quarta-feira, 29 de junho de 2016
Plano de Pormenor de Armação de Pêra em discusão pública
O período de discussão pública prévia da alteração do Plano de Pormenor de Armação de Pêra vai decorrer entre 30 de junho e 20 de julho.
Estes 20 dias de discussão pública resultam de uma deliberação daquela autarquia, tomada a 11 de maio e que deu início ao procedimento de alteração do Plano de Pormenor de Armação de Pêra, aprovando os respetivos Termos de Referência e a minuta de Contrato para Planeamento.
Durante este período, os interessados poderão formular sugestões e/ou apresentar informações sobre quaisquer questões que possam ser consideradas no âmbito do respetivo procedimento de alteração.
Para o efeito deverá ser utilizada a ficha de participação a remeter para a Câmara Municipal de Silves, Praça do Município, 8300-117 Silves ou pelo email alteracao.ppap@cm-silves.pt.
Os interessados podem ainda consultar pessoalmente a deliberação de início do procedimento de alteração do PPAP, os termos de referência, o contrato para planeamento (minuta) e a qualificação da alteração do PPAP para efeitos de sujeição a Avaliação Ambiental Estratégica na Câmara Municipal de Silves (Divisão de Ordenamento e Gestão Urbanística, Ordenamento do Território), ver aqui e na sede da Junta de Freguesia de Armação de Pêra.
Para qualquer esclarecimento adicional, deverá ser contactada a Divisão de Ordenamento e Gestão Urbanística, Ordenamento Territorial da Câmara, através do telefone 282 440 825.
domingo, 26 de junho de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
sexta-feira, 24 de junho de 2016
quinta-feira, 23 de junho de 2016
quarta-feira, 22 de junho de 2016
terça-feira, 21 de junho de 2016
segunda-feira, 20 de junho de 2016
domingo, 19 de junho de 2016
sábado, 18 de junho de 2016
sexta-feira, 17 de junho de 2016
quinta-feira, 16 de junho de 2016
quarta-feira, 15 de junho de 2016
terça-feira, 14 de junho de 2016
Lenda do Galo de Barcelos
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Galo de Barcelos
A lenda do Galo de Barcelos narra a intervenção milagrosa de
um galo morto na prova da inocência de um homem erradamente acusado. Está
associada ao monumento seiscentista
que faz parte do espólio do Museu Arqueológico, situado no Paço dos
Condes de Barcelos.
Um dia, os habitantes de Barcelos andavam alarmados
com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera.
Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram
prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de
passagem em peregrinação
a Santiago de
Compostela, em cumprimento duma promessa.
Condenado à forca,
o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara.
Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse
momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua
inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado
que estava sobre a mesa e exclamou:
- "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo
cantar quando me enforcarem."
O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o
peregrino estava a ser enforcado, o galo
assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para
a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem
foi imediatamente solto e mandado em paz.
Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para
esculpir o Monumento do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a Santiago Maior, monumento
que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Alain de Botton e a sua Escola da Vida ( os problemas comuns ou a origem dos problemas?)
Critica a Academia pelo modo como ensina os estudantes e, na volta, recebe o desdém de quem o arruma na gaveta da “filosofia pop”. Alain de Botton usa a medida da História para relativizar o alarido contemporâneo dos media enquanto mantém em alta a cotação das ideias. Milita contra as “coisas feias”, colocando o pensamento sobre as cidades no centro do alvo, e, a propósito, confessa o ódio por Boris Johnson [o anterior mayor de Londres]. Com formação em história, literatura e filosofia, Alain de Botton fundou a School of Life juntamente com uma comunidade de pensadores que dá prioridade aos “problemas comuns”. Passados 20 anos sobre a publicação do seu primeiro romance, Alain regressa ao tema com uma proposta inédita: falar do amor, não o do enamoramento, mas o da duração, cheio das dificuldades do dia a dia. À medida que conta a história, analisa as causas, o tal misto de emoção e racionalidade que atravessa toda a sua obra.
Admite que é preciso coragem para experimentar novas formulas de escrita. Como esta sobre a qual discorreu sentado à minha frente no seu escritório londrino. Numa tarde de final de maio, a luz branca ofuscava através das janelas, que davam sobre o verde omnipresente das pacíficas ruas de Belsize Park.
TRABALHOU neste romance sobre o amor durante cinco anos. Tem vários projectos a correr ao mesmo tempo?
Sim, vários, e há um momento em que os pensamentos que vão surgindo parecem certos.
ENTÃO, quando se diz que, 20 anos depois de “Ensaios de Amor”, volta ao tema do amor não faz muito sentido...
Não faz, porque, de certa maneira, nunca abandono o tópico, está sempre presente, e os outros livros ajudam a dar forma ao pensamento. Tudo se interliga no cérebro.
TEM vindo a desafiar convenções, algumas delas estabelecidas há séculos. É o caso do Romantismo com letra grande, convenções sociais como o casamento, a religião, o trabalho, a política...
Eu não as desafio completamente, procuro o que é interessante nelas.
Quando tratei da religião, não disse que deveríamos esquecê-la...Sou sempre muito simpático com o objecto do meu ataque. A religião era o alvo do ataque, mas também o aliado. Desta vez, com o amor...eu não quero que se diga que o livro ataca o amor, não. Sou muito a favor do amor. Penso é que temos de ter mais cuidado. É uma manobra semelhante à que usei com outros temas...A arte está muito bem, mas temos de a usar de determinada maneira.
ESTÁ sempre a dizer “vamos ser directos e fazer uma abordagem racional”, seja do que for, como se dissesse “vamos ter maturidade perante as coisas”...
Concordo que maturidade é uma palavra interessante. É maçador quando se diz que tem de se ser mais maduro, porque vivemos numa sociedade com uma mentalidade impulsiva, romântica e muito jovem. A minha ideia dos seres humanos é que têm cérebros dignos de muito pouca confiança, e este é um ponto filosófico clássico. É como dizer que temos este cérebro que julgamos que nos dá informação rigorosa, mas não é verdade. Nós não compreendemos mesmo as outras pessoas, não nos compreendemos a nós próprios, e tudo é muito mais perturbador e complexo do que imaginamos. Por isso temos de ter cuidado e analisar, pensar, parar, separar elementos...esse tipo de coisas. Em particular em áreas como as relações amorosas, em que as pessoas são particularmente impulsivas e impacientes. Há quem acabe com um casamento por causa de um fim de semana que correu mal! O quê?
ESSES gestos não estão directamente ligados às expectativas?
Sim. Eu não sou uma pessoa de expectativas altas...mas se as temos torna-se mais complexo e somos obrigados a trabalhá-las, a planear.
A COMPLEXIDADE não é um problema em si...
Não, mas uma pessoa tem de estar preparada para ela, não há nada pior do que a complexidade que não foi prevista. As pessoas ficam muito impacientes, entram em pânico, sentem-se perseguidas, perguntam-se porque é que a vida está a correr tão mal. No espaço público não há informação suficiente sobre a complexidade das coisas. A história que contamos a nós próprios a propósito, digamos, do amor não é suficientemente honesta em relação às complexidades que implica.
PARECE-ME que vivemos em várias épocas diferentes consoante o sector da vida. A política rege-se por regras ultrapassadas, os resultados eleitorais já não reflectem o eleitorado como antes, as tecnologias de informação deixam bem claro que parece que vivemos simultaneamente em eras diferentes...
