Os dias que correm são de crise económica. Tudo leva a crer que os vindouros assim permanecerão até que tudo se componha, se acreditarmos que este sistema de desenvolvimento irá encontrar forma de se reformular e encontrar novo fôlego.
Num pais como Portugal, apesar das medidas tomadas pelo governo, que se viu finalmente obrigado a autoflagelar-se reduzindo o peso salarial da função pública, medida que se impunha de há muito, à qual resistiu, como uma avestruz, enquanto foi possível e apesar da evidência sobre a sua inevitabilidade atentos os sistemáticos desmandos orçamentais dos sucessivos governos e o estado das contas públicas que motivaram, persiste-se numa atitude, agora chorosa, continuadamente desfocada sobre a realidade, quer por parte dos responsáveis políticos, quer por parte de muitos agentes económicos.
Vem tudo isto a propósito dos estigmas que as actividades especulativas, como a especulação imobiliária, que caracterizaram um certo tipo de desenvolvimento, de resto, como se vê, inconsequente, lavraram fundo no mercado.
Muitos agentes económicos, designadamente os senhorios, como se nada tivesse acontecido no mercado e na economia, teimam em reclamar pelas rendas dos seus imóveis, valores absolutamente incomportáveis para os negócios que nos mesmos escolhem instalar-se, tal como hoje correm.
É recorrente assistir a muitos desempregados, com iniciativa e saber, tentarem jogar mão de qualquer pequeno negócio, na busca de um pequeno lucro que lhes permita amenizar os seus défices.
Para tanto recorrem ao arrendamento com carácter permanente – uma loja – ou transitório – um espaço – numa superfície comercial tradicional ou esporádica ( do tipo Fatacil).
Invariavelmente concluem que a facturação realizada chegou, quando chegou, para a renda e para pagar a mercadoria transaccionada. O trabalho não foi remunerado porque o volume de negócios não chegou para mais.
Os senhorios ou promotores destas feiras (stockmarket , stock ligth ou equivalente, como agora se chama) continuam, indiferentes, a reclamar rendas que não tem nada que ver com a nossa economia, muito menos com o estado em que a mesma se encontra, permanecendo em “jogo” graças à procura dos incautos que arriscam resistir à adversidade com trabalho, iniciativa e empreendorismo.
As regras, ou a ausência das mesmas, estabelecidas pela especulação imobiliária continuam a caracterizar a actividade de grande parte deste sector de actividade!
As conclusões que retiram da crise é continuar a agir da mesma forma esperando o mesmo resultado. E enquanto o número de incautos continuar a aumentar, como é de esperar com o aumento do desemprego, continuarão a sobreviver com aquelas regras.
Há senhorios que mantêm as suas lojas para arrendar longos meses a fio, aguardando o tonto que as ocupe pela renda pedida.
Senhorios, muitas vezes em estado de necessidade, teimam em manter elevadas as suas pretensões, crentes que é a atitude mais sensata!
Sem fazer contas ao que perdem, aninham-se com os seus sonhos especulativos a somar as rendas que virão a receber quando o incauto aparecer.
Quando acordam, se não for na iminência de um despejo do seu inquilino, por falta do pagamento de rendas, é pela notificação de que o inquilino não suporta o seu custo, pretendendo fazer cessá-lo o mais rapidamente possivel.
A Lei da Oferta e da Procura é letra morta neste mercado. Esta não é uma economia de mercado.
A agiotagem caracteriza mais este sector que qualquer valor integrante do conceito de empresariado.
Razão talvez tivesse tido a lei das rendas salazarista que as congelava, talvez por conhecer bem a natureza ancestral daqueles que dão razão ao ditado "não sirvas a quem serviu"!
Desses direitos, por seu turno, muitos inquilinos usaram e abusaram, explorando o uso e habitação de exploradores e explorados, deixando aos interpretes vindouros desses mesmos papéis o "stress" de uma verdadeira luta de classes.
A inteligência da classe politica democrática nos sucessivos episódios governativos nunca querendo perder os votos dos protegidos pela lei das rendas salazarista ou seus sucedaneos nunca lidou o problema de frente, antes tentou contorná-lo pretendendo transformar, em verdadeiro passe de mágica, todos os inquilinos em proprietários, em vez de se preocupar mais em contribuir para o funcionamento eficiente do mercado.
Conservou votos, através de uma politica "social" à conta dos senhorios. Como é bonito ser-se generoso à custa alheia!
De resto, como tem feito com o produto dos nossos impostos, mantendo o emprego clientelar na administração pública e os privilégios sociais dos seus funcionários, face aos demais, na saude e na reforma.
Tudo isto enquanto em economias maduras, nada resiste à Lei da Oferta e da Procura. Mesmo o imobiliário e todos os contratos que ao sector dizem respeito.
Mas isso é outra estória! É a estória das especificidades portuguesas.
Mesmo a classe empresarial, na qual, qualquer economia de mercado, tem fundadas expectativas enquanto agentes do desenvolvimento, em Portugal, salvo honrosas excepções, quando ultrapassa a insignificância, gosta de viver paredes meias com o orçamento, não é seduzida pelo risco, nem pelo investimento, e, em boa verdade, nem sequer pelo mercado, permanece atavicamente a apreciar a especulação e o curto prazo.
Por outro lado, os sindicatos não dão melhor conta de si, permanecem envoltos na neblina Sebastianica, aguardando diferentes resultados, apesar de conservarem as mesmas práticas.
A juventude da democracia, o diletantismo da sua classe politica, a assepsia das elites politicas, culturais e económicas, a rejeição da realidade profunda do Portugal salazarista e da sua pobreza ancestral por um lado e os fundos estruturais europeus por outro, “acompanhados à viola” pela euforia do contributo inestimável do apelo ao consumo típico de uma sociedade desenvolvida, que parecíamos ser, criaram-nos uma ideia virtual de desenvolvimento, sem qualquer sustentação na economia real.
Disléxicos todos. Os senhorios são só um bom exemplo disso!
Que agilidade podemos esperar deste mercado paralítico, para aniquilar os condicionamentos que nos retraiem?
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