Vasco Pulido Valente, in Público 07/05/2010
Irracionalidades
O dr. Oliveira Salazar, em nome do que ele chamava a integridade da Pátria, resolveu meter Portugal numa guerra em três frentes (Guiné, Angola e Moçambique), que Portugal não podia ganhar. Não havia, para começar, os meios para sustentar milhares de homens em campanha a uma distância proibitiva das bases. Não havia, como se constatou, oficiais que chegassem e,
principalmente, não havia maneira de os formar a tempo. Não havia dinheiro para um esforço tão longo e, por natureza, tão indefinido. O mundo inteiro estava contra nós, mesmo aliados tradicionais, como a Inglaterra e o Brasil, para não falar da ONU e até da NATO. Em 1974, já ninguém nos vendia armamento e os próprio militares tinham chegado ao fi m da resistência física e moral. Nada nisto foi nunca uma consideração séria para Salazar e, a seguir, para Marcelo Caetano. A irracionalidade perpassa por tudo o que escreverem e disserem e também por tudo o que escreveram e disseram as grandes personagens do regime.
Como era de esperar, veio o desastre. Não, em si mesmo, o “25 de Abril” – a loucura a que se chamou o PREC. Íamos passar, segundo os teóricos, de uma sociedade atrasada e semirural para uma espécie única de socialismo, com a prestimosa ajuda do MFA e do Partido Comunista de Álvaro Cunhal. E, eventualmente, de outro país falido, como já era a URSS. Para essa conversão bastavam as a nacionalizações, com a reforma agrária – só no Sul – e o mítico poder dos trabalhadores. Quando acabou a “festa”, não sobrava um tostão e chegou o FMI para pôr a casa em ordem. Vale a pena insistir outra vez na irracionalidade do exercício? Vale sequer a pena nas ruínas que ele deixou atrás de si e que visivelmente continuam apodrecer no meio de nós? Parece que não.
Mas não bastaram estas duas lições. Com a “normalização” do país, chegou um novo mito, que o dr. Cavaco propagou com entusiasmo: Portugal seria um “bom aluno” da “Europa” e os portugueses viveriam, evidentemente, como “europeus”, com um impecável Estado-providência e altos salários. Mais do que isso: a Pátria voltava a ocupar a posição de importância e de prestígio, que sempre merecera. O CCB, a Europália, a Expo-98 e o Euro 2004 mostravam à humanidade estupefacta e maravilhada a nossa indubitável ressurreição. Como de costume, este puro delírio não se fundava numa economia forte e numa sólida solvência financeira. Era o frágil efeito de uma situação internacional e dos milhões de Bruxelas: o velho produto da nossa velha irracionalidade. Depois do Império, do socialismo e da “Europa”, entra agora em cena a bancarrota. Muito lógico.
Tem sido nos impulsos dos sonhos e de irracionalidades, que temos feito a história do País mais antigo da Europa. É certo que nada abonam a nosso favor, mas os improvisos, "os sebastianismos", as crises existenciais, sempre nos trouxeram nos momentos mais críticos, ao de cima, o tal golpe de asa do "português desenrascado" que nos fará passar mais um Bojador. Não somos bem comportados, nem de estatísticas e grandes organizações, somos do "desenrascanço" nem que para tal tenhamos de passar fome, não é a primeira, nem será a última vez. Quando nos impingiram grandes mentes organizadoras, sérias e preocupadas com o Povo e a Nação, normalmente eram ditadores encapotados! ou transfugas que nos queriam vender ao vizinho Ibérico, ou então davam-nos receitas milagrosas de Fátimas ou outros fados de desgraça, sentimento e penitência.
ResponderEliminarChega! vamos acreditar em nós próprios. Já demos lições de sobra ao Mundo sobre as nossas capacidades de ultrapassar crises e sobrevivermos aos temporais da história. E mais tarde - Como diria Fernando Pessoa - Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor.
Então mão à obra e toca de mais uma vez levantar a nossa moral e preparar-mo-nos para mais uma Aljubarrota redentora! Vivam os Portugueses! Viva Portugal!
Caramba Sr.º Luís! O seu discurso é mesmo para quem se resigna a dores de parto constante. Não acha que as lições que temos dado ao Mundo(essas que diz termos dado) têm sido demasiado efémeras e muitas delas repletas de erros que não têm feito ao longo dos anos, senão transportar-nos para a situação actual? Que diabo! Passamos a vida a fazer a história do coitadinho que a tudo tem de se submeter,e comer a toda a hora o pão que o diabo amassa? Não acha que a história do nosso país mostra bem que essa postura nunca vem trazer nada de bom ou de novo? Estamos em que século? Estamos em que Europa? Estamos em que Sistema Solar? O Sol brilha para quem? Os sacrifícios são para quem? Mostre-me como está bem toda esta política da mão estendida à caridadee e ao vazio? Temos dinheiro para quem e não temos para quem? Quem somos nós? Temos uma idêntidade quase perdida, onde muito poucos estão empenhados em dar a este país dignidade em primeiro lugar. Diga-me se acha que hoje este povo se sente orgulhoso de ser quem é. Diga-me se sente que este povo está a sorrir para quem o governa? Diga-me se acha que cada cidadão sente empatia com o outro para poder sentar-se à mesa e dizer: somos capazes de ultrapassar esta trapaça que anda por aí? Diga-me se já percebeu que cada notícia é uma mentira cerrada. Diga-me se vale a pena ser português quando olhamos o horizonte e vemos apenas uma linha que não nos dá a oportunidade de ir para lá da mesma. Afinal o que é o seu ponto de vista? Temos de sofrer, quando a mentira e os valores morais estão à beira de cair por terra e nada resta a não ser mentira e mais mentira? Qualquer dia comemos bandeira e hino nacional pois nada mais resta a este país.Saúde da boa.
ResponderEliminarCaro amigo! acho que não percebeu a minha mensagem. O que eu digo é chega de improvisos e desenrascansos, vamos arregaçar as mangas e vamos enfrentar a crise e os ventos contrários. Vamos acreditar em nós próprios e fazer afirmar Portugal e os portugueses.
ResponderEliminarPeço desculpa se me repeti! e as palavras de Fernando Pessoa são incitamento ao esforço, à tenacidade e sobretudo ao nosso patriotismo.