O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.

sábado, 27 de outubro de 2012

Até nos restarem duas cabeças de sardinha para saciar uma mãe de família, ainda falta muita crise...Descansem que o Gaspassos disso se vai encarregar!


Há dias, um amigo que conta pouco mais de sessenta anos, a propósito da crise e da pressão e carga fiscais, narrava um episódio da sua vida remota, o qual, fazendo parte integrante de si jamais pôde deixar de revisitar amiúde, embora nunca tenha partilhado para além do circulo restrito da sua família.

Ainda aí, quando o fazia, visava, não propriamente antever e muito menos augurar, o retorno às condições económicas precárias da sua primeira década de existência, mas deixar nota aos seus filhos da enormidade do caminho percorrido atendendo à distancia a que o seu núcleo familiar se encontrava de tal espectro.

Naturalmente que, invariavelmente com orgulho evidente, mas jamais exuberante...

Face àquela mesma distância a que se encontravam todos, a invocação esporádica daquele espectro da sua origem foi perdendo qualquer interesse pedagógico porquanto ganhou uma patine de “conto de fadas”, absolutamente irreal e já visivelmente fastidiante para os destinatários da sua tribo.

Recordou o protagonista que, nesses anos, seu pai tinha trabalho esporádica e precariamente. A vida em Portugal não era fácil e no Alentejo ainda menos.

Um dia, durante o salazarismo, na sequência da criação de um imposto novo [talvez o imposto profissional(?)] um agente do fisco terá procurado o seu pai para que o mesmo pagasse o referido imposto, o qual teria sido liquidado em 16$00 (dezasseis escudos).
O seu pai que só tinha biscates de quando em vez, disse que não o pagaria, primeiro porque não tinha emprego certo, depois porque não tinha esses dezasseis escudos para lhe dar.

O agente do fisco não conformado pretendeu penhorar a mesa de refeições da família já que mais não viu naquela casa que pudesse ser objecto de penhora.
A mesa de refeições foi habilmente construída pelo seu pai, a partir de umas tábuas de caixotes abandonados, recolhidas ao longo de algum tempo, estruturadas por pregos velhos, endireitados (recuperados)para servirem tal propósito.
Nem sequer se tratava de um móvel que pudesse ser representante de um qualquer estilo com valor num mercado que há época não existia.

Não se recordava com nitidez de como tinha acabado a estória porquanto sabia que a mesa tinha continuado a dar à família a serventia para que tinha sido construída, sabendo no entanto que os dezasseis escudos do tal imposto não foram pagos, já que, realmente, não existiam.

De facto, melhor dito, não recordo eu como acabou a estória porque a conversa caiu rapidamente da mesa para as refeições e nelas ficámos porquanto, em factos elucidativos sobre a economia durante a sua infância, eram bem mais abundantes !


As refeições, invariavelmente pão na forma de açorda, algumas vezes com um outro ingrediente disponível.

Dia de festa era aquele onde havia uma ou duas sardinhas.
Três filhos, pai e mãe que guardava para si as cabeças (das duas sardinhas) para poder privilegiar cada um dos filhos e o marido com um lombo das mesmas!

O Portugal de então, pelos vistos, não tão distante quanto isso, pela mão destes gestores da crise – o governo – teima em voltar!

E, convenhamos que, até nos restarem duas cabeças de sardinha para saciar uma mãe de família, ainda falta muita crise.

Acontece é que, no que à metamorfose da crise diz respeito, a velocidade a que se atinge a profundeza da mesma, aumenta para o dobro por cada metro que se percorre no sentido da descida. Pelo contrário, a velocidade a que se sai da crise no sentido ascendente reduz-se para metade por cada metro que se percorre no sentido da saída.

Infelizmente, esta realidade que ainda está presente na memória do mais comum dos portugueses com sessenta ou mais anos de idade, não faz parte do curriculum escolar dos portugueses que nos governam, nem pela via da aprendizagem que, claramente, alguma vez tenham tido por experiência vivida.

Estes senhores, pela incapacidade evidente de avaliarem a situação, pela inconsistência das soluções que defendem e pela patente inconsequência das medidas empreendidas, são, com o poder de que dispõem, pessoas perigosas.

E os destinos de Portugal não pode estar entregue a pessoas perigosas. Disso não temos qualquer dúvida!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda vão dar valor aos pescadores.

Correio para:

Armação de Pêra em Revista

Visite as Grutas

Visite as Grutas
Património Natural

Algarve