Sim, é verdade, e muitas das nossas respostas têm um milhão de anos! Dá em grandes contrastes quase cómicos. Já fomos à Lua, estamos de partida para Marte, mas ainda não sabemos como evitar a discussão sobre a maneira de pendurar a toalha das mãos no toalheiro.
NÃO CONSEGUIRMOS resolver essas pequenas coisas torna-nos ridículos?
Ontem estive numa conferencia organizada pela Google [“Talks at Google”], e o Eric Schmidt [presidente da Alphabet] dizia durante a sua intervenção que estamos a trabalhar na cura do cancro, conseguimos ter segurança nas estradas, criamos viaturas sem...A certa altura perguntaram-lhe se havia alguma área em que a Google não desse cartas, e ele respondeu: “Fanatismo, falta de tolerância... Não sabemos o que fazer com isso. ”E acrescentou que gostaria que a Google fizesse uma aplicação para a sabedoria e para a tolerância. Eu fiquei a pensar como é fascinante que quem sabe tratar o cancro diga que não pode fazer nada pela tolerância. Intriga-me! O que pode ser mais difícil do que curar o cancro? Deveria estar ao mesmo nível de dificuldade!
O QUE é que o espanta?
Espanta-me muito a falta de ambição das nossas sociedades relativamente a questões emocionais. Já que a nossa felicidade e bem-estar são tão dependentes do nosso funcionamento emocional, é muito estranho que abandonemos e entreguemos esta área à sorte e ao instinto. É que mesmo estas grandes companhias tecnológicas que detestam deixar as coisas entregues ao instinto respondem: ”Ah, sim, OK, isso é um mistério.” O quê? Que interessante!
VOLTANDO ao Romantismo com letra grande, cito-o: “O Romantismo diz-nos que vamos conhecer a pessoa, o que é erróneo, porque todos nós somos humanos e loucos de formas incrivelmente variadas.” Falhámos a abordagem desta loucura?
Se ouvirmos discussões que os casais têm após passarem algum tempo juntos, os maridos ou mulheres estão muito zangados com o outro por ele não estar certo, por não ser suficientemente bom. Isto é frequente porque partimos da posição errada da afeção e seguimos em direção ao fundo.
Como acontece com a religião. Tenho muita simpatia pela ideia católica do pecado original, que diz basicamente que toda a gente é pecadora. Eusou um judeu secular, porém acho-a uma ideia encantadora e um ótimo ponto de partida. Se se começar uma relação com alguém admitindo “tenho muitos problemas, não sou nada perfeito”, é um bom ponto de partida. Significa que não haverá tanta autoconsciência de integridade moral, que é o verdadeiro inimigo do perdão. E o perdão é muito importante!
ESTÁ a falar de generosidade?
Eu digo algures no livro que temos de nos tratar uns aos outros como fazemos com as crianças pequenas, porque quando lidamos com elas somos muito generosos. É um trabalho difícil, mas somos sempre capazes de procurar uma boa explicação para o facto de, se a criança não é uma pessoa horrível, porque fez uma coisa horrível? Aos adultos, classificamo-los logo como horríveis, presumimos que o que fizeram foi para nos magoar, em vez de pensarmos que os outros, se calhar, estão apenas cansados, maçados, esse tipo de coisas.
SOMOS muito vulneráveis, achamos que tudo pode destruir-nos por qualquer razão?
Exacto! Somos muito vulneráveis e muito ansiosos. É básico para todos, e achamos que é verdade para nós mas não para os outros. Uma lição básica é acreditarmos que sabemos imenso sobre nós próprios e, na verdade, tão pouco sobre os outros. Temos de acreditar que as outras pessoas têm o mesmo tipo de vulnerabilidades que nós. Não exactamente o mesmo arrependimento, mas arrependimento. Não exatamente o mesmo medo, mas medo. Insistimos que as outras pessoas são diferentes e projectamo-los no amor, e quando idealizamos uma pessoa achamos que ela é perfeita. Quando odiamos uma pessoa, fazemos o mesmo e achamo-la o diabo, um horror. E isto porque simplesmente recusamos ter a percepção de que o outro é mais ou menos como nós, uma mistura de bom e mau, estúpido e esperto...
DISSE há pouco que a maturidade é maçadora enquanto assunto. No entanto, ela é essencial para a relação entre adultos. Ao crescermos, admitimos com mais dificuldade que um adulto seja imaturo?
Ser imaturo não é um insulto. Há uma obsessão tão grande por não se querer ser infantil... O cristianismo é de novo interessante quando diz que toda a gente é uma criança filha de Deus. É um ótimo ponto de partida. A psicanálise diz o mesmo, que o adulto será chamado adulto e que tem muitos períodos, incluindo a infância, a existirem simultaneamente dentro de si. Não é um insulto, é só a realidade. Se a cultura nos enviar estas mensagens, ajuda, porque modela o tipo de conversas que as pessoas têm na cozinha e no quarto...
O CONCEITO de normalidade é difuso.
A cultura decide o que é normal, e eu acho que a nossa ideia do que é normal não ajuda nada, deixa demasiada coisa de fora. Faz com que muitas pessoas se sintam estranhas. O que é normal tem a ver com as especificidades de cada cultura. Nós achamos que o século XIX foi muito anormal e que agora somos muito maduros na nossa aferição do mundo, mas não é exatamente assim.
E CADA época pensa em si deste modo?
Sim.
ENQUANTO escrevia “O Curso do Amor” pensava no que seria normal para um casal?
Claro, quando dei o livro a ler ao meu editor ele mostrou preocupaçãoo por os personagens serem malcriados e agressivos um para o outro. Eu perguntei-lhe como é ele em casal. E ele respondeu: “Tal e qual como eu e a minha mulher, não é normal.” E eu retorqui: “Porquê?” Porque não é normal para a conversa pública. A conversa pública a propósito do amor ainda é reduzida.
O QUE se pode fazer por ela?
A arte e a literatura deveriam ser responsáveis por trazer o amor para a conversa pública, é essa a sua função. Em sociedade, as pessoas dizem sempre que estão “bem, ótimo”, e depois vamos para casa com vontade de nos matarmos. A arte para mim é alargar o sentido daquilo que é normal, fazer-nos sentir um pouco menos solitários. A função primordial da arte é assegurar o leitor da sua normalidade, da legitimidade do seu medo, esperança, infantilidade, zanga...
A LITERATURA hoje precisa de ter objectivos?
Está muito fora de moda ter objectivos. O modernismo centra-se no esvaziamento da ideologia e foge ao didatismo. Os artistas visuais não devem ter missões artísticas afirmadas, é considerado vulgar, ordinário. Se alguém disser: “Estou a pintar para ajudar as pessoas a serem melhores pessoas”, soa muito esquisito. Eu tenho um sentido neoreligioso, nós vimos de sociedades religiosas que nos guiavam e tinham ideias sobre sabedoria (nem sempre a certa) mas com uma fortíssima intenção moral. Isto entra em colapso no final do século XIX, inicio do século XX, e o que o substitui é a liberdade, a ideia de que cada pessoa é livre. Mas liberdade também significa sozinho, e aquilo que passa a estar no lugar da religião é a cultura. Por isso se constroem as óperas, as livrarias...Toda esta energia está realmente a dizer que a cultura pode guiar-nos como a religião o fazia antes. Há que ver como.
