quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Republicação de “OS NATAIS DA MINHA INFÂNCIA por Luis Patrício”


Dado o inequivoco interesse para a história dos anos 50 e 60 da nossa Vila, publicamos para memória futura, o relato do protagonista Luis Patricio, que nos fizeram chegar os Amigos de Armação de Pêra.
O dia de hoje, com o auxilio da memória e a leitura deste texto, poderá ganhar um significado acrescido de afecto e solidariedade, renovados à imagem de um passado humanamente mais salutar, do qual se nos impõe aproximar...


A quadra natalícia em Armação de Pêra nos anos 50 e 60 do século passado e os acontecimentos a ela associados, eram bem diferentes dos eventos e festejos de Natal actuais.

Mas eram muito solidários, humildes e sobretudo humanos.
O consumismo não fazia parte dos hábitos nem era economicamente comportável para a maioria dos habitantes desta pequena povoação (na altura).
Lembro-me de ver os meus pais partilharem com os familiares e amigos mais chegados, pequenas ofertas solidárias, dos produtos que colhiam na sua actividade de pequenos agricultores; como feijão, grão, azeite, figos, amêndoas, animais de capoeira e até carne de porco, quando havia matança.

Os que desenvolviam a sua actividade no mar, retribuíam com peixe seco e salgado, em caso de bom tempo, até com peixe fresco. Outros, em melhores situações de vida, presenteavam com frutas, bacalhau, bebidas de produção própria e do mais que as suas actividades e posses o permitissem. A miséria e a fome eram amenizadas, solidariamente e sem caridadezinha.

Não havia o hábito da celebração da consoada, as mulheres trabalhavam até tarde na confecção dos pastéis de massa tenra, das filhós e de outras iguarias para o dia de Natal, algumas famílias celebravam com uma pequena refeição a que designavam por “fazer a meia-noite”. A missa do galo não era nesse tempo celebrada em Armação de Pêra, porque não tínhamos igreja nem pároco, só em Alcantarilha é que era possível assistir à missa da meia-noite.

Para nós, os mais pequenos, vivíamos em euforia na esperança que o Menino Jesus se lembrasse de nós e do nosso sapatinho posto no fogão (ou lareira, para quem tinha) na noite de 24, não havia Pai Natal e sabíamos que eram os nossos pais que nos presenteavam, mas o espírito de curiosidade e o desejo de ter coisas novas para estrear no dia de Natal, deixava-nos excitados e éramos sempre os primeiros a sair da cama no dia seguinte. As prendas, eram mais ou menos comuns; um coelhinho de chocolate, meia dúzia de rebuçados, uma laranja, alguns figos torrados, umas meias ou cuecas e sobretudo a camisola de tricôt que a mãe fez durante meses e que será para estrear no dia de Natal.

O dia de Natal, era o ponto alto das festividades natalícias, para além da junção da família à mesa na degustação do galo, do peru ou do peixe seco demolhado e sobretudo no consumo das guloseimas que as nossas mães se tinham esmerado na véspera.

O mais o mais importante era ir visitar os presépios, e havia-os lindos! Feitos com arte e criatividade; o da Casa dos Pescadores feito pelas raparigas dos bordados. O da Dona Bia d’Gene, ou Dona Maria d’Eugénio na sua loja de roupas ao cimo da ladeira, casa que conhecia bem, porque o meu pai pela altura do Carnaval ia lá podar as parreiras e as roseiras. O presépio da “Preferida”, loja do Sr. João Roque e da Dona Cleunice, casal com sensibilidade e espírito artístico extraordinário. O presépio da nossa Escola Primária, no primeiro andar da Pensão Central, em que todos participávamos, uns na apanha do musgo e de arbustos decorativos, outros na confecção de bonequitos de barro e artefactos para o seu embelezamento, desde as estrelas até aos santinhos recortados dos postais de Natal, para além das cartas e postais com o desejos e sonhos de cada um. O presépio do Sr. Manuel Franco, era imponente! Enchia uma casa, ficava embevecido a admirá-lo, feito com tão bom gosto e criatividade, parecia um sonho.

E por último o presépio do Sr. Sargento Vitorino, era o mais distante mas o que maiores sensações de agrado e de espanto nos causava, não só pela minúcia dos seus pormenores, mas sobretudo pelas engenhocas, movimentos mecânicos e efeitos luminosos em que ele era mestre, que nos punha a sonhar e a imaginar como deveria ser a vida real numa aldeia da Galileia.


Com os desejos de um bom Natal.

Luís Ricardo

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mais um mergulho pela solidariedade!


