O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Republicação de “OS NATAIS DA MINHA INFÂNCIA por Luis Patrício”
Dado
o inequivoco interesse para a história dos anos 50 e 60 da nossa Vila,
publicamos para memória futura, o relato do protagonista Luis Patricio, que nos
fizeram chegar os Amigos de Armação de Pêra.
O dia de hoje, com o auxilio da memória e a leitura deste texto, poderá ganhar um significado acrescido de afecto e solidariedade, renovados à imagem de um passado humanamente mais salutar, do qual se nos impõe aproximar...
O dia de hoje, com o auxilio da memória e a leitura deste texto, poderá ganhar um significado acrescido de afecto e solidariedade, renovados à imagem de um passado humanamente mais salutar, do qual se nos impõe aproximar...
A quadra natalícia em Armação de Pêra
nos anos 50 e 60 do século passado e os acontecimentos a ela associados, eram
bem diferentes dos eventos e festejos de Natal actuais.
Mas eram muito solidários, humildes e sobretudo humanos.
O consumismo não fazia parte dos hábitos nem era economicamente comportável para a maioria dos habitantes desta pequena povoação (na altura).
Lembro-me de ver os meus pais partilharem com os familiares e amigos mais chegados, pequenas ofertas solidárias, dos produtos que colhiam na sua actividade de pequenos agricultores; como feijão, grão, azeite, figos, amêndoas, animais de capoeira e até carne de porco, quando havia matança.
Os que desenvolviam a sua actividade no mar, retribuíam com peixe seco e salgado, em caso de bom tempo, até com peixe fresco. Outros, em melhores situações de vida, presenteavam com frutas, bacalhau, bebidas de produção própria e do mais que as suas actividades e posses o permitissem. A miséria e a fome eram amenizadas, solidariamente e sem caridadezinha.
Não havia o hábito da celebração da consoada, as mulheres trabalhavam até tarde na confecção dos pastéis de massa tenra, das filhós e de outras iguarias para o dia de Natal, algumas famílias celebravam com uma pequena refeição a que designavam por “fazer a meia-noite”. A missa do galo não era nesse tempo celebrada em Armação de Pêra, porque não tínhamos igreja nem pároco, só em Alcantarilha é que era possível assistir à missa da meia-noite.
Para nós, os mais pequenos, vivíamos em euforia na esperança que o Menino Jesus se lembrasse de nós e do nosso sapatinho posto no fogão (ou lareira, para quem tinha) na noite de 24, não havia Pai Natal e sabíamos que eram os nossos pais que nos presenteavam, mas o espírito de curiosidade e o desejo de ter coisas novas para estrear no dia de Natal, deixava-nos excitados e éramos sempre os primeiros a sair da cama no dia seguinte. As prendas, eram mais ou menos comuns; um coelhinho de chocolate, meia dúzia de rebuçados, uma laranja, alguns figos torrados, umas meias ou cuecas e sobretudo a camisola de tricôt que a mãe fez durante meses e que será para estrear no dia de Natal.
O dia de Natal, era o ponto alto das festividades natalícias, para além da junção da família à mesa na degustação do galo, do peru ou do peixe seco demolhado e sobretudo no consumo das guloseimas que as nossas mães se tinham esmerado na véspera.
O mais o mais importante era ir visitar os presépios, e havia-os lindos! Feitos com arte e criatividade; o da Casa dos Pescadores feito pelas raparigas dos bordados. O da Dona Bia d’Gene, ou Dona Maria d’Eugénio na sua loja de roupas ao cimo da ladeira, casa que conhecia bem, porque o meu pai pela altura do Carnaval ia lá podar as parreiras e as roseiras. O presépio da “Preferida”, loja do Sr. João Roque e da Dona Cleunice, casal com sensibilidade e espírito artístico extraordinário. O presépio da nossa Escola Primária, no primeiro andar da Pensão Central, em que todos participávamos, uns na apanha do musgo e de arbustos decorativos, outros na confecção de bonequitos de barro e artefactos para o seu embelezamento, desde as estrelas até aos santinhos recortados dos postais de Natal, para além das cartas e postais com o desejos e sonhos de cada um. O presépio do Sr. Manuel Franco, era imponente! Enchia uma casa, ficava embevecido a admirá-lo, feito com tão bom gosto e criatividade, parecia um sonho.
E por último o presépio do Sr. Sargento Vitorino, era o mais distante mas o que maiores sensações de agrado e de espanto nos causava, não só pela minúcia dos seus pormenores, mas sobretudo pelas engenhocas, movimentos mecânicos e efeitos luminosos em que ele era mestre, que nos punha a sonhar e a imaginar como deveria ser a vida real numa aldeia da Galileia.
Com os desejos de um bom Natal.
Luís Ricardo
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História da Vila
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
domingo, 21 de dezembro de 2014
sábado, 20 de dezembro de 2014
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Mais um mergulho pela solidariedade!
Solidariedade, companheirismo e muita, muita alegria, são os requisitos da ação «um mergulho por sapatos», que o Holiday Inn Algarve, em Armação de Pera, realiza todos os anos no dia de Natal e Ano Novo. O hotel desfia os residentes da zona e turistas, para um mergulho na praia de Armação de Pera pelos sapatos. Esta campanha de solidariedade pretende ajudar A Gaivota, da Santa Casa da Misericórdia em Albufeira, a adquirir sapatos para todas as crianças. O objetivo é que todas iniciem um ano novo com sapatos novos.
Basta aparecer na praia de Armação de Pêra em frente ao hotel, às 11 horas, nos dias, 25 de dezembro e 1 de janeiro, com uma toalha.
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Solidariedade
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
O PROFESSOR MARCELO NÃO VAI PASSAR O FIM DO ANO AO BRASIL... "Vêm para Armação de Pera"...
Nas suas homílias dominicais, Marcelo Rebelo de Sousa disserta com profunda sabedoria e total independência sobre este, aquele e o outro; e sobre isto, aquilo e aqueloutro. No passado fim-de-semana resolveu voltar a perorar sobre o caso BES e escolheu como alvo José Maria Ricciardi. Saiu-se mal.
O mais importante não é o desmentido de Ricciardi às duas afirmações taxativas de Marcelo: que o BESI (a que Ricciardi presidia) avalizou a emissão e colocação de papel comercial do GES e que o banqueiro não se afastou do conselho de administração do BES nem de administrador da ESI quando constatou que havia sérios problemas que se estavam a verificar nestas entidades e após ter entrado em rutura com Ricardo Salgado. Marcelo, ao contrário da aura que muitos lhe atribuem, engana-se com frequência sobre assuntos que não domina, em particular os económicos, fazendo com grande leveza afirmações mais próprias das revistas de coração sopradas pelos seus amigos mais chegados, sem dar oportunidade aos atingidos de fornecerem a sua versão. É, por isso, mais que provável que nos dois casos em apreço seja Ricciardi a ter razão.
