O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sábado, 19 de setembro de 2015
Fortaleza de Armação de Pêra, por Vera Gonçalves, in "Terra Ruiva"
A Vila de Armação de Pêra, com 4867 habitantes (Censos de 2011), fica situada na foz da ribeira de Alcantarilha.
A primeira referência escrita conhecida remonta a 1577, na obra "Corografia do reino do Algarve", de Frei João de São José : «Pera é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar. [...]. Faz o mar defronte dela ua fermosa praia da banda do sul, na qual está ua armação de atuns que se chama a armação de Pera.»
Como o próprio nome sugere, a origem de Armação de Pera prende-se com a existência de armações de pesca do atum, perto da Baía de Pera, fixando-se aí uma pequena comunidade de pescadores, oriundos de Pera e Alcantarilha.
Devido à sua localização, junto à costa, a comunidade vivia em permanente insegurança, exposta aos frequentes assaltos e desembarques dos piratas magrebinos, vindos do Norte de África, que saqueavam as armações de pesca e as populações.
Para uma melhor defesa do local e proteção dos habitantes era necessário dispor de uma fortaleza ou forte. É neste contexto que surge a Fortaleza de Armação de Pera ou Forte de Santo António da Pedra da Galé, como, também, era conhecido.
Muito pouco se sabe acerca desta fortificação. Alguns autores defendem que foi edificado ao longo de três fases fundamentais. A primeira data apontada para a sua construção é a de 1571, remontando ao tempo de D. João III, período durante o qual se construíram muitas das fortalezas costeiras do Algarve.
Outros autores defendem que, durante o século XVII a família de apelido Galego, de origem andaluza e residente na freguesia de Pera, que se notabilizou na luta contra a pirataria que assolava a costa, será a responsável pela iniciativa da construção da fortaleza com o propósito de proteger as suas armações. A fortaleza foi governada, de 1660 a 1723, por três gerações pertencentes a esta família Galego, avô, filho e neto, todos de nome João Galego.
A segunda fase apontada como a de construção da fortaleza data dos anos de 1660-1667, praticamente um século depois. A sustentar esta teoria encontra-se, na fachada Norte, um pórtico de arco de volta perfeita (que serve de entrada para a fortaleza), coroado pela Pedra de Armas, e por baixo do escudo real acha-se gravada a data de 1667, que, presumivelmente, indica a conclusão das obras de construção deste monumento.
A outra fase data do reinado de D. João V, por volta de 1720, altura em que foi erguida uma pequena capela no recinto fortificado, a Capela de Santo António, em evocação ao padroeiro do forte, também conhecida como Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, numa clara alusão à proteção das populações piscatórias.
Esta capela é um modesto templo de nave única e planta retangular. Desprovida de rasgos decorativos assinaláveis a pequena igreja tem uma forte importância religiosa.
O terramoto de 1 de novembro de 1755 provocou uma enorme devastação em Armação de Pera sobretudo devido ao maremoto que instigou enormes estragos na fortaleza, que foi reconstruida prontamente.
A Fortaleza de Armação de Pera é um imóvel de arquitetura militar, fortificação de estilo abaluartada, construída em alvenaria de pedra, argamassa de consolidação e reboco, sobre a falésia. A Sul, sobre a areia da praia, implanta-se um muro irregular, levemente facetado, que é a plataforma da artilharia, orientada ao mar, cuja configuração define uma pouco pronunciada estrela de cinco pontas.
Ao abrigo da defesa proporcionada pelo forte, Armação de Pera deixa, a pouco e pouco, de ser um aglomerado de cabanas para se transformar numa aldeia de casas de alvenaria, com edificação de alguns chalés de bom gosto arquitetónico.
Além desta designação, a Fortaleza e a aldeia tiveram vários nomes como Pêra de Baixo, Armação de Baixo, Pêra da Armação, Santo António da Pedra da Galé e Santo António de Pêra.
Em 1841, Armação de Pêra surge já como um destino balnear "pois concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos de mar".
A 10 de abril de 1933, a aldeia de Armação de Pera é desanexada da freguesia de Alcantarilha e elevada a sede de freguesia. Cinquenta e oito anos depois, a 16 de agosto de 1991, é promovida à categoria de vila.
Em 1923, dá-se a criação da Comissão de Iniciativa e Turismo de Armação de Pera, (mais tarde Junta de Turismo de Armação de Pera, extinta em 1970 com a criação da Região de Turismo do Algarve). Com o turismo Armação de Pera beneficia de um desenvolvimento considerável, reconhecida como uma das melhores estâncias balneares do algarve, e a velha fortaleza torna-se ainda mais um símbolo da localidade.
O logradoiro público da Fortaleza esteve, entre 20 de março de 1940 e 17 de julho de 1958 (data que passou para a Direção Geral da Fazenda Pública) ao cuidado do Comando Geral da Guarda Fiscal. Em 1970, o mesmo Comando Geral volta a solicitar essa jurisdição. Esta cedência foi-lhe concedida, servindo de posto à Guarda Fiscal o edifício retangular de um só piso, que se encontra no interior do recinto.
Em junho de 1973 "foi determinada a classificação como imóvel de interesse público da Fortaleza de Armação de Pera". No entanto, só em 1975 se iniciou o processo da sua classificação.
A Fortaleza de Armação de Pera é classificada como imóvel de interesse público, a de 12 de setembro de 1978.
A Fortaleza de Armação, construída à beira mar, sobre o areal da praia, para defesa da costa, é um imóvel de grande importância para a história de Armação de Pera e símbolo desta vila, que nasceu à volta da mesma. Na verdade ela constitui o núcleo genético do aglomerado urbano, e é nos nossos dias um dos miradouros mais concorridos e apreciados do litoral algarvio.
Bibliografia
COSTA, Alexandre, et al., 1755 - Terramoto no Algarve, Centro Ciência Viva do Algarve, Faro, 2005
IANTT (1758) Dicionário Geográfico de Portugal, Freguesia de Alcantarilha [PT/TT/MPRQ/1/81]
MAGALHÃES, Natércia, Algarve - Castelos, Cercas e Fortalezas (As Muralhas como Património Histórico), Letras Várias, 1.ª edição, Faro, 2008
Autor: Vera Gonçalves
In Terra Ruiva de 25/6/2015
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário