segunda-feira, 16 de junho de 2025
Sem emigrantes, o Algarve estagna – e Armação de Pêra definha
A imagem idílica do Algarve como terra de sol, praias e tranquilidade esconde uma realidade cada vez mais evidente: a economia da região, especialmente em freguesias como Armação de Pêra, depende fortemente da imigração. Ignorar este facto é fechar os olhos a uma verdade desconfortável, mas incontornável.
Segundo o Censo de 2011, cerca de 22,5% da população residente no Algarve era estrangeira, uma das proporções mais altas do país. E esse número não parou de crescer. No concelho de Silves, onde se insere Armação de Pêra, os estrangeiros representavam cerca de 17,9% da população em 2022, com presenças que vão desde reformados europeus a trabalhadores agrícolas sazonais.
No caso particular de Armação de Pêra, os trabalhadores migrantes sazonais são o motor invisível da economia local. Na hotelaria, na restauração, na agricultura intensiva em estufas e até na construção civil, os rostos por trás dos serviços são muitas vezes de origem sul-asiática, brasileira ou africana. Sem eles, a vila simplesmente não teria braços suficientes para responder à procura dos meses de verão – altura em que a população quintuplica.
Além disso, a presença estrangeira atenua o envelhecimento da população, um dos maiores desafios do interior algarvio. Os imigrantes em idade ativa mantêm escolas a funcionar, serviços públicos justificados e pequenos negócios viáveis. Sem eles, Armação de Pêra teria hoje menos 1 em cada 5 residentes. Estaríamos a assistir ao esvaziamento social de uma comunidade inteira.
Mais ainda, muitos destes migrantes não vêm apenas “para trabalhar e partir”. Alguns constroem aqui vida, criam famílias, compram casa ou alugam a longo prazo, contribuindo para a economia local durante todo o ano. Nómadas digitais e reformados estrangeiros também representam uma fatia importante da população flutuante, especialmente fora da época alta, trazendo consumo e investimento.
É ilusório pensar que, sem imigração, os postos de trabalho seriam automaticamente ocupados por portugueses. A realidade é que muitos desses empregos são rejeitados pela população local, quer por questões salariais, quer pelas condições exigidas. O resultado seria inevitável: cafés fechados, hotéis com falta de pessoal, restaurantes com menor capacidade de resposta e campos agrícolas abandonados.
Em vez de discutir se o Algarve “pode” sobreviver sem emigrantes, a pergunta deveria ser: como podemos integrar melhor os que já cá estão e garantir condições dignas para que continuem a contribuir para o futuro da região?
Armação de Pêra é hoje uma freguesia viva graças à sua diversidade. Sem os migrantes, seria apenas mais um postal bonito, mas sem gente.
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