Em primeiro lugar, acho que é o fim de um mito.
Habituámo-nos a ver o Presidente americano como o “leader of the free world”,
mas tudo isso não é verdade. Habituámo-nos a admirar os EUA pelo simples facto
de ser a maior potência mundial habitada por gente esclarecida e defensora
intransigente da democracia e dos valores dos direitos humanos, respeito pela
diferença e pelas minorias, um país constituído por emigrantes de todas as
raças e credos, e tolerante por isso mesmo.
Ora elegendo um Presidente, que se assumiu na campanha eleitoral como xenófobo, reaccionário, misógino, racista, mentiroso e sobretudo IGNORANTE, os americanos provam ser exactamente o contrário: assumem-se como IGNORANTES, egoístas, de vistas curtas.
Ora os ignorantes, em qualquer parte do mundo, são os mais facilmente influenciados por disparates e patetices populistas. A cultura é o principal instrumento para nos defendermos de populistas, aldrabões, fanáticos religiosos, etc. Se não a temos….chapéu!
E quando lhes imputo a ignorância, não se trata de não aceitar que cada povo tem a sua cultura, e o direito a ela!
Porém, acreditar em fábulas como o Tea Party que defende que o mundo só existe há apenas 6.000 anos, que o Homem nunca foi á lua, ou como dizia Ben Carson um dos candidatos dos republicanos (um respeitado neurologista americano) que afirmou que as pirâmides do Egipto eram armazéns de cereais, etc, não constitui uma característica duma cultura diferente mas apenas de um elevado grau de pura e dura IGNORANCIA.
A cultura e a instrução não são inúteis, e são os pilares da maturidade e da capacidade de pensar pela própria cabeça. Não dispondo ou prescindindo dela, somos facilmente manipulados e convencidos.
Não colhe a “desculpa” de que os americanos estão fartos do
sistema político actual e que pretendem a mudança. Para tanto não necessitavam
de arranjar um exemplar desta espécie, havia muitos candidatos prontos a interpretar
e encarnar essas queixas.
Não era preciso votarem no Tea party , uma seita pró religiosa que defendia nas suas próprias igrejas que era preciso matar o Obama porque era um agente inimigo!
Há gente ignorante em todos os países, o que esta eleição
nos diz, porém, é que a ignorância é uma característica inerente ao americano
médio, não se trata apenas de franjas da sociedade como existe em qualquer
país.
Aquando do Brexit, presenciámos também o fim de um outro mito, aquele do povo esclarecido que sabe o que quer, que não só votou contra os seus próprios interesses, como ainda afirmou no dia seguinte que queria repetir a votação porque afinal o que queriam era apenas dar uma lição ao Governo!
Se isto é um povo esclarecido, vou ali e já venho!
Os próprios tipos que lidaram a acção como o Snr. Farage do UKIP, apressou-se a pedir a demissão ao ver a borrasca que aí vem.
Para aguentar a libra o Banco de
Inglaterra já injectou na economia cerca de 300 mil milhões de libras (o dobro
do PIB português) sem conseguir parar a queda abrupta da libra que está em
valores de há 70 anos (agora é que é comprar coisas inglesas, um barco de
recreio custa 30% menos euros que antes do Brexit); Por outro lado, os ingleses
têm que pagar mais libras por qualquer produto que importam da EU e dos EUA o
que corresponde a “apenas” 80% do total das suas importações.
Tudo isto sem que o Reino Unido já
tenha saído da EU, imagine-se quando o fizer….
Os Bancos e várias empresas japonesas já informaram que se vão mudar do Reino Unido para a EU para continuar a beneficiar do mercado europeu.
A economia estagnou, a Escócia e a Irlanda do Norte querem afastar-se da Inglaterra para se manterem na EU, ou seja a união do Reino (des) unido, está em causa, o Governo fala, fala, fala, mas nada faz.
