Somos daqueles que consideram que as nossas policias, sobretudo nestas matérias, crime internacional organizado e terrorismo, dão boa conta do recado, chegando para as encomendas.
Por outro lado, não podendo deixar de ver o que está à vista, parece realmente que a ETA tem ou teve aqui “santuário”. Mas, tanto quanto nos parece, tem cá estado para isso mesmo, para beneficiar de uma retaguarda, não para palco de acções tipicas da sua prática. O mesmo, pensamos, acerca da máfia italiana ou mais objectivamente de elementos da sua organização. Lembramos um homicidio, em Cascais, lá para os anos 80-90, de um chefe mafioso, assassinado a quando de um telefonema, dentro de uma cabine telefónica. Tanto quanto foi publicado, encontrava-se em Portugal “refugiado” em consequência de uma guerra entre familias mafiosas, a qual terminou, para ele, naquele dia, em Cascais.
Quer isto dizer que devemos proporcionar a criminosos internacionais a “protecção” de santuário à beira mar plantado?
Claro que não!
Os mandatos de extradição são para serem cumpridos. Se os houver. Até lá, em Portugal como de resto em qualquer país civilizado do mundo, não havendo mandatos para cumprir, nem registo de qualquer acção criminosa, esses senhores viverão tranquilamente (???). Como viveriam(viverão) na Alemanha, Itália, Grã Bretanha ou França.
Coisa diferente é a arma de arremesso politico que as oposições fazem aos Governos, sejam elas e eles quais forem, acerca da segurança interna. Curiosamente para obterem proveitos, de algum modo semelhantes aos dos mass média.
Coisa não muito diferente porém é o que certos mass média pretendem fazer desses acontecimentos. De facto, o medo rende...pois parece absolutamente adquirido que as audiências aumentam quando os noticiários começam com crimes violentos e esse facto determina o aumento da cobertura televisiva, num vai-vem estonteante.
Segundo Jerry Mander: ”Os efeitos fisicos de assistir a eventos trumáticos na televisão –a subida da tensão arterial e a aceleração do ritmo cardiaco – são idênticos aos de um individuo que de facto viveu directamente o evento traumático. Além disso o facto de a televisão criar recordações falsas que são tão poderosas como recordações normais está documentado. Quando são evocadas, as recordações criadas pela televisão exercem o mesmo controlo sobre o sistema emocional do que as recordações reais.”
Tudo isto contrariando uma máxima saudável de Freud: “Na maioria das vezes, um pepino é somente um pepino!”
Mas Portugal, mesmo na época em que não havia televisão, nem cá, nem lá fora, já vivia os efeitos de percepções que, assentes nalguma verdade, não a esgotavam, nem de perto, nem de longe...
Deveu-se a Heinrich Friedrich Link(1767-1851), médico, botânico e naturalista alemão, professor das universidades de Rostock, Breslau e Berlin e director do Jardim Zoológico desta ultima cidade, que esteve em Portugal entre 1797 e 1799, acompanhando o eminente botânico conde Centurius Von Hoffmannsagg, que bastante contribuiu para a monumental obra que em 1809 foi editada em Berlim sobre a flora portuguesa, o remar contra uma maré muito forte que levava a pretensa insegurança em Portugal a toda a Europa.
Realmente sucedeu que estes cientistas não se ficaram pelo mundo da natureza. Registaram minuciosamente a nossa gente, hábitos e costumes, literatura e aprofundaram estudos no campo da etnologia.
Depois de regressar a Berlim e de ler literatura europeia de viagem sobre Portugal, Link conclui que pode e deve dar um contributo particular assente no conhecimento directo de um país e um povo, cuja percepção divergia e em muito do que resultava daquelas leituras.
O entusiasmo com que aquele cientista alemão, há duzentos anos, descreveu Portugal, contribuiu decisivamente para alterar profundamente o conceito que os europeus tinham do país e suas gentes.
Fê-lo de forma simples e decisiva, acabando por pulverizar algumas más impressões resultantes de várias informações que circulavam pela Europa sobre alegados assaltos que visavam despojar de bagagens os poucos viajantes que se atreviam a percorrer os péssimos caminhos do país e varreu em parte, o clima de menosprezo criado por relatos que continham os forasteiros de se deslocarem ao nosso país.
As impressões colhidas constituiram os três volumes publicados entre 1800 e 1804 com o titulo “Notas sobre uma viagem através da França, Espanha e principalmente Portugal”. Esse trabalho teve propagação rápida e conheceu um inusitado interesse em toda a Europa.
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Goethe leu-o e recomendou-o a Schiller, numa carta de março de 1801:”Envio-lhe a descrição de uma viagem a Portugal que é de leitura agradável e muito interessante, embora não se possa dizer que nos entusiasme a visitar o país.”
