O défice de participação da sociedade civil portuguesa é o primeiro responsável pelo "estado da nação". A política, economia e cultura oficiais são essencialmente caracterizadas pelos estigmas de uma classe restrita e pouco representativa das reais motivações, interesses e carências da sociedade real, e assim continuarão enquanto a sociedade civil, por omissão, o permitir. Este "sítio" pretendendo estimular a participação da sociedade civil, embora restrito no tema "Armação de Pêra", tem uma abrangência e vocação nacionais, pelo que constitui, pela sua própria natureza, uma visita aos males gerais que determinaram e determinam o nosso destino comum.
domingo, 20 de julho de 2025
Praia de Armação de Pêra: o problema não está só nas concessões
A recente publicação do jornal Terra Ruiva, sob o título “Na Praia de Armação de Pêra – Sobe o mar, falta areal e sobram concessões privadas e públicas”, traz à tona um problema que há muito se sente, mas que poucos têm coragem de enfrentar com profundidade: o crescente aperto da praia frente ao aumento da procura e à diminuição do espaço disponível. Mas será que acabar com as concessões é mesmo a solução?
É inegável que o espaço útil na praia está cada vez mais reduzido. A subida do mar, as alterações climáticas e a configuração natural da baía tornam a situação ainda mais complexa. No entanto, culpar apenas as concessões – sejam elas privadas ou públicas – parece simplista. Quem hoje utiliza uma concessão com toldos, caso esta desapareça, não deixará de vir à praia; apenas competirá por um espaço ainda mais escasso no areal livre.
Além disso, não se discute o tamanho dos chapéus-de-sol, a quantidade de espaço que cada família ocupa ou o comportamento dos utilizadores. Tudo isso influencia o usufruto coletivo da praia, mas raramente entra no debate. A solução, portanto, deve ser mais ampla e estrutural.
É preciso olhar para além da linha do mar. A norte da Praia do Olival, observando imagens do Google Earth ou fotografias antigas da década de 70, é possível ver a mudança radical no território: uma densificação urbana acelerada, incentivada por sucessivas decisões camarárias que priorizaram receitas imediatas em detrimento da sustentabilidade da vila.
Hoje, Armação de Pêra conta com cerca de 11 mil alojamentos. Durante a época alta, a população flutuante pode atingir os 50 mil habitantes.
A pergunta impõe-se: há espaço de praia suficiente para todos durante a praia mar? Claramente, não. E o problema não está na concessão de 1,8 m2 de sombra com espreguiçadeiras. Está, sim, na forma como se permitiu – e continua a permitir – a ocupação do território sem planeamento urbano coerente.
Entre o minigolfe e a praia do Olival, a faixa de areia é ainda mais exígua, emparedada pela falésia. A pressão sobre esta zona é enorme, e qualquer solução que se limite a “acabar com as concessões” será apenas um paliativo.
Talvez esteja na hora de pensar em alternativas mais criativas e sustentáveis: criar zonas balneares alternativas ao longo do concelho, investir em transportes e acessos que facilitem a distribuição dos banhistas por outras praias menos sobrecarregadas, repensar o urbanismo local e criar mais espaços públicos de lazer fora da linha costeira.
Armação de Pêra não pode continuar a crescer em população e construções enquanto a sua frente marítima permanece limitada e vulnerável. É hora de pensar o futuro com seriedade, pois areia não se fabrica e o mar não recua.
Etiquetas:
modelo de desenvolvimento
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