Solidariedade, companheirismo e muita, muita alegria, são os requisitos da ação «um mergulho por sapatos», que o Holiday Inn Algarve, em Armação de Pera, realiza todos os anos no dia de Natal e Ano Novo. O hotel desfia os residentes da zona e turistas, para um mergulho na praia de Armação de Pera pelos sapatos. Esta campanha de solidariedade pretende ajudar A Gaivota, da Santa Casa da Misericórdia em Albufeira, a adquirir sapatos para todas as crianças. O objetivo é que todas iniciem um ano novo com sapatos novos.

Basta aparecer na praia de Armação de Pêra em frente ao hotel, às 11 horas, nos dias, 25 de dezembro e 1 de janeiro, com uma toalha.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O PROFESSOR MARCELO NÃO VAI PASSAR O FIM DO ANO AO BRASIL... "Vêm para Armação de Pera"...

Nas suas homílias dominicais, Marcelo Rebelo de Sousa disserta com profunda sabedoria e total independência sobre este, aquele e o outro; e sobre isto, aquilo e aqueloutro. No passado fim-de-semana resolveu voltar a perorar sobre o caso BES e escolheu como alvo José Maria Ricciardi. Saiu-se mal.

O mais importante não é o desmentido de Ricciardi às duas afirmações taxativas de Marcelo: que o BESI (a que Ricciardi presidia) avalizou a emissão e colocação de papel comercial do GES e que o banqueiro não se afastou do conselho de administração do BES nem de administrador da ESI quando constatou que havia sérios problemas que se estavam a verificar nestas entidades e após ter entrado em rutura com Ricardo Salgado. Marcelo, ao contrário da aura que muitos lhe atribuem, engana-se com frequência sobre assuntos que não domina, em particular os económicos, fazendo com grande leveza afirmações mais próprias das revistas de coração sopradas pelos seus amigos mais chegados, sem dar oportunidade aos atingidos de fornecerem a sua versão. É, por isso, mais que provável que nos dois casos em apreço seja Ricciardi a ter razão.

Uma coisa é muito provável: o Professor Marcelo este ano não vai passar o fim do ano ao Brasil a casa do dr. Salgado e provavelmente no próximo Verão também não vai fazer um lindo cruzeiro pelo Mediterrâneo com a família Salgado
O que é manifestamente interessante é a farpa que o banqueiro lhe atira, a propósito das «habituais e luxuosas férias de fim do ano na mansão» de Ricardo Salgado à beira-mar no Brasil, coisa que era desconhecida da generalidade da opinião pública e que devia levar Marcelo a ser mais ponderado nas posições que toma no caso BES – ou a não tomar, como é o caso de Miguel Sousa Tavares, que por ter uma filha casada com o filho de Salgado evita dissertar sobre o tema. Marcelo não só não diz nada sobre as férias no Brasil, como não diz sobre as férias no Mediterrâneo num barco alugado por Ricardo Salgado, como não diz que a sua mulher trabalhava há muito diretamente com Salgado. Mas entretanto não se coibiu de ir perorando e perorando e perorando sobre o caso BES, criticando este, aquele e aqueloutro, mas tendo sempre um enorme cuidado nas palavras que escolhe para dirigir a Ricardo Salgado.

Já agora, se o Professor Marcelo é incontinente verbal, devia ser a TVI, que tem responsabilidades editoriais, a sugerir-lhe que não abordasse a questão do BES nos seus comentários dominicais, dando aos espetadores uma explicação sobre essa decisão. Mas nem o Professor Marcelo se cala, nem a TVI evita o tema.

Uma coisa é muito provável: o Professor Marcelo este ano não vai passar o fim do ano ao Brasil a casa do dr. Salgado e provavelmente no próximo Verão também não vai fazer um lindo cruzeiro pelo Mediterrâneo com a família Salgado. Estas implosões de bancos e grupos a que se está ligado por múltiplas cumplicidades são muito maçadoras.

Nicolau Santos, Expresso Diário, 15/12/2014

domingo, 14 de dezembro de 2014

A MAIOR LAVANDARIA DE DINHEIRO DO MUNDO AMEAÇA FALIR !