QUER dar um exemplo?
Se eu for à Tate Gallery e disser que me sinto sozinho e confuso, eles perguntam-me: “O quê Não podemos ajuda-lo, somos apenas a Tate Gallery!” A Tate não é a catedral de Londres, não é um lugar de consolo. Isto preocupa-me porque criámos uma cultura solitária onde é muito difícil percebermos para onde podemos virar-nos.
É COMUM crentes, em particular católicos, acusarem os ateus de terem escolhido estar sozinhos no mundo. Penso que a responsabilidade de um ateu é considerável...
Concordo, atribui um grande fardo ao individuo. A pessoa está sozinha, mas tem de encontrar soluções...Eu sou ateu, sempre fui, e vivo numa sociedade ateia. Ninguém é crente em Inglaterra, a Igreja desapareceu há muito tempo, a religião é uma coisa de outro tempo, por isso não acho que ser ateu seja uma ameaça. Imagino que em Portugal seja diferente, que haja maior presença da religião e que, por isso, a sua ausência seja mais ameaçadora.
CONCORDA que a religião é hoje mais vezes formulada em termos de fanatismo, extremismo, radicalismo? No caso do Sadik Khan, recentemente eleito para a Câmara de Londres, praticamente todos os comentários sobre ele o reduziam ao facto de ser muçulmano e moderado.
O cristianismo foi uma religião extremamente fanática em vários pontos da sua história. Comparado com uma religião poderosa e impositiva, é atualmente um gatinho. As religiões passam por períodos de maior e menor violência, perseguição e intolerância. O islão está numa fase parcialmente de extrema intolerância. Não me surpreende que os media falem de Sadik Kahn como muçulmano...mas moderado, porque os extremistas têm sido um problema.
QUE TIPO de impacto tem na sociedade britânica?
O Reino Unido é extremamente tolerante. Não porque os britânicos sejam extraordinários, mas porque há um sentido da vida pública que é fria, mas também muito tolerante. O pais tem sido um lugar de tolerância religiosa há centenas de anos. No século XVII, quando os franceses andavam a queimar os protestantes, eles fugiam para Inglaterra, onde ficavam à vontade. Há uma notável tolerância numa cidade como Londres. Parte da vitória de Khan deveu-se ao facto de as pessoas em Londres não poderem imaginar o que faria à sua autoimagem recusar um político que fosse muçulmano ou simplesmente por ele ser muçulmano. Qualquer pessoa aqui dirá que não se julga ninguém pela sua religião.
E COMO vê a mudança de Boris Johnson para Sadik Khan?
Eu detestava o Boris Johnson, acho que é um homem horrível e perigoso, por isso estou muito contente que tenha saído. Espero que ele não destrua o pais de outra maneira qualquer.
JÁ FEZ estragos na liderança da campanha para o Brexit, não?
Corremos o risco de fazer estragos muito sérios.
FEZ UM vídeo sobre Londres onde diz que a cidade se está a tornar uma má versão do Dubai e chama-lhe Dublon. Em tom de campanha, exorta os londrinos a transformarem a raiva em ação. Não é intervenção política?
Acho que um dos problemas das nossas sociedades é a fealdade, e é muito estranho que nenhum político assuma que o problema do mundo é ser feio. Porém, a fealdade é um assunto muito importante. Muitas vezes aparece ligado à pobreza, as pessoas não dizem a palavra pobreza. O mundo moderno é muito mais feio do que tem de ser, e não se trata de uma questão de dinheiro: é uma questão de ideias. Temos ideias erradas sobre o planeamento das cidades, a responsabilidade dos governos nisso, como funciona a arquitectura...Bastou para que se fizessem dez grandes asneiras para que o mundo moderno tenha um aspeto geral desastroso. Os seres humanos adoram a beleza, basta ver que quando vão de férias vão para sítios bonitos, não vão para Birmingham nem para Frankfurt, porque são lugares feios.
Vão para Amesterdão ou para Veneza, porque são sítios bonitos. Mas porque é que são tão raros, porque há tão poucas cidades assim bonitas?
E PODEM estar rodeados de lugares feios...
Sim, basta olhar para os arredores de Paris: não é falta de dinheiro, é um erro intelectual. E isso endoidece-me! Escrevi um livro sobre isso, fiz uma série de televisão, provoquei imensa agitação e mantive-me muito ativo neste debate no Reino Unido durante dez anos. Estou ligeiramente retirado agora porque me cansei. Ainda me preocupo, é um desespero.
QUAL É o papel dos intelectuais nestes debates?
Muitas vezes, os intelectuais e os académicos acham que os problemas do mundo radicam no desconhecimento de uma solução. Por isso, vão para as universidades e escrevem um livro sobre a justiça, como resolver o problema da fome e da corrupção ou a fealdade das cidades. Ótimo! E o mundo muda porque se escreveu um livro. Só que não funciona assim. Não basta a ideia, é preciso saber se alguém está a ouvir, se as pessoas acreditam nas conclusões a que se chega...Daí passa-se à educação, à política, meios de comunicação social, tudo isso...
E O INTELECTUAL na sociedade?
Perturba-me a posição do intelectual na sociedade porque tem muito pouco poder! Os meus livros são todos animados por este desejo de mudança, este interesse na alteração é um tema em si. Ao longo da vida tentei de várias maneiras e acho que a resposta é fazer-se o que se pode.
DIZ QUE vivemos na época wiki – Wikipédia e WikiLeaks -, há intelectuais ativos, dispomos de informação, temos os media, temos os instrumentos, sabemos tudo...
E não fazemos nada! A política, numa sociedade democrática, uma eleição ou um político é o resultado de todo o tipo de ações que demoram muito mais tempo. Estamos a falar de cronologias diferentes. Uma eleição é o resultado de uma década de acontecimentos na sociedade, factos muito mais lentos. O fenómeno Trump nos Estados Unidos não começou hoje. O papel dos media deveria ser ajudar um certo tipo de política a acontecer, porque os media informam a sociedade das várias questões que lhe dizem respeito. Um político só pode fazer algumas coisas com ajuda dos media. Os políticos são o último estágio da mudança, os media estão antes disso na pirâmide da mudança, da mesma forma que no primeiro momento está a educação e depois a arte e a cultura.
VOLTANDO ao novo livro: espera-se que uma história de amor caia do céu como um raio, e o que aqui faz é trazer a história à terra e analisá-la. É mais próximo de um caso de estudo?
Sim, eu sei que não é um livro para todos, que haverá quem recuse aquela voz analítica e exija a história, mas ela está lá. Aprendi que tenho de usar o meu prazer de escritor e escrever aquilo que gostaria de ler. Mesmo que seja pouco habitual. Há que ter a esperança de que alguns leitores gostem de um livro assim, é para isso que é preciso coragem. Este livro tocou profundamente algumas pessoas e outras nem de raspão.
OBRIGA as pessoas a reflectirem sobre as próprias vidas?
Sim, e eu não quis escrever um ensaio filosófico nem só um romance.
Quis uma fusão dos dois como uma tensão permanente.
A TERAPIA não é muito popular. Não fica mais difícil?
