Recebemos um destes dias, uma denúncia de origem francesa, daquelas que percorrem, via internet, todo o planeta, desta feita à laia de adivinha.
Não podemos confirmar a autenticidade dos dados, razão pela qual sublinhamos esse mesmo facto.
Não nos parecem, contudo, inverosímeis os dados e justificam alguns comentários. Eis então a adivinha:
Qual é a entidade europeia, com 736 empregados, comunidade profissional esta que, em 2010, apresentava as estatísticas seguintes:
Destes 736 empregados,
-17 (2,3%) foram acusados de violência doméstica.
-11 (1,49%) foram acusados de terem emitido cheques sem provisão.
-35 (4,35%) participaram, directa ou indirectamente, em bancarrotas comerciais ou falências fraudulentas.
-16 (2,17%) foram presentes aos tribunais por diversas infracções ou delitos previstos pelo Código Civil.
-32 (4,34%) foram detidos por condução em estado de embriaguez ou por diversas infracções ao Código da Estrada.
Em suma, 14,65% dos seus empregados, que se saiba, tiveram condutas reprováveis.
Sabem de que empresa se trata?
Resposta:Trata-se do Parlamento Europeu e as estatísticas são referentes aos seus deputados (europeus)!
Por um lado, estes números evidenciam que os deputados europeus são pessoas normais, iguais aos demais que representam, o que nos dá alguma garantia acerca da sua autenticidade existencial e, de algum modo, da sua proximidade ao mundo real, destinatário da sua acção legislativa.
Por outro lado, todos esses deputados foram eleitos. Os candidatos aos diversos sufrágios nacionais são habitualmente personagens impolutas, isto é, cidadãos com um passado irrepreensível, pois os respectivos partidos não querem ser sujeitos a efeitos eleitorais negativos, decorrentes da reprovação de condutas individuais socialmente condenáveis.
Uma vez que esta prática constitui uma regra geral e independentemente da justeza daquele critério partidário de selecção de candidatos, verdadeiramente hipócrita e puritano, coloca-se, justificadamente, a questão de saber como passaram a malha apertada da selecção, estes 14,65% dos deputados europeus eleitos?
A ineficácia dos sistemas de selecção dá-nos, deste modo, objectivamente, razão para suspeitar da eficiência dos mesmos.
O sistema das prévias selecções partidárias dos candidatos a representantes do povo, faz com que se apresentem ao sufrágio popular aqueles que, o respectivo chefe entendeu merecer o direito a ser eleito. Não necessariamente o melhor ou o mais qualificado, mas aquele que dá mais garantias à tutela, de confiança pessoal.
Nem sequer de preparação política e muito menos de lealdade aos eleitores, ao programa eleitoral, aos princípios ou aos valores, mas sobretudo às ordens do chefe.
A esta vassalagem chamam de confiança política. Razão de sobra para duvidar fundadamente da sua independência e pensamento autonomo.
A estatística desta adivinha só é possível graças ao facto de os comportamentos condenáveis em causa terem sido objecto de processos judicias.
Diferentemente porém das matérias que dão lugar aos processos judiciais, existem outras que a eles não dão lugar, não sendo assim passíveis de quaisquer estatísticas, sem que com isso sejam politicamente menos relevantes: tratam-se das deslealdades politicas dos deputados aos valores, aos princípios e aos reais interesses do seus eleitores.
Para estes males não existem estatísticas que os revelem, nem selecção partidária prévia que as previna!
Da sua liberdade para pensarem pela sua cabeça e agirem em conformidade muito menos!
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