Estão portanto os ingleses de parabéns! Outro povo que de esclarecido apenas TEM (tinha) a fama!
Qual a influência que
a eleição de Trump tem na Europa?
Abstenho-me de dizer o que acontecerá na América porque meus
caros, estou-me nas tintas. Se o escolheram agora que levem com ele!
O que me interessa é a Europa, claro.
E vai haver muitas alterações mesmo tendo em consideração que muitas coisas que foram prometidas apenas para, desonestamente, ganhar votos, nunca serão feitas, não tenhamos dúvidas, muita coisa vai mudar porque Trump precisa do apoio do Partido Republicano, ora dominado pelo Tea Party (não esquecer que George W Bush votou em Hillary), em três questões principais:
(1) No aspecto cultural e político, haverá um
reforço das organizações populistas de direita e de esquerda com prejuízo para
a democracia.
Os Partidos xenófobos e racistas irão ganhar
força sem qualquer dúvida. O primeiro escolho virá do referendo em Itália que,
se perdido pelo governo, levará á sua queda. Aposto dobrado contra singelo que
o Renzi irá cair e teremos eleições com o partido do “palhaço” Grilo (populista)
a ganhar.
O partido dos piratas já é a segunda força
na Islândia, depressa se tornará a primeira. Os governos dos países de leste já
de extrema-direita na Polónia e na Hungria serão reforçados.
Na Áustria o Partido da extrema-direita
radical poderá ganhar a repetição das eleições para a Presidenciais e ganhará
seguramente as próximas legislativas.
Le Pen ganhará facilmente a França
completamente destroçada pela governação errática e incompetente de Hollande e
o desaparecimento de um líder credível da direita moderada, Sarkozy, não é
aceite sequer pelo seu próprio partido.
Mesmo na Alemanha o partido AFD
(extrema-direita xenófoba e anti europeu) formado recentemente ficou muito bem
cotado nas eleições regionais e poderá pôr em causa a coligação moderada hoje
no poder nas eleições do próximo ano.
Na Espanha, o Governo de Rajoy nem sequer
conseguirá aprovar o Orçamento de Estado e mesmo que o consiga não poderá
governar porque não consegue obter maiorias, logo não tarda irá cair, o que
levará ao reforço do Podemos (outro partido populista) visto o PSOE estar em
queda e provavelmente a caminho da sua PASOKização, ou seja o seu
desaparecimento.
Estamos, portanto, no bom caminho!
(2) No aspecto económico haverá ma mudança
clara. Trump e os Partidos populistas europeus são nacionalistas, contra a
globalização.
Trump particularmente é um isolacionista
como o eram os americanos antes da segunda guerra mundial. São portanto contra
o liberalismo e livre cambismo que levou á perda de postos de trabalho na Europa
e USA em proveito da China e países do terceiro mundo e começaremos a ver
medidas proteccionistas a acontecerem nos EUA desde já.
Ora acontece que os USA e a Europa são
responsáveis por 35% do comércio mundial apesar de apenas termos 800 milhões de
habitantes, menos de 1/7 da população
mundial! Serão portanto os primeiros e mais afectados pela esperada redução do
comércio já que quer EUA quer a Europa são ao mesmo tempo os melhores clientes
e fornecedores deles próprios.
Os USA e a Europa comerciam entre si quase
70% do seu PIB, apenas cerca de 30% é comerciado com países terceiros.
Será portanto um desastre económico de
consequências bíblicas, que levará ao abrandamento da economia e mesmo à recessão
na Europa que se encontra com grandes dificuldades por não ter sabido tomar
medidas para sair da crise 2008.
Claro que o acordo comercial que estava em
discussão entre a Europa e a América, vai á vida. Neste caso, Trump disse-o
expressamente!
(3) A nível geo- político haverá mudanças
radicais com consequências para a paz, a economia e a sociedade em geral.
