Armação de Pêra 1944, uma visão ingénua mas naturalista...
ARMAÇÃO DE PERA
Sensivelmente a meio da orla da costa algarvia, a praia de Armação de Pera constitue, por isso mesmo, marca obrigatória no roteiro turístico da província.
Não pertence, pode dizer-se a nenhuma das zonas em que o litoral do Algarve se divide – barlavento e sotavento. E, como a virtude está no meio, basta-lhe a posição natural para a distinguir, como estância balnear, de todas as suas congéneres.
Nela se misturam, harmonicamente, a areia e a rocha, o sol e a sombra, a duna e a planura. A alvura do amontuado urbano, preguiçosamente debruçada sobre o mar, não se esconde surrateiramente nas curvas dos rochedos, como sucede a outros amontuados algarvios da costa. Cresce na planura e nele estende os mimosos braços, mostrando-se, ao peregrino, clara e limpa, na sua graciosa modéstia…
A escarpa, a ocidente, abruptae gigante, de recorte majestoso e altaneio, é soberbo pormenor da paisagem do conjunto. Materializou-se ali em alto e compacto miradouro e destinou-se, talvez, a deslumbrar os olhos do viajante aventureiro através do oiro do areal que se estende para leste, na distância…
Se não fora o arranjo caprichoso da perspectiva – a própria alma da praia – poucos se disporiam a procurá-la. As suas excepcionais condições naturais diminuem consideravelmente – se é que não eliminam por completo – algumas deficiências que se lhe notam e são apenas da responsabilidade dos homens. A luminosidade dos poentes, única nêste recanto do litoral, vibrando na retina até noite alta, relega para segundo plano a falta de luz artificial…A brancura fresca do mar chega a matar a sêde.
Mas as condições de vida da praia, hoje algo diferentes das de tempos que ainda não vão longe, estão em via de melhorar bastante.
Está em construção um ramal de estradas que há-de ligar a povoação à visinha freguesia de Porches e projecta-se a construção de uma pensão modelar, a expensas de um grupo de amigos da praia. O resto surgirá, como corolário.
Parece-nos, assim, que um futuro melhor está reservado a Armação de Pera, praia que, mesmo nas actuais circunstâncias, é das mais concorridas do Algarve.
Moura Lopes
O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
sábado, 23 de dezembro de 2006
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4 comentários:
Apesar da ingenuidade caracteristica da época e de um texto desta natureza, é de notar a referência a "algumas dediciências que se lhe notam e são apenas responsabilidade dos homens.", deixando expresso que apesar da insipiência da acção do homem nesta data, já era evidente para o autor que a mesma ficava àquem das expectativas que a beleza natural da Baía e o lugar geravam e mereciam.O mal vem de muito longe!
Não conhecia autor, nem texto! Belos tempos em que o betão e os interesses particulares, em detrimento dos públicos, ainda não tinham "estragado" Armação de Pera!
O arranjo do espaço exterior desta zona foi um bom exemplo como se podia desenvolver o turismo criando espaços de lazer de forma sustentada.
Estou muito desiludida com o que vem acontecendo ao mini-golfe e ao seu espaço envolvente de alguns anos a esta parte.
Bendito Alvarinho que mantinha num briquinho estes e outros espaços verdes (poucos) em Armação.
Este homem silples merecia uma homenagem.
Curioso o optimismo com que o texto acaba.Mal sabia o autor no que isto viria a dar.
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