Uma coisa é muito provável: o Professor Marcelo este ano não vai passar o fim do ano ao Brasil a casa do dr. Salgado e provavelmente no próximo Verão também não vai fazer um lindo cruzeiro pelo Mediterrâneo com a família Salgado
O que é manifestamente interessante é a farpa que o banqueiro lhe atira, a propósito das «habituais e luxuosas férias de fim do ano na mansão» de Ricardo Salgado à beira-mar no Brasil, coisa que era desconhecida da generalidade da opinião pública e que devia levar Marcelo a ser mais ponderado nas posições que toma no caso BES – ou a não tomar, como é o caso de Miguel Sousa Tavares, que por ter uma filha casada com o filho de Salgado evita dissertar sobre o tema. Marcelo não só não diz nada sobre as férias no Brasil, como não diz sobre as férias no Mediterrâneo num barco alugado por Ricardo Salgado, como não diz que a sua mulher trabalhava há muito diretamente com Salgado. Mas entretanto não se coibiu de ir perorando e perorando e perorando sobre o caso BES, criticando este, aquele e aqueloutro, mas tendo sempre um enorme cuidado nas palavras que escolhe para dirigir a Ricardo Salgado.
Já agora, se o Professor Marcelo é incontinente verbal, devia ser a TVI, que tem responsabilidades editoriais, a sugerir-lhe que não abordasse a questão do BES nos seus comentários dominicais, dando aos espetadores uma explicação sobre essa decisão. Mas nem o Professor Marcelo se cala, nem a TVI evita o tema.
Uma coisa é muito provável: o Professor Marcelo este ano não vai passar o fim do ano ao Brasil a casa do dr. Salgado e provavelmente no próximo Verão também não vai fazer um lindo cruzeiro pelo Mediterrâneo com a família Salgado. Estas implosões de bancos e grupos a que se está ligado por múltiplas cumplicidades são muito maçadoras.
Nicolau Santos, Expresso Diário, 15/12/2014
O mais importante não é o desmentido de Ricciardi às duas afirmações taxativas de Marcelo: que o BESI (a que Ricciardi presidia) avalizou a emissão e colocação de papel comercial do GES e que o banqueiro não se afastou do conselho de administração do BES nem de administrador da ESI quando constatou que havia sérios problemas que se estavam a verificar nestas entidades e após ter entrado em rutura com Ricardo Salgado. Marcelo, ao contrário da aura que muitos lhe atribuem, engana-se com frequência sobre assuntos que não domina, em particular os económicos, fazendo com grande leveza afirmações mais próprias das revistas de coração sopradas pelos seus amigos mais chegados, sem dar oportunidade aos atingidos de fornecerem a sua versão. É, por isso, mais que provável que nos dois casos em apreço seja Ricciardi a ter razão.
Uma coisa é muito provável: o Professor Marcelo este ano não vai passar o fim do ano ao Brasil a casa do dr. Salgado e provavelmente no próximo Verão também não vai fazer um lindo cruzeiro pelo Mediterrâneo com a família Salgado
O que é manifestamente interessante é a farpa que o banqueiro lhe atira, a propósito das «habituais e luxuosas férias de fim do ano na mansão» de Ricardo Salgado à beira-mar no Brasil, coisa que era desconhecida da generalidade da opinião pública e que devia levar Marcelo a ser mais ponderado nas posições que toma no caso BES – ou a não tomar, como é o caso de Miguel Sousa Tavares, que por ter uma filha casada com o filho de Salgado evita dissertar sobre o tema. Marcelo não só não diz nada sobre as férias no Brasil, como não diz sobre as férias no Mediterrâneo num barco alugado por Ricardo Salgado, como não diz que a sua mulher trabalhava há muito diretamente com Salgado. Mas entretanto não se coibiu de ir perorando e perorando e perorando sobre o caso BES, criticando este, aquele e aqueloutro, mas tendo sempre um enorme cuidado nas palavras que escolhe para dirigir a Ricardo Salgado.
Já agora, se o Professor Marcelo é incontinente verbal, devia ser a TVI, que tem responsabilidades editoriais, a sugerir-lhe que não abordasse a questão do BES nos seus comentários dominicais, dando aos espetadores uma explicação sobre essa decisão. Mas nem o Professor Marcelo se cala, nem a TVI evita o tema.
Uma coisa é muito provável: o Professor Marcelo este ano não vai passar o fim do ano ao Brasil a casa do dr. Salgado e provavelmente no próximo Verão também não vai fazer um lindo cruzeiro pelo Mediterrâneo com a família Salgado. Estas implosões de bancos e grupos a que se está ligado por múltiplas cumplicidades são muito maçadoras.
Nicolau Santos, Expresso Diário, 15/12/2014
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domingo, 14 de dezembro de 2014
A MAIOR LAVANDARIA DE DINHEIRO DO MUNDO AMEAÇA FALIR !
Os belos bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes.
Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo.
Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço.
O ataque veio dos Estados Unidos, em acordo com o presidente Obama.
O primeiro tiro de advertência foi dado na quarta-feira.
A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco.
O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos.
Os suíços, então, passaram os nomes.
E a vida bancária foi retomada tranquilamente.
Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado.
Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!
O banco protestou.
A Suíça está temerosa.
O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal.
Mas como resistir?
A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.
Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido.
O segredo bancário suíço não é coisa recente.
Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714.
No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas.
Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe económica.
Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares.
E não se trata apenas do UBS.
Toda a rede bancária do país funciona da mesma maneira.
O historiador suíço Jean Ziegler, que há mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três triliões de dólares de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os activos estrangeiros chamados institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente minoritários.
Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente.
Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos.
O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental.
Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...
Onde param as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi?
Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Máfia Russa?
Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municípios têm chorudas contas na Suíça?
Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?
Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nunca conseguiram entrar na Suíça?
Tudo lá ficou para sempre e em segredo...
Agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos.
Na mini cúpula europeia que se realizou em Berlim, (em preparação ao encontro do G-20 em Londres), França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.
"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel.
No domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico Alistair Darling, apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias europeias.
Vale observar, contudo, que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão debatidas as sanções a serem adoptadas contra os paraísos fiscais.
Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas.
Hoje, estamos em crise.
Viva a crise!!!
Barack Obama, quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de paz para o dinheiro corrompido.
Hoje ele é presidente.
É preciso acrescentar que os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi considerada um dos crimes mais graves no país.
Nos anos 30, os americanos conseguiram caçar Al Capone.
Sob que pretexto?
Fraude fiscal !!!
Para muito breve, a queda do império financeiro suíço !
Por Gilles Lapouge
Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo.
Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço.
O ataque veio dos Estados Unidos, em acordo com o presidente Obama.
O primeiro tiro de advertência foi dado na quarta-feira.
A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco.
O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos.
Os suíços, então, passaram os nomes.
E a vida bancária foi retomada tranquilamente.
Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado.
Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!
O banco protestou.
A Suíça está temerosa.
O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal.
