Depois de termos tentado encontrar fontes sobre a história de Armação de Pêra, sem grande sucesso, fomos surpreendidos com dois artigos no blog de História e Estórias, cujo endereço electrónico aqui deixamos:
http://blog-de-historia.blogspot.com/search/label/Armação de Pêra.
Um sobre a fortaleza e ermida da Senhora da Rocha, cuja origem tão remota nos surpreendeu (entre 551 e 624 d.c.), e outro sobre Armação de Pêra que nos surpreendeu igualmente pelo resultado trágico para a aldeia em que importou o maremoto de 1755, o qual se saldou, em vida humanas, em 84 mortes, tendo ficado uma única casa de pé.
Pela sua importância e raridade, mas também pelas fontes enumeradas, não resistimos a transcrevê-los integralmente, na expectativa de que os elementos constantes dos textos possam motivar outras investigações que permitam um levantamento histórico mais perene.
“A fortaleza e ermida da Snra da Rocha
A fortaleza de Sr.ª da Rocha (freguesia de Porches, concelho de Lagoa), distante 3 Kms de Armação de Pêra para ocidente, situada no centro de um pequeno e estreito promontório do barlavento algarvio é bastante antiga. Há quem afirme ser de origem bizantina, quando os exércitos de Império Romano do Oriente ocuparam o litoral do sul da Península Ibérica, incluíndo o território hoje chamado Algarve entre os anos 551 e 624 d.C. A Prof.ª Teresa Júdice Gamito, sobre o sistema defensivo bizantino no Algarve, escreve o seguinte: « Outro ponto de interesse a assinalar neste esquema defensivo entre Ossonoba [Faro] e Lacobriga [Lagos] seria o forte de Sr.ª da Rocha, ponta avançada e dominando toda a costa entre uma e outra cidade, onde aparecem vestígios de uma fortaleza, tendo tido ao centro uma torre octogonal posteriormente aproveitada para a capela da Sr.ª da Rocha, de grande devoção entre os pescadores. De assinalar um pequeno átrio com três arcos redondos, assentes em colunelos rematados com três capitéis de decoração fitomórfica, confirmando a origem bizantina do templo, tal como encontramos por exemplo em S. Pedro Balsemão, constituindo a forma característica das capelas designadas por «visigóticas» e dando este átrio o acesso à capela propriamente dita.» concluíndo «Parece-nos que, de facto, podemos detectar nas muralhas antigas da cidade de Faro e na capela da Sr.ª da Rocha a presença Bizantina no Algarve, não de um modo forte e imponente, pois o tempo disponível não foi muito, mas subtil, efectivo e funcional no reforço das suas defesas e dos pontos chave do território.» (GAMITO, 1996, p. 263).
A descrição mais antiga conhecida da fortaleza de Sr.ª da Rocha é redigido pela mão de Henrique Fernandes Sarrão na obra História do Reino do Algarve escrita por volta de 1600, onde observa: «[...] E mea légua de Porches o Velho, para a parte austral, está ua inexpugnável fortaleza, que tem dentro ua igreja, que se chama Nossa Senhora de Porches, ou da Rocha, em ua ponta de rocha muito alta, e pela banda do norte, que é da terra, na entrada, tem um muro, que a atravessa, e fica a ponta no mar, com a sua ponte levadiça, em que tem sua cava, e está bem artelhada, e dentro tem ua cisterna de boa água. Nesta fortaleza há capitão e condestable.» (SARRÃO, [imp.] 1983, p. 157). Actualmente a fortaleza de Sr.ª da Rocha já não existe, havendo apenas o fosso e restos de muralha. A ermida que estava no seu interior está totalmente conservada, bem como uma casa anexa que muito possivelmente servira de armazém ou de aquartelamento para a guarnição da fortaleza.
Bibliografia:
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GAMITO, Teresa Júdice (1996) - As muralhas de Faro e os vestígios bizantinos da ocupação da cidade e do seu sistema defensivo in Miscellanea em Homenagem ao Professor Bairão Oleiro. Lisboa: Edições Colibri
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SARRÃO, Henrique Fernandes (1983) - História do Reino do Algarve in Duas Descrições do Algarve do Século XVI, apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora “
Por Rui Manuel C. Prudêncio
“Armação de Pêra (1577 - 1886): notas históricas
Armação de Pêra, conhecida estância de veraneio, alberga nas férias de Verão milhares de pessoas de todo o país à procura do sol, da praia e das águas tépidas do oceano. É também um exemplo flagrante do desordenamento urbanístico que assolou extensas áreas do Algarve desde a década de 60 do século passado.
