sexta-feira, 17 de março de 2017

Turismo, as boas e as más notícias


O plano estratégico para o turismo ontem divulgado tem, entre outras, a ambição de “assegurar uma integração positiva do turismo nas populações residentes”. Era bom. Vamos ver.

16 de Março de 2017, in Jornal Público

O turismo em Portugal bateu todos os recordes em 2016 e o mais provável é que o mesmo cenário se repita em 2017. Entre 2005 e 2015, segundo dados da Organização Mundial do Turismo, Portugal foi o segundo país do mundo com a maior evolução das receitas. Lisboa e Porto ganharam prémios, o número de voos e de passageiros duplicou, o número de estadas passou de uma média de 3,1 para 3,8 dias, e o sector criou 40 mil postos de trabalho. O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, chamou-lhe um “boom asiático” — a China é a próxima aposta estratégica — e a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, fez votos para que o bom momento não fosse efémero. Afinal, a balança comercial portuguesa seria negativa sem a componente de serviços gerada pelo turismo. Só boas notícias?

O turismo empurra a economia e é responsável pelo surgimento de novos negócios e pelo desenvolvimento de uma reabilitação urbana que sem este processo dificilmente poderia ter uma resposta pública eficaz. Esse processo tem sido alargado a cidades de média dimensão, onde se situam dois terços do alojamento local, mas subsistem assimetrias entre o litoral e o interior. De facto, os ganhos não são para todos. O crescimento tem sido sustentado numa mão-de-obra precária, com casos conhecidos de licenciados pagos a dois euros e meio à hora ou trabalho nocturno remunerado a menos de cinco euros à hora. À semelhança do que aconteceu em outras cidades da Europa, onde o turismo foi demolidor, a gentrificação ameaça os residentes e o comércio de interesse patrimonial das zonas mais cobiçadas das cidades.

Podemos criticar este processo, e devemos fazê-lo. Não podemos ser contra o turismo porque sim, mas podemos exigir regras para esta actividade como fazemos com todas as outras. Não há cidades sem história, memória ou património.

Ninguém quer cidades desabitadas, como os nossos centros históricos foram e ainda o são em certa medida, mas também não queremos cidades sem turistas. Podemos conciliar os interesses de habitantes, turistas e profissionais? Era bom. O plano estratégico para o turismo ontem divulgado tem, entre outras, a ambição de valorizar a autenticidade do país, evitar a sazonalidade do turismo, formar recursos de acordo com as necessidades de mercado ou “assegurar uma integração positiva do turismo nas populações residentes”. Era bom. Vamos ver.




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