, em Roma. Estudou direito canónico na universidade espanhola de Alcalá de Henares, hoje integrada na Universidade de Madrid.

De volta a Roma entrou para o serviço militar do Papa e depois para a diplomacia papal (1628). Assumiu as negociações de paz (1630) com o cardeal Richelieu, durante a guerra de sucessão de Mântua, e evitou que os exércitos francês e espanhol se enfrentassem em Casales de Montferrat. A Santa-Sé nomeou-o vice-legado de Urbano VIII em Avignon.

Foi, por algum tempo, núncio extraordinário em Paris, até que Richelieu o convocou para o serviço de Luís XIII. Gozando então de grande prestígio junto de Richelieu e Luís XIII, obtendo a nacionalidade francesa (1639) foi nomeado cardeal (1641), sem nunca ter sido ordenado padre. Foi nomeado sucessor de Richelieu após sua morte e, após a morte de Luís XIII (1643), primeiro-ministro pela regente Ana d'Áustria.

Internamente submeteu os nobres à autoridade da monarquia, porém teve que sufocar várias revoltas quando aumentou os impostos para cobrir os gastos da guerra dos trinta anos. Com as brilhantes vitórias nessa guerra, assinou em condições vantajosas a paz de Vestfália (1648), o que converteu a França na primeira potência europeia.

A pressão dos impostos favoreceu um novo e generalizado levantamento da nobreza e do povo pelo país, obrigando-o a fugir de França(1651).

Luís XIV no entanto conseguiu controlar a situação e restaurou o seu ministério (1653). Formou a Liga do Reno contra a Áustria e, com a ajuda da Inglaterra, à qual entregou Dunquerque. Venceu a Espanha e impôs-lhe(1659) o Tratado dos Pirinéus o qual concedeu à França: Artois, Cerdagne e Roussillone. Responsabilizou-se pela educação de Luís XIV, seu afilhado, e promoveu o casamento do herdeiro do trono com a infanta Maria Teresa, além de assinar a paz no norte da Europa através dos tratados de Copenhague, Oliva e Kardis, tendo falecido, riquíssimo, dois anos depois, em Vincennes, França.

Quando morreu, segundo seus biógrafos, teria concretizado grande parte dos objetivos propostos por Richelieu: a modernização do Estado e a transformação da França em primeira potência da Europa, a restauração do absolutismo, a subjugação da nobreza, além de concretizar o declínio dos Habsburgo que governavam a Espanha, a Áustria e os Países Baixos.

Criou a imprensa real, a construiu um Jardim Botânico, fundou a Academia Francesa de Letras.

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Em 1651 é apresentado ao Cardeal Mazarino que o contrata para gerir a sua vasta fortuna pessoal. Antes de morrer, em 1661, Mazarino recomendou Colbert ao rei Luis XIV de França, salientando as suas qualidades de dedicado trabalhador. Nesse mesmo ano o rei fez de Colbert ministro de Estado e, em 1664, atribui-lhe o cargo de superintendente das construções, artes e manufacturas e ainda o de intendente das Finanças.

Colbert desenvolveu todos os esforços para arruinar junto do rei a reputação de Nicolas Fouquet, o superintendente-geral das Finanças que tinha acumulado fortuna por meios fraudulentos; Colbert tornou-se controlador geral das Finanças (1665). Viria ainda a desempenhar as funções de secretário de Estado na Marinha e na Casa Real (1669).

Como ministro de Luís XIV, Colbert quis tornar a França a nação mais rica da Europa, e para isso implantou o mercantilismo industrial, incentivando a produção de manufacturas de luxo visando a exportação.

Favoreceu o comércio, protegeu as ciências, as letras e as artes. Em 1663, fundou a Academia das Inscrições e belas letras. Também favoreceu a pesquisa com a criação da Academia de Ciências (1666), o Observatoire de Paris (1667 e da Academia de Arquitetura(1671).

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