Poucos dias decorridos, recebeu como resposta:”Agradeço-lhe a descrição da viagem a Portugal. Não está mal escrita, contudo é um pouco limitada de recursos e não tem certas pretensões. O autor pareceu-me ser da categoria desses homens sensatos que, no fundo do coração, são animados, a respeito da filosofia e da arte, de mais hostilidade do que confessam. Isso, evidentemente, é de pouca importância numa descrição, mas nota-se e sente-se.” A celebridade de Welmer voltaria a referir-se à obra do cientista um mês depois: “Começei a formar uma ideia viva acerca da fisionomia das nações da Europa. Depois da descrição da viagem de Link, li outras coisas sobre Portugal e agora vou passar à Espanha.”
Pouco depois, a obra saiu traduzida em francês com o titulo Viagem a Portugal de 1797, lendo-se no prefácio:”O conde de Hoffmannsegg prossegue vivendo nesta interessante região, de que me afastei para regressar.”
Pouco mais tarde foi traduzida para inglês e para sueco.
A Europa culta, de algum modo, pasmou. A imagem de Portugal era assim convertida, de um dia para o outro, num país de alta cultura, onde se podia viajar sem se ser morto pelos ladrões. Ruia a lenda negra cuja derrocada fazia mudar num ápice a desconfiança por simpatia.
De facto, eram conhecidas e imperavam as muitas narrativas de viagem anteriores, umas rigorosas outras menos sérias, que sairam descredibilizadas com a publicação do livro de Link, como a de Guiseppe Baretti que por cá andou em 1760 e que incluiu nas suas letters tudo quanto viu, a partir do que se propalou a ideia de que “a ciência portuguesa nunca esteve em moda, onde quer que fosse e, provavelmente, assim seria sempre”.
Ou a versão de José Coranti, que nos visitou entre 1765 e 1767, revelou a grande falta de segurança como única culpada por tantos crimes numa capital suja e sem iluminação.
Versão esta confirmada por Dumouriez que chegou em 1766 e permaneceu 13 meses em Lisboa, tempo suficiente para observar vários pormenores da vida portuguesa e retratar os Portugueses. Os seus pareceres corroboraram os dos visitantes que antes nos analisaram.
E não só mas também William Dalrymple conheceu a Lisboa de 1774 depois de ter entrado pelo Norte do país. Teceu criticas exacerbadas, com generalizações que já foram consideradas como abusivas.
Aliás como o coronel Diogo Ferrier que serviu o exército português em 1776 e, longe de descrever Portugal nas suas crónicas, dir-se-ia que o caluniou.
É CERTO QUE OUTROS percepcionaram o país de maneira diferente como William Beckford, em 1787, ano da sua primeira viagem a Portugal, o qual registou palavras inequívocas de simpatia pelas gentes e por esta terra, mas foi tão tardia a publicação dos seus escritos – 1834 e 1835 – que impediu uma repercussão favorável quando ela teria sido verdadeiramente útil a Portugal.
Ou o marquês de Bombelles o qual, entre 1786 e 1788, exerceu funções diplomáticas neste país, de que colheu dados a fim de escrever sobretudo para si mesmo. Com extrema sinceridade e julgando quanto viu, deixou um trabalho que se pode considerar lisonjeiro para a imagem de Portugal desses anos.
Como também James Cavanagh Murphy (1760-1814) arquitecto de origem irlandesa que viajou no nosso país entre 1788 e 1802, incumbido de relatar pormenores sobre os monumentos e vestigios arqueológicos ao seu protector William Burton Conyngham, documentou edificios portugueses, em particular o Mosteiro da Batalha do qual publicou em 1795 um magnifico conjunto de desenhos. Foi com os textos e desenhos de Murphy que a arquitectura portuguesa pela primeira vez se tornou conhecida na Europa moderna.Voltaria mais tarde a Portugal, a fim de se fixar definitivamente.
O que foi facto foi que, por esta ou aquela razão, apesar da divisão de opiniões difundidas pela Europa durante o sec. XVIII, a má impressão e a suspeita generalizada de insegurança grave só veio a ter um revés importante com o livro de Link, ao qual a verdade da época muito ficou a dever.
Que saibamos, em Portugal, nem uma rua secundária numa qualquer Vila, teve o seu nome.
É assim que temos tratado a verdade: refundida no esquecimento. É assim que, parece, queremos continuar!
Freud?
ResponderEliminarQue faz ele em Armação de Pêra? Está de férias? Alguém lhe pagou a estadia? O que esta gente por aqui escreve para mostrar que é ilustre! Qualquer dia começo para aqui a mostrar o saber acrescentado. Este não é um blog representativo das gentes de Armação. É representativo de uma minoria escondida que só sabe mostrar-se desta forma, porque tem medo de descer à rua. Até mais ver, ilustres escritores.