Mas como resistir?
A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.
Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido.
O segredo bancário suíço não é coisa recente.
Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714.
No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas.
Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe económica.
Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares.
E não se trata apenas do UBS.
Toda a rede bancária do país funciona da mesma maneira.
O historiador suíço Jean Ziegler, que há mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três triliões de dólares de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os activos estrangeiros chamados institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente minoritários.
Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente.
Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos.
O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental.
Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...
Onde param as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi?
Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Máfia Russa?
Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municípios têm chorudas contas na Suíça?
Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?
Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nunca conseguiram entrar na Suíça?
Tudo lá ficou para sempre e em segredo...
Agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos.
Na mini cúpula europeia que se realizou em Berlim, (em preparação ao encontro do G-20 em Londres), França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.
"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel.
No domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico Alistair Darling, apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias europeias.
Vale observar, contudo, que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão debatidas as sanções a serem adoptadas contra os paraísos fiscais.
Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas.
Hoje, estamos em crise.
Viva a crise!!!
Barack Obama, quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de paz para o dinheiro corrompido.
Hoje ele é presidente.
É preciso acrescentar que os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi considerada um dos crimes mais graves no país.
Nos anos 30, os americanos conseguiram caçar Al Capone.
Sob que pretexto?
Fraude fiscal !!!
Para muito breve, a queda do império financeiro suíço !
Por Gilles Lapouge
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domingo, 30 de novembro de 2014
O Álvaro
O Álvaro que os profissionais da comunicação diziam que não sabia comunicar veio lembrar o que fez enquanto ministro neste livro que é uma espécie de revisão da matéria dada.
Ousa lutar contra os interesses instalados no sector da energia pode ter a garantia mais do que absoluta de que o resultado será certamente ataques nos jornais e nos restantes meios de comunicação social.”
“Um colega do Governo disse-me uma vez que havia a percepção que as coisas não andavam no Ministério da Economia e do Emprego. Perguntei que coisas eram essas. As reformas? Não, disse ele, as reformas estavam a ser feitas e até tínhamos feito um bom trabalho. A reforma do Estado no que dizia respeito ao Ministério e a reestruturação das empresas públicas? Não, isso também foi alcançado e bem, respondeu-me. Então, o que é que falta? perguntei. «Sabes», respondeu ele «o partido queixa-se que as nomeações nunca mais arrancam, que vocês demoram muito a substituir os socialistas que lá estão»”
“A ida de um Ministro às comissões [parlamentares] serve para dar palco aos partidos da oposição, principalmente no que diz respeito aos partidos mais extremistas, que se tornaram especialistas em maximizar o seu espaço mediático no parlamento aumentando a exposição do seu partido para níveis muito superiores ao que justificava a sua representação parlamentar.”
“Quem acompanha de dentro a Concertação Social sabe bem que o que se passa nas reuniões bilaterais e dentro da sala da CPCS [Comissão Permanente de Concertação Social] é radicalmente diferente da imagem que se passa para fora. Foram inúmeras as vezes que tivemos reuniões cordiais, amigáveis e produtivas com todos os parceiros sociais, inclusive com a CGTP, para, no final, ser surpreendido com declarações dos parceiros às televisões a afirmarem com voz indisposta, se não mesmo revoltada, que o Governo era autista, que o Governo não ouvia, que o Governos não entendia os parceiros sociais. Pode parecer estranho mas é natural. Faz parte do jogo político que é a Concertação.”
Estas são algumas das conclusões tiradas por Álvaro Santos Pereira após passar pelo Governo. Santos Pereira chegou ao executivo com um ar vagamente provinciano. Pior, aparentava desconhecer aqueles códigos do um beijinho ou dois beijinhos que são uma espécie de certificado de origem que irmana a Quinta da Marinha e a esquerda Lux. Pouco tempo depois apareceu uma expressão para referir o ministro da Economia: inabilidade comunicacional. E quase sem darmos por isso qualquer coisa que dissesse tornava-se motivo para comentário.
Lembram-se da polémica por causa dos pastéis de nata? Álvaro Santos Pereira limitou-se a perguntar no início de 2012 durante uma conferência de imprensa porque não eram os pastéis de nata tão vendáveis “como os churrascos Nando’s ou os hambúrgueres”. De Basílio Horta às rubricas de humor não houve quem não se considerasse abalizado para teorizar sobre aquilo que jocosamente designavam como “cluster do pastel de nata”.
Das televisões pediam comentários sobre o Álvaro. Nas redes sociais escrevia-se sobre o Álvaro… Enfim nada de muito original mas sempre eficaz: protagonistas aparentemente antagónicos coincidiam na convicção que havia que devolver o intruso à proveniência e substituí-lo por alguém com “peso político”.
Depois sabemos o que aconteceu: o Álvaro acabou por sair do Governo e foi substituído por Pires de Lima. Um ministro que tem tanto peso político que pode vir a ser o próximo líder do PP e que até consegue aquilo que poucos se podem gabar de conseguir neste Governo: umas notícias simpáticas sobre a sua ida a eventos culturais. Mediaticamente falando uma fotografia do ministro a sorrir ou falando com um artista numa galeria de arte vale por um acordo na concertação social.
Mas o tempo continuou a rolar e Álvaro Santos Pereira fez agora sair um livro com um inventário-balanço da sua passagem pelo Governo. O título “Reformar sem medo” diz muito sobre a forma como Álvaro Santos Pereira avalia o seu desempenho enquanto ministro da Economia, que aliás define como “As maiores reformas das últimas décadas”.
Não acaba aí o lado pessoal desse retrato. Álvaro Santos Pereira não esquece o que fez – e faz questão de que os outros também não o esqueçam – e também não esquece o que lhe fizeram. Ou seja não perdoa a Paulo Portas a luta que este travou até conseguir colocar um membro do CDS no Ministério da Economia. E muito menos perdoa o comportamento do líder dos centristas na crise do Verão de 2013. Não poupa nos adjectivos para ilustrar o comportamento de Portas que, segundo Santos Pereira, começa por aceitar bem a nomeação de Maria Luís para as Finanças e depois se demite. Com uma linguagem que estamos pouco habituados a escutar escreve: “Senti que a pátria tinha sido traída e que o país tinha sido atirado para a lama, tínhamos acabado de deitar o trabalho dos últimos dois anos para o lixo”.
Durante esta viagem aos bastidores o Governo nos anos da troika, Passos Coelho é poupado por Santos Pereira, quer nas linhas que o retratam, quer nas críticas. O trabalho de bastidores de Cavaco é realçado. E um homem, João Proença, em boa parte responsável pela assinatura do Acordo de Concertação Social, é largamente elogiado.