Concordo, há muita hostilidade contra as terapias. E é verdade que há por ai muitos psicoterapeutas malucos, mas há ideias básicas na psicanálise que me parecem totalmente corretas. Coisas básicas como dizer que a forma como amamos foi modelada pela experiência com os nossos pais parece-me irrefutável. Certos estilos de vinculo, o modo como nos relacionamos com outras pessoas depende do nível de segurança que sentimos em crianças. Estas coisas têm todas uma história pessoal, e não sei como é que se poderia compreender um ser humano sem este modelo.
NO SEU trabalho, dá um passo atrás para olhar a estrutura daquilo que analisa. Fá-lo em termos de séculos, de história e como mecanismo para pôr os assuntos em perspectiva. É tranquilizante?
Estudei história das ideias em Cambridge, onde o treino nos dizia que cada ideia tem uma história e é sempre interessante recuar e aprendê-la.
Fica-se a perceber as coisas fora de comum da nossa própria sociedade, boas ideias que ficaram bloqueadas no passado...Não diziam exatamente isto, mas foi o aproveitamento que eu fiz do que se ensinava. Parte do papel do pensador é recuar e resgatar o que pode esclarecer as estranhezas do presente. A dada altura no livro escrevo que o romantismo defende que, quando amamos, temos de amar tudo na outra pessoa, que a critica é sempre agressiva e negativa, não se pode pensar em educar o amante. Se recuarmos à Grécia Antiga, o amor para eles é educação. A educação é o amor de se tornar uma pessoa melhor através do amor. Temos uma ideologia do romantismo fixada em 1750 que permanece nas cozinhas de Lisboa de hoje em dia. É fascinante, adoro estas ideias que não sabemos de onde vêm, achamo-las normais como se não tivessem história. Mas têm sempre uma história.
A COMPREENSÃO pela história é uma espécie de terapia?
Sim, dá-nos mais opções, abre uma janela. De repente, este casal está a discutir, e abre-se uma janela pela qual podem olhar para os gregos antigos à distância.
SE LHE DÁ mais recuo pensar através da história, como reage à globalização?
É o mesmo principio. Em vez de o fazer através do tempo, faço-o através do espaço. Da mesma forma que na história podemos olhar para épocas diferentes, agora podemos olhar através de diferentes países. Hoje em dia, na China, sabe-se mais do Ocidente e vice-versa, ainda que, muitas vezes, não em profundidade. A proposta vazia da globalização diz que podemos enviar uma banana através do mundo em dois minutos. Mas a proposta interessante diz que se pode observar o relativismo de todas as convicções introduzindo mais opções para determinada sociedade. É o oposto do provincianismo, onde não se dispõe de suficientes janelas abertas e as pessoas pensam que aquilo que pensam é tudo o que existe. O provincianismo tem uma arrogância, e eu acho que nos tornámos um pouco menos provincianos com a parte boa da globalização.
A PARTE boa da globalização?
Sim, lembro-me sempre do que Flaubert dizia a propósito do caminho de ferro: um idiota entrava num comboio em Rouen e duas horas depois saia em Paris sendo ainda um idiota. É brutal, mas significa que as pessoas podem continuar a ser provincianas independentemente dos instrumentos que tenham ao seu dispor. O aeroporto é uma possibilidade, mas podem fechar-se os olhos.
DISSE-ME que, tal como Freud, é um pessimista. Como?
Há uma diferença entre ser um pessimista e ter uma filosofia pessimista.
Ser um pessimista pressupõe a expectativa de que não vale a pena fazer muito porque vai correr tudo mal.
Eu não tenho esse tipo de pessimismo. Penso que a filosofia do pessimismo tem muito a ensinar-nos, em particular sobre coisas como política, amor. Porque algumas das piores características da nossa época podem ser ligadas a uma especial de utopia furiosa, como a de Donald Trump. É interessante que Barack Obama seja extremamente pessimista. A resposta que deu para justificar não enviar tropas americanas para o Médio Oriente foi que provavelmente não faria qualquer diferença.
NÃO SERÁ realismo depois do que já aconteceu?
Com certeza! O que quero dizer é que é muito pouco comum quando estamos tão habituados à retórica do “vamos em frente, vamos resolver tudo”. O pessimismo é uma boa filosofia nos momentos em que suaviza a utopia furiosa. Pode tornar-nos mais pacientes e capazes de perdoar. Eu prefiro esperar pouco e ser agradavelmente surpreendido. O pessimismo não compromete um resultado positivo, ajuda-o.
A PROMESSA de solução de todos os problemas não faz parte das campanhas eleitorais?
Todo o sistema mediático e a obsessão numa eleição exagera a importância do candidato. Só que a sociedade muda por movimentos profundos e lentos. Os media gostam de afirmar que as grandes mudanças se devem a grandes homens e grandes mulheres. Acho que Donald Trump é um fenómeno de impaciência, ele refere tudo e todos à volta como lentos e afirma-se rápido. Diz que a política é lenta, os negócios são pelo contrário rápidos. É isso que ele vende, que, se elegermos alguém dos negócios, a política adquire a velocidade dos negócios: o sonho americano. Ele esquece que a política é lenta porque foi assim desenhada para poder travar os loucos. Os fundadores da América eram obcecados pela tirania, obcecados pela possibilidade de subida ao poder de um tirano, porque era isso que eles conheciam séculos seguidos na Europa. Ao escreverem a Constituição, pretendiam dar espaço ao positivo, preparando-se para evitar um mau Presidente. A Constituição é a instância do sistema americano capaz de dar o poder a um bom Presidente. Com esperança, o sistema sobreviverá até a Donald Trump. Desta vez é mesmo extremo, será o grande teste à democracia da América! Mas as pessoas são individualmente mais determinadas pelas relações que têm entre si e com os seus filhos do que pelo Presidente dos EUA.
VIVEMOS tempos perigosos?
Não mais do que em qualquer outra época. A experiência humana, a nossa vida é perigosa. Podemos cair mortos num segundo. Nunca pensamos nisso, mas isto é perigoso do principio ao fim.
Entrevista de Cristina Peres, in Expresso de 10 de Junho
Admite que é preciso coragem para experimentar novas formulas de escrita. Como esta sobre a qual discorreu sentado à minha frente no seu escritório londrino. Numa tarde de final de maio, a luz branca ofuscava através das janelas, que davam sobre o verde omnipresente das pacíficas ruas de Belsize Park.
TRABALHOU neste romance sobre o amor durante cinco anos. Tem vários projectos a correr ao mesmo tempo?
Sim, vários, e há um momento em que os pensamentos que vão surgindo parecem certos.
ENTÃO, quando se diz que, 20 anos depois de “Ensaios de Amor”, volta ao tema do amor não faz muito sentido...
Não faz, porque, de certa maneira, nunca abandono o tópico, está sempre presente, e os outros livros ajudam a dar forma ao pensamento. Tudo se interliga no cérebro.
TEM vindo a desafiar convenções, algumas delas estabelecidas há séculos. É o caso do Romantismo com letra grande, convenções sociais como o casamento, a religião, o trabalho, a política...
Eu não as desafio completamente, procuro o que é interessante nelas.