Tal como outros centros urbanos do litoral algarvio, Armação de Pêra desenvolveu-se a partir de uma pequena comunidade piscatória, cuja primeira referência escrita conhecida remonta a 1577 na obra Corografia do Reino do Algarve, de Fr. João de São José que ao descrever a aldeia de Pêra observa o seguinte: «Pera é um lugar junto de Alcantarilha, não longe do mar. [...]. Faz o mar defronte dela ua fermosa praia da banda do sul, na qual está ua armação de atuns que se chama a armação de Pera.» (S. JOSÉ, imp. 1983, p. 58). A existência de uma armação de pesca do atum perto de Pêra, na zona de costa hoje conhecida como baía de Pêra, para além de explicar a origem do nome da Armação de Pêra actual, denota que já em 1577 existiria uma pequena comunidade de pescadores sazonalmente ou permanentemente fixada neste território
Quando por ordem de Filipe II o engenheiro militar italiano Alexandre Massai percorreu a costa do Algarve em 1621 no âmbito de uma viagem de inspecção das infraestruturas defensivas, encontrou no termo da vila de Albufeira « [...] duas Armassois de Atuns mais álem das ásima dittas q se dizem hua dellas pedra de gúale, a otra pera, e a gente e os barquos dellas no tenpo de necessidade se vão âo emparo desta V.ª e portanto digo serem neçess.ºs os mosquettes E a sobreditta Artelharia, estas dittas Armassois ja forão roubadas E saquiadas por falta de defenção, E com perda da faz.da de Sua mag.de [...]» (GUEDES, 1988, p. 115). A comunidade piscatória de Armação de Pêra, não obstante as ameaças dos corsários magrebinos que saqueavam as armações de pesca, parece ter continuado entre 1577 e 1621, ou até se reforçado, visto Alexandre Massai mencionar mais uma armação de pesca na baía de Pêra em 1621 (Pedra da Galé) que Fr. João de São José em 1577 não referencia. Não é possível aferir se a presença piscatória em Armação de Pêra estaria somente restrita à época de pesca do atum (Abril a Agosto), ou se permaneceria no local durante o resto do ano, dedicando-se a outros tipos de pesca. Por factores demográficos, económicos ou por ambos, construiu-se uma pequena fortaleza em 1667, que com a sua guarnição militar reforçou a presença humana em Armação de Pêra.
Planta da fortaleza de Santo António de Pêra (Armação de Pêra) desenhada pelo Tenente Coronel Engenheiro José Sande de Vasconcelos entre 1784 e 1790 e publicada no Mappa da configuração de todas as praças fortalezas e baterias do Reyno do Algarve ordenado para ser prezente ao Principe Nosso Senhor pello Conde d' Val d' Reys Governador e Cappitam General do mesmo Reyno. (CALLIXTO, Carlos Pereira - Apontamentos para a História das Fortificações do Reino do Algarve: o mapa das fortificações do Algarve desenhado por José Sande de Vasconcelos in Anais do Município de Faro, n.º XII (1982))
Aquando do maremoto de 1755, morreram 84 pessoas em Armação de Pêra, tendo ficado de pé apenas uma casa (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290). O estudioso das pescas em Portugal, Constantino Botelho de Lacerda Lobo, na Memória sobre o estado das pescarias do Algarve no ano de 1790, escreve sobre Pêra de Santo António (termo que designava Armação de Pêra na época): «Compõe-se esta povoação de um ajuntamento de cabanas de pescadores que vivem perto do mar em uma praia arreenta; confina do nascente com uma alagoa formada por águas vertentes das colinas vizinhas: ao norte com uma aldeia chamada Pêra de Cima [sendo Armação de Pêra também conhecida como Pêra de Baixo] [...].
Contavam-se no ano de 1790 cento e cinquenta pescadores, os quais trabalham na armação do atum o tempo competente desta pescaria, depois na de diversos peixes do mar com os covãos, nos lugares pedregosos da costa: findas as pescarias feitas com estes aparelhos, gastam o resto do ano em arrastar as xávegas para terra. [...].
Em o ano de 1790 havia oito barcos, de que somente faziam uso para a pescaria daquela costa, em cada um dos quais iam oito ou dez pescadores, e os outros costumam ficar em terra para arrastar os aparelhos.
[...] tem tido aumento a pescaria nesta costa; porque no ano de 1790 contavam-se oito barcos, quando em outro tempo somente havia quatro. Também tinha crescido o número dos pescadores, e xávegas.» (LOBO, 1991 [2ª ed.], p. 82, 83). Segundo o registo deste académico, Armação de Pêra recuperou rapidamente da devastação que sofreu com o maremoto de 1755.