O Álvaro que os profissionais da comunicação diziam que não sabia comunicar veio lembrar o que fez enquanto ministro neste livro que em boa verdade é uma espécie de revisão da matéria dada ou melhor dizendo dos programas aprovados, da legislação produzida e das medidas tomadas. Mas sejamos sinceros: o que mediaticamente conta no livro é o ajuste de contas com Portas, e sublinhe-se com Portas não com o CDS. Politicamente o livro vai mais longe: Santos Pereira quer que o recordem como alguém que trabalhou ou “serviu Portugal” como ele prefere dizer, enfrentou interesses instalados e foi capaz de estabelecer pontes com o PS (ou pelo menos com aquela parte do PS que não atolamba ao ouvir a ditirâmbica prosa de Sampaio da Nóvoa)
Para quem sofria de “inabilidade comunicacional” até que nem está nada mal.
Por Helena Matos
Ousa lutar contra os interesses instalados no sector da energia pode ter a garantia mais do que absoluta de que o resultado será certamente ataques nos jornais e nos restantes meios de comunicação social.”
“Um colega do Governo disse-me uma vez que havia a percepção que as coisas não andavam no Ministério da Economia e do Emprego. Perguntei que coisas eram essas. As reformas? Não, disse ele, as reformas estavam a ser feitas e até tínhamos feito um bom trabalho. A reforma do Estado no que dizia respeito ao Ministério e a reestruturação das empresas públicas? Não, isso também foi alcançado e bem, respondeu-me. Então, o que é que falta? perguntei. «Sabes», respondeu ele «o partido queixa-se que as nomeações nunca mais arrancam, que vocês demoram muito a substituir os socialistas que lá estão»”
“A ida de um Ministro às comissões [parlamentares] serve para dar palco aos partidos da oposição, principalmente no que diz respeito aos partidos mais extremistas, que se tornaram especialistas em maximizar o seu espaço mediático no parlamento aumentando a exposição do seu partido para níveis muito superiores ao que justificava a sua representação parlamentar.”
“Quem acompanha de dentro a Concertação Social sabe bem que o que se passa nas reuniões bilaterais e dentro da sala da CPCS [Comissão Permanente de Concertação Social] é radicalmente diferente da imagem que se passa para fora. Foram inúmeras as vezes que tivemos reuniões cordiais, amigáveis e produtivas com todos os parceiros sociais, inclusive com a CGTP, para, no final, ser surpreendido com declarações dos parceiros às televisões a afirmarem com voz indisposta, se não mesmo revoltada, que o Governo era autista, que o Governo não ouvia, que o Governos não entendia os parceiros sociais. Pode parecer estranho mas é natural. Faz parte do jogo político que é a Concertação.”
Estas são algumas das conclusões tiradas por Álvaro Santos Pereira após passar pelo Governo. Santos Pereira chegou ao executivo com um ar vagamente provinciano. Pior, aparentava desconhecer aqueles códigos do um beijinho ou dois beijinhos que são uma espécie de certificado de origem que irmana a Quinta da Marinha e a esquerda Lux. Pouco tempo depois apareceu uma expressão para referir o ministro da Economia: inabilidade comunicacional. E quase sem darmos por isso qualquer coisa que dissesse tornava-se motivo para comentário.
Lembram-se da polémica por causa dos pastéis de nata? Álvaro Santos Pereira limitou-se a perguntar no início de 2012 durante uma conferência de imprensa porque não eram os pastéis de nata tão vendáveis “como os churrascos Nando’s ou os hambúrgueres”. De Basílio Horta às rubricas de humor não houve quem não se considerasse abalizado para teorizar sobre aquilo que jocosamente designavam como “cluster do pastel de nata”.
Das televisões pediam comentários sobre o Álvaro. Nas redes sociais escrevia-se sobre o Álvaro… Enfim nada de muito original mas sempre eficaz: protagonistas aparentemente antagónicos coincidiam na convicção que havia que devolver o intruso à proveniência e substituí-lo por alguém com “peso político”.
Depois sabemos o que aconteceu: o Álvaro acabou por sair do Governo e foi substituído por Pires de Lima. Um ministro que tem tanto peso político que pode vir a ser o próximo líder do PP e que até consegue aquilo que poucos se podem gabar de conseguir neste Governo: umas notícias simpáticas sobre a sua ida a eventos culturais. Mediaticamente falando uma fotografia do ministro a sorrir ou falando com um artista numa galeria de arte vale por um acordo na concertação social.
Mas o tempo continuou a rolar e Álvaro Santos Pereira fez agora sair um livro com um inventário-balanço da sua passagem pelo Governo. O título “Reformar sem medo” diz muito sobre a forma como Álvaro Santos Pereira avalia o seu desempenho enquanto ministro da Economia, que aliás define como “As maiores reformas das últimas décadas”.
Não acaba aí o lado pessoal desse retrato. Álvaro Santos Pereira não esquece o que fez – e faz questão de que os outros também não o esqueçam – e também não esquece o que lhe fizeram. Ou seja não perdoa a Paulo Portas a luta que este travou até conseguir colocar um membro do CDS no Ministério da Economia. E muito menos perdoa o comportamento do líder dos centristas na crise do Verão de 2013. Não poupa nos adjectivos para ilustrar o comportamento de Portas que, segundo Santos Pereira, começa por aceitar bem a nomeação de Maria Luís para as Finanças e depois se demite. Com uma linguagem que estamos pouco habituados a escutar escreve: “Senti que a pátria tinha sido traída e que o país tinha sido atirado para a lama, tínhamos acabado de deitar o trabalho dos últimos dois anos para o lixo”.
Durante esta viagem aos bastidores o Governo nos anos da troika, Passos Coelho é poupado por Santos Pereira, quer nas linhas que o retratam, quer nas críticas. O trabalho de bastidores de Cavaco é realçado. E um homem, João Proença, em boa parte responsável pela assinatura do Acordo de Concertação Social, é largamente elogiado.
O Álvaro que os profissionais da comunicação diziam que não sabia comunicar veio lembrar o que fez enquanto ministro neste livro que em boa verdade é uma espécie de revisão da matéria dada ou melhor dizendo dos programas aprovados, da legislação produzida e das medidas tomadas. Mas sejamos sinceros: o que mediaticamente conta no livro é o ajuste de contas com Portas, e sublinhe-se com Portas não com o CDS. Politicamente o livro vai mais longe: Santos Pereira quer que o recordem como alguém que trabalhou ou “serviu Portugal” como ele prefere dizer, enfrentou interesses instalados e foi capaz de estabelecer pontes com o PS (ou pelo menos com aquela parte do PS que não atolamba ao ouvir a ditirâmbica prosa de Sampaio da Nóvoa)
Para quem sofria de “inabilidade comunicacional” até que nem está nada mal.
Por Helena Matos
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politica nacional
sábado, 29 de novembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
António Marinho e Pinto eurodeputado, in CM
24.11.2014
A detenção do antigo primeiro-ministro
José Sócrates levanta questões de ordem política, de ordem jurídica e de
cidadania. Mais do que a politização da justiça, ela alerta-nos para a judicialização
da política que está em curso no nosso país.