Quando tratei da religião, não disse que deveríamos esquecê-la...Sou sempre muito simpático com o objecto do meu ataque. A religião era o alvo do ataque, mas também o aliado. Desta vez, com o amor...eu não quero que se diga que o livro ataca o amor, não. Sou muito a favor do amor. Penso é que temos de ter mais cuidado. É uma manobra semelhante à que usei com outros temas...A arte está muito bem, mas temos de a usar de determinada maneira.
ESTÁ sempre a dizer “vamos ser directos e fazer uma abordagem racional”, seja do que for, como se dissesse “vamos ter maturidade perante as coisas”...
Concordo que maturidade é uma palavra interessante. É maçador quando se diz que tem de se ser mais maduro, porque vivemos numa sociedade com uma mentalidade impulsiva, romântica e muito jovem. A minha ideia dos seres humanos é que têm cérebros dignos de muito pouca confiança, e este é um ponto filosófico clássico. É como dizer que temos este cérebro que julgamos que nos dá informação rigorosa, mas não é verdade. Nós não compreendemos mesmo as outras pessoas, não nos compreendemos a nós próprios, e tudo é muito mais perturbador e complexo do que imaginamos. Por isso temos de ter cuidado e analisar, pensar, parar, separar elementos...esse tipo de coisas. Em particular em áreas como as relações amorosas, em que as pessoas são particularmente impulsivas e impacientes. Há quem acabe com um casamento por causa de um fim de semana que correu mal! O quê?
ESSES gestos não estão directamente ligados às expectativas?
Sim. Eu não sou uma pessoa de expectativas altas...mas se as temos torna-se mais complexo e somos obrigados a trabalhá-las, a planear.
A COMPLEXIDADE não é um problema em si...
Não, mas uma pessoa tem de estar preparada para ela, não há nada pior do que a complexidade que não foi prevista. As pessoas ficam muito impacientes, entram em pânico, sentem-se perseguidas, perguntam-se porque é que a vida está a correr tão mal. No espaço público não há informação suficiente sobre a complexidade das coisas. A história que contamos a nós próprios a propósito, digamos, do amor não é suficientemente honesta em relação às complexidades que implica.
PARECE-ME que vivemos em várias épocas diferentes consoante o sector da vida. A política rege-se por regras ultrapassadas, os resultados eleitorais já não reflectem o eleitorado como antes, as tecnologias de informação deixam bem claro que parece que vivemos simultaneamente em eras diferentes...
Sim, é verdade, e muitas das nossas respostas têm um milhão de anos! Dá em grandes contrastes quase cómicos. Já fomos à Lua, estamos de partida para Marte, mas ainda não sabemos como evitar a discussão sobre a maneira de pendurar a toalha das mãos no toalheiro.
NÃO CONSEGUIRMOS resolver essas pequenas coisas torna-nos ridículos?
Ontem estive numa conferencia organizada pela Google [“Talks at Google”], e o Eric Schmidt [presidente da Alphabet] dizia durante a sua intervenção que estamos a trabalhar na cura do cancro, conseguimos ter segurança nas estradas, criamos viaturas sem...A certa altura perguntaram-lhe se havia alguma área em que a Google não desse cartas, e ele respondeu: “Fanatismo, falta de tolerância... Não sabemos o que fazer com isso. ”E acrescentou que gostaria que a Google fizesse uma aplicação para a sabedoria e para a tolerância. Eu fiquei a pensar como é fascinante que quem sabe tratar o cancro diga que não pode fazer nada pela tolerância. Intriga-me! O que pode ser mais difícil do que curar o cancro? Deveria estar ao mesmo nível de dificuldade!
O QUE é que o espanta?
Espanta-me muito a falta de ambição das nossas sociedades relativamente a questões emocionais. Já que a nossa felicidade e bem-estar são tão dependentes do nosso funcionamento emocional, é muito estranho que abandonemos e entreguemos esta área à sorte e ao instinto. É que mesmo estas grandes companhias tecnológicas que detestam deixar as coisas entregues ao instinto respondem: ”Ah, sim, OK, isso é um mistério.” O quê? Que interessante!
VOLTANDO ao Romantismo com letra grande, cito-o: “O Romantismo diz-nos que vamos conhecer a pessoa, o que é erróneo, porque todos nós somos humanos e loucos de formas incrivelmente variadas.” Falhámos a abordagem desta loucura?
Se ouvirmos discussões que os casais têm após passarem algum tempo juntos, os maridos ou mulheres estão muito zangados com o outro por ele não estar certo, por não ser suficientemente bom. Isto é frequente porque partimos da posição errada da afeção e seguimos em direção ao fundo.
Como acontece com a religião. Tenho muita simpatia pela ideia católica do pecado original, que diz basicamente que toda a gente é pecadora. Eusou um judeu secular, porém acho-a uma ideia encantadora e um ótimo ponto de partida. Se se começar uma relação com alguém admitindo “tenho muitos problemas, não sou nada perfeito”, é um bom ponto de partida. Significa que não haverá tanta autoconsciência de integridade moral, que é o verdadeiro inimigo do perdão. E o perdão é muito importante!
ESTÁ a falar de generosidade?
Eu digo algures no livro que temos de nos tratar uns aos outros como fazemos com as crianças pequenas, porque quando lidamos com elas somos muito generosos. É um trabalho difícil, mas somos sempre capazes de procurar uma boa explicação para o facto de, se a criança não é uma pessoa horrível, porque fez uma coisa horrível? Aos adultos, classificamo-los logo como horríveis, presumimos que o que fizeram foi para nos magoar, em vez de pensarmos que os outros, se calhar, estão apenas cansados, maçados, esse tipo de coisas.
SOMOS muito vulneráveis, achamos que tudo pode destruir-nos por qualquer razão?
Exacto! Somos muito vulneráveis e muito ansiosos. É básico para todos, e achamos que é verdade para nós mas não para os outros. Uma lição básica é acreditarmos que sabemos imenso sobre nós próprios e, na verdade, tão pouco sobre os outros. Temos de acreditar que as outras pessoas têm o mesmo tipo de vulnerabilidades que nós. Não exactamente o mesmo arrependimento, mas arrependimento. Não exatamente o mesmo medo, mas medo. Insistimos que as outras pessoas são diferentes e projectamo-los no amor, e quando idealizamos uma pessoa achamos que ela é perfeita. Quando odiamos uma pessoa, fazemos o mesmo e achamo-la o diabo, um horror. E isto porque simplesmente recusamos ter a percepção de que o outro é mais ou menos como nós, uma mistura de bom e mau, estúpido e esperto...
DISSE há pouco que a maturidade é maçadora enquanto assunto. No entanto, ela é essencial para a relação entre adultos. Ao crescermos, admitimos com mais dificuldade que um adulto seja imaturo?
Ser imaturo não é um insulto. Há uma obsessão tão grande por não se querer ser infantil... O cristianismo é de novo interessante quando diz que toda a gente é uma criança filha de Deus. É um ótimo ponto de partida. A psicanálise diz o mesmo, que o adulto será chamado adulto e que tem muitos períodos, incluindo a infância, a existirem simultaneamente dentro de si. Não é um insulto, é só a realidade. Se a cultura nos enviar estas mensagens, ajuda, porque modela o tipo de conversas que as pessoas têm na cozinha e no quarto...
O CONCEITO de normalidade é difuso.
