Escrevo este texto longe de Portugal e posso não ter apanhado todos os argumentos sobre a aceleração das novas regras de sustentabilidade da ADSE. Não me surpreenderam as medidas, embora sejam naturalmente discutíveis, sobretudo pela velocidade a que as regras de contribuição e de comparticipação mudam por aquelas bandas. O que mais me espantou foi o regresso do discurso sobre a iniquidade e inutilidade da ADSE, tema sobre o qual Paulo Macedo se tinha pronunciado de forma clara e distinta.
Em finais de junho, na única entrevista de fundo que deu em dois anos, Paulo Macedo disse ao Expresso que não tinha qualquer intenção de acabar com a ADSE, porque era financeiramente autossustentável. Nessa entrevista Paulo Macedo deu uma lição a muita gente, a começar por alguns dos seus colegas - primeiro-ministro incluído -, quando separou ideologia de realidade. Ou seja, para Macedo a existência (ou não) da ADSE não é daquelas questões que ocupam alguns espíritos liberais menos informados ou transeuntes do Compromisso Portugal. Para o ministro da Saúde a questão era outra e tinha apenas a ver com a autossustentabilidade do subsistema e o tipo de acordos mais favoráveis ao ministério que gere. Favoráveis do ponto de vista orçamental e dos resultados nos indicadores de saúde.
Esta era a ideia que Paulo Macedo tinha em junho, mas que agora começa a ser de novo posta em causa. Não por ele (ainda) mas por quem o rodeia e que em vez de gerir ministérios da forma como ele faz (com apoio permanente na realidade) ou de fazerem política com base em estudos, preferem fazer variações sobre a igualdade de sistemas e gostavam que a ADSE acabasse amanhã.
Só para esclarecer, eu não tenho nada contra o fim da ADSE ou contra a sua continuidade. Apenas tenho medo de estar a assistir a uma discussão parecida com a do ensino da Matemática e dos alunos que não aprendiam nada, mas que afinal não era bem assim. Aliás, não era nada assim.
in Expresso, por Ricardo Costa
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