José Sócrates acabou, enquanto
primeiro-ministro, com alguns dos mais chocantes privilégios que havia na
sociedade portuguesa, sobretudo na política e na justiça. Isso valeu-lhe ódios
de morte.
Foi ele quem, por exemplo, impediu o
atual Presidente da República de acumular as pensões de reforma com o
vencimento de presidente. A raiva com que alguns dirigentes sindicais dos
juízes e dos procuradores se referiam ao primeiro-ministro José Sócrates evidenciava
uma coisa: a de que, se um dia, ele caísse nas malhas da justiça iria pagar
caro as suas audácias.
Por isso, tenho muitas dúvidas de que o
antigo primeiro-ministro esteja a ser alvo de um tratamento proporcional e
adequado aos fins constitucionais da justiça num estado civilizado. É mesmo
necessário deter um cidadão, fora de flagrante delito e sem haver perigo de
fuga, para ser interrogado sobre os indícios dos crimes económicos de que é
suspeito?
É mesmo necessário que ele, depois de
detido, esteja um, dois, três ou mais dias a aguardar a realização desse
interrogatório? Dir-me-ão que é assim que todos os cidadãos são tratados pela
justiça. Porém, mesmo que fosse verdade, isso só ampliava o número de vítimas
da humilhação. Mas não é verdade.
Há, em Portugal, cidadãos que nunca
poderão ser humilhados pela justiça como está a ser José Sócrates: os
magistrados. Desde logo porque juízes e procuradores nunca podem ser detidos
fora de flagrante delito.
Em Portugal, poucos, como eu, têm
denunciado a corrupção. Mas, até por isso, pergunto: seria assim tão
escandaloso que um antigo primeiro-ministro de Portugal tivesse garantias
iguais às de um juiz ou de um procurador? Ou será que estes, sim, pertencem a
uma casta de privilegiados acima das leis que implacavelmente aplicam aos
outros cidadãos?
A justiça não é vingança e a vingança
não é justiça. Acredito que um dia, em Portugal, a justiça penal irá ser
administrada sem deixar quaisquer margens para essa terrível suspeita.
Carlos Alexandre - Está há vários anos
no Tribunal Central de Instrução Criminal e por lá ficará o tempo que quiser,
pois os juízes são inamovíveis. Tempos houve em que um juiz não podia
permanecer num tribunal mais do que seis anos (era a regra do sexénio) e, por
isso, recebia um subsídio para a habitação. Porém, desses tempos, só resta,
hoje, o dito subsídio, bem superior, aliás, ao salário mínimo nacional e
totalmente isento de impostos.
Duarte Marques - Este deputado do PSD
veio manifestar publicamente júbilo pela detenção e humilhação pública de
Sócrates, com o célebre ‘aleluia’. Era evitável a primária manifestação de ódio
quando até a ministra da Justiça nos poupou ao habitual oportunismo político.
Talvez mais cedo do que tarde se cumpra a sentença de Ezequiel: "Os
humildes serão exaltados, e os exaltados serão humilhados."
Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/colunistas/marinho_pinto/detalhe/justica_e_vinganca.html
Ler mais em: http://www.cmjornal.xl.pt/opiniao/colunistas/marinho_pinto/detalhe/justica_e_vinganca.html
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Marinho e Pinto
domingo, 23 de novembro de 2014
sábado, 22 de novembro de 2014
Portas e Porteiros....
Porteiro do Ritz apresenta currículo à Tecnoforma
Exmos. Srs.,
Desejo candidatar-me a um lugar na V. excelente empresa beneficiando do inovador modelo remuneratório que consiste na substituição do salário pelo pagamento de despesas de representação. Proponho representar a V. excelente empresa em vários sítios e ocasiões, a saber: em três refeições diárias; em todas as minhas deslocações; e num escritório localizado em minha casa, cujas renda, água, luz e telefone ficarão, por isso, a vosso cargo.
O facto de abdicar por completo de um salário não significa que o trabalho que desenvolverei não tenha valor - muito pelo contrário.
Tenho várias ideias que gostaria de pôr em prática ao serviço de V.Excas. Acompanhei com interesse o processo através do qual a V. excelente empresa obteve financiamento no valor de 1,2 milhões de euros com o objectivo de formar cerca de 500 técnicos municipais para trabalharem em sete pistas de aviação e dois heliportos que têm hoje, no total, sete funcionários. O projecto falhou, e a Tecnoforma terá acabado por receber apenas 311 mil euros para formar 122 pessoas.
Creio que o problema podia ter sido resolvido com facilidade acrescentando à formação a formação de formadores. A formação é extremamente importante. Nessa medida, é fundamental garantir que os formadores estão aptos a ministrá-la correctamente. Como? Através da formação de formadores. Neste ponto, coloca-se um problema: como garantir que os formadores dos formadores recebem formação de qualidade? A resposta é evidente: através da formação de formadores de formadores. E assim sucessivamente, numa espécie de mise en abyme formativo. Esta matrioska educacional permitiria não só esgotar o subsídio europeu de 1,2 milhões como também candidatar a empresa a novos subsídios, na medida em que a formação de formadores, por ser mais especializada, é mais cara do que a mera formação. O mesmo vale para a formação de formadores de formadores, em comparação com a simples formação de formadores.
Acresce a tudo isto que a V. excelente empresa formou funcionários para trabalharem em aeródromos sem actividade, ou com actividade residual. Ora, como é sabido, a gestão e controlo de aviões provoca enorme ansiedade. Mas a gestão e controlo de aviões que não existem tem potencial para provocar ansiedade ainda maior. Trata-se de uma espécie de «À espera de Godot» aeronáutico. É uma tarefa muito inquietante, e nessa medida deve requerer formação adicional.
Por último, li com muito agrado a entrevista do antigo proprietário da V. excelente empresa, na qual elogia o vosso ex-funcionário Pedro Passos Coelho por, e cito, «abrir todas as portas». Confesso que me comovi quando constatei que a abertura de portas era, finalmente, valorizada como merece. Tendo em conta a minha experiência de cerca de 20 anos precisamente nessa área, creio que sou um bom candidato a desempenhar funções na Tecnoforma.
Aguardo notícias de V. Excas.
Exmos. Srs.,
Desejo candidatar-me a um lugar na V. excelente empresa beneficiando do inovador modelo remuneratório que consiste na substituição do salário pelo pagamento de despesas de representação. Proponho representar a V. excelente empresa em vários sítios e ocasiões, a saber: em três refeições diárias; em todas as minhas deslocações; e num escritório localizado em minha casa, cujas renda, água, luz e telefone ficarão, por isso, a vosso cargo.
O facto de abdicar por completo de um salário não significa que o trabalho que desenvolverei não tenha valor - muito pelo contrário.