Trump é um isolacionista bem
como desde sempre foram a maioria dos americanos. Não nos podemos esquecer que
sem o estupido bombardeamento de Pearl Harbour, os americanos não teriam
entrado na guerra, apesar da vontade do seu Presidente que nunca foi capaz de
convencer o Parlamento.
Porém a entrada na guerra levou a que os USA
passassem a ser o líder mundial (até então era o Reino Unido com o seu
império).
Deste modo, os americanos voltarão ao
passado em que os seus interesses geo estratégicos, estarão virados para o
Pacifico e não para o Atlântico.
O perigo para a hegemonia dos USA não vem
dos seus aliados europeus e os países europeus, individualmente considerados,
mesmo a Alemanha, são médios países sem dimensão para competir com os USA.
A China pelo contrário, dada a sua dimensão
poderá a prazo tomar o lugar de primeira potência aos americanos, portanto os
USA irão atacar as suas vulnerabilidades que são o facto dos USA, sem o seu principal
cliente (a seguir é a Europa), e o facto de deterem uma grande parte da dívida
americana (em dólares claro está) estando assim na mão dos americanos, uma vez
que qualquer desvalorização do dólar afectará brutalmente a economia chinesa.
Trump atacará a China, sem dúvida e fará o
absolutamente necessário e nada mais para manter a Europa como aliada.
Aliás a previsível crise económica
consequência do abrandamento da economia com as medidas proteccionistas levará
a uma diminuição dos mercados mundiais em particular da China que tem ainda uma
enorme dependência das suas exportações e também a Europa que aliás tem um
superavit na sua balança comercial com os USA (o que irá alterar-se e passará a
ser ao contrário).
A Europa está ainda mais vulnerável que a
China porque não só os USA são o seu principal parceiro comercial, como também
porque depende para a sua segurança da NATO dominada pelos americanos já que os
europeus para financiarem o seu estado social ignoraram os investimentos na sua
defesa e nas Forças Armadas a ponto de aquando dos bombardeamentos no Kosovo
ter sido necessário utilizar aviões americanos da base de Diego Garcia (no
Pacífico) porque a NATO não dispõe de bombardeiros de grande altitude!
A escolha pelo isolacionismo e o Pacífico,
levará a um maior afastamento da Europa que entrará em grandes dificuldades
para deter a pressão de Putin que quer que a Rússia passe a ser considerada uma
superpotência, tendo em conta que os aspectos económicos do proteccionismo
americano serão enormes numa Europa que está em crise vai já para 9 anos!
Neste particular é apenas seguir a politica
de Obama em relação á Rússia a qual se caracterizou por muita retórica e pouca
acção.
Na verdade, a Rússia anexou a Crimeia como
se estivesse na Idade Média violando o direito internacional, retirando
território a uma nação independente
aliada da União Europeia.
Do mesmo modo, apoiou politica e
militarmente a certamente futura independência de províncias ucranianas de
maioria russa, sem que a Europa tenha feito algo a não ser sanções económicas
que também afectam a si própria.
Nada se fez porque os americanos não
consideram a Rússia um concorrente sério.
A sua economia está pelas ruas da amargura
e o petróleo, a sua maior riqueza (2ª produtor mundial), está como está,
portanto focar-se-á no Pacífico, na China e dará boas palavras aos europeus mas
nem mais um tostão para a defesa da Europa nem mais um tostão para a NATO.
Encarecer os produtos importados para desincentivar
as importações, avançando mesmo para uma pequena desvalorização do dólar visando
aumentar as exportações e já agora dar uma bicada na China.
Finalmente, haverá um desligar da
intervenção no Médio Oriente. Esta região do mundo apenas foi estratégica para
os USA pela necessidade energética dos USA, o petróleo.
Uma vez ultrapassada essa necessidade, já
que em 2017 os USA passarão de importadores a exportadores de petróleo devido
ao xisto, não haverá mais necessidade de despesas militares e vidas americanas
desperdiçadas nessa região do mundo.