A cultura decide o que é normal, e eu acho que a nossa ideia do que é normal não ajuda nada, deixa demasiada coisa de fora. Faz com que muitas pessoas se sintam estranhas. O que é normal tem a ver com as especificidades de cada cultura. Nós achamos que o século XIX foi muito anormal e que agora somos muito maduros na nossa aferição do mundo, mas não é exatamente assim.
E CADA época pensa em si deste modo?
Sim.
ENQUANTO escrevia “O Curso do Amor” pensava no que seria normal para um casal?
Claro, quando dei o livro a ler ao meu editor ele mostrou preocupaçãoo por os personagens serem malcriados e agressivos um para o outro. Eu perguntei-lhe como é ele em casal. E ele respondeu: “Tal e qual como eu e a minha mulher, não é normal.” E eu retorqui: “Porquê?” Porque não é normal para a conversa pública. A conversa pública a propósito do amor ainda é reduzida.
O QUE se pode fazer por ela?
A arte e a literatura deveriam ser responsáveis por trazer o amor para a conversa pública, é essa a sua função. Em sociedade, as pessoas dizem sempre que estão “bem, ótimo”, e depois vamos para casa com vontade de nos matarmos. A arte para mim é alargar o sentido daquilo que é normal, fazer-nos sentir um pouco menos solitários. A função primordial da arte é assegurar o leitor da sua normalidade, da legitimidade do seu medo, esperança, infantilidade, zanga...
A LITERATURA hoje precisa de ter objectivos?
Está muito fora de moda ter objectivos. O modernismo centra-se no esvaziamento da ideologia e foge ao didatismo. Os artistas visuais não devem ter missões artísticas afirmadas, é considerado vulgar, ordinário. Se alguém disser: “Estou a pintar para ajudar as pessoas a serem melhores pessoas”, soa muito esquisito. Eu tenho um sentido neoreligioso, nós vimos de sociedades religiosas que nos guiavam e tinham ideias sobre sabedoria (nem sempre a certa) mas com uma fortíssima intenção moral. Isto entra em colapso no final do século XIX, inicio do século XX, e o que o substitui é a liberdade, a ideia de que cada pessoa é livre. Mas liberdade também significa sozinho, e aquilo que passa a estar no lugar da religião é a cultura. Por isso se constroem as óperas, as livrarias...Toda esta energia está realmente a dizer que a cultura pode guiar-nos como a religião o fazia antes. Há que ver como.
QUER dar um exemplo?
Se eu for à Tate Gallery e disser que me sinto sozinho e confuso, eles perguntam-me: “O quê Não podemos ajuda-lo, somos apenas a Tate Gallery!” A Tate não é a catedral de Londres, não é um lugar de consolo. Isto preocupa-me porque criámos uma cultura solitária onde é muito difícil percebermos para onde podemos virar-nos.
É COMUM crentes, em particular católicos, acusarem os ateus de terem escolhido estar sozinhos no mundo. Penso que a responsabilidade de um ateu é considerável...
Concordo, atribui um grande fardo ao individuo. A pessoa está sozinha, mas tem de encontrar soluções...Eu sou ateu, sempre fui, e vivo numa sociedade ateia. Ninguém é crente em Inglaterra, a Igreja desapareceu há muito tempo, a religião é uma coisa de outro tempo, por isso não acho que ser ateu seja uma ameaça. Imagino que em Portugal seja diferente, que haja maior presença da religião e que, por isso, a sua ausência seja mais ameaçadora.
CONCORDA que a religião é hoje mais vezes formulada em termos de fanatismo, extremismo, radicalismo? No caso do Sadik Khan, recentemente eleito para a Câmara de Londres, praticamente todos os comentários sobre ele o reduziam ao facto de ser muçulmano e moderado.
O cristianismo foi uma religião extremamente fanática em vários pontos da sua história. Comparado com uma religião poderosa e impositiva, é atualmente um gatinho. As religiões passam por períodos de maior e menor violência, perseguição e intolerância. O islão está numa fase parcialmente de extrema intolerância. Não me surpreende que os media falem de Sadik Kahn como muçulmano...mas moderado, porque os extremistas têm sido um problema.
QUE TIPO de impacto tem na sociedade britânica?
O Reino Unido é extremamente tolerante. Não porque os britânicos sejam extraordinários, mas porque há um sentido da vida pública que é fria, mas também muito tolerante. O pais tem sido um lugar de tolerância religiosa há centenas de anos. No século XVII, quando os franceses andavam a queimar os protestantes, eles fugiam para Inglaterra, onde ficavam à vontade. Há uma notável tolerância numa cidade como Londres. Parte da vitória de Khan deveu-se ao facto de as pessoas em Londres não poderem imaginar o que faria à sua autoimagem recusar um político que fosse muçulmano ou simplesmente por ele ser muçulmano. Qualquer pessoa aqui dirá que não se julga ninguém pela sua religião.
E COMO vê a mudança de Boris Johnson para Sadik Khan?
Eu detestava o Boris Johnson, acho que é um homem horrível e perigoso, por isso estou muito contente que tenha saído. Espero que ele não destrua o pais de outra maneira qualquer.
JÁ FEZ estragos na liderança da campanha para o Brexit, não?
Corremos o risco de fazer estragos muito sérios.
FEZ UM vídeo sobre Londres onde diz que a cidade se está a tornar uma má versão do Dubai e chama-lhe Dublon. Em tom de campanha, exorta os londrinos a transformarem a raiva em ação. Não é intervenção política?
Acho que um dos problemas das nossas sociedades é a fealdade, e é muito estranho que nenhum político assuma que o problema do mundo é ser feio. Porém, a fealdade é um assunto muito importante. Muitas vezes aparece ligado à pobreza, as pessoas não dizem a palavra pobreza. O mundo moderno é muito mais feio do que tem de ser, e não se trata de uma questão de dinheiro: é uma questão de ideias. Temos ideias erradas sobre o planeamento das cidades, a responsabilidade dos governos nisso, como funciona a arquitectura...Bastou para que se fizessem dez grandes asneiras para que o mundo moderno tenha um aspeto geral desastroso. Os seres humanos adoram a beleza, basta ver que quando vão de férias vão para sítios bonitos, não vão para Birmingham nem para Frankfurt, porque são lugares feios.
Vão para Amesterdão ou para Veneza, porque são sítios bonitos. Mas porque é que são tão raros, porque há tão poucas cidades assim bonitas?
E PODEM estar rodeados de lugares feios...
Sim, basta olhar para os arredores de Paris: não é falta de dinheiro, é um erro intelectual. E isso endoidece-me! Escrevi um livro sobre isso, fiz uma série de televisão, provoquei imensa agitação e mantive-me muito ativo neste debate no Reino Unido durante dez anos. Estou ligeiramente retirado agora porque me cansei. Ainda me preocupo, é um desespero.
QUAL É o papel dos intelectuais nestes debates?
Muitas vezes, os intelectuais e os académicos acham que os problemas do mundo radicam no desconhecimento de uma solução. Por isso, vão para as universidades e escrevem um livro sobre a justiça, como resolver o problema da fome e da corrupção ou a fealdade das cidades. Ótimo! E o mundo muda porque se escreveu um livro. Só que não funciona assim. Não basta a ideia, é preciso saber se alguém está a ouvir, se as pessoas acreditam nas conclusões a que se chega...Daí passa-se à educação, à política, meios de comunicação social, tudo isso...