Tenho várias ideias que gostaria de pôr em prática ao serviço de V.Excas. Acompanhei com interesse o processo através do qual a V. excelente empresa obteve financiamento no valor de 1,2 milhões de euros com o objectivo de formar cerca de 500 técnicos municipais para trabalharem em sete pistas de aviação e dois heliportos que têm hoje, no total, sete funcionários. O projecto falhou, e a Tecnoforma terá acabado por receber apenas 311 mil euros para formar 122 pessoas.
Creio que o problema podia ter sido resolvido com facilidade acrescentando à formação a formação de formadores. A formação é extremamente importante. Nessa medida, é fundamental garantir que os formadores estão aptos a ministrá-la correctamente. Como? Através da formação de formadores. Neste ponto, coloca-se um problema: como garantir que os formadores dos formadores recebem formação de qualidade? A resposta é evidente: através da formação de formadores de formadores. E assim sucessivamente, numa espécie de mise en abyme formativo. Esta matrioska educacional permitiria não só esgotar o subsídio europeu de 1,2 milhões como também candidatar a empresa a novos subsídios, na medida em que a formação de formadores, por ser mais especializada, é mais cara do que a mera formação. O mesmo vale para a formação de formadores de formadores, em comparação com a simples formação de formadores.
Acresce a tudo isto que a V. excelente empresa formou funcionários para trabalharem em aeródromos sem actividade, ou com actividade residual. Ora, como é sabido, a gestão e controlo de aviões provoca enorme ansiedade. Mas a gestão e controlo de aviões que não existem tem potencial para provocar ansiedade ainda maior. Trata-se de uma espécie de «À espera de Godot» aeronáutico. É uma tarefa muito inquietante, e nessa medida deve requerer formação adicional.
Por último, li com muito agrado a entrevista do antigo proprietário da V. excelente empresa, na qual elogia o vosso ex-funcionário Pedro Passos Coelho por, e cito, «abrir todas as portas». Confesso que me comovi quando constatei que a abertura de portas era, finalmente, valorizada como merece. Tendo em conta a minha experiência de cerca de 20 anos precisamente nessa área, creio que sou um bom candidato a desempenhar funções na Tecnoforma.
Aguardo notícias de V. Excas.
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sexta-feira, 21 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Peço à Galp e à REN que façam um grande favor aos contribuintes
Exmos Srs Presidentes executivos da Galp e da REN, Engenheiro Ferreira de Oliveira e Dr. Rui Vilar:
Peço-vos encarecidamente que divulguem, o mais rapidamente possível, os pareceres jurídicos que vos levam a não pagar a contribuição extraordinária sobre o sector energético de 2014.
Será um grande favor, um verdadeiro serviço público, que farão a todos os contribuintes portugueses.
Os juristas que trabalharam para as vossas empresas, pagos a preço de ouro, são, certamente, grandes especialistas. Tão bons especialistas que conseguem arranjar argumentos para não cumprir uma lei da República, a Lei do Orçamento do Estado de 2014, onde o imposto extraordinário está previsto.
Por favor, divulguem esses pareceres para todos nós, contribuintes portugueses, podermos deixar de pagar a sobretaxa de IRS ao Estado. Sabem, é que os contribuintes normais não têm possibilidade de pagar estudos desses. E certamente que os argumentos invocados para não pagar a sobretaxa de IRC, são certamente utilizáveis para nós não pagarmos a sobretaxa de IRS. Basta copiá-los.
E sabem, cada um de nós até tem muito mais autoridade moral para utilizar esses pareceres e não pagar a sobretaxa de IRS do que as vossas empresas. É que, quando nós instalamos um pequeno negócio, não temos à partida uma rentabilidade garantida dos capitais investidos como a REN tem garantida por lei; e não temos a possibilidade de andar anos a fio a vender gás natural nos mercados internacionais e encaixar 500 milhões de euros de mais valias, por os contratos de abastecimento terem condições vantajosas, enquanto os consumidores portugueses continuam a pagar o gás nas suas casas a preço de ouro, como fez a Galp Energia.
De facto, a crise quando nasce não é para todos.
A pouca vergonha e a falta de decência chegaram a um nível inimaginável no meu País.
E têm carimbo de eficiência dado pelos melhores advogados portugueses.
Por José Gomes Ferreira
Peço-vos encarecidamente que divulguem, o mais rapidamente possível, os pareceres jurídicos que vos levam a não pagar a contribuição extraordinária sobre o sector energético de 2014.
Será um grande favor, um verdadeiro serviço público, que farão a todos os contribuintes portugueses.
Os juristas que trabalharam para as vossas empresas, pagos a preço de ouro, são, certamente, grandes especialistas. Tão bons especialistas que conseguem arranjar argumentos para não cumprir uma lei da República, a Lei do Orçamento do Estado de 2014, onde o imposto extraordinário está previsto.
Por favor, divulguem esses pareceres para todos nós, contribuintes portugueses, podermos deixar de pagar a sobretaxa de IRS ao Estado. Sabem, é que os contribuintes normais não têm possibilidade de pagar estudos desses. E certamente que os argumentos invocados para não pagar a sobretaxa de IRC, são certamente utilizáveis para nós não pagarmos a sobretaxa de IRS. Basta copiá-los.
E sabem, cada um de nós até tem muito mais autoridade moral para utilizar esses pareceres e não pagar a sobretaxa de IRS do que as vossas empresas. É que, quando nós instalamos um pequeno negócio, não temos à partida uma rentabilidade garantida dos capitais investidos como a REN tem garantida por lei; e não temos a possibilidade de andar anos a fio a vender gás natural nos mercados internacionais e encaixar 500 milhões de euros de mais valias, por os contratos de abastecimento terem condições vantajosas, enquanto os consumidores portugueses continuam a pagar o gás nas suas casas a preço de ouro, como fez a Galp Energia.
De facto, a crise quando nasce não é para todos.
A pouca vergonha e a falta de decência chegaram a um nível inimaginável no meu País.
E têm carimbo de eficiência dado pelos melhores advogados portugueses.
Por José Gomes Ferreira
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terça-feira, 18 de novembro de 2014
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
domingo, 16 de novembro de 2014
sábado, 15 de novembro de 2014
Portugal à venda
“Disseram aos chineses que em Portugal estava tudo à venda.
Começaram a comprar diretores-gerais”
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Museu da Cortiça: assine!
Recebemos este email com implicito pedido de publicação visando a difusão da petição
Como cidadão atento e
preocupado com a preservação do passado histórico-cultural e das memórias e
vivências de Silves e dalgumas Freguesias do seu Concelho, entendi por bem
dever subscrever a petição pública sobre o Museu da Cortiça que se encontra a
circular, com vista a poder ser apresentada à Assembleia da República, a curto
prazo, assunto esse a que se reporta o site infra.
Todavia, são
necessárias 4.000 assinaturas. Por isso, afigurou-se-me dever apelar à sua
participação cívica, no sentido de poderem ser sensibilizados o maior número
possível de amigos e conhecidos, mormente, entre a comunidade de pesca de
Armação de Pêra, para aderir a tão importante e meritória iniciativa
considerada vital para o futuro do emblemático Museu da Cortiça.