Atuarão sim contra o Estado Islâmico,
porque ainda não se esqueceram do 11 de Setembro , mas é tudo, deixarão aqueles
países á sua sorte, aliás no seguimento da política de Obama que reduziu laços
com os sauditas.
A América pouco tem feito para resolver o
problema da Síria, permitindo a intervenção russa e apenas usando a retórica.
Os USA apenas estão interessados na
destruição do Estado Islâmico.
Para tal, o seu novo aliado será a Turquia,
grande potência regional, mesmo que isso não agrade aos europeus.
Por outro lado, haverá um reforço das
relações com Israel que foi o maior beneficiado naquela região do mundo com
esta eleição.
A paz com os palestinianos será portanto
mais uma vez adiada.
Isto é o que eu penso que acontecerá. Com
isto não quero dizer que a coisa resultará para os americanos, pelo contrário e
que não continue a haver muitos perigos que levem os americanos a estarem
atentos: nomeadamente a Coreia do Norte e Irão que voltará a deteriorar as
relações e certamente á construção de poder nuclear.
Mas para a Europa não será muito bom. O
crescimento das forças populistas na europa em detrimento das forças moderadas,
a provável morte da União Europeia, o abrandamento da economia levará a um
agudizar da crise, a expansão da Rússia para voltar a dominar os países da ex
União Soviética sem que a Europa possa retaliar, a continuação da guerra no
médio oriente que levará á manutenção das pressões migratórias sobre a Europa,
não auguram um futuro risonho.
Entretanto a Comissão Europeia, O
Eurogrupo continuam preocupadíssimos com
assuntos de muito maior importância como aplicar sanções e castigos aos seus
membros!
E bajular o inefável Sr Schoebel.
Julgo que estamos no fim de um ciclo (dizem
alguns que é como a queda do Império Romano) que levará a uma deterioração das
relações entre as nações, á destruição de zonas de paz como a Europa, a um
abrandamento da economia, a uma diminuição da influencia das democracias
representativas e a um reforço dos populismos e democracia directa (referendos
e plebiscitos), irá criar uma nova era, uma nova ordem internacional!
Esta não foi uma eleição. Foi uma revolução.
ResponderEliminarÉ meia-noite na América. Ontem, cinquenta milhões de americanos levantaram-se e enfrentaram a grande roda de ferro que os tem esmagado. Eles permaneceram de pé, mesmo quando os media lhes diziam que era inútil. Eles resistiram, mesmo quando todas as classes tagarelas riam e zombavam deles.
Eram pais que já não conseguiam alimentar as suas famílias. Eram mães que já não conseguiam pagar os cuidados de saúde. Eram trabalhadores cujos empregos tinham sido vendidos a países estrangeiros. Eram filhos que não viam um futuro por si mesmos. Eram filhas com medo de serem assassinadas pelos "menores desacompanhados" que inundam as suas cidades. Eles respiraram fundo e ficaram de pé.
Eles ergueram as mãos e a grande roda de ferro parou.
O Grande Muro Azul desmoronou-se. Os Estados impossíveis caíam um a um. Ohio. Wisconsin. Pensilvânia. Iowa. A classe operária branca, que tinha sido negligenciada e espezinhada por tanto tempo, ergueu-se. Levantou-se, contra os seus opressores, e o resto da nação, de costa a costa, levantou-se com ela.
Eles lutaram contra o envio dos seus empregos para o exterior, enquanto as suas cidades ficaram cheias de migrantes que têm tudo, enquanto eles não tem nada. Eles lutaram contra um sistema em que eles poderiam ir para a prisão por qualquer motivo mesquinho, enquanto as elites podiam violar a lei e ainda passear-se numa eleição presidencial. Eles lutaram contra quem lhes dizia que tinham que assistir calados e cumprir tudo a que os obrigavam. Eles lutaram contra serem votados ao desprezo por quererem trabalhar para ganhar a vida e cuidar das suas famílias.