sexta-feira, 15 de agosto de 2025

De bombeiro verbal a turista oficial

A 30 de agosto de 2024, um helicóptero de combate a incêndios cai no Douro, cinco militares da GNR perdem a vida e o país entra em choque. No meio da dor e do luto, o que faz o primeiro-ministro Luís Montenegro? Sobe a bordo de uma lancha, deixa-se fotografar em grande plano e oferece à opinião pública uma imagem que ficaria melhor num folheto turístico do que num momento de tragédia nacional. Um ano antes, Montenegro era o “bombeiro verbal” da política portuguesa. Na oposição, corria para o terreno, apontava o dedo a António Costa e exigia pedidos de desculpas pelo falhanço no combate aos fogos. Chamava à atenção para promessas não cumpridas, denunciava a “ineficácia” e fazia questão de se mostrar indignado, sobretudo quando havia câmaras a gravar. Agora, com a faixa de chefe do Governo bem colocada, o guião mudou. O discurso inflamado evaporou-se, a urgência transformou-se em agenda balnear e o antigo crítico feroz transformou-se no político do “depois logo se vê”. A época de incêndios chega e o país arde? Nada que não possa esperar umas férias no Algarve. Afinal, as eleições ainda estão longe e, como dizem alguns estrategas, “não vale a pena gastar capital político com pressas”. Este é o Montenegro 2.0: na oposição, herói das causas; no poder, adepto da espreguiçadeira. A diferença é que, antes, dizia que “não era como os outros”. Hoje, a única coisa que o distingue é ter aprendido depressa demais o manual da velha política: indignação para subir, inércia para governar. O problema é que, enquanto ele se bronzeia, há quem arrisque a vida no terreno. E esses não têm tempo para fotos.

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