Nesse sentido, basta
que me remeta uma listagem dos aderentes interessados em subscrever aquela
petição, da qual deverá constar os seus nomes e respectivos BI/CC, que eu
próprio reencaminharei para o Dr. Manuel Ramos, tal como tem vindo a suceder
com algumas dezenas de subscritores por mim entretanto mobilizados.
Obrigado pela sua
colaboração e apoio em relação a esta tão nobre como justa causa.
Um abraço amigo,
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Museu da Cortiça
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Lingua PortuguesaJá agora que, a certo nivel, se dêem bons exemplos!
Português...
Aqui vai uma explicação muito
pertinente para uma questão actual:
A jornalista Pilar del Rio costuma
explicar, com um ar de catedrática no assunto, que dantes não havia mulheres
presidentes e por isso é que não existia a palavra presidenta... Daí que ela
diga insistentemente que é Presidenta da Fundação José Saramago e se refira a
Assunção Esteves como Presidenta da Assembleia da República.
Ainda nesta semana, escutei Helena Roseta dizer: «Presidenta!», retorquindo
ao comentário de um jornalista da SIC Notícias, muito segura da sua
afirmação...
|
A propósito desta questão recebi o texto que se segue e que reencaminho:
|
Uma belíssima aula de português.
Foi elaborada para acabar de uma vez
por todas com toda e qualquer dúvida se temos presidente ou presidenta.
A presidenta foi
estudanta?
Existe a palavra:
PRESIDENTA?
Que tal
colocarmos um "BASTA" no assunto?!
No português
existem os particípios activos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio
activo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante,
o de existir é existente, o de mendicar é mendicante... Qual é o particípio
activo do verbo ser? O particípio activo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente.
Aquele que tem entidade...
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a
acção que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante,
ente ou inte.
Portanto, em Português correcto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não
"presidenta", independentemente do sexo que tenha.
Diz-se capela ardente, e não capela "ardenta"; diz-se
estudante, e não estudanta"; diz-se adolescente, e não
"adolescenta"; diz-se paciente, e não "pacienta".
Um
bom exemplo do erro grosseiro seria:
"A candidata
a presidenta comporta-se como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter
virado eleganta para tentar ser nomeada representanta.
Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta
dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o
direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta".
Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repasse
essa informação... JÁ CHEGA DE
ANALFABETISMO CATEDRÁTICO !!!
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Circulando na Net
domingo, 2 de novembro de 2014
Algarve perde a marca do licor Brandymel
O Algarve deixou cair um dos seus ícones no sector das bebidas espirituosas – o Brandymel, produzido por uma família de Portimão há mais de meio século. A marca foi, há 14 anos, agarrada por um indivíduo que a averbou em seu nome por ter caducado o registo original - os industriais que o produziam ignoraram a obrigação de renovar o pedido do registo. O Tribunal da Relação de Lisboa considerou que a “notoriedade e o comprovado uso [de marcas] de nada valem se a caducidade do registo já tiver sido declarada”. Foi o que sucedeu com este licor, de raiz e tradição algarvia.
Publico
sábado, 1 de novembro de 2014
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
terça-feira, 28 de outubro de 2014
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
terça-feira, 21 de outubro de 2014
A mulher empoleirada no banco
A mulher está empoleirada numa cadeira alta, que mais parece um banco de bar, atrás de um balcão diminuto. Veste um fato preto, sóbrio e elegante, e sorri enquanto atende os clientes que vão entrando e que não têm sequer espaço para pousar a pasta ou o saco de mão em cima do exíguo pedaço de vidro que faz as vezes de balcão. Os homens pousam a pasta no chão, penduram o guarda-chuva no pescoço, dobram o impermeável no braço e apertam o computador entre as pernas. As mulheres hesitam mas ficam com tudo nos braços, casaco, guarda-chuva, mala, saco do computador, mochila, sacos de compras, lancheira.
A cena passa-se numa dependência da CGD, mas podia ser noutro banco porque são todos iguais. Tudo parece ter sido estudado para colocar o cliente numa situação de incomodidade e precariedade, para o obrigar a despachar-se rapidamente e não ocupar o tempo precioso da funcionária que atende. É a mesma função da música aos berros nos fast food. O objectivo é afugentar rapidamente o cliente para acelerar a rotação e poder reduzir o número de trabalhadores ao mínimo.
O minibalcão à entrada, em vez de uma secretária com uma recepcionista, foi invenção de um génio da produtividade. A funcionária ocupa assim apenas meio metro quadrado, em vez dos três metros que ocuparia se tivesse um posto de trabalho confortável. É só poupança. O génio da produtividade esfrega as mãos de contente. Subliminarmente, o desconforto do trabalhador também lhe transmite a mensagem de que a sua situação profissional é, como a sua posição física, instável, e que a sua pessoa é, como o espaço que lhe concedem, insignificante.
Penso em quanto tempo aguentaria eu a trabalhar neste posto, naquela exposição total, frente à porta, naquele desamparo, empoleirado naquele inóspito minibalcão de vidro. Não há o mínimo espaço pessoal, não há nada pessoal naquele espaço nem pode haver, por imperativo físico. Por baixo do balcão, há prateleiras a transbordar de impressos, e é tudo. Onde guardará esta empregada o casaco, o chapéu de chuva, a carteira, os sacos de compras, o livro que está a ler, os desenhos dos filhos, as fotografia das férias, as mil e uma coisas com que os trabalhadores tornam seu o espaço de trabalho? Imagino que deve ter, por trás das portas de vidro fechadas aos clientes, um canto para tudo isso, um cabide, um cacifo. Houve um tempo em que os operários eram tratados assim mas não os empregados dos serviços. Nos escritórios, os trabalhadores detinham algum controlo sobre o seu local de trabalho, podiam humanizar o seu espaço. Agora são todos proletários. E o local de trabalho é apenas mais uma peça da máquina que se quer oleada e estéril, um local onde encaixa outra peça chamada “o colaborador”. E encaixa à justa.
Na dependência do BCP onde entro a seguir também há um minibalcão à entrada. E, a poucos metros, há uma série de cubículos com separadores de vidro, com secretárias, mas todos tão impessoais como o balcão da entrada. Os cubículos proporcionam a mesma privacidade que uma camarata, mas o sigilo bancário é algo com que os bancos apenas se preocupam em relação aos grandes clientes e esses nunca se sentam nos cubículos de vidro. As secretárias estão desprovidas de qualquer toque pessoal para poderem ser usadas rotativamente por diferentes funcionários. É como o sistema de “cama quente” na Marinha. Três marinheiros a fazer turnos só precisam de uma cama. Nos barcos é por falta de espaço, aqui é para poupar dinheiro. Tudo foi pensado para deixar bem claro aos trabalhadores que não pertencem aqui e que nada do que aqui está lhes pertence. Para deixar claro que, quando se forem, outros, quaisquer outros, absolutamente igual a eles, os irão substituir, usando as mesmas secretárias, as mesmas cadeiras, as mesmas frases para garantir aos clientes que irão “propor-lhes a solução que melhor se adapta ao seu caso pessoal”.