João Baptista da Silva Lopes descreveu em 1841 Armação de Pêra com estas palavras: « Hoje terá hum terço da povoação da outra aldeia [daquela destruída em 1755], composta de pescadores e gente que se emprega no mar; os quaes tem para as suas pescarias 5 lanchas e 4 artes: a mais dominante he a das sardinhas no tempo da passagem, [...] poucos annos ha, ainda era formada só de cabanas, hoje tem boas casas e algumas ricas. [...] Os moradores, fóra da temporada da sardinha, apanhão com os covãos e anzol algum peixe que vendem em fresco; são hum pouco desmazelados, e não se afastão da costa; dão-se a alguns trabalhos do campo, e as mulheres empregão-se em obras de palma. De verão concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.» (LOPES, 1989 [2.ª ed.], p. 290, 291) Este testemunho contém alguns dados interessantes. Entre 1790 e 1841 Armação de Pêra passa de um agrupamento de cabanas para uma aldeia de casas de alvenaria, facto que pode indiciar um aumento do poder económico dos seus habitantes e a consequente subida da qualidade de vida. Também nestes 50 anos, deixou-se de pescar o atum como ocorria em 1577, 1621 e 1790. Por fim, em 1841, Armação de Pêra já se prefigurava como um destino balnear «pois concorrem aqui muitas pessoas a tomar banhos do mar.»
Em 1885/86 A. A. Baldaque da Silva, no levantamento efectuado sobre o estado das pescas em Portugal, contabiliza em Armação de Pêra 27 embarcações e 176 pescadores. A espécie de maior rendimento económico é a sardinha (7 665$940 réis em 1885 e 6 068$920 réis em 1886), capturada principalmente através das artes de arrastar (xávegas). Regista ainda a existência de uma fábrica de conserva de peixe e a reactivação da armação do atum da Pedra da Galé, cujo pescado dava entrada em Armação de Pêra. Acrescenta Baldaque da Silva que «Alem das pessoas indicadas no mappa antecedente, ha mais um certo numero, não pequeno, de homens e mulheres e menores, que coadjuvam o arrastamento das artes, a conducção da pescaria e muitos outros trabalhos inherentes a esta industria.» (SILVA, 1891, p. 152). Estes números indicam que a comunidade piscatória armacenence reforçou-se demográficamente ao longo de oitocentos, chegando a ter uma vertente industrial com a fábrica de conserva de peixe.
Bibliografia:
LOBO, Constantino Botelho de Lacerda (1991) - Memória sobre o estado das pescarias da costa do Algarve no ano de 1790 in Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa: 1789 - 1815, [2.ª ed.]. Lisboa: Banco de Portugal, tomo V
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LOPES, João Baptista da Silva (1989) - Corografia ou memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve, [2.ª ed.]. Faro: Algarve em Foco Editora, vol. 1
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GUEDES, Lívio da Costa (1988) - Aspectos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII: a «Descripção» de Alexandre Massaii (1621), pref. de Carlos Bessa. Lisboa: Arquivo Histórico Militar
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SÃO JOSÉ, Fr. João de (imp. 1983) - Corografia do Reino do Algarve dividida em quatro livros (1577), apresentação, leitura, notas e glossário de Manuel Viegas Guerreiro e de Joaquim Romero Magalhães. Lisboa: Sá da Costa Editora
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SILVA, António Artur Baldaque da (1891) - Estado actual das pescas em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional “
Por Rui Manuel C. Prudêncio
Muito interessante! É pena a marca piscatória da vila estar a perder-se com os blocos graníticos de betão! E, depois, a juventude também já não envereda para as pescas!
ResponderEliminarMuito interessante este documento,parabéns.
ResponderEliminarImaginem,como se fosse possivel entender algum assunto relacionado com PATRIMÒNIO.
ResponderEliminarSó que existem diversos tipos de patrimónius...Pontus finale.
ResponderEliminarTónica
Aproveitando a deixa da Sra. Presidente, deveria dedicar-se apenas á história e deixar a dra. em paz...
ResponderEliminaraté porque só estamos á espera do dia 11 de Outubro para que vejam que o povo tudo esqueçe e estará com a Dra. com toda a certeza!!!
Esquece o quê?
ResponderEliminarTótó
Pois é,desta vez o que há para esquecer é inesquecivel,quem tudo quer,tudo perde,dizia assim o povo...
ResponderEliminarPerto de 50 milhões para tratar esgotos em Faro, Albufeira, Lagoa e Silves
ResponderEliminarAs Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Faro Noroeste e Poente de Albufeira entraram na passada segunda-feira em funcionamento, anunciou a empresa Águas do Algarve, responsável por ambos os equipamentos.
