quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Crise nacional(II)

NÃO MORREMOS DA DOENÇA, MORREMOS DA CURA...


Facto é que andámos nas últimas semanas "embalados" pelas pressões especulativas sobre o euro.

A UE reagiu forte e para além de criar um fundo especial em ordem a ser utilizado em caso de necessidade, obrigou a Grécia, Portugal e Espanha a tomarem medidas imediatas e draconianas para acalmar os mercados e afastar os especuladores, medidas estas que a Irlanda, mais conscientemente, já tinha tomado.

O problema é que as tais medidas draconianas assentes no aumento dos impostos e no cancelamento dos investimentos públicos, acabarão por ter um efeito contrário.

Em nosso entender, não só não diminuirão o défice público como poderão conduzir ao seu agravamento, pelo risco que comportam de determinar uma recessão económica.

Este foi o pacote utilizado pelos países que decidiram meter na gaveta os preciosos ensinamentos de Lord Keynes. Resultado: os mercados entraram outra vez em grave queda, dando aos especuladores novamente condições para novo ataque já que, de acordo com os correctores os investidores na bolsa pensam (e com razão) que estas medidas irão agravar o problema, causando recessão, em lugar de o resolver, estimulando o desenvolvimento económico!!!

Assim, em vez de, com humildade intelectual, se empreenderem politicas de raiz Keynesiana, não se compreendendo bem porquê optou-se por outras vias.

De facto, afirmam os detractores daquela solução, que esta situação é diferente de outras, e sem explicarem porquê, decidem ignorar os ensinamentos de Keynes que foram utilizados em TODAS as situações as mais diversas durante os séculos XX e XXI).

O resultado está já á vista, não sendo necessário esperar pelos novos capítulos.

Concretizando:

O aumento dos impostos conduzirá necessariamente á redução da procura e do consumo.

Logo, a receita decorrente dos impostos sobre o consumo diminuirá!

E o que sucederá pelo lado da despesa?

A redução do consumo agravará a exploração das empresas o que determinará mais despedimentos e, ou, mais falências!
Assim sendo, o Estado arrecadará menos IRS, IRC, Contribuições para a Segurança Social, ao mesmo tempo que aumenta os seus custos em subsídios de desemprego!

É aqui que está o busilis! Com ou sem Keynes, as medidas tomadas produzirão o efeito contrário ao que se pretende acentuando-se a perspectiva da recessão.

O único resultado, aparentemente positivo, visado com esta cosmética para banqueiro ver, é que, teoricamente, possibilitará a Portugal endividar-se a um juro mais leve, o que não é necessariamente verdade a acreditar no que o presidente do BPI disse recentemente: que o crédito nos estará vedado nas próximas semanas!

Recordem-se os títulos do Expresso de Sábado passado:
- Medo da recessão levou Sócrates a recuar disse a 1ª página
- Mercados em quebra devido ás preocupações de que as medidas draconianas levem á recessão
- Nicolau Santos escreve : os contribuintes vão emagrecer com certeza. Sobre o monstro (leia-se 1 milhão de empregados que custam cerca de 70% do orçamento)não há tanta certeza. Todos os governos em dificuldades reduziram os salários na função pública. Aqui não.
- Em Editorial diz-se : O ajustamento era incontornável, mas atira-nos para a recessão e faz explodir o desemprego
- Na página 6 do 1º caderno, Medina Carreira diz que sendo 70% da despesa com salários, sem se tocar nesse assunto nunca se conseguirá resolver o problema.

Ou seja, tomamos medidas deste tipo para resgatar a credibilidade nos mercados e para evitar que a dívida publica suba em consequência do aumento dos juros.

Com a terapia não conseguimos equilibrar as contas do Estado e, aumentamos o desemprego e vamos para a recessão, aumentando o défice (diminuição das receitas e aumento das despesas).

Que credibilidade ganhámos? Quem continuará a emprestar dinheiro a um país em recessão e a caminho da insolvência?
Esta é a questão: não morremos da doença, morremos da cura !
Porquê?
Recorde-se que o nível do défice e do endividamento são vistos em função do PIB ou seja da quantidade de dinheiro que está em dívida na sua relação com o que o pais produz, certo ?
Então para que o défice e o endividamento diminuam não basta que os Estados gastem menos é preciso que o reduzam a percentagem daqueles factores na sua relação com o PIB.
Ora isso só acontecerá se:
- O PIB crescer ao mesmo tempo que o Estado gasta menos;
-O PIB se mantiver enquanto o Estado gasta menos;
- O PIB se reduzir, mas menos que a redução da despesa do Estado.

A 3ª seria a única eventualmente atingível, mas não é credível que, com mais impostos e despedimentos, os portugueses não tenham uma quebra brutal no consumo e com ela a inevitável redução do PIB á semelhança do que aconteceu no início da crise.

Assim, tudo indica que aumentará o défice e o endividamento em relação ao PIB e os sacrifícios vão para a valeta.

O que queremos dizer é que o Estado só equilibrará o orçamento quando tiver mais receitas e isso só acontecerá se e quando o PIB crescer !!!Ora estas medidas não farão esse milagre, pelo contrário.

Não duvidamos que são necessárias medidas draconianas para estabelecer o equilíbrio orçamental e diminuir a divida externa, mas entendemos que, como já vimos no passado com o governo Durão Barroso/Manuela Ferreira Leite, medidas desta natureza não visam a saúde da economia e muito menos o desenvolvimento, destinam-se exclusivamente a sossegar os credores, fazendo-lhes ver, rapidamente, que estamos dispostos a sacrificar-nos para conservar a nossa solvência como meninos bem comportados.

Na Espanha, na Grécia e na Irlanda, os respectivos governos "penalizaram" os funcionários públicos – um factor sempre importante da despesa – tentando manter um nível razoável de consumo privado e com ele aquelas economias, sem aparentes preocupações com as consequências eleitorais para o partido do Governo.

Aqui preferiu-se atacar a economia, para manter o milhão de votos na expectativa.

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