terça-feira, 12 de agosto de 2025
Armação de Pêra: promessas na maré e silêncios na areia
Introdução
Em 2012, a aquisição de parte da praia de Armação de Pêra trouxe consigo um discurso ambicioso e aparentemente generoso. O novo proprietário prometeu entregar à autarquia a parte urbana do terreno, incluindo o edifício da lota, ceder a área de praia à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e disponibilizar 300 mil euros para a reabilitação do espaço. Uma década depois, o que vemos é um cenário bem diferente do imaginado — e muitas perguntas por responder.
As promessas feitas
À época, o compromisso soava como uma aliança rara entre interesses privados e o bem público. Preservar o património, garantir acesso livre e contribuir para a revitalização da zona eram palavras-chave que seduziram a população e deram legitimidade à operação.
A realidade construída
O prometido apoio de praia acabou por surgir, mas com outro rumo: transformou-se no restaurante Praia Dourada. A área circundante foi também valorizada — mas através de um parque de estacionamento privado. Já quanto à cedência do edifício da lota à autarquia e à entrega dos 300 mil euros destinados à reabilitação da envolvente, o silêncio domina. As informações públicas sobre o cumprimento dessas promessas são, no mínimo, escassas, quando não totalmente inexistentes.
O vazio de esclarecimentos
Este silêncio, tanto do proprietário como das entidades públicas envolvidas, tem alimentado dúvidas legítimas: as promessas foram realmente cumpridas? Ou a comunidade assistiu a um processo em que, no fim, o espaço público deu lugar a um negócio privado e a um estacionamento pago?
O valor de uma palavra dada
Num território onde o turismo e o negócio balnear são forças económicas dominantes, é ainda mais vital garantir que compromissos com o interesse público não se evaporam com o tempo. Quando promessas ficam por cumprir — ou simplesmente por explicar — perde-se não só espaço, mas também a confiança da comunidade.
Conclusão
O caso da praia de Armação de Pêra não pode ficar submerso na maré da indiferença. É responsabilidade das entidades públicas esclarecer de forma inequívoca o que foi feito, o que ficou por fazer e porquê. Porque o património natural e cultural não é apenas um cenário de verão: é um direito coletivo. E a palavra dada, quando não é cumprida, transforma-se em erosão — não da areia, mas da própria cidadania.
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