E O INTELECTUAL na sociedade?
Perturba-me a posição do intelectual na sociedade porque tem muito pouco poder! Os meus livros são todos animados por este desejo de mudança, este interesse na alteração é um tema em si. Ao longo da vida tentei de várias maneiras e acho que a resposta é fazer-se o que se pode.
DIZ QUE vivemos na época wiki – Wikipédia e WikiLeaks -, há intelectuais ativos, dispomos de informação, temos os media, temos os instrumentos, sabemos tudo...
E não fazemos nada! A política, numa sociedade democrática, uma eleição ou um político é o resultado de todo o tipo de ações que demoram muito mais tempo. Estamos a falar de cronologias diferentes. Uma eleição é o resultado de uma década de acontecimentos na sociedade, factos muito mais lentos. O fenómeno Trump nos Estados Unidos não começou hoje. O papel dos media deveria ser ajudar um certo tipo de política a acontecer, porque os media informam a sociedade das várias questões que lhe dizem respeito. Um político só pode fazer algumas coisas com ajuda dos media. Os políticos são o último estágio da mudança, os media estão antes disso na pirâmide da mudança, da mesma forma que no primeiro momento está a educação e depois a arte e a cultura.
VOLTANDO ao novo livro: espera-se que uma história de amor caia do céu como um raio, e o que aqui faz é trazer a história à terra e analisá-la. É mais próximo de um caso de estudo?
Sim, eu sei que não é um livro para todos, que haverá quem recuse aquela voz analítica e exija a história, mas ela está lá. Aprendi que tenho de usar o meu prazer de escritor e escrever aquilo que gostaria de ler. Mesmo que seja pouco habitual. Há que ter a esperança de que alguns leitores gostem de um livro assim, é para isso que é preciso coragem. Este livro tocou profundamente algumas pessoas e outras nem de raspão.
OBRIGA as pessoas a reflectirem sobre as próprias vidas?
Sim, e eu não quis escrever um ensaio filosófico nem só um romance.
Quis uma fusão dos dois como uma tensão permanente.
A TERAPIA não é muito popular. Não fica mais difícil?
Concordo, há muita hostilidade contra as terapias. E é verdade que há por ai muitos psicoterapeutas malucos, mas há ideias básicas na psicanálise que me parecem totalmente corretas. Coisas básicas como dizer que a forma como amamos foi modelada pela experiência com os nossos pais parece-me irrefutável. Certos estilos de vinculo, o modo como nos relacionamos com outras pessoas depende do nível de segurança que sentimos em crianças. Estas coisas têm todas uma história pessoal, e não sei como é que se poderia compreender um ser humano sem este modelo.
NO SEU trabalho, dá um passo atrás para olhar a estrutura daquilo que analisa. Fá-lo em termos de séculos, de história e como mecanismo para pôr os assuntos em perspectiva. É tranquilizante?
Estudei história das ideias em Cambridge, onde o treino nos dizia que cada ideia tem uma história e é sempre interessante recuar e aprendê-la.
Fica-se a perceber as coisas fora de comum da nossa própria sociedade, boas ideias que ficaram bloqueadas no passado...Não diziam exatamente isto, mas foi o aproveitamento que eu fiz do que se ensinava. Parte do papel do pensador é recuar e resgatar o que pode esclarecer as estranhezas do presente. A dada altura no livro escrevo que o romantismo defende que, quando amamos, temos de amar tudo na outra pessoa, que a critica é sempre agressiva e negativa, não se pode pensar em educar o amante. Se recuarmos à Grécia Antiga, o amor para eles é educação. A educação é o amor de se tornar uma pessoa melhor através do amor. Temos uma ideologia do romantismo fixada em 1750 que permanece nas cozinhas de Lisboa de hoje em dia. É fascinante, adoro estas ideias que não sabemos de onde vêm, achamo-las normais como se não tivessem história. Mas têm sempre uma história.
A COMPREENSÃO pela história é uma espécie de terapia?
Sim, dá-nos mais opções, abre uma janela. De repente, este casal está a discutir, e abre-se uma janela pela qual podem olhar para os gregos antigos à distância.
SE LHE DÁ mais recuo pensar através da história, como reage à globalização?
É o mesmo principio. Em vez de o fazer através do tempo, faço-o através do espaço. Da mesma forma que na história podemos olhar para épocas diferentes, agora podemos olhar através de diferentes países. Hoje em dia, na China, sabe-se mais do Ocidente e vice-versa, ainda que, muitas vezes, não em profundidade. A proposta vazia da globalização diz que podemos enviar uma banana através do mundo em dois minutos. Mas a proposta interessante diz que se pode observar o relativismo de todas as convicções introduzindo mais opções para determinada sociedade. É o oposto do provincianismo, onde não se dispõe de suficientes janelas abertas e as pessoas pensam que aquilo que pensam é tudo o que existe. O provincianismo tem uma arrogância, e eu acho que nos tornámos um pouco menos provincianos com a parte boa da globalização.
A PARTE boa da globalização?
Sim, lembro-me sempre do que Flaubert dizia a propósito do caminho de ferro: um idiota entrava num comboio em Rouen e duas horas depois saia em Paris sendo ainda um idiota. É brutal, mas significa que as pessoas podem continuar a ser provincianas independentemente dos instrumentos que tenham ao seu dispor. O aeroporto é uma possibilidade, mas podem fechar-se os olhos.
DISSE-ME que, tal como Freud, é um pessimista. Como?
Há uma diferença entre ser um pessimista e ter uma filosofia pessimista.
Ser um pessimista pressupõe a expectativa de que não vale a pena fazer muito porque vai correr tudo mal.
Eu não tenho esse tipo de pessimismo. Penso que a filosofia do pessimismo tem muito a ensinar-nos, em particular sobre coisas como política, amor. Porque algumas das piores características da nossa época podem ser ligadas a uma especial de utopia furiosa, como a de Donald Trump. É interessante que Barack Obama seja extremamente pessimista. A resposta que deu para justificar não enviar tropas americanas para o Médio Oriente foi que provavelmente não faria qualquer diferença.
NÃO SERÁ realismo depois do que já aconteceu?
Com certeza! O que quero dizer é que é muito pouco comum quando estamos tão habituados à retórica do “vamos em frente, vamos resolver tudo”. O pessimismo é uma boa filosofia nos momentos em que suaviza a utopia furiosa. Pode tornar-nos mais pacientes e capazes de perdoar. Eu prefiro esperar pouco e ser agradavelmente surpreendido. O pessimismo não compromete um resultado positivo, ajuda-o.
A PROMESSA de solução de todos os problemas não faz parte das campanhas eleitorais?