Na Clínica da Luz há pior: ao lado dos amplos corredores e dos enormes e confortáveis espaços de espera para clientes e famílias, há “postos de trabalho” encostados às paredes dos corredores que são como minibalcões como os dos bancos mas sem o banco de bar. Os “colaboradores” têm de aguentar as horas de trabalho de pé. É verdade que têm o grato prazer de trabalhar para a Espírito Santo Saúde, uma empresa disputada no mercado, mas deve ser duro para as costas. E isto é o que acontece à frente dos nossos olhos nas “grandes empresas”.
Há muito pior. Há os “seguranças” que passam dias e noites num cubículo sem condições, gelado no Inverno e um forno no Verão, sem uma casa de banho, ao pé de uma cancela, verificando nomes e matrículas 24 horas por dia. Muitas vezes em empresas que se gabam da forma como cuidam dos seus “colaboradores”. É que estes não são “colaboradores” deles. São “colaboradores” de uma empresa subcontratada e por isso a grande empresa pode negar toda a responsabilidade pelas condições de trabalho. E há pior. Há sempre pior.
O empobrecimento e o desemprego multiplicaram estas condições degradantes. Afinal, o desemprego é ainda pior. É assim que se desce o “custo unitário do trabalho”. As empresas chamam-lhe “redução de custos”, “rentabilização”. Mas é só desumanidade.
JOSÉ VÍTOR MALHEIROS
A cena passa-se numa dependência da CGD, mas podia ser noutro banco porque são todos iguais. Tudo parece ter sido estudado para colocar o cliente numa situação de incomodidade e precariedade, para o obrigar a despachar-se rapidamente e não ocupar o tempo precioso da funcionária que atende. É a mesma função da música aos berros nos fast food. O objectivo é afugentar rapidamente o cliente para acelerar a rotação e poder reduzir o número de trabalhadores ao mínimo.
O minibalcão à entrada, em vez de uma secretária com uma recepcionista, foi invenção de um génio da produtividade. A funcionária ocupa assim apenas meio metro quadrado, em vez dos três metros que ocuparia se tivesse um posto de trabalho confortável. É só poupança. O génio da produtividade esfrega as mãos de contente. Subliminarmente, o desconforto do trabalhador também lhe transmite a mensagem de que a sua situação profissional é, como a sua posição física, instável, e que a sua pessoa é, como o espaço que lhe concedem, insignificante.
Penso em quanto tempo aguentaria eu a trabalhar neste posto, naquela exposição total, frente à porta, naquele desamparo, empoleirado naquele inóspito minibalcão de vidro. Não há o mínimo espaço pessoal, não há nada pessoal naquele espaço nem pode haver, por imperativo físico. Por baixo do balcão, há prateleiras a transbordar de impressos, e é tudo. Onde guardará esta empregada o casaco, o chapéu de chuva, a carteira, os sacos de compras, o livro que está a ler, os desenhos dos filhos, as fotografia das férias, as mil e uma coisas com que os trabalhadores tornam seu o espaço de trabalho? Imagino que deve ter, por trás das portas de vidro fechadas aos clientes, um canto para tudo isso, um cabide, um cacifo. Houve um tempo em que os operários eram tratados assim mas não os empregados dos serviços. Nos escritórios, os trabalhadores detinham algum controlo sobre o seu local de trabalho, podiam humanizar o seu espaço. Agora são todos proletários. E o local de trabalho é apenas mais uma peça da máquina que se quer oleada e estéril, um local onde encaixa outra peça chamada “o colaborador”. E encaixa à justa.
Na dependência do BCP onde entro a seguir também há um minibalcão à entrada. E, a poucos metros, há uma série de cubículos com separadores de vidro, com secretárias, mas todos tão impessoais como o balcão da entrada. Os cubículos proporcionam a mesma privacidade que uma camarata, mas o sigilo bancário é algo com que os bancos apenas se preocupam em relação aos grandes clientes e esses nunca se sentam nos cubículos de vidro. As secretárias estão desprovidas de qualquer toque pessoal para poderem ser usadas rotativamente por diferentes funcionários. É como o sistema de “cama quente” na Marinha. Três marinheiros a fazer turnos só precisam de uma cama. Nos barcos é por falta de espaço, aqui é para poupar dinheiro. Tudo foi pensado para deixar bem claro aos trabalhadores que não pertencem aqui e que nada do que aqui está lhes pertence. Para deixar claro que, quando se forem, outros, quaisquer outros, absolutamente igual a eles, os irão substituir, usando as mesmas secretárias, as mesmas cadeiras, as mesmas frases para garantir aos clientes que irão “propor-lhes a solução que melhor se adapta ao seu caso pessoal”.
Na Clínica da Luz há pior: ao lado dos amplos corredores e dos enormes e confortáveis espaços de espera para clientes e famílias, há “postos de trabalho” encostados às paredes dos corredores que são como minibalcões como os dos bancos mas sem o banco de bar. Os “colaboradores” têm de aguentar as horas de trabalho de pé. É verdade que têm o grato prazer de trabalhar para a Espírito Santo Saúde, uma empresa disputada no mercado, mas deve ser duro para as costas. E isto é o que acontece à frente dos nossos olhos nas “grandes empresas”.
Há muito pior. Há os “seguranças” que passam dias e noites num cubículo sem condições, gelado no Inverno e um forno no Verão, sem uma casa de banho, ao pé de uma cancela, verificando nomes e matrículas 24 horas por dia. Muitas vezes em empresas que se gabam da forma como cuidam dos seus “colaboradores”. É que estes não são “colaboradores” deles. São “colaboradores” de uma empresa subcontratada e por isso a grande empresa pode negar toda a responsabilidade pelas condições de trabalho. E há pior. Há sempre pior.
O empobrecimento e o desemprego multiplicaram estas condições degradantes. Afinal, o desemprego é ainda pior. É assim que se desce o “custo unitário do trabalho”. As empresas chamam-lhe “redução de custos”, “rentabilização”. Mas é só desumanidade.
JOSÉ VÍTOR MALHEIROS
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domingo, 5 de outubro de 2014
sábado, 4 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
O nosso problema
Desobediência civil não é o nosso problema. O nosso problema é a obediência civil. O nosso problema é que pessoas por todo o mundo têm obedecido às ordens de líderes e milhões têm morrido por causa dessa obediência. O nosso problema é que as pessoas são obedientes por todo o mundo face à pobreza, fome, estupidez, guerra e crueldade. O nosso problema é que as pessoas são obedientes enquanto as cadeias se enchem de pequenos ladrões e os grandes ladrões governam o país.
É esse o nosso problema."
Howard Zinn
É esse o nosso problema."
Howard Zinn
Etiquetas:
Comportamento
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