No caso da ETAR de Faro Noroeste, a estação proporciona uma melhoria directa das águas da Ria Formosa, das condições sanitárias das populações locais, bem como uma melhoria bastante significativa dos meios hídricos da zona.
A ETAR custou 6,984 milhões de euros e tem capacidade para tratar os esgotos do equivalente a 44.500 habitantes.
Esta nova ETAR de Faro Noroeste substitui a anterior solução de lagunagem existente. Após a conclusão das ETAR Nascente de Olhão, Almargem em Tavira e Faro Noroeste, que agora se conclui, acrescido dos melhoramentos efectuados na ETAR Ponte de Olhão, a empresa Águas do Algarve afirma que foram «dados significativos contributos para o melhoramento da qualidade da água da Ria Formosa».
Quanto à ETAR Poente de Albufeira, passa a servir parte dos Municípios de Albufeira, Lagoa e Silves, tendo capacidade para tratamento dos efluentes de uma população equivalente de 133.900 habitantes, quando todo o sistema estiver completo.
A empresa Águas do Algarve explica que, com um investimento de cerca de 40 milhões de euros, a construção desta estação de tratamento e respectivos sistemas interceptores e elevatórios permitirá desactivar várias ETAR que não possuem capacidade de resposta no tratamento, não cumprindo os normativos de descarga estabelecidos.
A ETAR encontra-se concluída, bem como significativa parte dos sistemas interceptores e elevatórios, mas falta ainda construir várias Estações Elevatórias.
Serão desactivadas as ETAR da Guia e Galé, do concelho de Albufeira, de Porches, do concelho de Lagoa, e de Pêra e Algoz, do concelho de Silves. Até agora apenas é possível desactivar a ETAR da Guia, pelo que o efluente tratado será, ainda, diminuto, face à capacidade de tratamento da ETAR.
A Águas do Algarve prevê que «até ao final do corrente ano», a ETAR de Pêra seja também desactivada, com a entrada em funcionamento da Estação Elevatória daquela localidade, que se encontra em execução.
As restantes Estações Elevatórias, que permitirão o funcionamento em pleno da ETAR Poente de Albufeira, ainda não foram colocadas em concurso público segundo a nova legislação em vigor.
Estes equipamentos tinham sido colocados a concurso público segundo a anterior legislação por concepção e construção, não tendo a Águas do Algarve recebido qualquer proposta.
Por esse motivo, a empresa teve que desenvolver os projectos de execução, prevendo-se a curto prazo o lançamento do concurso público.
Então, Adelina, perdeste o pio?
ResponderEliminarA ETAR de Pêra está a funcionar deficientemente vai para 10 anos, enviando grande parte dos esgotos sem serem tratados para as ribeiras de Armação de Pêra e Salgados, antigas maternidades piscícolas, hoje já sem quaisquer sinais de vida. Os esgotos são posteriormente enviados para o mar através de emissário submarino, bombas submersíveis que esgotam em cima da praia pela noitinha, ou então e como último recurso e após as reclamações dos Senhorees do Golfe dos Salgados, rasga-se a duna e envia-se os esgotos directamente para o mar. Depois os Senhores da ARH ou da Câmara engendram uma aldrabice dizendo que foi por causa dos ventos ou das marés que a boca do rio se abriu.Já mataram a vida das Lagoas e vão destruindo a vida do aceano; peguntem aos pobres pescadores de Armação de Pêra pela quantidade de lama nauseabunda que as suas redes trazem diáriamente. A Praia de Armação de Pêra nunca mais teve o galardão de qualidade "Bandeira Azul", sabem porquê? porque a santa aliança entre a Enga Valentina Calixto e a Sra Isabel Soares têm desenvolvidos todos os esforços para a distruição desta Praia, preocupando-se exclusivamente com os negócios da ocupação dos espaços públicos ou imobiliários, isso é que dá dinheiro e são esses os seuss únicos objectivos. É com gente desta à frente de organismos que deveriam zelar pelo interesse público, que o Algarve e sobretudo a Praia de Armação de Pêra têm vindo a degradar-se. Mesmo depois dos trágico acontecimentos da Maria Luísa não haverá quem ponha cobro a esta incompetência e desfaçatez?
ResponderEliminarCorre Costas
A Valentina Calixto disse que na praia Maria Luísa a culpa foi da Natureza!!! Ó Triste Portugal, onde não ninguém é responsável de nada, quando é que te livras desses medíocres e incompetentes que te impedem de evoluir e ser respeitado além fronteiras! Esta senhora, em conluio com a Soares, contribuíram largamente para o desabrochar da aberração urbanística do apoio de praia no areal da praia dos pescadores de Armação de Pêra!!!
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