O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Necessidade/ Solidariedade: Um acto de comércio como outro qualquer!

Em Inglaterra, a cadeia de supermercados Waitrose, oferece uma moeda (uma chapa) a cada cliente que faz compras acima dum determinado valor.
O cliente, à saída, tem, normalmente, três caixas, cada uma em nome duma instituição social sediada no município, para receber as referidas moedas, de acordo com a opção do cliente.

Periodicamente, são contadas as moedas de cada caixa e a empresa entrega em dinheiro, à respectiva instituição, o valor correspondente, donativo esse que, diminui os seus lucros mas, também, tem o devido tratamento em termos de fiscalidade.

Em Portugal, as campanhas de solidariedade custam ao doador uma parte para a instituição, outra parte para o Estado e mais uma boa parte para a empresa que está a “operacionalizar” (?!...) a acção.

Um país de espertos... até a ajuda aos mais necessitados não escapa.
Entretanto nós ficamos quietos e calados, ou então, estupidificamos voluntariamente...
Triste, muito triste, mas é bom saber...

Leiam s.f.f. e repassem.

Programa de luta contra a fome. Nada é o que parece.

Ora vejamos:

Decorreu num destes fins de semana mais uma ação, louvável, do programa da luta contra a fome mas,....atentem no seguinte e façam o vosso juízo!

A recolha em hipermercados, segundo os telejornais, atingiu cerca de 2.644 toneladas! Ou seja 2.644.000 Kilos.

Se cada pessoa adquiriu no hipermercado 1 produto com vista à doação e lhe custou, digamos, 0.50 € (cinquenta cêntimos), faça a seguinte conta:

-2.644.000 kg x 0,50 € dá 1.322.000,00 € (Um milhão, trezentos e vinte e dois mil euros), total pago, à vista, nas caixas dos hipermercados.

Conclusões:

a) Este “excesso” de consumo não ocorreria sem a campanha; Daí que constitua, pelo dito “excesso”, sempre um “bom negocio” para os supermercados.

b) Sem este consumo, exclusivamente motivado pelo binómio: necessidade/solidariedade, o Estado não auferiria o respectivo IVA daquelas transações “a mais”, assim como o IRC gerado nas contas dos supermercados, uma vez que, tal aumento de facturação, influencia obviamente o seu resultado anual, na medida do lucro liquido respectivo.

c) Mas...quanto auferiram, “à priori” o Estado e os Supermercados?

1. o Estado, pelo menos: 304.000,00 € (23% iva),acrescendo o IRC(?);

2. o Hipermercado, brutos: 396.600,00 € (margem de lucro de cerca de 30%).

3. Ora :1.+2.= €700.000,00 (setecentos mil euros).

Recorde-se que o volume do “negocio” motivado pela necessidade versus solidariedade, que as péssimas condições económicas dos destinatários ocasionam, foi de: €1.322.000,00 (Um milhão, trezentos e vinte e dois mil euros), logo:

Mais de 50% daquilo que você dá aos necessitados (mais precisamente: 52,95%) fica-se pelo Estado e Hipermercados...

Poucos reparam, tal como eu, em quem mais, comprovadamente, engorda com estas campanhas...

A ação da recolha e os milhares de voluntários que realizaram esta tarefa, são dignos da maior consideração social. Por parte de qualquer cidadão e não menos por parte do Estado! Mas que Estado?

O legislador (assembleia da República e, ou, Governo) (mandatário do cidadão-eleitor que lhe paga o salário) continua deslealmente distraído porquanto, face a tamanho desmando, apesar da sua estrutural verborreia legislativa, mantem uma lei do Mecenato cujo contributo é absolutamente inexistente, quando se lhe impunha ocupar-se da realidade que a todos entra pelos olhos adentro, concedendo ao binómio necessidade/solidariedade, os benefícios fiscais adequados ao mesmo, não o fazendo, ao serviço do confisco e seus apaniguados, num estado de direito formal, materialmente amputado, no seio do qual, cada vez com mais frequência, vai valendo tudo...

Na verdade, enquanto o Estado Social vai definhando, o Estado Cobrador de Impostos que o neoliberalismo vai impondo, conserva-se insensível às movimentações sociais de solidariedade promovidas pela iniciativa privada, típicas dos estados liberais, que pretende ser, na busca, pela via do absurdo, de soluções sociais de um “tipo novo” absolutamente invisíveis aos olhos dos mais atentos observadores e historiadores.

Na senda da receita e do negócio à boleia da necessidade/solidariedade do povo é útil voltar a recordar a catástrofe da Madeira – exemplo das circunstâncias especialmente propícias à verificação, destas mais valias - pela via da desgraça alheia, sendo sempre bom não esquecer:

- Porque é que os madeirenses, receberam apenas dois milhões de euros (2.000.000,00) da solidariedade nacional, quando o que foi doado foram dois milhões e 880 mil euros (2.880.000,00)?

Querem saber para onde foi esta "pequena" parcela de 880.000,00 € ???

A campanha a favor das vítimas do temporal na Madeira, através de chamadas telefónicas constituiu um atentado à solidariedade e um insulto à necessidade que a determina.

Pelas televisões, a promoção rezava assim: Preço da chamada 0,60 € + IVA.

Perfazendo 0,72 € no total.

O que dolosamente não se disse, é que o donativo que chegou (!!!) ao beneficiário madeirense foi de apenas 0,50 €.

Assim, oferecemos 0,50 € a quem carece da solidariedade, mas cobram-nos 0,72 €, mais 0,22 €, ou seja, 30%.

Quem beneficiou com esta diferença?

1º - a PT com 0,10 € (17%), isto é, a diferença dos 50 para os 60.
2º - o Estado com 0,12 € (20%), referente ao IVA sobre 0,60 €.

Através duma campanha de solidariedade motivada por uma catástrofe - as chamadas/doação - a PT manteve a sua margem de lucro, como se nada de socialmente relevante se passasse e o Estado, pela via do IVA, encaixou cirurgicamente a sua receita, fazendo vista grossa sobre a solidariedade efectiva como se duma chamada telefónica se tratasse, o que, convenhamos, constitui uma evidência inquestionável sobre a natureza da moral oficial e a sensibilidade dos colectores de impostos e da lei que os move e enquadra.

Ora, a RTP anunciou, com imensa satisfação, que o montante doado atingiu os 2.000.000,00 €.

Esqueceu-se, sintomaticamente, de informar que o povo solidário suportou mais 44%, ou seja, mais 880.000,00 €, repartidos entre a PT (400.000,00 €) e o Estado (480.000,00 €).

Assim, enquanto a PT, manteve a sua margem de lucro de 17%, num puro acto de solidariedade, o Estado, fez incidir o IVA, sobre um produto da mais pura generosidade, como se de um acto comercial se tratasse!!!

TRATAR A SOLIDARIEDADE COMO UM ACTO DE COMÉRCIO É UMA IMORALIDADE TOTALMENTE INACEITÁVEL E INDIGNA DE UM ESTADO DE DIREITO EM CONFESSADO ESTADO DE NECESSIDADE.

PARA ALÉM DE UM TRISTE ESBULHO À BOLSA DOS CIDADÃOS, CONSTITUI UMA AVILTANTE E PERIGOSA AMEAÇA Á SOLIDARIEDADE DO POVO PORTUGUÊS, o único activo de muitos de nós!


É dever de qualquer um de nós: DENUNCIAR!

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