segunda-feira, 4 de julho de 2011

EUROPA: a melhor defesa é o ataque!

Angela Merkel e Nicolas Sarkozy estão sempre a repetir que o euro e a União Europeia são indivisíveis. O seu objectivo é o de assegurar que a Alemanha e a França irão proteger a moeda única porque o seu fracasso implicaria o colapso do projecto europeu.

A análise dos dois líderes poderá estar certa, mas a retórica, as hesitações e as indecisões crónicas dos últimos anos suscitam outra possibilidade - as causas e os efeitos estão a ir em direcções opostas.

Além disso, o euro está com problemas porque a Europa está com problemas. A crise da dívida soberana é simultaneamente um sintoma e uma causa. O despesismo grego, o ‘boom' imobiliário irlandês e os implacáveis bancos estatais alemães desempenharam um papel importante.

Os governos europeus podem salvar o euro se assim o desejarem. A dívida pública da Grécia, Irlanda e Portugal ascende a acerca de 680 mil milhões de euros, ou seja, apenas 7% da receita da zona euro. Assumir a dívida através da emissão de ‘Eurobonds' acabaria com o pânico dos mercados financeiros.

Em suma, a resolução do problema é politicamente dolorosa mas perfeitamente viável em termos económicos. Os ingredientes em falta são a confiança e a vontade política. Os eleitores alemães não estão convencidos que a sua prosperidade está ligada à sobrevivência do euro; e os eleitores das nações mais endividadas precisam de ver uma luz ao fundo deste túnel.

Numa pequena conferência, organizada pela Fundação Oriente em Portugal, apresentei um discurso com o título "O regresso da Europa à Vestefália". A ideia desta tese é a de que a União está a retroceder umas centenas de anos ao voltar a sucumbir à pressão dos nacionalismos.

O estado moderno europeu nasceu do tratado de paz de Vestefáfia em 1648. A doutrina da soberania estatal substituiu a decrescente autoridade supranacional da Igreja. Este sistema manteve-se até meados do século XX, quando a devastação causada pela Segunda Guerra Mundial acabou por demonstrar aos líderes do continente de que os custos em manter a ordem europeia através do equilíbrio de poderes se tinham tornado demasiado elevados.

Hoje em dia, os Europeus acreditam que o poder cedido à União é autoridade retirada aos governos nacionais que, perante a exigência de maior segurança por parte dos seus cidadãos, respondem "enfrentando" Bruxelas e recusando ajudar os seus vizinhos.

Isto não tem qualquer lógica. À medida que o centro gravitacional global se desloca rapidamente para as nações emergentes, a fragmentação da Europa apenas irá acelerar o seu declínio.

Philip Stephens, Colaborador do "Financial Times"

Tradução de Carlos Jerónimo

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