Os belos bancos, elegantes, silenciosos de Basileia e Berna estão ofegantes.
Poderia dizer-se que eles estão assistindo na penumbra a uma morte ou estão velando um moribundo.
Esse moribundo, que talvez acabe mesmo morrendo, é o segredo bancário suíço.
O ataque veio dos Estados Unidos, em acordo com o presidente Obama.
O primeiro tiro de advertência foi dado na quarta-feira.
A UBS - União de Bancos Suíços, gigantesca instituição bancária suíça viu-se obrigada a fornecer os nomes de 250 clientes americanos por ela ajudados para defraudar o fisco.
O banco protestou, mas os americanos ameaçaram retirar a sua licença nos Estados Unidos.
Os suíços, então, passaram os nomes.
E a vida bancária foi retomada tranquilamente.
Mas, no fim da semana, o ataque foi retomado.
Desta vez os americanos golpearam forte, exigindo que a UBS forneça o nome dos seus 52.000 clientes titulares de contas ilegais!
O banco protestou.
A Suíça está temerosa.
O partido de extrema-direita, UDC (União Democrática do Centro), que detém um terço das cadeiras no Parlamento Federal, propõe que o segredo bancário seja inscrito e ancorado pela Constituição federal.
Mas como resistir?
A União de Bancos Suíços não pode perder sua licença nos EUA, pois é nesse país que aufere um terço dos seus benefícios.
Um dos pilares da Suíça está sendo sacudido.
O segredo bancário suíço não é coisa recente.
Esse dogma foi proclamado por uma lei de 1934, embora já existisse desde 1714.
No início do século 19, o escritor francês Chateaubriand escreveu que neutros nas grandes revoluções nos Estados que os rodeavam, os suíços enriqueceram à custa da desgraça alheia e fundaram os bancos em cima das calamidades humanas.
Acabar com o segredo bancário será uma catástrofe económica.
Para Hans Rudolf Merz, presidente da Confederação Helvética, uma falência da União de Bancos Suíços custaria 300 biliões de francos suíços ou 201 milhões de dólares.
E não se trata apenas do UBS.
Toda a rede bancária do país funciona da mesma maneira.
O historiador suíço Jean Ziegler, que há mais de 30 anos denuncia a imoralidade helvética, estima que os banqueiros do país, amparados no segredo bancário, fazem frutificar três triliões de dólares de fortunas privadas estrangeiras, sendo que os activos estrangeiros chamados institucionais, como os fundos de pensão, são nitidamente minoritários.
Ziegler acrescenta ainda que se calcula em 27% a parte da Suíça no conjunto dos mercados financeiros offshore" do mundo, bem à frente de Luxemburgo, Caribe ou o extremo Oriente.
Na Suíça, um pequeno país de 8 milhões de habitantes, 107 mil pessoas trabalham em bancos.
O manejo do dinheiro na Suíça, diz Ziegler, reveste-se de um carácter sacramental.
Guardar, recolher, contar, especular e ocultar o dinheiro, são todos actos que se revestem de uma majestade ontológica, que nenhuma palavra deve macular e realizam-se em silêncio e recolhimento...
Onde param as fortunas recolhidas pela Alemanha Nazi?
Onde estão as fortunas colossais de ditadores como Mobutu do Zaire, Eduardo dos Santos de Angola, dos Barões da droga Colombiana, Papa-Doc do Haiti, de Mugabe do Zimbabwe e da Máfia Russa?
Quantos actuais e ex-governantes, presidentes, ministros, reis e outros instalados no poder, até em cargos mais discretos como Presidentes de Municípios têm chorudas contas na Suíça?
Quantas ficam eternamente esquecidas na Suíça, congeladas, e quando os titulares das contas morrem ou caem da cadeira do poder, estas tornam-se impossíveis de alcançar pelos legítimos herdeiros ou pelos países que indevidamente espoliaram?
Porquê após a morte de Mobutu, os seus filhos nunca conseguiram entrar na Suíça?
Tudo lá ficou para sempre e em segredo...
Agora surge um outro perigo, depois do duro golpe dos americanos.
Na mini cúpula europeia que se realizou em Berlim, (em preparação ao encontro do G-20 em Londres), França, Alemanha e Inglaterra (o que foi inesperado) chegaram a um acordo no sentido de sancionar os paraísos fiscais.
"Precisamos de uma lista daqueles que recusam a cooperação internacional", vociferou a chanceler Angela Merkel.
No domingo, o encarregado do departamento do Tesouro britânico Alistair Darling, apelou aos suíços para se ajustarem às leis fiscais e bancárias europeias.
Vale observar, contudo, que a Suíça não foi convidada para participar do G-20 de Londres, quando serão debatidas as sanções a serem adoptadas contra os paraísos fiscais.
Há muito tempo se deseja o fim do segredo bancário. Mas até agora, em razão da prosperidade económica mundial, todas as tentativas eram abortadas.
Hoje, estamos em crise.
Viva a crise!!!
Barack Obama, quando era senador, denunciou com perseverança a imoralidade desses remansos de paz para o dinheiro corrompido.
Hoje ele é presidente.
É preciso acrescentar que os Estados Unidos têm muitos defeitos, mas a fraude fiscal sempre foi considerada um dos crimes mais graves no país.
Nos anos 30, os americanos conseguiram caçar Al Capone.
Sob que pretexto?
Fraude fiscal !!!
Para muito breve, a queda do império financeiro suíço !

Por Gilles Lapouge