Todo o sistema mediático e a obsessão numa eleição exagera a importância do candidato. Só que a sociedade muda por movimentos profundos e lentos. Os media gostam de afirmar que as grandes mudanças se devem a grandes homens e grandes mulheres. Acho que Donald Trump é um fenómeno de impaciência, ele refere tudo e todos à volta como lentos e afirma-se rápido. Diz que a política é lenta, os negócios são pelo contrário rápidos. É isso que ele vende, que, se elegermos alguém dos negócios, a política adquire a velocidade dos negócios: o sonho americano. Ele esquece que a política é lenta porque foi assim desenhada para poder travar os loucos. Os fundadores da América eram obcecados pela tirania, obcecados pela possibilidade de subida ao poder de um tirano, porque era isso que eles conheciam séculos seguidos na Europa. Ao escreverem a Constituição, pretendiam dar espaço ao positivo, preparando-se para evitar um mau Presidente. A Constituição é a instância do sistema americano capaz de dar o poder a um bom Presidente. Com esperança, o sistema sobreviverá até a Donald Trump. Desta vez é mesmo extremo, será o grande teste à democracia da América! Mas as pessoas são individualmente mais determinadas pelas relações que têm entre si e com os seus filhos do que pelo Presidente dos EUA.
VIVEMOS tempos perigosos?
Não mais do que em qualquer outra época. A experiência humana, a nossa vida é perigosa. Podemos cair mortos num segundo. Nunca pensamos nisso, mas isto é perigoso do principio ao fim.
Entrevista de Cristina Peres, in Expresso de 10 de Junho
domingo, 12 de junho de 2016
sábado, 11 de junho de 2016
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Regulamento de ocupação de espaço público e publicidade de Silves em consulta pública
O Regulamento Municipal de Ocupação do Espaço Público, Publicidade e Propaganda vai estar em consulta pública durante 30 dias, depois da sua publicação em Diário da República, esta quarta-feira. O documento pode ser consultado online.
Esperamos que a aplicação deste regulamento, termine de uma vez por todas com a ilegalidade, que se verifica em muitas das esplanadas existentes no concelho. Muitas das esplanadas ocupam todo o passeio, os peões tem que circular na via destinada às viaturas, pondo em causa a sua segurança.
Os proprietários dos imóveis devem ser consultados quando é solicitado à Câmara a colocação de publicidade na sua propriedade.
Esperamos que a aplicação deste regulamento, termine de uma vez por todas com a ilegalidade, que se verifica em muitas das esplanadas existentes no concelho. Muitas das esplanadas ocupam todo o passeio, os peões tem que circular na via destinada às viaturas, pondo em causa a sua segurança.
Os proprietários dos imóveis devem ser consultados quando é solicitado à Câmara a colocação de publicidade na sua propriedade.
quinta-feira, 9 de junho de 2016
quarta-feira, 8 de junho de 2016
terça-feira, 7 de junho de 2016
segunda-feira, 6 de junho de 2016
domingo, 5 de junho de 2016
Turismo. Lisboa já ganha ao Algarve em números de hóspedes e receitas
Visitas. Com toda a gente à espera de novos máximos para 2016, a capital e a região algarvia deverão manter-se ombro a ombro nos números do turismo. Responsáveis sublinham que não são destinos rivais, mas complementares.
Por Susete Francisco, in “diário de Noticias” de 4 de Junho de 2016
Uma é a região turística portuguesa por excelência, a outra um caso sério de crescimento nos últimos anos. De tal forma que Lisboa já suplantou o Algarve em numero de hóspedes e receitas de hotelaria.
Em sentido contrário, a região algarvia continua a ser a campeã incontestada no número de dormidas. Para este ano ambas partilham uma certeza: o sector do turismo vai crescer. Falta saber quanto. Os dados já conhecidos deste ano confirmam a expectativa: o primeiro trimestre fechou com números superiores ao do período homologo do ano passado.
Em 2015 Lisboa passou pela primeira vez o Algarve nos proventos totais do sector hoteleiro. O valor não é muito expressivo – foram cerca de 15 milhões de euros a mais -, mas tem a carga simbólica de uma inversão de lugares que nunca tinha acontecido. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados pelo Turismo de Portugal, a capital registou no ano passado proveitos totais de 772 milhões de euros, enquanto o Algarve averbou 757 milhões.
A capital portuguesa também lidera no número de hóspedes: foram 5,2 milhões na capital, contra 3,7 no Algarve. Noutro capitulo, a região algarvia registou no ano passado 16,6 milhões de dormidas (34,1% do total nacional), contra 12,2 milhões na área metropolitana da capital. O que significa que, somadas, as duas regiões representam mais de 50% das dormidas no pais. A diferença entre o número de hóspedes e de dormidas é explicado por uma substancial disparidade no perfil típico da estada em Lisboa e no Algarve, bastante mais prolongada no segundo caso.
Vitor Costa, director-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL), diz que o prato da balança pode cair para um lado ou para o outro consoante o critério de comparação, mas sublinha que as duas regiões não funcionam numa lógica de competitividade, dadas as diferenças substanciais no turismo e no tipo de turista. O estrangeiro que visita Lisboa “tem como motivação principal o city break. Tem uma permanência média de 2,2 noites”. O turista-tipon”não é muito jovem, tem entre 35 e 54 anos” e tem formação superior. Mais de 80%, acrescenta Vitor Costa, são europeus e há muitos repetentes. Além da cidade propriamente dita, há duas “outras centralidades bastante procuradas” na área metropolitana da capital – Cascais e Sintra.
A sul, o Algarve recebe sobretudo um turismo de família, destaca Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, registando uma estada média de quatro a cinco noites. O responsável do Turismo algarvio refere que “Lisboa está com uma dinâmica muito forte” de crescimento, mas o Algarve “é claramente o destino turístico mais importante de Portugal”: “Representamos quase 40% de todo o turismo.” É o “destino de referência” no pais, diz Desidério Silva, defendendo também que o turismo nas duas regiões é complementar.
Com o mercado a retomar a tendência de crescimento, Desidério Silva antecipa que 2016 vai fechar com números melhores do que os do ano transato, antecipando que a região ultrapasse neste ano os 17 milhões de dormidas. É para aí que apontam as reservas já confirmadas até ao final do ano: “A taxa de reserva para o Mês de Outubro já supera os 80%, para novembro aponta para os 60% quando no ano passado era de 45%”.
Lisboa é uma moda?
Em Lisboa, e face aos números que ano a ano colocam a capital a bater recordes na área do turismo, põe-se a questão de saber se este é um crescimento sustentado ou um fenómeno de moda. Vitor Costa não tem dúvidas quanto à escolha de primeira opção. Em primeiro lugar porque o boom do turismo em Lisboa acompanha uma “tendência mundial” de crescimento do turismo urbano face a outros produtos turísticos, mais ligados ao sol e ao mar. Em segundo lugar “temos mais ligações aéreas, que vão a mais mercados e são mais baratas” – e isto é válido sobretudo para os mercados europeus, precisamente os que têm mais peso neste momento no turismo em Lisboa.
Por último, o direto-geral da Associação de Turismo de Lisboa defende que tem havido um “trabalho sustentado” na promoção de Lisboa como destino turístico: “O ponto de viragem foi a Expo 98 e foi-se crescendo por patamares, com grandes eventos que nos deram projeção, como o Euro 2004. Não é uma questão conjuntural”.
E se o crescimento do turismo nos últimos anos é por vezes atribuído a questões como a instabilidade noutros destinos turísticos, por exemplo no Norte de África, Vitor Costa desvaloriza esse efeito. “Não é determinante. Podemos ter ganho alguma coisa em relação a Istambul, que é uma concorrente forte, mas não mais que isso.”
Também por isso, o responsável do turismo graceja com a constatação de que o ano passado foi o melhor do turismo em Lisboa: “Discordo. Vai ser o próximo.”